A guerra comercial e os impactos na China

JIN


Com a aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, cresceu a preocupação com a possibilidade de uma nova escalada nas tensões comerciais sino-americanas. O presidente Donald Trump,havia sinalizado em sua campanha que poderia impor tarifas de até 60% sobre as importações chinesas caso retornasse ao poder.

Em um cenário no qual a economia da China dava sinais de desaceleração, o impacto dessas tarifas poderia ser significativamente mais severo do que durante a guerra comercial de 2018-2020.

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O crescimento do PIB permaneceu pressionado, com projeções entre 4,0% e 4,5%, dependendo da intensidade das tensões comerciais segundo o (World Bank). A inflação ao consumidor continuava baixa, com risco de deflação persistente caso as tarifas americanas reduzissem a demanda externa. A crise das incorporadoras tendia a se estabilizar gradualmente, mas sem recuperação significativa, enquanto as vendas de terras por governos locais continuaram limitadas, restringindo investimentos em infraestrutura. O desemprego, especialmente entre jovens, permaneceu elevado, desafiando a coesão social e exigindo políticas mais robustas de geração de empregos.

Eis que cumprindo a promessa de sua entre janeiro e abril de 2025, a presidência de Donald Trump foi marcada por uma radical intensificação da guerra comercial com a China, configurando um dos maiores embates econômicos entre duas potências nas últimas décadas. Trump adotou uma política tarifária agressiva, sob a justificativa de proteger a indústria norte-americana, recuperar empregos e pressionar Pequim a aceitar um novo equilíbrio comercial mais favorável aos EUA. No entanto, essas ações desencadearam reações severas do governo chinês e aumentaram significativamente a instabilidade nos mercados globais.

A ofensiva tarifária começou no início de fevereiro com a imposição de uma tarifa de 10% sobre todas as importações chinesas. Essa alíquota foi elevada para 20% no início de março e, no dia 2 de abril, durante um pronunciamento batizado por Trump como “Dia da Libertação”, o presidente anunciou uma tarifa adicional de 34%.

Com isso, a tarifa total efetiva sobre produtos chineses saltou para 54%. Uma semana depois, em 9 de abril, um novo pacote tarifário elevou essa carga para 104%, praticamente inviabilizando economicamente a entrada de produtos chineses nos Estados Unidos. As justificativas do governo foram centradas na necessidade de conter o que chamam de “imperialismo econômico chinês” e fomentar a reindustrialização americana, em linha com a proposta de “tarifas universais” defendida por Trump desde sua campanha.

A resposta chinesa foi imediata e contundente. Ainda em fevereiro, Pequim impôs tarifas de 15% sobre exportações estratégicas dos EUA, como carvão e gás natural liquefeito, além de 10% sobre petróleo bruto e máquinas agrícolas. Em março, ampliou as medidas retaliatórias com tarifas adicionais de até 15% sobre produtos agrícolas cruciais para a economia americana, como soja, milho e carne bovina, setores fortemente ligados à base eleitoral republicana.

No início de abril, a China respondeu diretamente à escalada com tarifas de 34% sobre todas as importações norte-americanas e anunciou a suspensão das negociações envolvendo a venda do TikTok, decisão carregada de simbolismo e repercussão política.

Além das tarifas, a China passou a restringir exportações de insumos críticos, como tungstênio e telúrio e ouros metais raros essenciais para semicondutores, armamentos e tecnologias verdes. Essas restrições atingem diretamente a indústria norte-americana de alta tecnologia, evidenciando o caráter estratégico da retaliação chinesa.

Internamente, o Banco Central chinês também reforçou a política de internacionalização do yuan, instruindo empresas estatais a priorizarem a moeda chinesa em contratos internacionais. A medida visa reduzir a dependência do dólar e, consequentemente, mitigar os efeitos do bloqueio financeiro imposto por Washington.

Os impactos econômicos dessa escalada foram imediatos. Os mercados financeiros reagiram com forte volatilidade: o índice S&P 500 registrou quedas significativas, o índice VIX (que mede a volatilidade implícita) atingiu níveis historicamente elevados, e o temor de uma recessão começou a dominar o debate econômico nos EUA.

Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o comércio bilateral entre China e EUA pode sofrer uma retração de até 80% em 2025, com efeitos em cascata sobre as cadeias globais de suprimentos. Grandes grupos de investimento, como o Carlyle Group, alertaram para o risco iminente de estagnação econômica e desemprego, especialmente em setores que dependem de insumos chineses ou exportações agrícolas.

Indicador China Estados Unidos
Crescimento do PIB (%) 4.0–4.5% (projeção, World Bank) 2.5% (estimado, baseado em 2024)
Dívida / PIB (%) 83% 99% (dívida pública detida pelo público)
Inflação (CPI, %) 0.5% (baixa, com risco de deflação) 2.9% (média anual, dezembro 2024)
Desemprego (%) 5.2% 4.1% (média Q4 2024)
Desemprego Jovem (%) ~15% (elevado, estimado) ~8.5% (estimado, 16-24 anos)
Superávit Comercial (US$ bi) 992 (2024, antes das tarifas de 2025) -1227 (déficit, 2024, antes das tarifas de 2025)
Exportações (US$ bi) 3577 (2024, pré-tarifas) ~2100 (bens, estimado, 2024, pré-tarifas)
Imóveis (% PIB) ~25–30% (crise estabilizando, sem recuperação significativa) ~12–15% (estimado, setor imobiliário residencial)
Vendas Terrenos (% var.) -20% (estimado, limitadas por restrições fiscais locais) Não disponível
Déficit Orçamentário (% PIB) ~4% (estimado) 7.0% (2024, ajustado)

Em síntese, as ações de Trump entre janeiro e abril de 2025 sinalizam uma guinada definitiva rumo ao desacoplamento econômico sino-americano. A retórica nacionalista, a adoção de tarifas punitivas e a instrumentalização do comércio como arma geopolítica recolocam os EUA em uma postura protecionista semelhante ao período pré-globalização.

Se, por um lado, a estratégia busca restaurar a soberania industrial e conter o avanço tecnológico chinês, por outro, ameaça desestabilizar o comércio mundial e acelerar a fragmentação do sistema econômico internacional baseado em regras multilaterais. A guerra comercial, agora elevada ao patamar de guerra estratégica, pode redesenhar o mapa da globalização no século XXI.

Impactos na China

Até abril de 2025, a economia chinesa começou a sentir com intensidade os efeitos negativos decorrentes da escalada da guerra comercial com os Estados Unidos, impulsionada pelas tarifas agressivas impostas pelo governo Trump. Esses impactos não se limitaram ao comércio bilateral, mas afetaram estruturas logísticas críticas, cadeias produtivas e setores estratégicos como energia e tecnologia.

O cenário revela não apenas um choque econômico direto, mas também a vulnerabilidade do modelo de crescimento chinês altamente dependente da integração global, sendo  que um dos primeiros setores a sentir os efeitos foi o de energia, especialmente o de gás liquefeito de petróleo (GLP), que vinha sendo importado em larga escala dos EUA.

Com a imposição de tarifas de 15% sobre esse insumo, a demanda chinesa caiu significativamente, com estimativas indicando uma redução de cerca de 150 mil barris por dia no segundo semestre de 2025. Essa retração atingiu empresas do setor petroquímico, que viram seus custos operacionais crescerem e seus lucros caírem diante da necessidade de buscar fornecedores alternativos a preços mais elevados.

Outro impacto relevante se deu no sistema portuário chinês. Portos de grande movimentação, como Xangai, Ningbo e Shenzhen, enfrentaram congestionamentos severos devido a um aumento repentino no volume de exportações nos primeiros meses do ano, uma corrida de empresas para despachar cargas antes da vigência das novas tarifas norte-americanas.

Isso levou ao acúmulo de contêineres, sobrecarga de terminais e atrasos logísticos que se refletiram em toda a cadeia de distribuição, elevando os custos de frete e comprometendo os prazos de entrega. Nos próximso dois meses epsera-se uma piora neste setor com o efeito de congestionamneto por cargueiros e terminais abarrotados de produtos sem entrega a espera por soluçõe spolíticas e reduções das tarifas.

Por hora, a questão do transporte marítimo foi especialmente sensível. As tarifas afetaram as rotas mais lucrativas entre a Ásia e a América do Norte, provocando uma escassez de capacidade nos navios e disparada nos preços de frete. De acordo com análises do setor, o custo do transporte por contêiner atingiu máximas não vistas desde o auge da pandemia, dificultando ainda mais a competitividade das exportações chinesas.

As cadeias produtivas chinesas, tradicionalmente complexas e interligadas ao comércio global, também foram fortemente impactadas. Setores como o automotivo, eletrônico e de telecomunicações enfrentaram interrupções no fornecimento de componentes e insumos importados, agravadas pela volatilidade cambial e pela pressão inflacionária. Como consequência, empresas chinesas passaram a buscar alternativas em países vizinhos como Vietnã, Tailândia e Índia, numa tentativa de relocalizar parte de sua produção para escapar das tarifas e reduzir a dependência direta do mercado norte-americano.

Além disso, produtos emblemáticos da exportação chinesa, como computadores, baterias recarregáveis e equipamentos de telecomunicações, registraram queda significativa nas vendas externas. A perda de competitividade diante das tarifas de até 104% impostas pelos EUA resultou em uma retração bilionária nas receitas de exportação e afetou diretamente as finanças de conglomerados tecnológicos chineses.

Em resposta, Pequim adotou uma postura multi estratégica, por um lado, retaliou com tarifas próprias e controles sobre exportações estratégicas (como metais raros essenciais para indústrias de ponta); por outro, intensificou os esforços para internacionalizar o yuan e diminuir a dependência do dólar, incentivando o uso da moeda chinesa em contratos comerciais internacionais.

Esses efeitos negativos demonstram como as tarifas não apenas afetam o fluxo comercial entre dois países, mas abalam estruturas logísticas, sistemas de transporte e redes produtivas inteiras. No caso chinês, a guerra comercial de 2025 revelou limites do modelo exportador e acelerou o debate interno sobre autossuficiência tecnológica, diversificação comercial e resiliência industrial, temas centrais para o futuro da segunda maior economia do mundo em um cenário de desglobalização crescente.

Exportações sob Risco

As exportações sempre desempenharam um papel central na trajetória de crescimento econômico da China, representando cerca de 20% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Trata-se de um pilar estratégico da economia chinesa, responsável por gerar divisas, empregos e dinamizar os setores industriais de ponta. No entanto, esse modelo baseado em forte inserção no comércio global encontra hoje sérios obstáculos, sobretudo devido à intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos e à adoção de políticas protecionistas também por parte da União Europeia.

A imposição de novas tarifas que em alguns casos já ultrapassam 60% sobre produtos chineses tem provocado impactos diretos nas projeções econômicas do país. O superávit comercial chinês, que atingiu um recorde de US$ 823 bilhões em 2023, já dava sinais de fragilidade: naquele mesmo ano, as exportações para os Estados Unidos caíram 13% em relação a 2022. Esse dado revela a dependência ainda existente do mercado norte-americano, mas também sinaliza que os canais tradicionais de crescimento externo estão se estreitando.

Esse cenário acelerou um processo de relocalização de cadeias produtivas globais, sobretudo por parte de grandes multinacionais que antes operavam fortemente a partir do território chinês. Empresas como Apple, Samsung, HP e outras gigantes do setor eletrônico e de bens de consumo vêm transferindo suas fábricas e centros de montagem para países como Vietnã, Índia e México. Esse movimento não apenas drena investimentos produtivos da China, como também sinaliza uma reconfiguração das redes industriais globais, com menor centralidade da manufatura chinesa.

Em resposta, o governo chinês tem incentivado o aumento dos Investimentos Diretos no Exterior (IDE), que cresceram 14% em 2023. A estratégia visa garantir presença global de empresas nacionais, ampliar mercados de destino e contornar barreiras tarifárias via produção descentralizada. Ainda assim, essa tática tem limites, sobretudo diante de um ambiente geopolítico cada vez mais polarizado e de controles sobre exportações estratégicas, como semicondutores e materiais críticos.

As perspectivas para 2025 indicam um agravamento desse quadro. Com a manutenção de tarifas em níveis entre 50% e 60% por parte dos Estados Unidos, as exportações chinesas para aquele mercado podem registrar uma queda adicional entre 20% e 25%. Isso representaria uma perda de até US$ 200 bilhões no superávit comercial, uma cifra expressiva mesmo para a segunda maior economia do mundo. Pequim, por sua vez, intensificará os esforços de diversificação, apostando em acordos comerciais e diplomáticos com países da ASEAN, América Latina, Oriente Médio e África.

Contudo, especialistas concordam que esses mercados emergentes, embora promissores, ainda não têm o mesmo poder de absorção dos EUA e da Europa Ocidental. Assim, a China não conseguirá compensar integralmente as perdas com seus principais parceiros tradicionais. Por isso, paralelamente à diversificação geográfica, Pequim também tem voltado seus esforços para o fortalecimento da produção interna em setores considerados estratégicos, como semicondutores, inteligência artificial, baterias de lítio e tecnologias verdes. Trata-se de uma tentativa de reduzir a dependência externa e criar um ecossistema industrial mais autossuficiente.

Em síntese, a conjuntura de 2025 mostra que a economia chinesa enfrenta um novo ciclo, em que a expansão baseada em exportações enfrenta sérios limites estruturais e geopolíticos. A transição para um modelo mais resiliente exigirá não apenas adaptação produtiva, mas também diplomacia econômica ativa e investimentos pesados em inovação, com o objetivo de manter a competitividade num cenário internacional cada vez mais fragmentado.

Colapso imobiliário

A crise iniciada com a inadimplência da gigante imobiliária Evergrande, em julho de 2021, expôs não apenas problemas pontuais de alavancagem e má gestão financeira, mas desencadeou um colapso estrutural no setor imobiliário chinês — até então um dos principais motores do crescimento econômico do país. O que começou como um episódio de inadimplência corporativa rapidamente se alastrou por toda a cadeia de construção civil, atingindo incorporadoras, fornecedores, governos locais e, sobretudo, as famílias chinesas que têm na habitação seu principal ativo patrimonial.

Desde então, o setor tem enfrentado uma retração profunda. O número de novos projetos de construção caiu para cerca de um terço dos níveis observados em 2019, refletindo o esgotamento do modelo de crescimento baseado na valorização contínua dos imóveis e na expansão ilimitada do crédito. Essa retração teve impactos macroeconômicos severos. Em um país onde aproximadamente 60% da riqueza das famílias urbanas está concentrada em imóveis, a queda nos preços residenciais afetou diretamente a percepção de riqueza e, por consequência, o apetite ao consumo.

Com o valor dos ativos imobiliários em queda contínua, milhões de famílias passaram a adotar uma postura de contenção de gastos. A confiança do consumidor despencou para mínimas históricas, e um dos reflexos mais visíveis dessa mudança foi a estagnação do comércio interno: as vendas no varejo cresceram menos de 4% por sete meses consecutivos, um desempenho significativamente abaixo da média histórica do país, que antes superava com folga os dois dígitos. A perda de dinamismo no consumo é um dos sintomas mais claros da deterioração do chamado “círculo virtuoso” entre valorização patrimonial, confiança e gasto das famílias.

As perspectivas para 2025 seguem marcadas pela incerteza e pela falta de vetores claros de recuperação. O setor imobiliário deve permanecer em contração, com estabilização de preços em algumas grandes cidades como Xangai e Pequim, mas sem uma retomada robusta da confiança dos investidores ou dos compradores. A maioria das cidades médias e pequenas continua registrando estoques elevados e liquidez reduzida, com desenvolvedores evitando novos lançamentos. Isso limita os efeitos multiplicadores que o setor historicamente exercia sobre a economia, incluindo emprego, investimento e arrecadação fiscal.

O consumo das famílias, por sua vez, deve continuar fraco ao longo de 2025, com o crescimento do varejo projetado entre 3% e 4%, insuficiente para alavancar o crescimento doméstico. As incertezas quanto ao futuro do emprego, o envelhecimento populacional e o aumento do endividamento familiar contribuem para manter elevado o nível de poupança precaucional. Embora o governo central sinalize disposição para adotar políticas de estímulo, como subsídios à compra de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos, etc.), a eficácia dessas medidas tende a ser limitada pela atual orientação de cautela fiscal, em contraste com os pacotes massivos de estímulo do passado.

A crise imobiliária, portanto, revelou-se mais do que uma correção cíclica: trata-se de uma mudança estrutural no modelo de crescimento chinês, que exige uma reconfiguração profunda da relação entre Estado, mercado e sociedade. Em um país acostumado a crescer impulsionado por investimento em infraestrutura e valorização de ativos, a transição para um crescimento mais baseado no consumo, inovação e produtividade será longa, complexa e, inevitavelmente, marcada por desafios sociais e políticos significativos.

 Mercado de trabalho e consumo estagnado

A fragilidade persistente do mercado de trabalho e a estagnação da renda média das famílias urbanas são fatores centrais para compreender a relutância do governo chinês em implementar políticas de estímulo direto ao consumo. Embora o enfraquecimento da demanda doméstica esteja amplamente diagnosticado como um dos principais entraves ao crescimento sustentável, as autoridades de Pequim continuam a adotar uma postura cautelosa, tanto por razões fiscais quanto ideológicas.

Do ponto de vista econômico, o receio de um endividamento público excessivo tem ganhado peso nas decisões de política macroeconômica. A dívida dos governos locais, muitas vezes ocultada por meio de veículos de financiamento off-balance sheet, já é considerada elevada, e um programa agressivo de transferência direta de renda ou subsídios ao consumo exigiria mobilizações fiscais significativas. Além disso, há a preocupação de que medidas desse tipo possam gerar distorções de longo prazo, como dependência do Estado e bolhas artificiais de demanda.

Há ainda motivações ideológicas. O regime chinês, embora pragmático, sustenta um modelo de desenvolvimento centrado na disciplina social, no trabalho e na autossuficiência produtiva, valores que contrastam com a lógica de transferências diretas de recursos, comum em democracias ocidentais. O estímulo ao consumo é, portanto, tolerado quando vinculado à produção ou à inovação (por exemplo, subsídios para veículos elétricos ou eletrodomésticos de baixo consumo), mas não como um fim em si mesmo.

As perspectivas para 2025 refletem esse dilema. O desemprego urbano geral pode estabilizar-se entre 5% e 5,5%, o que, em termos históricos chineses, é considerado tolerável. Contudo, o desemprego entre os jovens, especialmente os recém-formados no ensino superior, permanece crítico, com taxas que podem ultrapassar 20%. Esse segmento enfrenta um descompasso entre qualificação e absorção pelo mercado, gerando frustração social e, em alguns casos, manifestações políticas difusas.

Essa situação coloca pressão adicional sobre o governo, que tenta responder por meio de programas de treinamento, incentivo ao empreendedorismo e subsídios à pesquisa e desenvolvimento. No entanto, essas estratégias têm efeitos graduais e não respondem imediatamente ao desafio da geração de empregos em massa.

Com o mercado de trabalho pressionado e a renda real em desaceleração, o consumo das famílias tende a seguir estagnado. As projeções mais realistas indicam um crescimento das vendas no varejo abaixo de 5% ao longo de 2025, com maior dinamismo apenas em setores muito específicos, como tecnologia verde ou produtos subsidiados pelo governo.

Sem uma mudança substancial na política fiscal, que implicaria aceitar déficits maiores e flexibilizar regras de financiamento , dificilmente o consumo doméstico será capaz de compensar as perdas no setor externo causadas pela guerra comercial com os Estados Unidos e o enfraquecimento do setor imobiliário.

Em síntese, a combinação entre rigidez ideológica, prudência fiscal e limitações estruturais do mercado de trabalho coloca a China diante de um impasse: para revitalizar o consumo e evitar um ciclo prolongado de estagnação, será necessário rever paradigmas do modelo desenvolvimentista vigente desde a década de 1990. Sem essa inflexão, o país corre o risco de permanecer preso a um crescimento medíocre, sem a vitalidade necessária para sustentar sua ambição de liderança global.

Indicador

Valor Atual

Desemprego urbano oficial

5,3% (março de 2024)

Desemprego entre jovens (16-24 anos)

21,3%

Crescimento das vendas no varejo

3,8% (média últimos 6 meses)

Pressões deflacionárias persistentes

A China enfrenta um cenário econômico complexo, marcado por seis trimestres consecutivos de deflação no PIB nominal, o que reflete um ambiente de preços negativos persistentes e expectativas de crescimento econômico enfraquecidas. Esse fenômeno é evidenciado por uma queda de 1,6% no deflator do PIB no quarto trimestre de 2023, indicando que, apesar do crescimento em termos reais, os preços gerais da economia estão em retração.

A deflação observada no deflator do PIB sinaliza que o valor monetário da produção chinesa está sendo corroído, impactando negativamente os lucros das empresas e gerando uma pressão adicional sobre os consumidores e investidores.

Esse cenário deflacionário também se reflete no Índice de Preços ao Produtor (IPP), que está em território negativo desde março de 2022. A queda nos preços ao produtor é um indicativo de que a demanda por produtos e serviços está enfraquecida, o que torna difícil para as empresas passarem os custos de produção para os consumidores. Esse cenário prejudica a recuperação da atividade econômica, especialmente no setor industrial, uma vez que os preços mais baixos podem desencorajar investimentos em novos projetos de produção e inovação.

Em um ambiente deflacionário, a capacidade do governo chinês de estimular a economia através das políticas monetárias convencionais se vê limitada. O pagamento de dívidas se torna mais oneroso, já que a deflação aumenta o valor real das obrigações existentes, criando um ciclo de endividamento mais pesado.

Além disso, as taxas de juros mais baixas, uma das principais ferramentas da política monetária, podem ter um impacto reduzido, pois o mercado pode estar em um estado de expectativa de preços em queda contínua, desestimulando o consumo e o investimento.

Para 2025, as perspectivas econômicas da China sugerem que as pressões deflacionárias continuarão a ser um desafio significativo. O deflator do PIB deve continuar próximo de zero ou em território negativo, com a expectativa de que tarifas comerciais, se mantidas ou ampliadas, possam reduzir ainda mais a demanda externa, aprofundando o quadro de deflação. O IPP, que reflete a pressão sobre os produtores, pode continuar negativo, dificultando a recuperação industrial e o estímulo ao crescimento produtivo.

Em resposta, o Banco Popular da China poderá intensificar suas medidas não convencionais de estímulo, como as injeções de liquidez direcionadas, que visam fornecer financiamento diretamente para setores específicos da economia. No entanto, essas medidas podem ter uma eficácia limitada sem um apoio fiscal mais robusto, como programas de estímulos fiscais diretos que incentivem o consumo e o investimento. Sem essa combinação de políticas fiscais e monetárias mais coordenadas, o país pode enfrentar dificuldades significativas para reverter o ciclo deflacionário e retomar uma trajetória de crescimento sustentado.

Esse quadro reflete os desafios estruturais que a China enfrenta em sua busca por uma recuperação econômica duradoura, especialmente em um contexto de desaceleração do crescimento global, tensões comerciais e a reconfiguração das cadeias produtivas internacionais. A eficácia das políticas adotadas dependerá da capacidade de lidar com esses fatores de maneira integrada e flexível.

Finanças públicas

Nos últimos anos, os governos locais da China enfrentaram uma queda acentuada nas suas receitas provenientes da venda de terrenos, uma das principais fontes de financiamento para suas atividades e projetos de infraestrutura. Desde o pico registrado em 2020, essas receitas diminuíram em impressionantes 56%.

Esse declínio tem diversas implicações, pois a venda de terrenos é uma das principais fontes de recursos para os governos locais, que dependem dessa entrada de dinheiro para financiar suas operações e investimentos em desenvolvimento urbano e infraestrutura. A queda abrupta dessa receita, em um momento de desaceleração econômica e crise fiscal, tornou-se um desafio significativo para essas administrações.

Para compensar essa queda, as autoridades locais recorreram ao aumento de impostos e à aplicação de multas, estratégias que, embora possam gerar receita no curto prazo, têm o efeito colateral de afetar a confiança empresarial. Medidas fiscais punitivas, como o aumento de impostos e penalidades, podem desincentivar os investimentos, uma vez que as empresas percebem um ambiente de negócios mais oneroso e instável. Essa perda de confiança pode agravar ainda mais a desaceleração econômica local, pois os empresários tendem a adiar ou cancelar projetos de expansão diante da incerteza sobre os custos futuros e a carga tributária.

Além disso, a relação dívida/PIB das localidades ultrapassa os 120% em algumas províncias, indicando níveis elevados de endividamento em comparação com a capacidade de geração de riqueza local. Isso reflete uma crescente dependência das autoridades locais do financiamento externo, seja por meio da venda de terrenos ou pela emissão de dívidas, para cobrir suas obrigações fiscais e de investimento. Esse alto nível de endividamento torna essas regiões vulneráveis a choques econômicos e a restrições de crédito, dificultando ainda mais sua capacidade de gestão fiscal sustentável.

Para 2025, as perspectivas são de continuidade na crise fiscal local. As receitas provenientes da venda de terrenos devem se estabilizar em níveis baixos, sem expectativa de recuperação significativa no curto prazo. Isso criará uma pressão contínua sobre os orçamentos das províncias e municípios, forçando-os a buscar outras fontes de financiamento.

Uma dessas fontes pode ser a emissão de títulos, com o apoio do governo central, para gerar liquidez e financiar projetos de infraestrutura. No entanto, essa estratégia aumentará a dívida pública total, já que os títulos emitidos pelos governos locais são contabilizados como parte do endividamento do país. Isso poderá intensificar as preocupações com a sustentabilidade fiscal a longo prazo.

A confiança empresarial, por sua vez, deverá continuar abalada, principalmente se as medidas fiscais punitivas forem mantidas ou ampliadas. A instabilidade tributária e a elevação dos custos operacionais são fatores que dificultam a atração de novos investimentos, essencial para a recuperação econômica e o crescimento sustentável.

Embora o governo central tenha a capacidade de implementar transferências fiscais para aliviar a pressão sobre os governos locais, essa abordagem não resolverá a dependência estrutural que as províncias têm das vendas de terrenos como fonte de receita. A longo prazo, será necessário um redesenho mais profundo do sistema fiscal e de financiamento local para garantir maior autonomia financeira e sustentabilidade sem depender excessivamente das flutuações no mercado imobiliário.

Impacto das tarifas

De acordo com simulações do Peterson Institute for International Economics, a imposição de tarifas elevadas sobre os produtos chineses teria um impacto substancial no crescimento econômico da China, com consequências diretas em vários aspectos da economia. O estudo simula três cenários com tarifas progressivas, variando de 10% a 60%, e os resultados mostram que o impacto sobre o PIB da China seria cada vez mais severo à medida que as tarifas aumentam. No cenário de uma tarifa de 10%, o impacto estimado seria uma redução de 0,5 ponto percentual no PIB chinês ao longo de 12 meses. Se as tarifas aumentassem para 30%, a queda no crescimento seria de 1,0 ponto percentual. A proposta de tarifa de 60%, uma medida drástica sugerida pelo ex-presidente Donald Trump, poderia reduzir o PIB chinês em até 1,5 ponto percentual.

Esses impactos são principalmente devido à redução nas exportações, que representariam um efeito direto das tarifas mais altas. As exportações chinesas sofreriam uma diminuição significativa, uma vez que os produtos chineses se tornariam mais caros e menos competitivos no mercado internacional, particularmente nos Estados Unidos, um dos maiores parceiros comerciais da China. Essa queda nas exportações teria um efeito dominó sobre outros setores da economia, como a produção e o emprego, exacerbando a desaceleração econômica.

Além disso, as tarifas elevadas também causariam uma queda no investimento privado. A incerteza gerada por um ambiente de tarifas altas e instabilidade comercial reduziria a confiança dos empresários e investidores, tornando-os mais relutantes em expandir suas operações ou investir em novos projetos. A incerteza quanto ao futuro das relações comerciais e à evolução das tarifas geraria um cenário de precaução que prejudicaria a dinâmica econômica.

A combinação da redução nas exportações, a desaceleração do investimento privado e o impacto negativo sobre o setor produtivo reforçaria as pressões deflacionárias que a China já enfrenta, dado o atual contexto de preços em queda e o baixo nível de inflação. Além disso, a desaceleração do crescimento das exportações e o aumento da insegurança econômica afetariam o consumo doméstico, criando uma pressão adicional sobre as famílias e os consumidores, o que poderia resultar em estagnação econômica, especialmente no setor de bens de consumo.

Para 2025, se as tarifas forem realmente elevadas a 60%, a China pode enfrentar um crescimento do PIB abaixo de 4%, uma desaceleração ainda mais pronunciada em relação ao ritmo de crescimento anterior. A queda nas exportações exacerbará a taxa de desemprego, principalmente nas indústrias de exportação, e a pressão deflacionária será intensificada, dificultando a recuperação econômica. O investimento privado continuará a ser uma das áreas mais prejudicadas, com os empresários hesitando em tomar decisões de longo prazo em um cenário de elevada incerteza.

O consumo doméstico, que já se encontra em um estado vulnerável devido a fatores econômicos internos, sofrerá mais com a perda de empregos e a menor confiança na economia, podendo levar a uma estagnação no curto e médio prazos. Em resposta, a China pode optar por retaliar com tarifas próprias sobre os produtos de outros países ou buscar desvalorizar o yuan, uma estratégia que visaria tornar as exportações chinesas mais competitivas.

No entanto, essas ações aumentariam os riscos de instabilidade global, já que poderiam gerar mais tensões comerciais com os Estados Unidos e outros países, além de impactar negativamente os mercados financeiros globais, afetando o comércio e o fluxo de investimentos internacionais.

Em resumo, o aumento das tarifas sobre os produtos chineses não só prejudicaria o crescimento do PIB chinês, mas também agravaria as pressões deflacionárias, desacelerando o investimento privado e o consumo doméstico. As medidas retaliatórias, embora possíveis, poderiam agravar ainda mais a instabilidade econômica global, tornando a situação ainda mais complexa para a China e seus parceiros comerciais.

Medidas de estímulo e limitações

Em setembro de 2024, o Banco Popular da China anunciou um pacote de estímulo com foco na reestruturação das hipotecas, como parte de uma tentativa de aliviar a pressão financeira sobre as famílias chinesas. A medida, que envolveu a redução das taxas de hipoteca, foi projetada para gerar uma economia anual estimada de RMB 150 bilhões (aproximadamente US$ 20,7 bilhões) para os lares chineses.

Essa redução nas taxas de hipoteca pode representar um alívio considerável para as famílias endividadas, especialmente em um momento em que o mercado imobiliário da China enfrenta sérias dificuldades, e o consumo doméstico está em desaceleração. Contudo, a falta de um programa fiscal robusto limita o efeito multiplicador desse estímulo, pois sem uma expansão fiscal substancial, como um aumento significativo em transferências diretas de renda ou investimentos em grandes pacotes de infraestrutura pública, a capacidade do pacote de estimular a economia de maneira mais ampla será restrita.

Além disso, o governo chinês tem evitado, até o momento, políticas de bem-estar social mais abrangentes, como transferências diretas de renda ou investimentos massivos em projetos de infraestrutura pública, que poderiam gerar um impulso mais forte para a economia. Isso reflete uma abordagem cautelosa, possivelmente devido a preocupações fiscais e ideológicas, uma vez que o modelo econômico chinês tradicionalmente se baseia mais em estratégias de desenvolvimento via investimentos em infraestrutura do que em transferências sociais diretas.

Para 2025, espera-se que novos pacotes de estímulo monetário sejam introduzidos, mas seu impacto provavelmente será limitado sem o suporte de políticas fiscais mais expansivas. O governo pode lançar projetos direcionados a setores estratégicos, como infraestrutura verde e digital, com o objetivo de impulsionar o crescimento a longo prazo e acelerar a transição para uma economia mais sustentável e tecnologicamente avançada.

No entanto, a cautela fiscal ainda dominará a abordagem do governo, o que significa que esses projetos serão provavelmente de menor escala e mais focados em áreas específicas do que em uma abordagem abrangente de estímulo econômico. Além disso, é possível que o governo chinês comece a testar, em pequena escala, programas de transferências diretas de renda, especialmente em regiões mais afetadas pela crise econômica, mas essas iniciativas provavelmente serão limitadas, dada a resistência ideológica e a aversão à criação de grandes programas de bem-estar social.

No cenário macroeconômico geral, a China enfrenta um momento de vulnerabilidade maior do que em 2018. A confluência de uma crise imobiliária estrutural, um enfraquecimento do consumo doméstico, pressões deflacionárias persistentes e instabilidade nas receitas locais criou um ambiente econômico instável e desafiador. A crise no setor imobiliário, um dos pilares do crescimento da economia chinesa nas últimas décadas, continua a ser uma das principais fontes de incerteza, afetando o consumo e a confiança dos investidores. Além disso, o modelo econômico chinês está em transição, com o país tentando se afastar da dependência do setor exportador e do investimento em infraestrutura pesada e se concentrar mais em inovações tecnológicas, consumo interno e sustentabilidade ambiental.

A imposição de tarifas adicionais por parte dos Estados Unidos, especialmente no nível de 60%, representaria um choque relevante para o crescimento da economia chinesa, ampliando as tensões comerciais e dificultando a recuperação econômica. As tarifas prejudicariam ainda mais as exportações chinesas, que já estão em declínio, e ampliariam as pressões inflacionárias e deflacionárias simultaneamente, afetando tanto os preços internos quanto as expectativas do mercado global. Esse cenário de maior instabilidade nas relações comerciais poderia agravar as dificuldades internas da China, especialmente em termos de emprego e consumo.

Portanto, o resultado das eleições norte-americanas de novembro de 2024 será um fator-chave na definição da trajetória macroeconômica da China para os próximos anos. Se os EUA optarem por uma escalada nas tarifas ou outras políticas comerciais agressivas, o impacto sobre a economia chinesa pode ser ainda mais negativo, exigindo que o país adote medidas mais agressivas de adaptação e reformas.

Para 2025, a China enfrentará desafios significativos para manter o crescimento acima de 4%, o que exigirá reformas estruturais urgentes e uma maior diversificação econômica. A necessidade de modernizar e reorientar a economia para reduzir a dependência do setor externo e aumentar a resiliência interna será crucial para mitigar os impactos de uma possível guerra comercial renovada e de uma desaceleração econômica global.

Principais Vulnerabilidades da Economia Chinesa

As vulnerabilidades estruturais da economia chinesa, que já estavam presentes antes de 2024, foram exacerbadas por uma série de fatores internos e externos, e em 2025, essas fragilidades podem se tornar ainda mais pronunciadas, especialmente diante de novas tensões comerciais globais. A crise imobiliária, que teve início com a falência do conglomerado Evergrande em 2021, continua a ser um dos principais desafios para a economia chinesa.

O setor imobiliário, que representa cerca de 19% do PIB do país, tem enfrentado uma queda significativa nos preços dos imóveis e uma redução drástica nas novas construções, que atualmente estão a um terço dos níveis de 2019. Este colapso no setor afeta diretamente a confiança do consumidor, dado que aproximadamente 60% dos ativos das famílias urbanas estão relacionados a imóveis.

A queda na confiança resulta em uma redução no consumo doméstico, que é essencial para reequilibrar a economia chinesa em direção a uma maior dependência do mercado interno, em vez de exportações. Essa desaceleração no consumo agrava as pressões sobre o crescimento econômico e aumenta as dificuldades para uma recuperação sustentada.

Outro aspecto estrutural crítico são as finanças dos governos locais. Tradicionalmente, esses governos dependem fortemente da venda de terras para gerar receita, mas desde 2020, essa fonte de receita caiu 56%, o que levou a uma grave crise fiscal em muitas províncias. Em algumas delas, a relação dívida/PIB ultrapassa os 120%, colocando uma pressão adicional sobre as finanças públicas.

Esse endividamento elevado limita a capacidade dos governos locais de investir em infraestrutura e serviços públicos essenciais, afetando a qualidade de vida e a competitividade das regiões. Para compensar essa queda na receita, muitos governos aumentaram impostos e aplicaram multas, o que não só afeta a confiança dos investidores, mas também prejudica a confiança empresarial e o ambiente de negócios local, dificultando ainda mais a recuperação econômica.

Simultaneamente, a China enfrenta pressões deflacionárias persistentes que, em conjunto com o alto nível de endividamento, agravam ainda mais a situação econômica. O país registrou seis trimestres consecutivos de deflação no PIB nominal, com o deflator do PIB registrando -1,6% no quarto trimestre de 2023. Além disso, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) está negativo desde março de 2022, refletindo excesso de capacidade produtiva e uma fraca demanda doméstica.

Esses fatores dificultam o pagamento de dívidas e reduzem a eficácia das políticas monetárias convencionais. As pressões deflacionárias podem ser exacerbadas por tarifas externas, como as propostas pelos Estados Unidos, que afetariam ainda mais a competitividade da China no mercado global.

Outro problema social e econômico relevante é o alto índice de desemprego juvenil, que atingiu 21,3% em 2024 entre jovens de 16 a 24 anos. Este índice elevado de desemprego juvenil é um reflexo da desaceleração econômica e da falta de oportunidades para os jovens qualificados, o que pode gerar tensões sociais e aumentar a insatisfação com o governo. A falta de um mercado de trabalho robusto para os jovens não só limita o consumo, mas também pode resultar em instabilidade social, o que é particularmente perigoso em um período de desaceleração econômica e crescente frustração entre as camadas mais jovens da população.

Além disso, a China continua excessivamente dependente de suas exportações, que representam cerca de 20% do PIB. No entanto, a crescente vulnerabilidade das exportações chinesas a tarifas globais, especialmente a proposta de uma tarifa de 60% por parte dos Estados Unidos, coloca uma pressão significativa sobre o crescimento econômico.

A relocalização de cadeias produtivas para países como Vietnã e Índia, que têm se beneficiado de custos mais baixos e condições econômicas mais favoráveis para as multinacionais, também reduz a competitividade da China. A dependência de mercados externos torna a economia chinesa vulnerável a choques globais, como uma nova guerra comercial ou uma desaceleração nas economias dos principais parceiros comerciais, o que pode agravar ainda mais as dificuldades internas.

Essas vulnerabilidades estão profundamente interconectadas. A crise no setor imobiliário afeta a confiança do consumidor, o que reduz o consumo interno e, consequentemente, o crescimento econômico. O alto nível de endividamento dos governos locais limita a capacidade de investimento em infraestrutura e serviços públicos, o que prejudica a competitividade e o bem-estar da população.

A deflação e o desemprego juvenil aumentam a pressão sobre o governo, tornando mais difícil lidar com os desafios econômicos de forma eficaz. Para mitigar esses riscos em 2025, a China precisará de reformas estruturais significativas, como o fortalecimento do consumo doméstico, a redução da dependência de exportações e o aumento da transparência e eficiência na gestão fiscal e econômica. Essas mudanças são urgentes para evitar que as vulnerabilidades estruturais se aprofundem, e para garantir que a China consiga navegar com sucesso em um ambiente global cada vez mais desafiador.

O que a China pode fazer

Apesar das pressões dos EUA, a China utiliza seu poderio industrial, controle de recursos críticos e estratégias de retaliação direcionada para equilibrar a disputa. Seu modelo econômico, aliado a um planejamento estatal de longo prazo, permite não apenas resistir às tarifas, mas também explorar vulnerabilidades políticas e econômicas americanas, mantendo-se como um ator central na economia global.

Porém não obstante a todos os potencias problemas, pode-se avaliar que a china construiu ao longo dos anos uma estrutura costarando acordos e parcerias que lhe dão vantagens em relação aos Estados Unidos.A China possui estratégias e recursos que a posicionam em vantagem na disputa comercial com os Estados Unidos, mesmo diante das pressões tarifárias e restrições tecnológicas

Ela domina a cadeia global de terras raras e metais essenciais para indústrias de alta tecnologia, como lítio, germânio e gálio, usados em setores como defesa, energia renovável e eletrônicos. Em 2023, Pequim já restringiu a exportação de germânio e gálio para pressionar os EUA, afetando diretamente a produção de sistemas militares e tecnologias avançadas americanas 17. Essa dependência dos EUA em recursos chineses concede à China um poder de barganha significativo.

A China tem focado em setores que geram impacto político e econômico nos EUA, como a agricultura coma redução das compras de soja americana afeta diretamente os produtores rurais, muitos deles apoiadores de Trump, pressionando o governo a reconsiderar tarifas.

No campo das tecnologias, bloqueou a compra de aeronaves da Boeing, empresa estratégica para as exportações de alta tecnologia dos EUA, e iniciou investigações antitruste contra empresas como Google e Nvidia, ameaçando suas operações na China. A China mantém um superávit comercial de quase US1 trilhão  e  440 bilhões em produtos para os EUA, enquanto importa apenas US$ 145 bilhões. Essa assimetria permite que Pequim absorvar parcialmente os impactos das tarifas, redirecionando exportações para outros mercados (como Sudeste Asiático e Europa) e usando subsídios estatais para manter preços competitivos, mesmo com práticas de dumping.

A China é a maior potência manufatureira do mundo, com capacidade de produzir em larga escala a custos reduzidos graças a empréstimos subsidiados e apoio governamental. Isso permite que empresas chinesas mantenham margens mesmo com tarifas elevadas, enquanto os EUA enfrentam aumento de preços internos (como no caso de smartphones e eletrônicos) 17. Além disso, parte da produção foi relocalizada para países como Vietnã e Malásia, contornando barreiras tarifárias diretas.

Por último e não muito menos importante, a China tem adotado uma postura de “guerra prolongada”, usando a guerra comercial para acelerar a autossuficiência tecnológica, como no desenvolvimento de semicondutores, e fortalecer alianças com países em desenvolvimento (via iniciativas como a Nova Rota da Seda). Enquanto os EUA focam em medidas protecionistas, a China expande sua influência global, criando alternativas à dependência do mercado americano.

Indicador China Estados Unidos
Dívida / PIB (%) 83,0% 116,0%
Inflação (CPI, %) 0,5% 2,9%
Inflação Produtor (PPI, %) -2,2% -2,0%
Desemprego (%) 5,2% 4,1%
Desemprego Jovem (%) 15,0% 8,5%
Dívida Pública (% PIB) 83,0% 99,0%
Varejo (% cresc.) 3,6% 2,8%
Indústria (% cresc.) 5,8% 2,0%
Imóveis (% PIB) 30,0% 15,0%
Déficit Orçamentário (% PIB) 4,0% 7,0%
Vendas Terrenos (% var.) -20,0 Não disponível
Exportações (US$ bi) 3577,0 2100,0
IDE (US$ bi) 146,0 300,0
Superávit Comercial (US$ bi) 992,0 -1227,0

 Fontes
  1. Eleições EUA 2024 – BBC News Brasil, [Link]
    Trump escala ‘guerra tarifária’ com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio – BBC News Brasil, [Link]nto Econômico da China, Atlas report,[Link]
  2. Economias emergentes: quais serão os países mais dinâmicos e quais devem ser monitorizados – Coface [link]
  3. Será o Fim do Século Chinês? 9 Sinais Reveladores do Dramático Desaceleramento Econômico da China (Seção 3: Bolha Imobiliária), Atlas report[Link]
  4. Será o Fim do Século Chinês? 9 Sinais Reveladores do Dramático Desaceleramento Econômico da China (Seção 5: Deflação) Atlas report: [Link]
  5. Trump escala ‘guerra tarifária’ com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio – BBC News Brasil (Efeitos em Portos e Cadeias Globais), BBC,  [link]
  6. Trump escala ‘guerra tarifária’ com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio – BBC News Brasil, [Link]
  7. Tarifas de importação: medidas de Trump atingiram seu objetivo? – BBC News Brasil, [Link]
  8. Será o Fim do Século Chinês? 9 Sinais Reveladores do Dramático Desaceleramento Econômico da China (Seções 1-9) Atlas report,, [Link]
  9. Será o Fim do Século Chinês? 9 Sinais Reveladores do Dramático Desaceleramento Econômico da China (Seção 3: Crise Imobiliária e Finanças Locais) Atlas report, [Link]

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