A empresa alemã Flensburger Fahrzeugbau Gesellschaft (FFG) desenvolveu o Condor, um novo carro de combate que aposta em um conceito híbrido ao reunir em uma única plataforma as funções de apoio de fogo terrestre e defesa antiaérea de curto alcance que deve estrear exposição de defesa DSEI em Londres. O projeto parte da modernização do veterano Leopard 1, um dos tanques de batalha mais difundidos do século XX, que recebeu atualizações profundas em sua motorização, transmissão e sistemas de refrigeração, além da integração de uma torre não tripulada equipada com armamentos modernos e sensores avançados. Essa escolha não é apenas prática, mas estratégica: ao utilizar uma plataforma já consolidada, a FFG garante acesso a uma vasta rede logística global, facilitando manutenção, reposição de peças e reduzindo custos de operação, o que torna o Condor atraente para países que ainda mantêm estoques do Leopard 1.
O veículo é impulsionado por um motor Rolls-Royce Power Systems 8V199TE23, que gera até 1.080 cavalos de potência, associado a uma transmissão automática da ZF e a um sistema de refrigeração de dois ciclos. Essas melhorias reduziram o peso do conjunto em cerca de 300 quilos em relação ao motor original e aumentaram significativamente a relação peso-potência, permitindo ao Condor manter alta mobilidade mesmo com menos de 40 toneladas. Essa combinação de potência e leveza garante que ele possa operar em diversos terrenos, acompanhar formações blindadas e responder com rapidez em cenários operacionais complexos.

O novo motor oferece mais potência e torque do que o antigo motor do Leopard 1, além de ser mais leve e econômico. (Imagem: FFG)
O coração da modernização, contudo, está na torre não tripulada Turra 30 – SA, desenvolvida pela empresa eslovaca EVPÚ. O sistema é equipado com um canhão automático de 30 mm capaz de disparar munição de explosão programável (air-burst), extremamente eficaz contra drones, helicópteros e aeronaves de baixa altitude, além de alvos terrestres leves. A torre pode ser configurada para receber ainda o canhão Bushmaster Mk44, uma metralhadora coaxial e mísseis anticarro como Spike ou Konkurs, ampliando seu leque de combate. Aliada a sensores ópticos avançados, radar multi-missão e sistemas de detecção automática de disparos inimigos, a plataforma garante um elevado nível de consciência situacional e maior sobrevivência em campo de batalha.
Essa versatilidade coloca o Condor em uma posição singular, capaz de alternar rapidamente entre funções de defesa antiaérea e apoio de fogo direto. Seu sistema de alimentação dupla permite trocar tipos de munição instantaneamente, adaptando-se às condições do combate em tempo real — algo particularmente útil no enfrentamento de ameaças modernas, como o emprego de enxames de drones armados combinados a forças terrestres leves. Essa multifuncionalidade aproxima o Condor do conceito russo do BMPT “Terminator”, veículo projetado para proteger colunas de tanques contra emboscadas de infantaria e ataques aéreos de baixa altitude. Ambos seguem a mesma linha de operação: não são tanques de batalha principais nem sistemas antiaéreos dedicados, mas plataformas híbridas criadas para enfrentar cenários complexos e saturados de ameaças.

BMPT “Terminator” 2 operando na Ucrânia
Se por um lado o Terminator representa a versão russa de um veículo de apoio de fogo multifuncional, o Condor surge como seu “irmão ocidental”, mas com uma diferença marcante: foi pensado a partir da modernização de uma plataforma já existente e amplamente difundida. Isso confere maior acessibilidade e apelo a países que buscam expandir suas capacidades militares sem investir em veículos completamente novos e de alto custo. Além disso, sua ênfase no combate a drones o torna ainda mais relevante, já que esses sistemas aéreos não tripulados se tornaram um dos elementos centrais do campo de batalha contemporâneo.

Turra 30
O Condor, portanto, é mais do que um simples reaproveitamento do Leopard 1: é uma tentativa de dar nova vida a uma plataforma clássica, transformando-a em um veículo adaptado às guerras do século XXI. Combinando mobilidade, poder de fogo e defesa contra ameaças aéreas emergentes, ele se posiciona como uma solução pragmática para forças armadas que precisam de flexibilidade e rapidez de adaptação. O sucesso do projeto dependerá de sua aceitação no mercado internacional e de sua capacidade de demonstrar, em exercícios ou operações reais, que pode cumprir a promessa de ser tanto um escudo contra drones e helicópteros quanto uma lança contra alvos terrestres, ocupando o mesmo espaço doutrinário do BMPT Terminator, mas dentro da lógica operacional da OTAN e de seus aliados.