Após dez anos de investimentos em um projeto altamente secreto, a Rússia revelou o sistema de armas de micro-ondas MKMI Furor — não em uma zona de combate, mas em um museu militar na cidade de Kubinka, próxima a Moscou, em 2025. Inicialmente apresentado com restrições em 2015 na exposição “Army‑2015”, o dispositivo nunca entrou em operação e agora figura como uma peça estática no museu.
O Furor foi idealizado como um sistema móvel de energia dirigida, capaz de desativar drones e munições guiadas por precisão por meio de emissões de micro‑ondas em todas as direções, com alcance divulgado superior a 10 km. Essa capacidade seria superior à de sistemas comparáveis em operação no Ocidente. Sua configuração técnica combina um gerador relativístico de alta potência, uma antena refletiva, sistemas de controle e transmissão, tudo montado sobre o chassi de um sistema de mísseis Buk.
Apesar das declarações grandiosas, não há registros confiáveis de testes bem-sucedidos ou de capacidade real para cumprir as especificações anunciadas. Ao longo de uma década, houve poucos avanços práticos: o protótipo permanece basicamente no estágio experimental, sem uso operacional e sem refinamentos concluídos. Especialistas apontam que o projeto absorveu grandes recursos públicos e foi promovido como uma inovação tecnológica, mas sem expectativa real de implantação militar.
O histórico da empresa responsável — o Instituto de Radiotécnica de Moscou, do grupo Vega — também evidencia dificuldades crônicas em projetos de alta tecnologia. Esse instituto já esteve envolvido em outros empreendimentos apresentados como “tecnologias de ponta”, como o drone S‑70 Okhotnik, o veículo não tripulado sobre a base BMP‑3 e o laser Peresvet, todos marcados por longos atrasos e resultados questionáveis.
Analistas destacam que a tecnologia de micro‑ondas dirigida, embora promissora, enfrenta limitações reais: o alcance efetivo pode ser menor em cenários complexos, a precisão contra alvos móveis é limitada, e o risco de interferência em sistemas eletrônicos próprios ou aliados torna o emprego em ambientes urbanos ou mistos arriscado. Além disso, contramedidas técnicas evoluídas reduzem a eficácia potencial desses sistemas, diminuindo a viabilidade do Furor como solução moderna de guerra eletrônica.
Apesar do investimento em sofisticadas capacidades experimentais, é provável que muitos desses programas não mudem o curso de conflitos reais. A estratégia russa parece cada vez mais dependente de sistemas comprovados, com maior escalabilidade e menor custo operacional, como drones baratos e mísseis em massa, em detrimento de armas de alto custo e baixa aplicabilidade.
Em síntese, o destino do MKMI Furor exemplifica uma tendência recorrente: projetos amplamente divulgados como símbolos de inovação que acabam se transformando em monumentos — não à guerra moderna, mas à ambição não concretizada. Enquanto outros países continuam a desenvolver e implantar sistemas de energia dirigida com maior sucesso, especialmente para defesa contra drones, para a Rússia o Furor simboliza não uma virada tecnológica, mas um marco no fracasso de converter ideias ousadas em capacidades militares confiáveis.