O Japão deu um passo importante para reforçar sua parceria com as Filipinas na área de defesa, ao confirmar a intenção de transferir até seis contratorpedeiros de escolta da classe Abukuma para a Marinha filipina. Esses navios, que serviram por mais de 30 anos na Força de Autodefesa Marítima do Japão (JMSDF), podem representar um salto de qualidade para a capacidade naval filipina — especialmente diante do aumento das tensões com a China no disputado Mar do Sul da China.
A informação foi divulgada pela imprensa japonesa após uma reunião entre os ministros da Defesa Gen Nakatani, do Japão, e Gilberto Teodoro, das Filipinas, realizada em junho, em Singapura. A transferência ainda depende de uma avaliação técnica, já em andamento, que vai verificar o estado de conservação das embarcações. Para isso, especialistas navais filipinos foram convidados a participar de uma inspeção visual conjunta. A expectativa é que a inspeção ocorra durante o verão, e que até cinco navios sejam considerados aptos para entrega.
Os contratorpedeiros da classe Abukuma foram pensados para atuar em missões antissubmarino e antinavio. Com 109 metros de comprimento, cerca de 2 mil toneladas de deslocamento e uma tripulação de aproximadamente 120 militares, os navios são bem armados para sua categoria: contam com canhões de 76 mm, mísseis antinavio Harpoon, torpedos, sistemas de defesa de ponto Phalanx CIWS de 20 mm e sensores modernos. Além disso, possuem estrutura para operar helicópteros leves em missões de vigilância e patrulha marítima.
Apesar da idade, os Abukuma continuam sendo embarcações versáteis e confiáveis, projetadas originalmente nos anos 1980 para oferecer uma solução equilibrada entre tamanho, agilidade e poder de fogo. Foram criados para atuar em patrulhas costeiras, escoltas e defesa de áreas estratégicas, e ainda hoje representam uma plataforma valiosa — especialmente para marinhas em processo de modernização, como a filipina.
Para viabilizar a transferência dentro das restrições da Constituição japonesa, que limita a exportação de equipamentos militares, o governo japonês pretende enquadrar a operação como parte de um projeto de desenvolvimento conjunto com as Filipinas, especialmente no que diz respeito a eventuais modificações nos sistemas eletrônicos dos navios. Essa manobra jurídica mostra o quanto Tóquio está disposta a flexibilizar suas regras para fortalecer laços com parceiros regionais.
Esse gesto também se encaixa em um movimento maior, em que Japão e Filipinas, ambos aliados dos Estados Unidos, buscam conter a crescente presença militar chinesa na região. Nos últimos anos, os dois países vêm intensificando sua cooperação com exercícios navais conjuntos, doações de equipamentos como radares e, mais recentemente, com a assinatura de um acordo inédito de acesso recíproco — permitindo que tropas e meios militares possam ser enviados para o território do outro país.
Como era de se esperar, a China respondeu pedindo “prudência” ao Japão e lembrando que colaborações militares não devem mirar “terceiros” nem desestabilizar a região. Mas tanto Tóquio quanto Manila têm deixado claro que o comportamento cada vez mais agressivo de Pequim nas áreas disputadas os força a estreitar a cooperação.
Se confirmada, a chegada dos navios da classe Abukuma será um marco importante para a Marinha filipina, que até hoje não opera contratorpedeiros. E mais do que isso: será também um sinal de que o Japão está disposto a assumir um papel mais ativo na segurança regional, de olho na estabilidade do Indo-Pacífico.