O Exército dos Estados Unidos abriu um novo chamado à indústria de defesa para desenvolver um projétil de 155 mm assistido por foguete com alcance significativamente ampliado, parte do programa Next Generation Rocket-Assisted Projectile (NGRAP). O aviso — publicado pelo Comando de Contratação do Exército de Nova Jersey (ACC-NJ) em apoio ao Gerente de Projetos de Sistemas de Munição de Combate (PM-CAS) no Arsenal Picatinny — busca soluções maduras que possam ser rapidamente prototipadas, qualificadas e levadas à produção.
Segundo o documento, o projétil deverá atingir, quando disparado de obuses calibre 39 atualmente em serviço, pelo menos 40 km em modo não guiado e 36 km em modo guiado. Quando empregado nas plataformas emergentes calibre 52, as metas de longo prazo sobem para 55 km sem guia e 48 km guiado. Outra exigência operacional é a compatibilidade com a arquitetura logística já empregada pelo Exército — incluindo o Sistema de Carga de Artilharia Modular (MACS) série M232, as séries de cargas M767 e M782, e as espoletas M1156A1 — além de garantir emprego em sistemas como o obus autopropulsado M109 e o obus leve rebocado M777.

O NGRAP é apresentado pelo Exército como uma resposta direta à necessidade de ampliar o alcance e a letalidade da artilharia em um cenário de ameaças que inclui capacidades avançadas de contrabateria e de fogo de longo alcance por parte de potenciais adversários. O documento sublinha que o projétil deverá ser capaz de derrotar alvos de pessoal e material leve, incluindo radares, sistemas de defesa aérea e peça de artilharia — categorias que têm se mostrado centrais quando se discute a supressão das capacidades de vigilância e de tiro adversárias em conflitos de alta intensidade.
Para acelerar a transição do conceito à produção, o Exército quer identificar soluções tecnicamente maduras — aquelas que possam avançar rapidamente por uma revisão crítica de projeto (CDR) e seguir para qualificação com desenvolvimento adicional limitado. O governo planeja utilizar um Acordo de Outra Transação (OTA) independente para as fases iniciais, com a intenção posterior de estabelecer produção em baixa e, conforme desempenho, em alta taxa com base em um Pacote de Dados Técnicos (TDP) Nível III de propriedade do governo dos EUA.

Requisitos industriais e cronograma
Os interessados precisam submeter detalhamento técnico e de fabricação que demonstre capacidade de desenvolvimento, trajetória de testes e de qualificação, além de taxas de produção projetadas. O Exército requisita ainda estimativas de custos para faixas de produção que vão de 500 a 15.000 unidades por ano, vislumbrando escalabilidade industrial caso a solução seja adotada. O prazo para submissões foi estendido até 22 de setembro de 2025.
Em termos de cronograma operacional, a capacidade operacional inicial (IOC) está planejada para o ano fiscal de 2027, com liberação completa do material (FOC) prevista para o ano fiscal de 2030 — marcos tecnicamente ambiciosos para um sistema que envolve integração balística, mecânica de carga e compatibilidade com espoletas e cargas existentes.
Implicações estratégicas e industriais
O esforço NGRAP reflete duas tendências claras na modernização de sistemas de fogo indireto:
-
Maximização do alcance sem mudança radical na plataforma: ao exigir compatibilidade com obuses M109 e M777 e com o MACS, o Exército busca estender o campo de ação da artilharia usando munições evoluídas em vez de substituir massivamente chassis e peças de artilharia. Isso reduz custos logísticos e acelera a adoção.
-
Foco em contracapacidades críticas do inimigo: a ênfase em derrotar radares, defesas aéreas e artelharia indica a intenção de priorizar munições que facilitem a supressão das capacidades sensoras e de tiro adversárias — um requisito central em cenários de guerra de manobra e de neutralização de redes de sensores.
Do ponto de vista industrial, o pedido por soluções “maduras” e estimativas de produção em larga escala envia um sinal claro: o Exército quer parceiros que não apenas proponham conceitos promissores, mas também provem uma cadeia de produção robusta e previsível. Para empresas menores com inovação tecnológica, isso representa uma oportunidade se conseguirem demonstrar processos de fabricação e capacidade de cumprir certificações rápidas. Para grandes contratistas, a exigência por compatibilidade logística e por Pacotes de Dados Técnicos de propriedade governamental apresenta desafios contratuais e de proteção de propriedade intelectual a serem negociados.

Riscos e desafios técnicos
Desenvolver um projétil assistido por foguete que amplie alcance e mantenha letalidade e precisão envolve trade-offs técnicos significativos: massa e volume internos limitados, necessidade de integração com espoletas existentes, comportamento balístico variável entre calibre 39 e 52, além de exigências de resistência a ambientes operacionais severos (nao só durante o lançamento, mas no transporte e armazenagem). Soluções guiadas acrescentam complexidade — sensores, sistemas de orientação e power-management devem ser miniaturizados sem comprometer confiabilidade e custo por unidade.
Além disso, a interoperabilidade com sistemas de comando e controle e com munições existentes exige que o novo projétil não gere fricções logísticas que possam atrasar sua adoção em teatros expedicionários.
O que observar daqui para frente
Com o prazo de submissão estendido para 22 de setembro de 2025, as próximas semanas devem revelar o grau de interesse da indústria e o mix de soluções — desde designs que priorizem alcance bruto até projetos que enfatizem guiagem e precisão. A transição de OTAs para contratos de produção padrão e a negociação do TDP Nível III serão etapas cruciais para determinar se o NGRAP se manterá um projeto acelerado ou se enfrentará os habituais gargalos de qualificação e certificação.
Em um plano estratégico mais amplo, a capacidade do Exército de colocar em campo munições de maior alcance entre 2027 e 2030 terá impacto direto nas posturas de dissuasão e nas doutrinas de emprego da artilharia em cenários de competição com potências equipadas com sistemas de contrabateria e defesa aérea avançada.



