Subsecretário de Defesa dos Emirados realiza voo no KAI KF-21 Boramae biplace e aumenta interesse na aeronave Sul-Coreana

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O subsecretário de Defesa dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Nasser Mohammed Al Alawi, faz um sinal de positivo do assento traseiro de um KF21 Boramae durante um voo de amizade na Base Aérea de Sacheon com o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea da Coreia do Sul, Lee Young-soo, em 7 de agosto de 2025. (Fonte da imagem: Força Aérea da Coreia do Sul)

A tranquila Base Aérea de Sacheon, na Coreia do Sul, viveu recentemente um daqueles momentos que parecem simples à primeira vista, mas carregam um peso estratégico enorme. No dia 7 de agosto de 2025, o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea da República da Coreia (ROKAF), general Lee Young-soo, e o subsecretário de Defesa dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Nasser Mohammed Al Alawi, subiram aos céus em duas das aeronaves mais emblemáticas da indústria sul-coreana: o caça leve FA-50 Fighting Eagle e o protótipo do avançado KF-21 Boramae. Para Al Alawi, que ocupou o assento traseiro do Boramae, não foi apenas um passeio: foi uma imersão prática no caça mais moderno já produzido pela Coreia do Sul, permitindo sentir pessoalmente sua manobrabilidade, a ergonomia da cabine, a interface aviônica e como o sistema gerencia a carga de trabalho do piloto.

Era a primeira vez que um líder militar de tão alto escalão dos Emirados voava nessa aeronave, um privilégio que poucos parceiros internacionais recebem. O gesto não foi apenas cortesia: foi um recado claro de confiança mútua e de abertura para uma possível parceria de longo prazo. Esse momento coroou uma semana intensa de diplomacia de defesa, que incluiu a reunião de Al Alawi com o ministro da Defesa sul-coreano, Ahn Kyu-back, em 5 de agosto, e a participação na 13ª edição do Comitê Diretor de Nível Vice-Ministro Coreia–Emirados Árabes Unidos, no dia seguinte, em Seul. Nessas conversas, os dois lados reforçaram o compromisso com cooperação em ciência e tecnologia de defesa, inteligência, cibersegurança, inteligência artificial e programas de treinamento conjuntos, além de ampliar o intercâmbio de pessoal e exercícios militares combinados.

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O General Lee Yeon-su, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea da República da Coreia (ROKAF), com o vice-ministro da Defesa dos Emirados Árabes Unidos, Ibrahim Nasser Mohammed Al Alawi, após o voo.

O pano de fundo dessa aproximação é o KF-21 Boramae, um projeto que simboliza a ambição e a capacidade da indústria de defesa sul-coreana. Desenvolvido pela Korea Aerospace Industries (KAI) em parceria com a Indonésia — embora Jacarta enfrente dificuldades para manter sua contribuição financeira —, o Boramae é um caça multifuncional de 4,5ª geração, pensado para preencher o espaço entre aeronaves como o F-16 e plataformas stealth de quinta geração, como o F-35. Lançado oficialmente em julho de 2022, ele já acumulou mais de mil voos de teste, incluindo missões complexas como reabastecimento aéreo noturno, manobras de alta gravidade e disparos reais de mísseis Meteor BVRAAM e IRIS-T.

O design do KF-21 reduz a assinatura de radar, incorpora um radar AESA nacional produzido pela Hanwha Systems, sensores infravermelhos de busca e rastreamento (IRST), um computador de missão de alta capacidade e um avançado conjunto de guerra eletrônica. Seus dois motores GE F414-GE-400 permitem atingir Mach 1,8, com desempenho para operações em altitudes elevadas e missões de combate aéreo e ataque. A KAI já desenvolve variantes especializadas, como o KF-21EA para guerra eletrônica, o KF-21EX com furtividade melhorada e o KF-21SA, voltado para exportação.

Is the UAE preparing to purchase the South Korean KF-21 Boramae fighter jet  for its Air Force?

Um dos grandes diferenciais para os Emirados é a flexibilidade de integração de armamentos — desde bombas guiadas de precisão e mísseis de cruzeiro lançados do ar até mísseis ar-ar de curto e longo alcance —, incluindo sistemas não americanos. Essa autonomia de escolha se alinha perfeitamente com a doutrina de defesa de Abu Dhabi, que busca diversificar fornecedores e reduzir dependências políticas. Atualmente, a Força Aérea e Defesa Aérea dos Emirados Árabes Unidos (UAE AFAD) opera F-16E/F Block 60 Desert Falcon e Rafale F4, ambos de ponta, mas atrelados a restrições e influências de Washington e Paris. O KF-21, além de moderno, oferece um caminho mais independente, sem as amarras tradicionais de exportação impostas por potências ocidentais.

A Coreia do Sul também abre portas para transferência de tecnologia e até montagem local — algo raro no mercado de caças de alto desempenho. Para Abu Dhabi, isso significa a possibilidade de criar um polo nacional de manutenção, reparo e revisão (MRO), desenvolver sistemas de missão sob medida e até participar de futuros upgrades da aeronave. Essa abordagem já se provou bem-sucedida em outros setores, como na parceria que construiu a usina nuclear de Barakah e na aquisição do sistema de defesa aérea KM-SAM Bloco II Cheongung-II, além de contratos de obuses K9 Thunder, lançadores múltiplos de foguetes Chunmoo e veículos blindados.

O próprio KM-SAM, fruto de desenvolvimento conjunto entre a LIG Nex1, a Agência para o Desenvolvimento da Defesa (ADD) e a russa Almaz-Antey, é baseado em tecnologias da família S-300/S-400, mas com eletrônica e precisão sul-coreanas. Seu radar X-band 3D pode rastrear até 40 alvos simultaneamente, com alcance de 100 km e interceptação de ameaças a até 15 km de altitude. Integrado a esquadrões de KF-21 equipados com mísseis Meteor, permitiria aos Emirados estabelecer uma defesa aérea em camadas capaz de enfrentar desde drones e mísseis de cruzeiro até aeronaves de alto desempenho.

UAE gets the KF-21 red carpet during South Korean visit | News | Flight  Global

No cenário geopolítico, essa parceria carrega implicações que vão além da compra de aeronaves. No Golfo, cresce a preocupação com as capacidades militares do Irã e seu alinhamento com a Rússia, enquanto no Indo-Pacífico a Coreia do Sul busca contrabalançar a expansão militar da China. Um acordo para o KF-21 criaria um elo estratégico ligando esses dois teatros, fortalecendo a interdependência de segurança entre Seul e Abu Dhabi.

Embora o Boramae não tenha a furtividade total do F-35, seu custo de aquisição e operação é muito menor, permitindo formar esquadrões mais numerosos e manter alta prontidão mesmo em crises prolongadas. As futuras versões, previstas para o final da década, incluirão compartimentos internos para armas, revestimento stealth aprimorado, fusão de sensores com inteligência artificial e capacidades avançadas de guerra eletrônica — recursos que asseguram longevidade e relevância operacional.

O próximo grande momento dessa relação está marcado para novembro de 2025, no Dubai Air Show, onde a Coreia do Sul levará sua equipe acrobática Black Eagles e provavelmente exibirá o KF-21 em voo. Se os Emirados decidirem fechar um contrato, a Coreia do Sul não apenas dará um salto como exportadora de caças, mas poderá redefinir o equilíbrio do mercado de defesa no Golfo, tradicionalmente dominado por F-15 e F-16 americanos, Typhoons e Rafales europeus e Su-30 e MiG-29 russos. Como disse um oficial sul-coreano após o voo em Sacheon: “Mais do que vender jatos, estamos construindo uma parceria de 30 anos no ar.”

Para Seul, seria a consagração de seu maior projeto de aviação militar. Para Abu Dhabi, uma oportunidade rara de garantir vantagem tecnológica, ampliar a autonomia estratégica e, ao mesmo tempo, participar ativamente da evolução de um dos caças mais promissores da próxima geração.

 

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