
Autor: Carcará do Cerrado
INVERSÕES
Semana passada eu comentei sobre algumas das compras militares, e esqueci de citar duas que são muito importantes e que imagino serem curiosamente “invertidas”.
Recentemente a FAB recebeu seus primeiros Mil Mi-35, que aqui são chamados de Sabre mas eu prefiro chamar de HIND (a mítica do nome é maior), e por outro lado o Exército Brasileiro está negociando a compra de baterias anti-aéreas onde um sistema russo também corre na frente o Tor-M2E (designação da OTAN de SA-15 “Gauntlet”).
Interessante ver que saímos do mar e do ar propriamente dito e nos aproximamos do chão e os russos entram em cena com muita força!
O fato em primeiro lugar é que se tratam de duas boas aquisições, de equipamentos novos, e com histórico de eficiência e ao que consta a versão do Mil Mi-35 que recebemos é bem próxima daquela que os russos operam (quase idêntica) além disso os Tor viriam da mesma forma.
Isso é um fator preponderante quando consideramos por exemplo os equipamentos de outros países (EUA e Europa), que em sua grande maioria quando exportados não são a versão “top de linha”, uma dura realidade, mas os países exportadores de equipamentos de defesa podem fazer isso.
Voltando ao foco, as compras de equipamentos russos me parecem um pouco invertidas, pois um helicóptero pesado, para apoio aéreo aproximado, um verdadeiro caça blindados nas mãos da FAB e os sistemas de defesa Anti-Aérea nas mãos do Exército, não deveria ser o contrário?
Queria sugerir a discussão com os leitores do blog sobre esse assunto, pois recentemente conversando com um nobre amigo ele me citou que era melhor deixar a defesa Antiaérea nas mãos do Exército, pois a FAB era um tanto “incompetente” para isso (e o F-X2 que o diga né?), mas temos de pensar que nesses tempos em que não só falamos de troca de equipamentos um assunto corrente é também a re-organização das Forças e até ampliação de suas atividades, como no caso da Marinha que conseguiu a 2ª Frota (mesmo que para muitos isso seja um tanto “insano” dado que o quantitativo de nossa frota naval não seja compatível com esses títulos).
Enfim, e falando do helicóptero aí é que vejo uma inversão brutal!
Os Mi-35 deveriam ser do Exército! Isso é uma opinião (vale lembrar), afinal de contas, os Mi-35 tratam de apoio aéreo aproximado e transporte, tarefa crucial para o Exército Brasileiro na região da Amazônia e nos outros teatros de operação da força em todo o território nacional. O nosso AH-2 Sabre (como é chamado por aqui) é um vetor fantástico e que não era a primeira opção da FAB, porém ganhou e é agora desejado pelo EB, será que houve uma inversão? Independentemente disso o fato é também lembrarmos que esta foi uma boa aquisição e cujo o processo não tomou muito tempo e nem sequer causou alarme excessivo, seja pelas características da procura por este vetor, pelo valor de menor expressão ou qualquer que tenha sido a razão, o fato é que os nossos AH-2 Sabre trouxeram para nosso país uma capacidade até então inexistente.
Não que a FAB não possa utilizar esse vetor, mas seria muito mais lógica a utilização desse meio pela aviação do Exército, dada as peculiaridades das operações do AH-2 Sabre e do Exército Brasileiro.
Por outro lado, mesmo considerando que as baterias de Tor-M2E sejam de curto alcance e muito aquém das necessidades de defesa antiaérea do país, mas mesmo estas baterias poderiam estar sobre responsabilidade da FAB, dado o leque de possibilidades e meios de detecção de aeronaves que está nas mãos da FAB, que não só é responsável por isso como a melhor conhecedora do assunto.
Replicar um sistema de radares antiaéreos e os dados necessários para a operação para o Exército é sem dúvida um gasto à mais de recursos, talvez interessante e necessário, mas por outro lado creio que seja desnecessário, dado que outros países deixam a responsabilidade de baterias Antiaéreas nas mãos de suas forças aéreas.
Os Tor-M2E acrescentariam em muito na capacidade atual de defesa antiaérea que temos no país, porém seu alcance limitado é um ponto de fragilidade grande e que precisa de ser, em caso de aquisição, complementado com urgência também.
É cedo para dizer, mas se pensarmos mais adiante, com um sistema como o S-400 (recentemente mostrado pelo blog[Clique aqui para ler] se utilizar de data-link para detecção de alvos, isso já demonstra que o artigo deveria ser empregado pela FAB. Mas vamos aguardar melhor o desenrolar dessas “aquisições” que no caso da defesa antiaérea nem saiu ainda.
É extremamente importante ressaltar também sobre estas duas nobres aquisições, ou melhor, sobre essa aquisição e a outra possível, que não deveríamos nos limitar a mera compra de prateleira, afinal somos capazes no Brasil de termos ao menos um índice de nacionalização razoável, e esse é um fator relevante para manter a operacionalidade dos meios em situações extremas.
Como falei semana passada, não é só de F-X2 que vivemos e até por que se fosse seria… triste! SE e somente SE semana que vem nós tivermos alguma novidade sobre o F-X2 quem sabe falamos dele de novo… (escuto pelo corredor um “aaaaaaahhhhh” ou não?).
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