As terras ‘imemoriais’ do Mato Grosso do Sul


Por: Hiram Reis e Silva

As terras ‘imemoriais’ do Mato Grosso do Sul

Por Cel Hiram Reis e Silva, 7 de outubro de 2009

“A política indigenista está dissociada da história brasileira e tem de ser revista urgentemente. Não sou contra os órgãos do setor. Quero me associar para rever uma política que não deu certo; é só ir lá para ver que é lamentável, para não dizer caótica.”
(General de Exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira)

No dia 7 de abril de 2005, na sala 13, da Ala Senador Alexandre Costa, a Subcomissão Permanente da Igualdade Racial e Inclusão do Senado Federal, reunida sob a Presidência do Senador Juvêncio da Fonseca, fez a leitura de um documento enviado pela Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul. A escritura mostra como agem, no Mato Grosso do Sul, o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), o PKÑ (Projeto Kaiowá Ñandeva) e o PT, para embasar seus ‘estudos’ sobre terras de ocupação indígena ‘tradicional’ que depois servirão de fundamento para falsos os relatórios da FUNAI.

Transcrevemos, abaixo, alguns trechos da explosiva declaração:

– Leitura da Declaração do Sr. Adair

Trata-se de uma Escritura Pública de Declaração, à qual já lemos, lavrada pelo Sr. Adair Gonçalves Sanches, indígena, lavrador, domiciliado em Amambaí. O documento contém afirmativas muito fortes sobre toda a questão indígena relacionada a Mato Grosso do Sul. (…)

Declaração, por Escritura Pública, que faz Adair Gonçalves Sanches, como abaixo declara: (…) Que é índio da Tribo Guarani, nascido em 1959, na Aldeia Amambaí; Vereador eleito em Amambaí, MS, com o voto dos índios da Aldeia de Amambaí; ex-Presidente do Conselho da Aldeia de Amambaí; ex-representante da União das Nações Indígenas do Mato Grosso do Sul; ex-companheiro do antropólogo japonês Celso Aoki e Paulo Pepe, chefe de uma entidade que se chama PKÑ, Projeto Kaiowá-Ñandeva, entidade criada em nome do índio Kaiowá-Guarani, em Amambaí. O PKÑ, o CIMI – Conselho Indigenista Missionário e o Partido dos Trabalhadores – PT são entidades ligadas entre si. Essas entidades, usando de – são as expressões que estão na escritura – ‘malandragem e safadagem’, fazem montagens aqui em Mato Grosso do Sul, coisas que ninguém nunca imagina e que eu, que fui companheiro e conhecedor, sei que eles fazem no Mato Grosso do Sul, o PKÑ recebe verba do exterior, Holanda, Canadá e Suíça, em nome do povo indígena do Mato Grosso do Sul, do Kaiuá e Guarani.

Dizem que é para ajudar esses povos. Só que esses dólares que vêm do exterior, o indígena nem sabe, usa o nome do índio e usa o índio também da seguinte forma: todos os problemas de terras que estão ocorrendo no Mato Grosso do Sul, na fronteira do Paraguai, são mandados pelo Sr. Celso Aoki e Paulo Pepe, antropólogos e chefes do PKÑ.

Eu fui companheiro dessa entidade e do Partido do PT por três anos, na época do Presidente José Sarney e do Ministro Ronaldo Costa Couto. Essa escritura é de 1992, ou seja, há treze anos. Nós fazíamos assim: procurávamos onde o índio estava trabalhando e há quantos anos estava morando naquela fazenda. Se eles falavam que estavam há cinco, seis ou dez anos, nós perguntávamos se não tinham familiares que faleceram naquele local e nós já falávamos para esse índio dar entrevista dizendo que ali era terra indígena antigamente.

Se tivesse algum cemitério de alguém da família ou parente, era para falar que eles já haviam nascido ali, se criaram ali, seus pais, avós, bisavós e netos, e assim por diante. Já nós pegávamos o pai daquela família para ser líder naquele lugar.

Os antropólogos Celso Aoki e Paulo Pepe são agitadores que pegam rios de dinheiro em troca desse tipo trabalho. Já mandam elaborar documentos naquele lugar, naquela fazenda, já fazem um mapa baseado em mais ou menos quantos hectares, dizendo que a área é indígena e que só falta a demarcação; já colocam o nome de como se chamava antigamente aquele lugar ou trocam o nome ou colocam o nome da fazenda mesmo. Se tiver três ou quatro famílias trabalhando lá, colocam como se tivessem 80 ou 90 famílias naquela área, dizendo que a aldeia e o pessoal do PKÑ já vão comprar mercadorias baratas refugadas, gradil de gado, banha podre e já sai nas aldeias grandes, que são demarcadas, que têm segurança, juntas as lideranças em todas as aldeias que são dominadas por eles e fazem uma reunião com todos os capitães do Mato Grosso do Sul.

Eles fazem o documento daquele lugar, dizendo que o índio mora naquela fazenda, mesmo que o índio seja só peão. Já o indicam de capitão e mandam todos assinarem o documento, mandando para o Presidente da FUNAI em Brasília, dizendo que ali tem área indígena que falta demarcação, com 80 ou 90 famílias, e o Presidente, que não sai do gabinete, não sabe se é verdade ou mentira. Só que nessa hora, o Celso Aoki e o Paulo Pepe já tiram o corpo fora, só ficando os índios e a FUNAI, e por traz eles orientando e cutucando as lideranças indígenas, fazendo reuniões e documentos para pressionar o administrador ou o Presidente da FUNAI.

Com a pressão, o Presidente da FUNAI assina o documento e manda para o Ministério da Reforma Agrária. Depois, passa para o grupão, depois para o Ministro do Interior. Na época, nós fazíamos assim. Hoje é Ministério da Justiça. Eu não sou contra a demarcação de terras. Só que sou contra esses elementos que vocês não conhecem. Eu descobri porque eles não compram as terras. Com os dólares que pegam no exterior, em nome do índio, só ficam jogando os índios contra os proprietários de terras e proprietários de terras contra os índios. Enquanto isso estão comendo e bebendo do melhor, e as aldeias antigas e a comunidade dessas aldeias ficam sem recursos nas áreas de saúde, educação e agricultura.

Eles não querem ver o indígena se civilizar, melhorar. Para eles continuarem a usar e manipular. Se o índio se sensibilizar e estudar vai descobrir o que eles fazem, e eles não vão ter mais como sobreviver à custa dos povos indígenas.

Só que na administração regional de Amambaí, a FUNAI tinha um administrador José Liberato Itamar, que não apoiava esse grupo de malandro. E esse grupo, fazendo reunião todos os meses e todo ano, conseguiu jogar todas as lideranças contra o administrador José Liberato Itamar, para colocar Manoel Hélio Alves de Paula, que é da mesma panela e fez convênio da FUNAI com essas entidades: Cimi, PKN, IPT e outras. O índio encontra-se inocente. Eles, bem como a FUNAI, encontram-se cada vez mais ricos.

Depois do administrador Manuel Hélio Alves de Paula no ano passado, em 1991, começou a jogar o indígena inocentemente nas fazendas. Usou índios, sacrificou-os e fez com que fossem expostos a todos os tipos de doença, cansaço e até fome. O índio não agüentou. Teve de ir embora, na miséria, com problemas de todos os tipos. Celso Aoki e Paulo Pepe estão aqui sempre em Amambai, ao lado do pessoal da FUNAI. Já montaram a malandragem juntos. Agora, a armação está na área indígena Guassuty, como falam. (…)

Somente gostaria de deixar bem claro que esses grupos dessas entidades, os antropólogos Celso Aoki e Paulo Pepe, o Cimi e o IPT estão metidos nisso. Estou pronto para fazer qualquer declaração ou debate, para ir perante o juiz com Celso Aoki e Paulo Pepe mostrar a realidade. As pessoas dessas entidades não querem que eu fale, e os administradores da FUNAI não querem que eu fale nada com os brancos. O novo administrador da FUNAI, José Antônio Martins Flores, pediu, pelo amor de Deus, para não fazer esse tipo de entrevista para os brancos e para a Justiça porque podem perder na Justiça as questões de terras.

Uma vez já estive na rádio esclarecendo uma parte do trabalho sujo que eles estavam armando. Desde então, o administrador Antônio Martins Flores queria que eu guardasse segredo sobre isso. E de como assim disse e dou fé, me pediu e lavrei essa escritura. (…)”

“Eu reclamava que a antropologia Brasileira deixasse de ser uma primatologia ou uma  barbarologia, que só olha os índios como fósseis vivos do gênero humano, que só importam como objetos de estudos. Sempre gostei, por isso, da tirada de Noel Nutels, que chamava os  antropólogos  de ‘gigolôs de índios”. (Darcy Ribeiro – Confissões)

– Declaração do Sr. Adair no Senado Federal

“Adair, está com você a palavra. Você está no Senado Federal, na Comissão de Direitos humanos e tem plena liberdade. Não há coerção, nem preocupação com qualquer forma de proibir ou de violentar o seu desejo de dizer a verdade.

O Sr. Adair Gonçalves Sanches – Bom dia a todos que se encontram presentes. Agradeço, em primeiro lugar, o convite do Dr. Cícero, do Deputado José Teixeira e do Senador. (…)

Não sou contra, não sou contra ganharmos terra, mais terra, mas as invasões acontecem assim: elas reúnem o PKñ e o CIMI e pegam de cada área um pouco. Pegam 10, 15 famílias de Amambai, de Pirajuí e de Dourados para formar um grupo e falar que é de lá. Aí, é quando ele vai, filma, grava, fotografa e manda para o exterior. E ele usa a índia, ainda, para levar o projeto em mão, só que a verba já vem na conta deles direto.

Então, por isso, não tenho medo, porque a realidade tem de ser esclarecida. Um amigo meu, que é lá de Pirajuí, está lá no Marangatu agora, naquela terra de conflito. Eu e ele cansamos de vir aqui em Brasília – pagava passagem e tudo –, tinha mais outros companheiros dele, e mandava para o exterior com o projeto na mão, o índio levando o projeto na mão. Mas só que, quando vem o dinheiro, já vem na conta dessa entidade, já vem na conta deles. E cadê o PKÑ, o CIMI e as outras entidades filantrópicas que ajudam o índio? Quando há uma invasão de terra, ela compra aquela mercadoria de terceira, aquele arroz que era farelo para distribuir na feijoada, um sabão preto daquele lá. Joga o índio lá e sai fora! Aí, vem a briga para a FUNAI.

Então, por isso, sou contra essas entidades, não a minha comunidade e nem as lideranças e nem o fazendeiro. Esses são os formadores de conflito, essas entidades. E até agora continuam. Enquanto continuarem essas entidades assim, nunca vai acabar conflito com fazendeiro e índio. (…)”

– Alerta MS (vídeo)

http://br.youtube.com/watch?v=rlzm7Gw6UMk

Fonte: http://webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/Permanentes/CDHIGUAL/Atas/20050407IN001.rtf

Solicito Publicação

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)

Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

E-mail: hiramrs@terra.com.br

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