Projeto Sargento Agrário

Por: Cel Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Projeto Sargento Agrário

Por Hiram Reis e Silva, Manaus, Amazonas, 20 de dezembro de 2009.

“Mais do que um simples plantador de hortaliças e criador de pequenos animais na área do quartel, ele tem de ser um técnico em assistência e extensão rural destinado a incentivar as comunidades no entorno dos Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs) a estabelecer uma produção rural continuada e permanente”. (General de Divisão Marco Aurélio Costa Vieira)

No dia 19 de dezembro, de manhã, eu e o Coronel Teixeira fomos até o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) onde se realiza, de quinze em quinze dias, a Feira de Produtos Regionais, para encontrar o ‘16’, coronel da PM Leão, companheiro do Curso de Operações na Selva, em 1999.

– Feira de Produtos Regionais

Além da grata oportunidade de rever o velho amigo, pudemos, através do General Marco Aurélio e do coronel Lauro Pastor, conhecer de perto este projeto de iniciativa da Região Militar, que visa possibilitar a inclusão de produtos regionais no cardápio das Organizações Militares do Exército Brasileiro sediadas em Manaus e a comercialização desses produtos junto a população manauense, sem intermediários.

Desde fevereiro de 2008 a feira vem estimulando o consumo de produtos oriundos da agricultura regional, beneficiando os pequenos e médios produtores do Estado do Amazonas.

A parceria, inédita no País, conta com mais de sessenta expositores, que comercializam carnes, peixes, mel queijos, ovos, frutas, hortaliças e artesanato por preços bem mais acessíveis, beneficiando mais de três mil e quinhentas famílias ligadas à agricultura familiar.

Os Sargentos Agrários comparecem à feira com a missão de verificar a qualidade e o preço dos produtos.

– Amazônia! O eterno desafio!

“As hortas de Cucuí são todas suspensas em caixas feitas com paus roliços ou caixotes, algumas diretamente sobre o rio. Disseram-me que a pobreza do solo e o grande número de saúvas eram responsáveis por tal medida. Aliás já venho observando isso desde Barcelos acima. Nestas caixas, colocam apenas solo mais humoso, retirado do subosque da mata. Aqui em Cucuí até as bananeiras são cercadas, e no seu pé também é amontoada terra do subosque. (…) Assim é que um pé de feijão germina e cresce assustadoramente em poucos dias. Daí em diante, qualquer sol ou chuva mais forte, causa queima de suas folhas ou tombamento de sua haste. Chegado o momento de produzir, a planta já exauriu grande parte de suas reservas, sendo, dessa forma exígua a produção. Pensei também nessa lei natural tantas vezes observada na fazenda de meu pai, quando criança. Uma planta em solo muito favorável a seu cultivo, nem sempre era a que produzia mais. Assim é que nos arrozais plantados em terreno virgem cresciam assustadoramente e, na época do cacheamento, soltavam apenas uns poucos cachos raquíticos aqui e acolá, logo tostados pelo sol ou mantidos sem granar por efeito das chuvas. Acredito que, no Amazonas, o fenômeno seja o mesmo, não tanto em relação ao adubo, porém em se considerando, sobretudo, a umidade e o calor”.
(Dr. José Cândido de Melo Carvalho)

“O inusitado de servir e trabalhar na Amazônia é que, passados séculos, muitos dos desafios praticamente permanecem, a despeito de toda tecnologia, apesar dos novos conhecimentos que deveriam facilitar o dia a dia e em que pese o imenso esforço despendido pelos nossos antecessores.

Na verdade, a renovada vontade de conduzir esforços, projetos e programas, quase sempre tem sido vencida pela perversa solução de continuidade decorrente da democrática mudança de governos, em todos os níveis. Assim que inúmeras das iniciativas jamais saíram da fase embrionária, ou se perderam totalmente mesmo depois de concretizadas, pela falta de recursos dos planejamentos irreais, ou pelo desinteresse daqueles dirigentes que elegeram suas próprias prioridades, criando-se assim várias ruínas de belos empreendimentos, abandonados ao longo de sucessivas administrações.

No campo militar não foi diferente, e os valorosos militares que nos antecederam também tiveram de contabilizar muitas frustrações, ainda que em menor escala, também frutos dessa descontinuada gestão através dos tempos. Mesmo os Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs), cujas Comunidades do entorno sempre contaram com a organização, hierarquia e disciplina castrenses, a natural alternância periódica de pessoal ocasionou significativos hiatos administrativos, com profundos reflexos nas ações de subsistência e infra-estrutura, principalmente quanto aos sistemas de geração de energia, sistema viário e de saneamento básico!

Cientes do sofrimento dos nossos antecessores, louvando-se da experiência, do esforço e do exemplo incansável dos soldados que conquistaram e souberam manter a Amazônia, os militares da atualidade entendem que tem de mudar esse quadro.

Hoje, sabe-se que assegurar a permanência de recursos e a continuidade dos projetos são a certeza da garantia de uma qualidade de vida mínima para o militar e sua família, além de um desenvolvimento humano necessário à comunidade do entorno das Organizações Militares da Fronteira, aspectos fundamentais ao bom desempenho na missão constitucional do exército para a defesa da pátria.

Neste sentido, o exército vem implementando projetos empreendedores de longo prazo junto aos Grandes Comandos Operacionais da Amazônia Ocidental com responsabilidade sobre as Unidades na fronteira, observando como condição básica a característica de disporem de mecanismos de defesa contra a solução de continuidade.

Um deles, justamente o pioneiro, apesar das dificuldades iniciais, já começa a fincar as suas raízes. Trata-se do chamado ‘Projeto Sargento Agrário’, fruto de uma idéia simples de aproveitamento de profissionais egressos da Escola Agrotécnica Federal de Manaus para o trabalho junto aos PEFs.

(…) Estrategicamente, o Sargento Agrário vai cumprir a sua missão quando obtiver a sustentabilidade do Pelotão e da comunidade, que inclusive poderá passar, em curto espaço de tempo, a fornecer gêneros para os militares e suas famílias.

Este é o desafio do Sargento Agrário”. (General de Divisão Marco Aurélio Costa Vieira)

– VIDA, COMBATE E TRABALHO!

“O Pelotão Especial de Fronteira (PEF) é uma Organização Militar com características diferenciadas. A missão de um PEF não se limita ao campo da atividade militar (Combate), mas inclui, necessariamente, atividades ligadas à sobrevivência (Vida) e à prestação de serviços diversos (Trabalho) em favor da Organização Militar e da Comunidade Civil, indígena ou não, das imediações do aquartelamento.

Pela sua localização em plena área de floresta Amazônica, os PEFs buscam desenvolver seus trabalhos observando fielmente o chamado tripé da sustentabilidade, a fim de garantir a preservação da floresta, da biodiversidade e da cultura local, quer seja ele indígena ou ribeirinha.

Amparado no tripé da sustentabilidade, a missão do PEF pode ser expressa pelo seguinte viés: VIDA, COMBATE E TRABALHO!

A VIDA pode ser observada nos quesitos ligados às atividades de cultivo de hortaliças, da fruticultura, da piscicultura, na criação de pequenos animais, na preservação do meio ambiente e no bem-estar e lazer das famílias.

As atividades de COMBATE podem ser observadas na instrução militar, nos exercícios de adestramento da tropa, no patrulhamento e no reconhecimento da área de fronteira do estado do Amazonas, além da defesa do aquartelamento e de combate a incêndio.

No quesito TRABALHO são desenvolvidas atividades de manutenção das instalações, dos equipamentos, atividades de saúde e serviços diversos. Junto às Comunidades desenvolvem-se trabalhos de preservação da cultura, preservando as etnias indígenas, apoio em serviços de transporte e evacuação aeromédica.

Os PEFs desenvolvem um papel de relevância nas comunidades fronteiriças contribuindo não só para a defesa nacional, mas também no apoio àquelas populações distantes dos benefícios públicos. E é nesse ambiente que os Sargentos Agrários desenvolvem seu trabalho, servindo de importante elo de ligação entre o Pelotão e a Comunidade”. (Ten Cel R/1 Lauro Pastor)

Fonte: CARVALHO, José Cândido de Melo – Notas de viagem ao Rio Negro – Brasil, São Paulo, 1983 – Edições GRD

Solicito Publicação

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

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7 Comentários

  1. Realmente é um projeto genial, uma forma de tornar bases do exército um motor para o desenvolvimento da região à sua volta e também ajudar a recolocação de militares após o tempo de serviço. Afinal provavelmente esses sargentos terão uma carreira promissora como técnicos agrícolas experientes quando derem baixa.

    Isso é outro aspecto importante, no Reino Unido por exemplo é comum ver ex-soldados virarem mendigos por não conseguirem se reinserir no mercado de trabalho. Há vários cursos e treinamentos justamente para tentar amenizar o problema.

  2. Acredito sim que algo de construtivo deveria se feito pelos reservista das forças armadas, pricipalmente quando na ativa, esse PEFs não passam de ser um forma de castigo eu estive em um em TIRIOS-PA por 2 meses onde ficava-mos com poucos recursos………deveria sim haver uma recolocasão dos militares que dão baixa pelo menos nas PM/BM assim isso seria uma boa atitude por parte do governo.

  3. E pensar que os nossos intelectuais do Exército Brasileiro fizeram um projeto e gastaram dinheiro da Nação para adestrar antas, isso mesmo> ANTAS para o transporte de cargas! Pode? E esses sulistas se acham adaptados ao cenário de combate nas selvas amazônicas…

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