As recentes declarações do presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, contra Israel, seguidas do anúncio de um embargo de armas ao país, já começam a ter repercussões significativas na área de defesa da Espanha. Além de tensões diplomáticas, a crise ameaça diretamente programas militares cruciais das Forças Armadas, revelando a dependência espanhola de tecnologias israelenses de ponta.
O episódio ganhou destaque após Sánchez afirmar, em tom polêmico, lamentar que a Espanha não disponha de “bombas nucleares” contra Israel. A declaração foi amplamente criticada no cenário internacional e chegou a ser celebrada por organizações como o Hamas. Paralelamente, o governo espanhol anunciou o bloqueio de contratos de defesa que envolvem empresas israelenses, afetando diretamente a modernização das capacidades militares nacionais.
Cancelamento do programa SILAM
O primeiro impacto concreto ocorreu com a anulação da compra do Sistema Lançador de Foguetes de Alta Mobilidade (SILAM), estimado em € 697 milhões. O projeto, assinado em 2023, previa a integração do lançador israelense PULS, da Elbit Systems, em caminhões IVECO 6×6, operados em parceria com empresas espanholas. A solução daria às Forças Armadas acesso a mísseis guiados de médio e longo alcance, cobrindo lacunas históricas da artilharia espanhola.
Com o cancelamento, o Exército permanece sem um sistema de foguetes de saturação, além de perder oportunidades de transferência tecnológica e geração de empregos associados ao contrato. Até o momento, o Ministério da Defesa não apresentou alternativas para suprir essa capacidade.
Um lançador PULS em um caminhão IVECO 8×8. Esta seria a configuração escolhida para os lançadores do Exército Espanhol
Fim do contrato dos mísseis Spike LR2
Outro programa atingido é a aquisição de 168 lançadores Spike LR2 e 1.680 mísseis anticarro, também da Elbit Systems, no valor de € 287 milhões. O Spike LR2, que seria integrado ao veículo blindado VCR Dragón em desenvolvimento, possui tecnologia avançada de rastreamento assistido por inteligência artificial e alcance superior a 5,5 km.
A decisão força agora a revisão das torres Guardian 30, originalmente projetadas para empregar esse míssil, gerando atrasos e custos adicionais ao programa Dragón. O cancelamento repete um problema já enfrentado no início do ano, quando o Ministério do Interior recuou em uma compra de munições israelenses devido ao risco de indenizações contratuais milionárias.
O Spike LR2 em voo
Dependência tecnológica e consequências estratégicas
Nos últimos dois anos, a Espanha investiu mais de € 1 bilhão em sistemas militares israelenses, enquanto suas exportações de defesa para Israel somaram apenas € 84 milhões em duas décadas. Esse desnível demonstra a dependência espanhola de fornecedores israelenses, sobretudo em áreas críticas como mísseis guiados e sistemas de artilharia avançada.
Especialistas alertam que a paralisação desses programas pode deixar lacunas operacionais relevantes, além de impor custos adicionais aos cofres públicos em eventuais indenizações por cancelamento unilateral de contratos.
Um dilema para a política de defesa espanhola
A crise evidencia o impacto de decisões políticas sobre a modernização das Forças Armadas. Com a interrupção de projetos estratégicos, a Espanha corre o risco de atrasar sua capacidade de dissuasão e interoperabilidade no âmbito da OTAN, enquanto busca alternativas ainda incertas no mercado internacional.
