A Venezuela estuda um movimento de grande impacto estratégico: a possível aquisição de caças multifuncionais chineses J-10C “Vigorous Dragon”, aeronaves de 4,5ª geração que poderiam reposicionar Caracas no cenário do poder aéreo regional e inserir a China de forma inédita na equação militar do Hemisfério Ocidental. Embora ainda não haja confirmação oficial de Caracas ou Pequim, fontes ligadas a círculos diplomáticos e militares apontam que as negociações podem envolver até 24 aeronaves J-10C, além de contemplar a integração do sistema de alerta aéreo antecipado Shaanxi Y-8-400AEW, o que ampliaria de forma significativa a capacidade de comando, controle e vigilância estratégica da Força Aérea Venezuelana.
A possível compra ocorre em meio ao enfraquecimento da frota russa Su-30MK2 Flanker, afetada pelas dificuldades logísticas e produtivas de Moscou em razão da guerra na Ucrânia e pelas sanções ocidentais que dificultam a manutenção de equipamentos. Essa dependência crescente de peças e suporte militar russos criou um cenário de paralisia operacional para Caracas, forçando o país a buscar alternativas. A aproximação com a China, que já possui fortes laços econômicos e tecnológicos com a Venezuela, surge assim como uma alternativa não apenas para renovar a aviação de combate, mas também para reorientar o alinhamento militar do país.
O J-10C é considerado um dos caças mais avançados em operação fora do círculo das potências tradicionais. A aeronave integra aviônicos modernos, radar AESA, miras montadas no capacete e arquitetura aberta que permite adaptações conforme o cliente. Seu motor WS-10B Taihang garante capacidade de supercruzeiro e alta relação empuxo-peso, enquanto o design com asa delta e canards lhe confere agilidade em combate aéreo. Armado com o míssil de longo alcance PL-15, capaz de engajar alvos a mais de 200 quilômetros, o J-10C daria à Venezuela uma capacidade inédita na região, superando em alcance e modernidade as frotas de F-16 no Chile e no Peru. Além disso, sua aptidão para empregar bombas de precisão e mísseis de ataque terrestre ampliaria o alcance ofensivo venezuelano para além do atual, incluindo zonas sensíveis como a região do Essequibo, alvo de disputa com a Guiana.
A eventual aquisição do Shaanxi Y-8-400AEW representaria um salto ainda maior, oferecendo capacidade de alerta antecipado e coordenação de longo alcance para operações aéreas. Integrado aos J-10C, o sistema permitiria criar cadeias de destruição comparáveis às que já foram testadas no Paquistão contra caças Rafale e Su-30MKI indianos, aumentando a letalidade e a cobertura da aviação venezuelana. Com um raio de combate superior a 1.000 quilômetros, o novo pacote daria a Caracas a possibilidade de patrulhar e projetar poder aéreo sobre vastas áreas da América do Sul setentrional.
O impacto regional de uma aquisição desse porte seria imediato. O Brasil, que introduz gradualmente seus caças Gripen E, poderia ser pressionado a acelerar entregas ou ampliar a cooperação com os Estados Unidos para equilibrar o ressurgimento da Venezuela apoiada pela China. Chile e Peru, operadores de longa data de F-16, teriam de investir em atualizações de radares, aviônicos e mísseis para não perder vantagem estratégica. Já para Washington, a simples presença de aeronaves chinesas avançadas a poucas horas do Caribe representaria uma ruptura inédita desde a Guerra Fria, obrigando os EUA a intensificar exercícios conjuntos com aliados como Colômbia e Guiana e até mesmo reforçar o posicionamento de aeronaves de quinta geração na região.
Mais do que uma simples modernização militar, a negociação funciona também como ferramenta política e estratégica. Caracas aumenta sua margem de manobra ao sinalizar disposição em estreitar laços militares com Pequim, enquanto a China consolida sua imagem como fornecedor alternativo de armamentos capaz de penetrar áreas tradicionalmente dominadas pelos Estados Unidos. A Rússia, por sua vez, vê sua influência declinar em um terreno onde antes exercia quase exclusividade.
Caso se concretize, a chegada dos J-10C e do Y-8-400AEW reconfiguraria de imediato a balança do poder aéreo sul-americano e marcaria o início de uma nova etapa da competição geopolítica global no continente. Para a China, seria a prova de que sua ambição militar já não se limita à Ásia, mas alcança também o Hemisfério Ocidental. Para Washington, um alerta de que sua hegemonia regional enfrenta, pela primeira vez em décadas, um competidor disposto a desafiar sua primazia em seu próprio “quintal”.