Desde o início da guerra em larga escala na Ucrânia, a Coreia do Norte e a Rússia têm acelerado a expansão de seus laços de defesa, despertando especulações sobre a possível aquisição, por Pyongyang, de aeronaves de combate russas de última geração. A escassez de capacidade própria na produção de aviação de combate tripulada torna este movimento particularmente relevante para o Exército Popular da Coreia (KPA), que ainda depende de caças obsoletos para manter sua superioridade aérea.
A partir de setembro de 2023, autoridades norte-coreanas inspecionaram a Fábrica de Aviação Komsomolsk-on-Amur, na região de Vladivostok, responsável pela produção dos caças Su-35 e Su-57. As visitas foram seguidas, em outubro de 2024, pelo envio de pilotos norte-coreanos à mesma região, sugerindo o início de treinamentos em aeronaves modernas. O cenário permanece incerto quanto à escolha das futuras aquisições, considerando que a Rússia possui mais de dez tipos diferentes de jatos de combate tático, enquanto a Coreia do Norte opera atualmente caças como MiG-17, MiG-19 e MiG-21, totalmente desatualizados.
Entre os candidatos à modernização, destacam-se o Su-57 de quinta geração e variantes modernizadas do MiG-29, mas um foco crescente recai sobre o bombardeiro de ataque Su-34M, sucessor natural do Il-28, que ainda integra a frota norte-coreana com cerca de 80 unidades. O Su-34M oferece alcance e capacidade de carga de armas incomparáveis, permitindo projeção de poder em todo o Pacífico, incluindo possíveis ataques antinavio e antissuperfície a distâncias estratégicas, como Guam. Sua versatilidade inclui capacidades secundárias ar-ar equivalentes às de caças contemporâneos de Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, além de sistemas avançados de guerra eletrônica e desempenho supersônico, tornando-o difícil de ser interceptado.
A aquisição do Su-34M também poderia complementar a expansão da Marinha norte-coreana, proporcionando suporte aéreo a contratorpedeiros oceânicos, enquanto a capacidade de transporte de armas estratégicas, incluindo bombas de grande calibre e mísseis balísticos como o Kh-47M2, possibilitaria a Coreia do Norte a diversificação de sua tríade nuclear. Produzido atualmente por menos de US$ 20 milhões por unidade, o Su-34M surge como opção altamente acessível para substituir aeronaves antiquadas, especialmente considerando os lucros que Pyongyang obteve com exportações militares à Rússia.
líder norte-coreano Kim Jong Un, à direita, posa com um piloto após o voo de demonstração de um caça Su-35 em Komsomolsk-on-Amur,
Novas imagens confirmam que pelo menos um pequeno lote do Su-34M foi produzido em configuração de exportação, alimentando especulações sobre potenciais clientes estrangeiros, com Argélia e Coreia do Norte como os mais prováveis. A produção na Fábrica de Novosibirsk mais que dobrou desde 2022, facilitando a exportação mesmo diante da alta demanda da Força Aeroespacial Russa. O Su-34M combina elevada capacidade de carga, alcance estratégico e flexibilidade operacional, reforçada por novos armamentos como o míssil de cruzeiro Kh-59MK2 e pods de reconhecimento tático, consolidando-o como um dos caças-bombardeiros mais avançados e cobiçados do mercado internacional.
A força Aérea Norte coreana possui cerca de 80 bombardeiros Ilyushin Il-28 e Hongzhaji H-5
Para a Argélia, a aeronave substituiria a frota de Su-24M, elevando a compatibilidade com os Su-30MKA e Su-35S, enquanto para a Coreia do Norte, representaria uma revolução na capacidade de ataque, substituindo o Il-28 e potencializando o poder de dissuasão regional. Ao mesmo tempo, a aquisição reforçaria a posição de Moscou como fornecedor estratégico, capaz de relaxar políticas históricas de embargo e expandir sua influência no Leste Asiático por meio de Pyongyang.
O Su-34M, portanto, não é apenas uma atualização tecnológica, mas um instrumento de projeção de poder geopolítico, capaz de alterar o equilíbrio militar em regiões críticas e de fornecer à Coreia do Norte ferramentas para expandir seu alcance estratégico de forma inédita.
