O Mali recebeu, no início de setembro, seu primeiro sistema de lançamento múltiplo de foguetes Norinco SR-5, fabricado pela China North Industries Corporation (Norinco). As entregas foram registradas em Bamako entre os dias 3 e 4 de setembro, segundo fontes locais. A aquisição marca um salto qualitativo nas capacidades de artilharia do país, inserindo as Forças Armadas malianas em um seleto grupo de operadores que já inclui Argélia, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e China.
O SR-5 é um dos mais versáteis sistemas de foguetes da atualidade, projetado para disparar uma ampla gama de munições – desde foguetes não guiados de 122 mm até mísseis táticos de 610 mm. Sua arquitetura modular, baseada em dois pods de lançamento selados de fábrica, permite alternar rapidamente entre diferentes tipos de armamento, adaptando-se a cenários que vão de ataques de saturação a missões de precisão contra alvos estratégicos. O veículo, montado sobre o chassi Taian TA5310 6×6, pode lançar salvas em menos de cinco minutos e reposicionar-se em cerca de um minuto, reduzindo a vulnerabilidade ao fogo de contrabateria.
Com alcance de até 70 quilômetros, precisão de até três metros com foguetes guiados de 220 mm e possibilidade de empregar munições sofisticadas como o míssil antinavio C-705, o SR-5 é frequentemente comparado ao sistema americano HIMARS. A diferença crucial está no arranjo de pods duplos do modelo chinês, que oferece maior volume de fogo por unidade.
Para Bamako, a incorporação desse sistema não se limita ao aspecto técnico: ela reflete uma reorientação estratégica. O Mali, pressionado por uma insurgência persistente no Sahel e por tensões políticas internas, vem diversificando fornecedores militares. Nos últimos anos, suas forças armadas receberam equipamentos da Rússia, da Turquia e, de forma crescente, da China. A aposta em Pequim alinha o país a uma tendência regional. Burkina Faso, vizinho e aliado em operações conjuntas contra grupos armados, também incorporou recentemente veículos de combate VN22B, morteiros PLL-05 e lançadores SR-5.
A chegada do SR-5 ocorre em um contexto de expansão acelerada das exportações de defesa chinesas para a África. Entre 2019 e 2023, mais de 20 países subsaarianos receberam sistemas militares de Pequim, consolidando a posição da China como principal fornecedor do continente, à frente da Rússia e dos Estados Unidos. Essa presença se traduz não apenas em vendas, mas em influência política crescente, à medida que países africanos buscam alternativas aos tradicionais parceiros ocidentais.
No campo de batalha, a introdução do SR-5 promete ampliar a capacidade de dissuasão e resposta das forças malianas. Combinando poder de saturação e ataques de precisão, o sistema pode alterar a correlação de forças contra grupos insurgentes, ao mesmo tempo em que reforça a mensagem de Bamako sobre sua autonomia em matéria de defesa. Contudo, o alto custo das munições mais avançadas e a dependência de suporte logístico externo podem limitar seu emprego pleno.
Ainda assim, a entrega do SR-5 simboliza um passo decisivo na modernização do arsenal maliano e reforça a consolidação da China como ator-chave na arquitetura de segurança do Sahel.
