O Ministério da Defesa do Japão confirmou planos de posicionar uma versão atualizada dos mísseis anti-navio Type 12 em Kyushu até 2026, decisão que rapidamente desencadeou críticas do Ministério da Defesa Nacional da China. A medida integra o projeto orçamentário japonês para o ano fiscal de 2026, que eleva os gastos de defesa a um recorde de 8,85 trilhões de ienes — refletindo a guinada estratégica de Tóquio rumo a uma postura mais assertiva no campo militar.
De acordo com informações divulgadas pela mídia japonesa, a nova variante do Type 12 terá alcance significativamente ampliado, permitindo atingir alvos além das águas próximas ao arquipélago. A localização prevista para o sistema, em Kyushu — a ilha mais ao sudoeste do Japão —, sugere cobertura estratégica sobre o Mar da China Oriental, região marcada por disputas marítimas e pela presença crescente de forças navais chinesas.

A reação de Pequim não tardou. Em 10 de setembro, o coronel sênior Jiang Bin, porta-voz oficial do Ministério da Defesa Nacional da China, declarou que “o Japão está acelerando a expansão militar e desenvolvendo capacidades muito além do necessário para a chamada ‘autodefesa exclusiva’”. Segundo Jiang, a modernização das forças japonesas despertou “preocupação profunda” entre países da região e entre “todos os amantes da paz no mundo”.
O discurso chinês também resgatou a memória histórica. Jiang associou a atual trajetória japonesa ao legado militarista da Segunda Guerra Mundial, afirmando que “há oitenta anos o militarismo japonês infligiu enorme sofrimento aos povos dos países asiáticos”. Para Pequim, qualquer avanço em sistemas de ataque de longo alcance por parte do Japão revive temores sobre a repetição de padrões de agressão do século XX.

O Ministério da Defesa japonês, por sua vez, não detalhou oficialmente o alcance exato da versão modernizada do Type 12, nem os parâmetros de emprego do sistema. Analistas, entretanto, apontam que a mudança de perfil — de defesa costeira para missões de ataque de longo alcance — sinaliza uma transformação estrutural na doutrina de defesa japonesa, cada vez mais moldada pelo conceito de “contragolpe” diante de ameaças regionais, sobretudo chinesas e norte-coreanas.
A escalada retórica entre Tóquio e Pequim ocorre em um momento de realinhamento estratégico no Leste Asiático. A decisão japonesa reflete a preocupação crescente com a atividade militar chinesa nas proximidades das ilhas Senkaku/Diaoyu, disputadas por ambos os países. Contudo, a resposta chinesa sugere que a iniciativa pode intensificar a dinâmica de competição militar na região, alimentando o risco de uma corrida armamentista no Indo-Pacífico.



