Nigéria aposta na produção local de fuzis AK-103 para reduzir dependência externa

A Nigéria deu um passo decisivo rumo à autossuficiência em defesa ao anunciar o início da produção do fuzil de assalto DG-103, fruto da joint venture entre a estatal Defence Industries Corporation of Nigeria (DICON) e a empresa as nigerianas  D7G. O anúncio foi feito durante a primeira Cúpula dos Chefes de Defesa Africanos, realizada em Abuja entre 25 e 27 de agosto de 2025, evento que reuniu representantes de 37 países para discutir cooperação militar no continente.

O DG-103 é uma versão licenciada e produzida localmente do consagrado AK-103 russo, reconhecido por sua robustez e confiabilidade em múltiplos cenários de combate. A produção terá início em setembro de 2025, nas instalações de Kaduna, onde a joint venture já está ampliando linhas de montagem para atender às demandas das Forças Armadas nigerianas e de potenciais clientes internacionais.

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Segundo Osman Chennar, CEO da DICON-D7G, a parceria seguirá um plano em fases. A primeira etapa prevê a abertura da fábrica principal ainda esta semana, preparando a produção dos rifles no próximo mês. Até dezembro, está prevista a inauguração de uma fábrica de munições capaz de produzir entre cinco e 15 milhões de cartuchos por semana. O objetivo é alcançar a marca de até 90 milhões de unidades anuais, somando a capacidade da joint venture e da própria DICON, garantindo abastecimento interno e ampliando a possibilidade de exportação.

Em uma terceira fase, a cooperação pretende diversificar o portfólio com a fabricação de veículos aéreos não tripulados (VANTs), bombas e foguetes, reforçando o projeto de transformar a Nigéria em um polo regional da indústria de defesa. A meta anunciada é ambiciosa: mais de um milhão de fuzis DG-103 ao longo do programa.

O rifle, em sua configuração básica, mantém as características do AK-103: calibre 7,62×39 mm, cadência de tiro em torno de 600 disparos por minuto e alcance efetivo de até 500 metros. A versão nigeriana incorpora ainda adaptações modernas, como trilhos Picatinny e o uso de polímeros de alta resistência em componentes estruturais, garantindo leveza e durabilidade frente às condições climáticas diversas do país.

A closer look at the Kalashnikov AK-100M Series (TFB unique pictures) |  thefirearmblog.com

Para o Tenente-Coronel Edet Okon (aposentado), Diretor Assistente de Produção da D7G, a iniciativa demonstra que a Nigéria reúne expertise e infraestrutura para sustentar um programa dessa magnitude. “Estamos aproveitando recursos nacionais para responder às necessidades militares e reduzir a dependência de importações”, destacou durante a cúpula.

A iniciativa é parte de um esforço mais amplo de revitalização da indústria de defesa local. Em fevereiro de 2024, a DICON havia retomado sua produção após anos de paralisação, resultado de reformas e novos aportes financeiros. O governo nigeriano vê no fortalecimento da produção doméstica um caminho para economizar divisas, criar empregos qualificados e projetar poder no continente.

O contexto regional reforça a urgência da medida. A Nigéria enfrenta ameaças persistentes como terrorismo no Sahel, insurgências no nordeste, além de desafios marítimos no Golfo da Guiné. Ao mesmo tempo, a dependência histórica de fornecedores externos muitas vezes atrasou ou limitou respostas rápidas às crises.

Durante o encerramento da cúpula, o Chefe do Estado-Maior da Defesa, General Christopher Gwabin Musa, sublinhou a importância da integração africana em áreas como gestão de fronteiras, operações conjuntas, compartilhamento de inteligência e uso de tecnologias emergentes, incluindo inteligência artificial aplicada a sistemas de alerta precoce.

Com o DG-103, Abuja não apenas equipa suas forças com um armamento testado em campo, mas também sinaliza uma ambição maior: transformar-se em referência industrial no setor de defesa africano, reduzindo vulnerabilidades estratégicas e reforçando a autonomia regional.

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