
A Força Aérea do Irã vive um momento de transição crítica. Após anos de expectativas frustradas em torno da aquisição de caças russos Sukhoi Su-35 Flanker-E, que chegaram a ser anunciados como certos em 2022, Teerã assiste agora a essas aeronaves tomarem outro rumo: a Argélia. Diante do impasse com Moscou, o governo iraniano redireciona suas apostas para Pequim, mirando os caças de geração 4.5 Chengdu J-10C Firebird e Shenyang J-16 Flanker-N, que podem substituir, respectivamente, os veteranos F-4 Phantom II e os F-14 Tomcat ainda em operação.

A novela dos Su-35: da expectativa à frustração
O plano original era ambicioso. O Irã e a Rússia haviam firmado um acordo em 2022 que previa a entrega de um lote de Su-35 Flanker-E — caças originalmente construídos para o Egito, mas nunca recebidos por questões políticas. Pilotos iranianos chegaram a ser enviados para treinamento em território russo, numa clara preparação para a incorporação dos aviões.

No entanto, a guerra na Ucrânia mudou as prioridades de Moscou. As linhas de produção passaram a atender sobretudo à demanda doméstica, e os compromissos externos sofreram atrasos. Para agravar a situação, sanções internacionais e dificuldades logísticas complicaram qualquer transferência de tecnologia para Teerã.
O golpe final veio em 2025, quando imagens de satélite revelaram que os Su-35 destinados ao Irã haviam sido repassados à Argélia, país que já vinha negociando discretamente a compra. Organismos internacionais de defesa confirmaram a presença de pelo menos quatro unidades marcadas com insígnias argelinas. Para Teerã, o episódio foi lido como mais do que um revés técnico: um sinal claro de que Moscou não é um parceiro totalmente confiável no atual tabuleiro geopolítico.

A alternativa chinesa: pragmatismo e tecnologia
Com a frustração russa, Teerã voltou os olhos para Pequim. As negociações com a China não são novidade: em 2015, o Irã já havia demonstrado interesse no Chengdu J-10C, mas a tentativa esbarrou em divergências financeiras. A China exigia pagamento em divisas fortes, enquanto o Irã oferecia petróleo e gás.
Agora, com algum relaxamento das sanções e maior espaço para manobras diplomáticas, as conversas ganharam novo fôlego. Segundo informações de bastidores, um pacote de 36 caças J-10C voltou à mesa, acompanhado da possibilidade de incluir aeronaves de alerta aéreo antecipado (AWACS) para ampliar a rede de defesa aérea iraniana.

O J-10C é um caça leve, moderno, equipado com radar AESA e mísseis de longo alcance PL-15, capazes de atingir alvos a mais de 200 km. Sua eficiência já foi demonstrada em cenários reais, como nas disputas aéreas entre Paquistão e Índia. Para o Irã, que ainda depende de esquadrões de F-4 da década de 1970, a introdução desses aviões representaria um salto qualitativo imediato.
O J-16: o “Flanker chinês” como herdeiro do F-14
Mais do que renovar sua linha de interceptores leves, Teerã também busca uma solução para substituir o ícone de sua aviação militar: o F-14 Tomcat. Herdados da era pré-revolução islâmica, os Tomcat sobreviveram a décadas de isolamento graças a uma manutenção improvisada e adaptações locais, mas hoje já não acompanham as necessidades modernas de combate aéreo.
É nesse espaço que surge o Shenyang J-16. Descrito por analistas como um “Flanker do século XXI”, o J-16 combina a base estrutural do Su-30 com a eletrônica de ponta desenvolvida pela China. Possui radar AESA, ampla capacidade de carga bélica (até 8 toneladas em 12 pontos duros), cockpit digital e emprego extensivo de materiais compostos. Está equipado com motores WS-10B, mais confiáveis e de manutenção simplificada em relação aos antigos AL-31 russos.

Além disso, variantes especializadas como a J-16D, dedicada à guerra eletrônica, oferecem vantagens estratégicas adicionais, permitindo ao Irã não apenas renovar sua aviação de combate, mas também explorar capacidades de supressão de defesas aéreas — algo fundamental em um possível confronto contra Israel ou forças americanas no Golfo.
Para Teerã, o J-16 teria uma dupla vantagem: substituir os F-14 em missões de superioridade aérea e ataque de longo alcance, e ao mesmo tempo oferecer independência logística da Rússia — cujo setor militar enfrenta saturação de produção e sanções pesadas. A integração do J-16 poderia ser mais rápida para Teerã devido à familiaridade já existente com a família Flanker, operada por diversos países parceiros.
Consequências estratégicas
O realinhamento iraniano em direção à China carrega implicações que vão além do campo técnico. Ao abandonar a dependência quase exclusiva da Rússia, Teerã diversifica seus fornecedores e se aproxima ainda mais de Pequim, que já é seu maior parceiro econômico e energético.
Se confirmada, a combinação dos J-10C para missões de combate ágil e intercepção, e dos J-16 para alcance estratégico e guerra eletrônica, transformará o equilíbrio aéreo no Oriente Médio. A Força Aérea Iraniana deixará de operar essencialmente com relíquias modernizadas e passará a contar com vetores capazes de enfrentar de igual para igual as frotas de seus rivais regionais, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Israel.
No entanto, resta a pergunta central: será que a China está disposta a assumir os riscos políticos de equipar Teerã com um arsenal aéreo de ponta? Até o momento, as conversas avançam com pragmatismo. Para o Irã, depois da frustração com os Su-35 russos, qualquer sinal de concretização é recebido como um sopro de credibilidade e como a promessa de finalmente tirar do papel a modernização de sua aviação de combate.


