A Coreia do Sul deu um passo importante em sua estratégia de expansão no mercado internacional de defesa ao promover formalmente o caça KAI KF-21 Boramae como um dos principais concorrentes no programa de modernização da Força Aérea Peruana. Em abril, a Administração do Programa de Aquisição de Defesa (DAPA) sul-coreana emitiu um comunicado oficial apoiando a candidatura do KF-21 como substituto da atual frota peruana de MiG-29 e Su-25, aeronaves da era soviética que enfrentam crescentes desafios operacionais devido à obsolescência e à dificuldade de manutenção.
A decisão peruana de buscar uma nova aeronave de combate ocorre em um momento crítico, marcado pela necessidade de revitalizar suas capacidades aéreas diante do envelhecimento da frota e das complexidades logísticas associadas ao suporte de sistemas de origem russa. Nesse contexto, o país está avaliando diversas opções de caças de alto desempenho, entre elas o Dassault Rafale (França), o F-16 Block 70/72 (EUA), o Saab Gripen E/F (Suécia) e o Eurofighter Typhoon (Europa). Essas plataformas oferecem alta interoperabilidade com aliados da OTAN e tecnologias de ponta, mas os custos elevados de aquisição e operação representam obstáculos significativos para o orçamento de defesa peruano.
Neste cenário, o KF-21 Boramae surge como uma alternativa competitiva. Desenvolvido pela Korea Aerospace Industries (KAI), o caça de 4,5ª geração combina capacidades avançadas com menor custo operacional, preenchendo a lacuna entre as aeronaves de quarta e quinta geração. O KF-21 conta com design furtivo, radar AESA, aviônicos de última geração, sistemas de missão sofisticados e controles de voo digitais. Sua proposta é entregar uma solução moderna, eficiente e acessível para países que desejam modernizar suas forças aéreas sem os custos e complexidades do F-35, por exemplo.
Além das qualidades técnicas, a Coreia do Sul aposta fortemente em sua proposta de cooperação industrial como diferencial estratégico. Em 2024, a KAI firmou um memorando de entendimento com a empresa estatal peruana SEMAN, prevendo iniciativas como a coprodução de componentes, integração de sistemas, fabricação de materiais compósitos e até mesmo a montagem local do KF-21 e do caça leve FA-50. A oferta sul-coreana está alinhada ao desejo do Peru de fortalecer sua base industrial de defesa, promover a transferência de tecnologia e gerar empregos qualificados no país.
A parceria não é inédita: os dois países já colaboraram no bem-sucedido programa de treinamento KT-1P, que envolveu a montagem local de aeronaves de instrução sob orientação sul-coreana. O projeto do KF-21 busca aprofundar essa relação, oferecendo não apenas uma plataforma de combate moderna, mas também uma aliança estratégica de longo prazo.
A nível geopolítico, um eventual acordo com o Peru seria altamente significativo para Seul. Após a redução da participação da Indonésia no programa KF-21, a Coreia do Sul busca novos parceiros internacionais para garantir a sustentabilidade da produção em série da aeronave. O sucesso no Peru fortaleceria a posição sul-coreana como um fornecedor confiável de equipamentos militares na América Latina.
Atualmente, a KAI avança na montagem da primeira unidade de produção em série do KF-21. Segundo fontes da mídia sul-coreana, o cronograma está sendo cumprido sem atrasos, com ênfase no controle de qualidade para atender aos requisitos rigorosos da Força Aérea da República da Coreia (ROKAF). A fase de testes de voo e avaliações em solo segue conforme o planejado, com os testes operacionais previstos para 2026. O plano da ROKAF inclui a entrega de 120 unidades até 2032, consolidando o KF-21 como pilar da aviação militar do país.
Caso o Peru escolha o KF-21 como seu próximo caça multifuncional, o país poderá receber prioridade nas entregas internacionais, fortalecendo não apenas sua capacidade de dissuasão, mas também suas relações estratégicas com um dos principais polos emergentes da indústria global de defesa.