Jin
Não há mais como impedir o evento cataclísmico que estamos vivendo, tempos difíceis, decisões difíceis e muitas incertezas frente a maior ruptura econômica desde a Guerra Fria.
Os Estados Unidos e a China já não estão mais em uma rota de colisão, as placas tectônicas da geopolítica já colidiram e os efeitos começaram a surgir. Estamos diante de uma nova Guerra Fria que diferente da anterior, não é travada somente por uma corrida armamentista desenfreada, mas também, pela maior guerra econômica da história.
Esta singularidade torna real um velho provérbio iraniano que aprendi com o editor deste site meu amigo Edilson Pinto, que diz:
“Quando dois elefantes lutam, quem perde é a grama”,
Nós a grama, nada podemos fazer para impedir a luta. Porém o que parece um simples embate entre gigantes, esconde na prática as consequência mais terríveis para o resto do mundo, a perda empregos, investimentos e os declínios da economia e do crescimento global. Nós a grama, estamos justamente sobre as patas pesadas destes dois gigantes.
Leia também
NEW ORDER: O verdadeiro plano de Donald Trump
Bem vindo a nova guerra fria
O que mais chama atenção na estratégia de Donald Trump, que planeja obrigar 70 países a reduzir o comércio com a China é o nítido processo de divórcio econômico, cada vez mais sério. Trump quer que estes mais de 70 países simplesmente parem de negociar com a China em troca de uma redução de tarifas com os Estados Unidos.
Isto não é uma blefe, ou um sustinho como muitos apregoam, o comércio entre China e EUA, que movimenta US$ 583 bilhões foi praticamente sepultado e a china possui pouco mais de 120 dias para o limiar de um colapso da rede logística naval, com portos e navio abarrotados de containers de produtos manufaturados aguardando as decisões que aparentemente não serão tomadas. O alvo o setor produtivo chinês que pode inundar o mercado com produtos a baixo preço na esperança de não apagar a fornalha da sua indústria sobre risco de uma perda significativa, sim, Trump não cedeu, sim, Xi não cedeu.
Agora, a guerra entra na fase dois e tanto China quanto os Estados Unidos lançarão o ultimato o qual destina-se a forçar os países a escolherem um lado , e aqui a neutralidade, característica comum de nações pragmáticas como Brasil, corre o risco de ruir, as declarações de Trump não tem segundos significados, ou ficam com os Estados Unidos, ou com a China.
Os resultados deste embate colossal já não pode ser escondido, a Organização Mundial do Comércio (OMC) lançou um alerta de que a atual “colisão” já responde pela pera global de 7% do PIB global e os países forem forçados a escolher lados.
Somente o comércio entre Estados Unidos e China pode cair 80% até o final deste ano e isso não pode ser substitído por nenhum outro possível parceiro seja para os chineses, seja para os americanos.
Trump quer isolar a China, pressionando aliados a romperem laços comerciais com Pequim em troca de favores tarifários e quem negociar com a China perde acesso aos Estados Unidos. Essa é a nova política de Trump. O mundo caminha para mais uma vez se dividirem dois blocos, como na Guerra Fria, com os países sendo obrigados a escolher um lado.
Porém, após a Guerra Fria, houve uma integração das cadeias globais de produção, e essa divisão nessa altura do campeonato, traria ao mundo desafios imprevisíveis e desmontaria a cadeia, aumentando o custo de tudo e criando barreiras em níveis desproporcionais para países em desenvolvimento.
E se você está se perguntando se o Brasil realemente precisa escolher um lado? A resposta é,nestes termos que se impõe, não terá como não se posicionar.
Trump deu uma entrevista à Fox e mandou um recado direto para a América Latina ao dizer:
“Talvez vocês tenham que escolher entre os Estados Unidos e a China”.
O foco da pergunta foi o Canal do Panamá, onde a influência chinesa é forte. Trump disse que os Estados Unidos não vão aceitar isso, mencionando que o Panamá já escolheu os EUA e que outros países talvez tenham que seguir o mesmo caminho.
O secretário de defesa de Trump reforçou esta fala, dizendo que os EUA vão “recuperar o quintal”. Em resumo, o governo Trump está dizendo à América Latina é:
“Ou vocês fazem negócios conosco, ou com os chineses. Com os dois ao mesmo tempo, não é mais possível”.
É uma pressão geopolítica descarada, no estilo “ou dá ou desce”.
A fase dois como aqui chamamos será decisiva para o Brasil e outros países da região, que dependem muito da China e dos Estados Unidos, tendo a China como o maior parceiro comercial, seguida pelos EUA.
Trump quer dividir o mundo em dois blocos, numa nova Ordem Global, com uma vertente econômica, deixando a militar para aqueles que quiserem pagar por sua segurança.
O Brasil está bem ai, no meio desse fogo cruzado. Nosso maior parceiro é a China, mas também temos muito comércio com os Estados Unidos e tudo indica que as retaliações não serão poupadas caso o Brasil permaneça imóvel, ou caso se resolva “sair do armário” e abraçar de vez a China, o que é certo é que será cobrado por esta decisão.
O Panamá já começou a ceder, saindo da Belt and Road, iniciativa chinesa, e enfrentando mais pressão por causa do canal. Isso pode se estender a outros países, sem dúvida. Como ser neutro quando estão te obrigando a escolher um lado? Equilibrar relações externas, negócios e interesses geopolíticos não é fácil e impacta os mercados, especialmente exportações, infraestrutura e tecnologias com dependência internacional.
No meio dessa confusão, o presidente do Banco Central Americano, Jerome Powell, deu uma entrevista destacando os riscos das tarifas para a economia. Logo após sua fala, as bolsas desabaram. Powell alertou que as tarifas de importação implementadas por Trump são muito mais altas do que o previsto, o que deve aumentar a inflação e o desemprego.
Ele também disse que o Federal Reserve pode não conseguir cumprir suas metas este ano. Quando questionado se o FED interviria caso os mercados entrassem em colapso, sua resposta foi um ensurdecedor
“Não”. ( e somente não)
Imediatamente as bolsas despencaram. O S&P caiu 2,24%, e o Nasdaq, 3,07%. Em termos simples, as tarifas americanas encarecem produtos importados, aumentando o custo de vida. A intenção de Trump é proteger empresas americanas, mas isso pode gerar efeitos colaterais perigosos como a inflação alta, empresas contratando menos ou demitindo, economia mais lenta.
Tarifas mais altas geram uma inflação artificial ao encarecer importados. O custo de vida sobe sem que a economia esteja forte, aumentando o risco de estagflação e alta de preços combinada com queda no crescimento. Esse é um dos cenários mais temidos por economistas, investidores e analistas.
Por isso, as bolsas americanas voltaram a derreter, e o Ibovespa caiu junto. Além do discurso de Powell, Trump anunciou tarifas sobre chips avançados, como os da AMD e Nvidia, usados em inteligência artificial. A AMD caiu 7,35%, e a Nvidia, 6,87%. Essas tarifas aumentam o custo de importação e afetam empresas americanas que dependem desses componentes.
“Vai ficar mais caro produzir, vai faltar peça, haverá corte de custos, e o Fed não vai salvar ninguém”.
As tarifas de Trump sobre chips não afetam apenas AMD e Nvidia, mas a base da tecnologia global — data centers, inteligência artificial, automação.
O setor de tecnologia afundou, sendo o mais sensível. O Fed não vai cortar juros tão cedo, como Powell confirmou, mantendo o freio de mão puxado. O mercado esperava alívio, mas não haverá, pelo menos não em abril ou maio.
O dólar perdeu força, o ouro disparou e como esperado a força do dólar é questionada, mas ainda não há uma moeda para substituí-lo como reserva global.
A desaceleração global é uma hipótese cada vez mais real com tarifas mais altas e juros. A economia mundial pode esfriar, impactando exportadores e fundos globais. O Brasil, que vive de exportações, não sai ileso a este movimento.
A China, nosso maior parceiro, divulgou um crescimento de 5,4% nos três primeiros meses do ano, o resultado é super positivo, porém ele esconde uma verdade incômoda, esse número foi turbinado artificialmente por dois fatores:
As empresas correram para exportar antes das tarifas de Trump entrarem em vigor, e o governo chinês deu incentivos, subsídios e cupons para estimular o consumo interno.
Isso demonstra que apesar do número impressionante neste trimestre, espera-se que o resto do ano será bem mais difícil. Lembram da janela de 120 dias? Pois é, são 1/3 do ano e seus efeitos vão cair no 2 e terceiro trimestre e se a situação não for resolvida logo, espera-se a propagação deste efeito para os trimestre subsequentes.
Em termos práticos, as exportações vão cair, e o governo chinês terá que conceder mais estímulos para manter a economia andando. As empresas venderam o máximo possível antes das tarifas, o que fez a produção, o consumo e o PIB dispararem artificialmente nos primeiros três meses. Agora, com as tarifas em vigor, os números devem piorar. A confiança dos consumidores chineses está baixa, o setor imobiliário segue em crise, e a economia chinesa precisará de mais socorro do governo.
O PIB chinês veio acima das expectativas, mas por fatores temporários catapultado pelas exportações antecipadas, estímulos do governo, cupons e subsídios. A partir do segundo trimestre, haverá desaceleração com a entrada das tarifas americanas.
Após a divulgação do PIB, a bolsa de Hong Kong, principal benchmark do mercado acionário chinês, caiu 3,3% indicando que não se empolgou porque entendeu que esse dado é passado, e o futuro é mais nebuloso. A produção industrial subiu 7,7%, as vendas no varejo quase 6%, mas tudo isso foi por medo de tarifas, cupons e subsídios.
As exportações responderam por um terço do crescimento no PIB em 2024, mas agora devem cair, criando um buraco difícil de tapar. O setor imobiliário chinês já registra queda de 9,9% no trimestre, e a deflação persiste, com o deflator do PIB caindo pelo oitavo trimestre consecutivo, mostrando demanda interna fraca e excesso de oferta.
O Politburo decidirá os próximos passos da economia chinesa no final de abril, com mais estímulos e possíveis negociações com os americanos.
Em meio à fúria dos elefantes, a grama não apenas se curva; ela é arrancada, esmagada, esquecida e enquanto os titãs da geopolítica dançam sua coreografia de poder, a grama sob seus pés é dilacerada.
Este não é um espetáculo para se assistir com pipoca, torcida e TVs de 80 polegadas, smartphones high-tech, seja pelo TikTok ou X, é hora de se começar a se preocupar com, “o quanto desta grama”(nós) sobrará após a poeira assentar?
Fonte
- Ruptura econômica global e nova Guerra Fria, Asia Times, [Link]
- Impacto das tarifas de Trump no comércio global, Reuters, [Link]
- Declarações de Trump sobre a América Latina e o Canal do Panamá, ABC News, [Link]
- Entrevista de Jerome Powell sobre tarifas e impacto econômico, USA Today,[Link]
- Tarifas sobre chips e impacto no setor de tecnologia, Business Insider, [Link]
- Crescimento do PIB da China no primeiro trimestre de 2025, Business Times, [Link]
Acesse a comunidade PB: Link de acesso [Link]
COLABORE COM O PLANO BRAZIL PIX: 14997751485
Uma leitura obrigatória de um artigo: excelente, pragmático e direto, sobre a precificação para todos nós, do verdadeiro custo do Capitalismo.