O Ministério da Defesa britânico anunciou oficialmente o Projeto Atilla, iniciativa estratégica para converter veículos de combate de infantaria (IFVs) MCV-80 Warrior aposentados em veículos terrestres não tripulados (UGVs), inicialmente operados remotamente e, futuramente, de forma autônoma. O programa tem como objetivo principal tarefas de abertura de minas em campos minados, aproveitando ativos existentes e evitando custos de descarte.
A decisão acompanha a posição do governo de não enviar Warriors excedentes à Ucrânia, mantendo-os sob controle do Exército Britânico para funções de engenharia de alto risco. O contrato, avaliado em £12 milhões sem IVA (£15 milhões incluindo IVA), será conduzido em duas fases sob uma única estrutura contratual. A Fase 1 prevê a criação de uma Capacidade Mínima de Implantação (MDI), convertendo até seis Warriors em sistemas opcionalmente tripulados equipados com arados ou rolos de minas, operáveis remotamente. A Fase 2 focará no desenvolvimento de autonomia total, refinamento de requisitos e preparação para futuras aquisições de UGVs pesados.
O processo de aquisição será conduzido pelo Portal de Sourcing de Defesa, com edital completo previsto para 1º de setembro de 2025, inscrições até 26 de setembro e adjudicação em 18 de novembro. Pequenas e médias empresas são explicitamente elegíveis, reforçando o incentivo à inovação doméstica, enquanto a execução do contrato se estenderá de 1º de janeiro de 2026 a 31 de março de 2028, com possibilidade de prorrogação por um ano.
O Warrior, desenvolvido no âmbito do programa MCV-80 e em serviço desde 1987, transportava tripulação de três soldados e até sete infantaria desmontada. Com peso de 25,4 toneladas e motor diesel Perkins V-8 de 550 cv, podia atingir 75 km/h e tinha alcance de 660 km. Seu armamento incluía canhão RARDEN de 30 mm, metralhadora coaxial de 7,62 mm e lançadores de granadas de fumaça, enquanto a blindagem de alumínio foi posteriormente reforçada com pacotes modulares para combate. Ao longo de sua carreira, o Warrior recebeu atualizações eletrônicas, rádios Bowman e miras térmicas Thales, além de variantes de comando, reparo, recuperação e observação de artilharia, somando 789 unidades produzidas para o Reino Unido e 254 exportadas para o Kuwait.
O cancelamento do Programa de Sustentação da Capacidade do Warrior em 2021, que pretendia estender o serviço até 2040 com novos canhões e proteção modular, reforçou a necessidade de alternativas inovadoras para reaproveitamento da frota. Em meados de 2024, 632 veículos permaneciam em serviço, com pelo menos 80 destinados ao descarte. Provas de conceito como o protótipo Weevil, desenvolvido pelo DSTL e Pearson Engineering, demonstraram a viabilidade de transformar cascos Warrior em veículos de abertura de rotas seguras sem tripulação, operáveis remotamente com sensores, câmeras e controles via tablet.
O Projeto Atilla se insere em um contexto global de transformação de veículos de combate em sistemas não tripulados. O Japão, por exemplo, apresentou na DSEI Japão 2025 uma proposta de conversão do Tipo 89, substituindo o compartimento de tropas por tubos de lançamento de munição Switchblade 600, mantendo apenas a torre de canhão de 30 mm. A Rússia avançou com o BMP-3 Sinitsa, equipado com módulo Prometheus para operação remota ou autônoma, enquanto os EUA testaram os protótipos Black Knight e Ripsaw M5. Até a Finlândia explorou o controle remoto de seu Patria AMV XP via redes 5G.
Especialistas destacam que essas iniciativas refletem uma tendência compartilhada pelos principais exércitos: maximizar o valor de plataformas existentes, reduzir risco humano e integrar tecnologias autônomas em operações de engenharia e combate, estabelecendo um novo patamar de capacidade para veículos terrestres não tripulados de grande porte.
