Os Estados Unidos estão dando um passo importante rumo à transformação da guerra moderna ao criarem uma escola de elite dedicada exclusivamente ao treinamento de operadores de drones. Apelidada de “Top Gun dos drones”, essa nova iniciativa surge com um propósito claro: formar profissionais altamente qualificados para conduzir sistemas não tripulados com precisão e eficácia em cenários cada vez mais complexos e perigosos. É uma resposta direta às novas ameaças e à forma como os conflitos vêm evoluindo — onde o campo de batalha já não é mais dominado apenas por tanques e soldados, mas por tecnologia, inteligência artificial e máquinas voando ou se movendo sozinhas entre ruínas e selvas.
O centro, liderado pelo Comando de Operações Especiais do Exército dos EUA (USASOC), está focado em criar uma nova geração de operadores capazes de usar drones FPV, robôs terrestres, munições loitering (os chamados “drones kamikaze”) e até robôs com aparência de cães — todos controlados remotamente. Esses equipamentos, que parecem ter saído de um filme de ficção científica, já são realidade e foram apresentados durante o exercício CAPEX em Fort Bragg, onde forças especiais simularam missões como resgates, invasões urbanas e ataques rápidos, tudo com apoio e execução direta desses sistemas.
A ideia é simples, mas poderosa: no futuro, quem vai fazer o primeiro contato com o inimigo não será mais o soldado — será a máquina. Isso não só reduz os riscos para o combatente humano como também permite mais agilidade, precisão e capacidade de resposta no calor da batalha. Em um dos cenários simulados, por exemplo, as forças norte-americanas reproduziram uma possível invasão chinesa a Taiwan, testando como esses drones se comportariam em uma situação de guerra real.
Mas não se trata apenas de ensinar alguém a pilotar um drone. A formação nesse “Top Gun” é completa: o operador precisa entender o equipamento, saber fazer reparos em campo, usar peças impressas em 3D, lidar com interferência eletrônica, operar em ambientes extremos como florestas úmidas ou zonas costeiras e, principalmente, tomar decisões críticas com base em imagens e dados que chegam em tempo real. É um treinamento intenso, que combina habilidade técnica com senso tático — e que transforma cada operador em um verdadeiro elo entre o humano e o digital no teatro de guerra.
Essa mudança faz parte de algo maior. O Exército dos EUA vem investindo fortemente em projetos que apostam no uso massivo de drones, como a “Replicator Initiative”, que busca criar enxames de veículos baratos, eficientes e adaptáveis para saturar o inimigo e dominar o espaço de combate. O que se aprende nas trincheiras — como na guerra da Ucrânia, onde drones comerciais foram adaptados para o front — está moldando os drones militares do futuro: mais inteligentes, mais baratos, mais letais. Modelos como o drone furtivo Fury, que voa ao lado de caças, ou os protótipos YFQ-42A e YFQ-44A, que integram inteligência artificial para combate aéreo, mostram até onde essa tecnologia está indo.
Outro ponto importante é que o uso de drones deixou de ser algo restrito a especialistas. Agora, o objetivo é que qualquer soldado seja capaz de operar um sistema não tripulado. Isso está mudando a forma como os militares são treinados. Não basta mais força física ou mira precisa: o combatente moderno precisa entender circuitos, sensores, softwares e saber como agir diante de um sinal de GPS bloqueado ou de um drone inimigo se aproximando. É quase como se, além de soldado, ele tivesse que ser programador, técnico e estrategista — tudo ao mesmo tempo.
Ao apostar nesse novo “Top Gun”, os Estados Unidos estão se preparando para um tipo de guerra que já começou a dar as caras, mas que ainda vai evoluir muito nos próximos anos. A lógica não é mais apenas “ir até o inimigo”. É, antes, ver primeiro, decidir mais rápido e agir com precisão — tudo isso por meio de olhos eletrônicos e braços robóticos guiados por humanos que, embora longe fisicamente do front, estão profundamente conectados ao que acontece lá.
Essa nova doutrina representa mais do que uma mudança tecnológica. É uma mudança na própria forma de pensar a guerra, colocando o ser humano como cérebro de operações complexas e os drones como seus braços no campo de batalha. No fim, o que está em jogo não é apenas vencer combates, mas garantir que cada missão seja mais segura, mais eficiente e, sobretudo, menos dependente do sacrifício humano direto.