Peru escolhe sistema israelense PULS e abre caminho para produção local de foguetes guiados

O Peru acaba de dar um passo importante na modernização de sua artilharia ao escolher o sistema israelense PULS, da Elbit Systems, como novo vetor estratégico para o Exército. O anúncio, feito pela estatal FAME SAC em 8 de julho de 2025, marca o encerramento de uma concorrência internacional bastante disputada e sinaliza uma ambição clara: não se trata apenas de comprar equipamentos modernos, mas de desenvolver capacidade nacional para fabricar, integrar e manter sistemas de foguetes de precisão em solo peruano.

Mais do que adquirir lançadores, o governo buscava um parceiro que oferecesse transferência de tecnologia real, apoio industrial e a construção de um caminho para a independência tecnológica no setor de defesa. E foi isso que levou à escolha da Elbit, após um processo rigoroso conduzido pela FAME, que exigiu das empresas participantes não apenas propostas técnicas e financeiras robustas, mas também comprovação de experiência, capacidade de integração com os sistemas já em uso no país e disposição para investir localmente.

O contrato inclui a entrega de três veículos lançadores PULS, além de veículos de comando, sensores, equipamentos de reconhecimento e apoio logístico, incluindo uma estação meteorológica. Também foram adquiridos foguetes de diferentes alcances – dos mais curtos, com 50 quilômetros, até mísseis capazes de atingir alvos a 290 quilômetros de distância. Todos esses sistemas deverão ser plenamente integrados ao comando e controle nacional, o sistema WIRACOCHA, e também serão compatíveis com os lançadores LM90B que o Exército já opera, garantindo a interoperabilidade exigida.

O sistema PULS se destacou na competição não apenas por sua versatilidade, mas por seu grau de maturidade tecnológica. Desenvolvido inicialmente pela Israel Military Industries e aprimorado pela Elbit após 2018, ele permite o uso de diferentes tipos de munições, que vão desde foguetes de 122 mm até mísseis táticos balísticos e munições inteligentes, como drones kamikaze SkyStriker. A precisão do sistema é outro ponto forte: com orientação via GPS e sistemas inerciais, a margem de erro fica entre 1 e 10 metros, dependendo do tipo de armamento.

 

A disputa internacional envolveu também a chinesa NORINCO e a turca Roketsan. Esta última foi desclassificada já na primeira fase por não apresentar documentação essencial sobre transferência de tecnologia. A NORINCO chegou à fase final, mas foi superada pela Elbit, que obteve a pontuação máxima em todas as categorias avaliadas, incluindo experiência industrial, receita, número de países clientes, certificações e proposta financeira. Uma das exigências do processo era que os participantes fossem fabricantes originais, o que excluiu intermediários e reforçou o caráter técnico e estratégico da seleção.

O valor máximo do contrato foi fixado em 60 milhões de dólares. Todo o processo ocorreu sob regras específicas que garantem autonomia à FAME SAC para operar fora da tradicional lei de compras públicas do país, utilizando um modelo jurídico que permite maior flexibilidade para negociações internacionais complexas como esta. As propostas foram entregues fisicamente, em envelopes lacrados, e exigiam, além da documentação técnica e financeira, garantias bancárias e validações diplomáticas das embaixadas das empresas envolvidas.

Com esse acordo, o Peru se torna o primeiro país da América Latina a adotar o sistema PULS e, mais importante, a produzir componentes localmente em parceria com a Elbit. Isso posiciona a FAME como uma possível fornecedora regional de sistemas de foguetes guiados, abrindo um novo capítulo na história da indústria de defesa peruana. O exemplo segue uma tendência global: países como Dinamarca, Holanda, Espanha, Ruanda e Cazaquistão já adotaram o PULS, e em muitos casos, como na Europa, a integração com a indústria local tem sido parte central dos contratos.

O movimento peruano não é isolado, mas dialoga com um contexto geopolítico mais amplo, no qual países buscam reduzir sua dependência externa e ganhar autonomia estratégica. Ao apostar em uma parceria com transferência de conhecimento e foco em produção nacional, o Peru envia uma mensagem clara: está se preparando para um cenário internacional cada vez mais incerto, em que ter capacidade própria de defesa não é luxo — é necessidade.

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