Autor: Carcará do Serrado
Introdução
Fico muito feliz com a oportunidade que o editor E.M. Pinto está me dando, em colaborar com essa iniciativa que não só faz parte da minha visitação diária da internet como também é um espaço aberto para troca de idéias, opiniões e quiçá até de confraternização entre os amantes, apreciadores, entusiastas de militaria, tecnologia e pesquisas de novas tecnologias.
Sou um graduando em Ciência Política, e não sou dono de verdade alguma, mas espero poder aproveitar bem o espaço e colaborar não somente com o editor, mas também com todos os leitores do blog, com um pouco da minha expressão apaixonada sobre militaria e especialmente sobre a aviação militar, e claro com meu sentimento de amor a pátria que mesmo parecendo ser “fora de moda” ou “desnecessário” é um norte em meus rumos, sempre!
Uraaaaaaa!
Carcará do Cerrado
Uma visão sobre o FX2, que garantias?
GARANTIAS
Vou começar então falando do óbvio!
F-X2
Aquele assunto que já encheu até os tampos da paciência de todos e mais alguns, mas vou tentar aproveitar o vácuo das notícias do momento, já que o mundo só fala sobre o vôo do PAK FA, e voltar no tema porém em um aspecto específico: GARANTIAS.
Estamos no F-X2 discutindo sobre transferência de tecnologia, que creio que esteja se tornando um termo obsoleto e até mesmo incorreto, o que será transferido será conhecimento ou ao menos é isso que o governo, FAB e Embraer gostariam que fosse, e isto é algo que já deveríamos possuir mas infelizmente ainda não temos.
A transferência de tecnologia citada pelo programa F-X2 vem de encontro com vários pontos da END (Estratégia Nacional de Defesa) e onde moram boas esperanças de muita gente sobre o futuro da Força Aérea Brasileira e até mesmo da própria EMBRAER, fora das pesquisas e da maioria (se não toda) a plataforma de indústria bélica do país.
Então vamos lá, se transferência de tecnologia significa em uma (ou última) instância vender conhecimento uma pergunta se faz muito pertinente: “quem vende conhecimento hoje no mundo?”
Resposta: Muitas pessoas/instituições e/ou países podem vender.
E essas figuras que podem, será que desejam vender?
Entramos aqui em uma complexa equação cujo o equilíbrio pode ser mais complexo do que a própria equação.
Hoje podemos adquirir conhecimento, comprando e pagando e bem.
China e Índia podem ser citados como exemplos que compraram conhecimento durante muito tempo e talvez ainda estejam comprando, porém estas duas nações se prepararam ao longo do tempo para não somente receber o conhecimento, mas também assimilá-lo de forma efetiva e retê-lo no país. Não vou entrar no mérito sobre a engenharia reversa que os chineses fizeram durante anos, ou processos similares que os indianos eventualmente tenham executado.
China e Índia investiram em pesquisa, investiram em qualificar profissionais e tentam ao máximo mantê-los em seus domínios hoje, sejam por meios repressivos ou não.
Seria o Brasil capaz de hoje iniciar o mesmo processo e chegar ao final deste com resultados positivos? Ou será que nos perderemos no processo, colocando tecnologia importante à perder devido à falta de investimentos e de bons salários para cérebros chave em programas de pesquisa e desenvolvimento ou mesmo programas de simples replicação/utilização do conhecimento “importado”.
Perdoem-me os leitores, pois esqueci de citar o processo mais básico e tradicional, que seria o de investir de forma pesada e massiva em educação, para podermos em 20 ou 30 anos colher os frutos, pode ser pura arrogância ou pretensão minha, mas creio que temos ótimos cérebros e uma grande massa de possíveis pesquisadores e engenheiros que possam levar adiante os mais diversos projetos de nossa indústria seja ela bélica ou civil, quiçá até a espacial. Vejo que o maior problema hoje é conseguir reter esses cérebros no Brasil.
Então chegamos nas GARANTIAS, que imagino ser o ponto chave para o programa F-X2 e é onde NINGUÉM VENCE!
Vejo que muitas pessoas hoje já torçem pelo naufrágio do projeto, por imaginarem que a escolha será infeliz, mas o fato é que sepultar mais um vez esse processo de reequipamento da FAB nos colocará ainda mais atrasados, e cada dia perdido no momento significa não somente dinheiro perdido, mas pode chegar até mesmo a soberania ameaçada.
Voltando ao que interessa, para o programa F-X2 a verdade é que ambos os concorrentes deixam este aspecto de transferência de tecnologia em aberto e nada de específico ou seguro é comentado. Pode-se dizer sim (ao menos com as informações fornecidas à público) que nenhuma proposta é segura neste aspecto. Não é difícil imaginar que este aspecto seja realmente um ponto “aberto” nas propostas de todos os 3 concorrentes, afinal estamos falando de tecnologia, ou seja, conhecimento.
Somente para se fazer um parênteses, tecnologia de um avião de caça não é somente desenvolvida para ele, trata-se de um processo que envolve todo um esforço de gerações anteriores de aeronaves, de engenheiros, de pilotos e até de estategistas militares. Para se chegar hoje ao RAFALE ou ao F/A – 18 E/F Super Hornet, França e EUA não começaram os trabalhos à 10 anos atrás. Estes aviões são frutos de experiências que antecedem a década de 1970. O mesmo podemos dizer do Gripen, mesmo que o Gripen NG nunca tenha voado ainda, o fato é hoje o JAS – 39 Gripen C/D envolve conhecimento adquirido pela SAAB desde os seus aviões anteriores como o AJ-37 Viggen ou o J-35 Draken, que voou muito antes do Gripen ser meramente uma idéia.
Agora que estamos falando de tecnologia, ou melhor, de conhecimento que custou vários bilhões de dólares, décadas de estudos, pesquisas, desenvolvimento e construção, além de suor e quem sabe até do sangue de quem participou desses projetos eu então questiono como estes países e/ou empresas vão nos vender essa tecnologia/conhecimento?
Gostaria até mesmo de pedir a ajuda dos leitores sobre possíveis respostas pois só vejo duas:
1 – Vai custar absurdamente caro.
2 – Vai custar absurdamente caro e vão virá por inteiro.
Eu voto na segunda.
Por mais estáveis que sejamos hoje em termos políticos e econômicos, os próprios concorrentes do F-X2 (empresas e países) temem que algo aconteça com este conhecimento tão valioso que será recebido por nós.
E eles estão certos!
Quem pode garantir que teremos governos capazes no futuro de manter nossa estabilidade?
Que o país não irá falir em 10 anos devido à má gerência?
Que a tecnologia não será “roubada” ou “contrabandeada”?
E quem pode garantir que a transferência de tecnologia será “ampla e irrestrita” (olha que boa maneira para ficar “bonito no projeto”)? Seja de qual vencedora for…
Por isso creio que não seja vergonha nenhuma das empresas concorrentes, aliás dos países concorrentes, em terem restrições à transferência de tecnologia e cobrarem caro por isso. Foi caro, suado, penoso e não pode ser “transferido” tão facilmente, claro que não defendo preços abusivos e restrições que transformem estas “transferências” em um mero artigo decorativo, minando nossa indústria e capacidade futura de manter os aviões voando por meios próprios em sua grande maioria, pelo menos.
Hoje no Brasil não temos garantia nenhuma se o programa F-X2 vai realmente voar, quanto mais a garantia de que teremos dinheiro para pagar, e nem mesmo a garantia sobre a fonte (até o momento inexistente) para o pagamento desse projeto. Sim, fui bastante repetitivo no “garantia”.
Portando como podemos cobrar garantias de transferência de tecnologia?
Por vezes escutei nas salas de aula da universidade professores dizendo que o povo brasileiro que tanto gritou e lutou por liberdade, no momento que a tem não sabe o que fazer com ela, por isso faço o paralelo mesmo que infeliz quanto a tecnologia ou conhecimento, vamos lutar e gritar por isso e quando o tivermos, o que faremos?
O pior de tudo é que nas GARANTIAS é que mora o “pulo do gato” do programa F-X2, independemente de podermos no futuro montar nossos aviões no Brasil o mais importante é conseguirmos manter nossa frota voando, por meios próprios, não importa qual seja o vencedor o importante é termos meios para nos mantermos seja com o mais ou menos oneroso, não importa, realmente o vencedor hoje já pouco importa.
Existe equivalência entre os vetores concorrentes, bem como entre o que as empresas tendem a nos oferecer, não podemos dizer o mesmo entre as nações de origem, mas de fato a equivalência suprema se faz na falta de garantias de ambos os casos.
Novamente digo que os americanos, franceses e suecos não estão errados de maneira alguma em serem “nebulosos” neste aspecto e não estão errados de forma alguma em cobrar um preço alto e muito alto por isso.
Precisamos é ter consciência de que a partir de agora, tendo um vencedor qualquer ele que seja o mais importante será não somente assinar um bom contrato, e mais do que isso até é aproveitar ao máximo o que vier de tecnologia (digo, conhecimento), pois não é muito difícil que venha novidade em relação ao que já possuímos (que é bem pouco).
Quero saber quem garante que um é melhor do que o outro também!
NOTA DO BLOG: Os artigos publicados na seção “O Carcará do Cerrado” não necessariamente refletem a opinião do Blog PLANO BRASIL, os textos são autoria e responsabilidades do autor e não possuem nenhum vínculo oficial ou representa as instituições militares brasileiras..