Alemanha se aproxima dos EUA para aquisição do sistema de mísseis Typhon em meio a novo cenário estratégico europeu

Durante uma visita oficial a Washington no dia 14 de julho de 2025, o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, confirmou que Berlim apresentou um pedido formal para adquirir o sistema de mísseis Typhon, de fabricação americana. A confirmação foi feita após uma série de reuniões com o Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, refletindo os esforços da Alemanha para fortalecer sua capacidade de dissuasão diante de um cenário internacional cada vez mais tenso.

Pistorius foi direto ao ponto: reconheceu que o alcance do Typhon — até 2.500 quilômetros — tecnicamente permitiria atingir alvos dentro da Rússia. No entanto, fez questão de frisar que a Alemanha enxerga o sistema como uma ferramenta defensiva, projetada para ser usada apenas em caso de um ataque convencional contra o país ou seus aliados. A proposta ainda está em discussão, mas, segundo o ministro, a reação inicial de Hegseth foi positiva.

A aquisição do Typhon é vista por Berlim como uma medida transitória, até que programas europeus conjuntos de mísseis de longo alcance, desenvolvidos com parceiros como o Reino Unido, estejam prontos. A previsão para isso? Algo entre sete a dez anos. Até lá, o Typhon seria uma ponte tecnológica e estratégica.

Desenvolvido pela Lockheed Martin, o sistema Typhon é parte de uma nova geração de armamentos que visam preencher lacunas entre mísseis táticos e armas hipersônicas. Ele integra componentes do sistema naval Mk 41, mísseis de cruzeiro Tomahawk e os interceptores SM-6, proporcionando uma capacidade única de operação em múltiplos domínios — terrestre, aéreo e marítimo.

Na prática, o Typhon pode lançar mísseis originalmente concebidos para navios e aviões diretamente do solo. Isso inclui o conhecido Tomahawk, que pode voar a menos de 50 metros do chão e atingir alvos com precisão de até 10 metros, e o SM-6, um míssil de alta velocidade capaz de interceptar desde aviões até mísseis balísticos.

Esse movimento da Alemanha não acontece no vácuo. A decisão de buscar o Typhon acompanha outra medida significativa: o envio de dois sistemas de defesa aérea Patriot para a Ucrânia. Embora os detalhes logísticos e financeiros ainda estejam em negociação, Berlim estuda duas possibilidades — adquirir novas unidades diretamente dos EUA ou transferir sistemas de seu próprio arsenal, com posterior reposição.

Esse reforço na postura defensiva alemã também dialoga com planos anteriores de cooperação com os EUA. Em 2026, está prevista a chegada ao solo alemão de armamentos estratégicos americanos, como o Typhon e a arma hipersônica Dark Eagle, com alcance superior a 3.000 km. O acordo foi firmado durante o governo Biden, e, embora ainda faltem confirmações por parte da atual administração, Pistorius afirmou que há sinais de continuidade.

Ao todo, os EUA mantêm cerca de 80 mil militares na Europa, sendo metade estacionada na Alemanha. Nesse contexto, aliados europeus pedem que qualquer reestruturação das tropas americanas no continente seja feita de forma coordenada, para evitar lacunas na defesa do flanco oriental da OTAN.

Em paralelo, o orçamento de defesa alemão está prestes a passar por um salto considerável — de € 95 bilhões em 2025 para € 162 bilhões até 2029 — impulsionado pelo novo compromisso da OTAN de atingir 3,5% do PIB em gastos com defesa.

Do outro lado do planeta, o Typhon já está em operação. Sua estreia internacional aconteceu em 2024, durante os exercícios conjuntos EUA-Filipinas. Desde então, o sistema permanece em Luzon, no norte das Filipinas, onde vem sendo reposicionado estrategicamente e tem gerado fortes reações da China. Pequim acusa os EUA e seus aliados de fomentarem uma corrida armamentista e ameaça responder à presença contínua do sistema na região.

Apesar das críticas, as Filipinas não pretendem devolver o Typhon. Para Manila, o sistema tem valor estratégico, tanto para treinamento como para dissuasão — especialmente diante da postura agressiva da China no Mar das Filipinas Ocidental. O presidente Ferdinand Marcos Jr. já afirmou que só cogitaria rever a presença do sistema se Pequim cessar as provocações.

Enquanto isso, os EUA seguem ampliando sua capacidade de resposta no Indo-Pacífico. Uma terceira Força-Tarefa Multidomínio prepara-se para enviar uma segunda bateria Typhon à região, como parte da Operação Pathways. O objetivo é claro: conter o avanço da influência militar chinesa e fortalecer a interoperabilidade com aliados.

No pano de fundo de toda essa movimentação, está a modernização da artilharia e das forças de longo alcance dos EUA. Diante dos avanços russos e chineses — como o uso de UAVs, munições termobáricas e sistemas de artilharia de longo alcance —, Washington aposta em um portfólio robusto de armas intermediárias, como o Typhon. A ideia é usar estoques já existentes de Tomahawks e SM-6, cujo número deve ultrapassar 800 unidades nos próximos cinco anos.

Para a Alemanha, o interesse no Typhon é tanto uma resposta à realidade estratégica quanto um gesto político. A visita de Pistorius a Washington coincidiu com declarações do presidente Trump de que os EUA não mais arcariam com os custos de armamentos enviados à Ucrânia — uma responsabilidade que, segundo ele, caberia aos aliados. Nesse contexto, o chanceler alemão Friedrich Merz acolheu a mudança de postura americana como uma forma de reforçar a coesão da OTAN e mostrar à Rússia que o Ocidente fala com uma só voz.

Ao que tudo indica, a resposta formal dos EUA ao pedido alemão não deve demorar. Mas, mesmo antes da assinatura de qualquer contrato, o movimento já marca um novo capítulo na postura de defesa europeia — um em que a Alemanha,

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