Rússia revela fábrica do drone kamikaze Geran-2

Em uma rara exposição pública, a Rússia revelou imagens do que pode ser hoje a maior fábrica de drones kamikaze do mundo. Localizada em Yelabuga, no Tartaristão, a instalação virou símbolo de uma nova era da guerra moderna — onde custo, escala e saturação contam mais do que tecnologia de ponta isolada. A linha de montagem, construída com apoio iraniano e operada em ritmo acelerado, é responsável por fabricar o temido drone Geran-2, usado de forma intensiva na guerra contra a Ucrânia.

O Geran-2, que nada mais é do que a versão russa do Shahed-136 iraniano, começou a ser usado em setembro de 2022 e rapidamente virou peça-chave na estratégia russa. Com aparência simples, motor a gasolina e uma ogiva explosiva, o drone é barato, fácil de fabricar e difícil de interceptar em grandes quantidades. Seu impacto vai muito além da destruição física: atinge o moral, desestabiliza rotinas e força o inimigo a gastar recursos muito mais caros para tentar se defender.

As imagens divulgadas recentemente mostram centenas de drones prontos para entrega, enfileirados em galpões industriais que mais parecem uma linha de montagem de carros. A produção, que há dois anos girava em torno de 300 unidades por mês, agora ultrapassa as 100 por dia — com projeções que apontam para até 500 por dia em breve. A fábrica de Yelabuga virou o coração dessa engrenagem: um enorme complexo industrial com tudo o que é necessário para construir, equipar e testar os drones do início ao fim.

Mas o que chama ainda mais atenção é a mão de obra. Relatórios apontam que a Rússia pode estar contando com cerca de 25 mil trabalhadores norte-coreanos para ajudar na montagem. Além disso, estudantes russos, alguns com apenas 15 anos, também estariam sendo treinados em cursos vocacionais ligados diretamente à indústria militar. Para muitos, uma oportunidade de carreira. Para outros, uma clara sinalização do quanto a guerra entrou de vez na rotina do país.

O Geran-2 tem cerca de 3,5 metros de comprimento e pode voar por até 1.800 km, atingindo velocidades de até 300 km/h. Ele carrega ogivas de até 90 kg e usa sistemas de navegação combinados — como GPS, GLONASS e sensores inerciais. Versões mais recentes já permitem comunicação via redes 3G/4G, possibilitando mudanças de rota e atualização de alvos mesmo após o lançamento.

Para baratear ainda mais a produção, a Rússia trocou os materiais compostos por fibra de vidro, que é mais simples e barata, sem comprometer tanto o desempenho. O resultado? Um drone que custa menos de US$ 50 mil, contra interceptadores que chegam a valer mais de US$ 500 mil. Essa assimetria virou uma das maiores vantagens russas no conflito: não se trata de vencer pelo brilho da tecnologia, mas pela insistência, pela repetição, pelo desgaste.

Apesar de ter sido alvo de ataques ucranianos em 2024 e 2025, a fábrica segue firme. Sua estrutura foi planejada para resistir: é modular, tem linhas redundantes e está protegida por camadas de defesa aérea. Mesmo sob sanções internacionais, a Rússia continua recebendo componentes importados — especialmente eletrônicos — por meio de rotas indiretas e parceiros comerciais.

Ao todo, mais de 4.500 drones já saíram de Yelabuga, e a previsão é que esse número chegue a 18 mil só no primeiro semestre de 2025. E esse é apenas o começo: novos contratos indicam que mais de 30 mil unidades do Geran-2 devem ser colocadas em campo, seja em solo russo ou iraniano.

 

O que se vê em Yelabuga é mais do que uma fábrica — é um retrato de como a guerra mudou. Deixou de ser apenas uma questão de tanques e aviões sofisticados e passou a ser uma disputa de produção, logística e volume. A Rússia entendeu isso rápido e está apostando tudo nessa fórmula: fazer mais, gastar menos e cansar o inimigo.

Em um mundo onde os conflitos entre grandes potências voltam a ganhar força, o modelo russo pode ser um presságio inquietante de como as guerras do futuro serão travadas — com enxames de drones, jovens operando linhas de montagem, e fábricas como a de Yelabuga ditando o ritmo da batalha tanto quanto os generais no campo.

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