A Força Aérea Indiana (IAF) está acelerando os esforços para adquirir caças Rafale adicionais por meio de um acordo governamental direto com a França. Essa iniciativa visa fortalecer a capacidade operacional da IAF, que enfrenta desafios significativos devido à redução do número de esquadrões de combate e à crescente ameaça de conflitos em duas frentes: China e Paquistão. O objetivo é ampliar a prontidão e a superioridade aérea em um cenário regional cada vez mais complexo.
Atualmente, a IAF opera 36 caças Rafale adquiridos em 2016, entregues gradualmente desde 2020. No entanto, a força aérea indiana está buscando expandir sua frota para 76 aeronaves, distribuídas em aproximadamente quatro esquadrões, como parte de uma estratégia para substituir esquadrões antigos e fortalecer sua presença. Essa expansão é vista como uma solução estratégica para preencher lacunas operacionais e melhorar a prontidão diante de possíveis confrontos, especialmente após os recentes episódios de tensão na fronteira.
O programa Multi-Role Fighter Aircraft (MRFA), que visa a aquisição de 114 caças multifuncionais para modernizar a frota, tem enfrentado atrasos significativos desde sua proposta inicial em 2018. Devido à complexidade do processo de licitação global e à urgência de reforçar a força aérea, a IAF propôs um acordo direto com a França para acelerar a compra dos Rafales, que já estão familiarizados com sua operação e manutenção. Esta abordagem também busca evitar os entraves burocráticos que podem atrasar ainda mais a chegada de novas aeronaves.
A necessidade de reforçar a frota de caças tornou-se ainda mais premente após a Operação Sindoor, uma série de confrontos com o Paquistão em maio de 2025. Durante esses confrontos, a IAF utilizou intensivamente os Rafales em missões de ataque de longo alcance e patrulhas de superioridade aérea, demonstrando sua eficácia e versatilidade. Embora o Paquistão tenha alegado ter abatido três Rafales, a Índia negou tais alegações, destacando a importância estratégica dessas aeronaves em cenários de combate real. Esses eventos evidenciaram a necessidade urgente de manter uma frota robusta e tecnologicamente avançada.
Além disso, a Índia rejeitou a aquisição do caça F-35 dos Estados Unidos, citando questões de custo, restrições tecnológicas e a preferência por plataformas que possam ser mais facilmente integradas à sua infraestrutura existente. Em vez disso, a IAF está considerando caças de quinta geração russos, como o Sukhoi Su-57, para complementar sua frota, embora as negociações ainda não tenham sido formalmente iniciadas. Enquanto isso, a expansão da frota Rafale permanece como prioridade máxima, aproveitando a experiência consolidada com essa plataforma. Vale destacar que a Marinha Indiana também está ampliando sua capacidade, com a encomenda de 26 caças Rafale-M para operar a partir de seus porta-aviões, promovendo maior interoperabilidade e sinergia entre as forças.
O contexto geopolítico da região reforça a urgência dessa expansão. Com a China continuando a modernizar suas forças aéreas e militares, e o Paquistão mantendo um arsenal significativo de aeronaves de combate, a Índia vê na aquisição de Rafales um meio de equilibrar o poder regional. O aumento das tensões ao longo da Linha de Controle Real (LAC) e as disputas territoriais no Caxemira e Arunachal Pradesh impulsionam a necessidade de uma força aérea moderna e preparada para múltiplos cenários.
O Rafale, desenvolvido pela Dassault Aviation, é um caça multirole capaz de executar missões de superioridade aérea, reconhecimento, ataque ao solo, dissuasão nuclear e defesa aérea. Equipado com sistemas avançados de guerra eletrônica, radar AESA e compatibilidade com uma vasta gama de armamentos, o Rafale tem se mostrado uma peça fundamental na estratégia indiana de defesa aérea. Além de sua capacidade operacional, o Rafale oferece à Índia a vantagem de já contar com infraestrutura, manutenção e treinamento estabelecidos, facilitando a rápida integração das novas unidades. A familiaridade dos pilotos e das equipes de solo com a aeronave reduz o tempo necessário para operacionalizar novos esquadrões, fator decisivo diante da crescente pressão geopolítica.
Os atrasos no programa MRFA, que tinha como objetivo selecionar um novo caça para substituir aeronaves antigas como MiG-21 e MiG-27, levaram a IAF a buscar soluções imediatas, sendo os Rafales uma opção natural devido ao sucesso da primeira aquisição. O processo tradicional de aquisição, que poderia levar anos, foi considerado inadequado para as necessidades atuais, justificando o acordo direto com a França. Em termos de custo, o Rafale representa um investimento alto, mas considerado compensado pela capacidade tecnológica e operacional da aeronave. A Índia vem negociando condições vantajosas para facilitar a compra, inclusive visando transferências tecnológicas e eventual produção local, alinhada à iniciativa “Make in India”, que busca fortalecer a indústria nacional de defesa.
A escolha de rejeitar o F-35 da Lockheed Martin também se apoia em questões estratégicas e políticas. O custo elevado, as restrições impostas pelos EUA em relação à tecnologia e o controle sobre o uso do avião foram determinantes para a Índia focar em plataformas com maior autonomia para customização e operação. A possível incorporação do Sukhoi Su-57, caça russo de quinta geração, ainda está em fase exploratória. A Índia mantém relações estratégicas de longa data com a Rússia, mas as negociações para aquisição têm sido lentas, e a capacidade da indústria russa para entregar aeronaves em volume e dentro dos prazos exigidos também é motivo de preocupação para Nova Délhi.
Paralelamente ao aumento da frota de caças, a IAF também investe em modernização dos sistemas de defesa aérea, treinamento avançado de pilotos e ampliação das bases aéreas para acomodar novas aeronaves. Essa estratégia integrada busca garantir uma resposta rápida e eficiente diante de ameaças em múltiplas frentes. Outro ponto relevante é o alinhamento entre as forças aéreas e navais indianas. A aquisição de 26 caças Rafale-M para a Marinha fortalece a capacidade de projeção naval, essencial para o controle do Oceano Índico e a proteção das rotas marítimas vitais para a economia indiana.
Além da frota e dos sistemas, a Índia está investindo em parcerias internacionais para o desenvolvimento conjunto de tecnologias militares, buscando reduzir a dependência externa a longo prazo. A colaboração com a França no programa Rafale tem se estendido para áreas como logística, treinamento e suporte técnico. A expansão da frota Rafale também tem impacto direto na indústria aeroespacial indiana, gerando empregos, transferência de conhecimento e oportunidade para fornecedores locais integrarem a cadeia produtiva do programa. Isso fortalece a base industrial de defesa nacional e impulsiona o desenvolvimento tecnológico.
No cenário regional, a modernização da IAF com o Rafale serve como elemento dissuasório importante, sinalizando aos países vizinhos a capacidade e disposição da Índia em defender sua soberania. Essa postura é especialmente relevante diante dos crescentes exercícios militares conjuntos realizados por China e Paquistão. Do ponto de vista logístico, o Rafale apresenta vantagens em termos de manutenção e disponibilidade operacional. O uso de sistemas digitais avançados permite diagnósticos rápidos e redução do tempo de parada para reparos, fator crucial para manter alta prontidão em tempos de conflito.
A IAF também está considerando a incorporação de versões aprimoradas do Rafale no futuro, que possam incluir atualizações de software, novos sensores e armamentos integrados, mantendo a plataforma competitiva frente a avanços tecnológicos globais. Por outro lado, a compra massiva de caças Rafale enfrenta desafios orçamentários, exigindo do governo indiano uma gestão cuidadosa dos recursos para equilibrar as demandas militares com outras prioridades nacionais.
Ademais, a negociação direta com a França busca também evitar problemas burocráticos e garantir prazos mais curtos para entrega, pontos críticos para a rápida modernização da frota diante do cenário regional volátil. Outro aspecto importante é o treinamento de pilotos, que tem sido intensificado para operar em condições complexas e para tirar o máximo proveito das capacidades do Rafale. A cooperação com a França inclui intercâmbios e exercícios conjuntos que elevam o nível operacional da IAF.
Além da frota aérea, a Índia continua a investir em sistemas de defesa antiaérea e mísseis superfície-ar para complementar a cobertura de seu espaço aéreo, criando uma rede integrada de defesa contra ameaças aéreas e mísseis balísticos. A expansão e modernização da Força Aérea Indiana com caças Rafale também contribui para o fortalecimento da posição do país em fóruns internacionais de segurança, ampliando sua influência e capacidade de cooperação em temas de defesa. Por fim, o aumento da frota Rafale representa um passo significativo na busca da Índia por autossuficiência estratégica e superioridade tecnológica, reforçando sua ambição de ser uma potência militar regional e global capaz de responder a desafios emergentes no século XXI.