E.M.Pinto
A Arábia Saudita acaba de dar um passo importnate em sua estratégia de defesa nacional e regional com a formatura da segunda turma de operadores do sistema de mísseis THAAD (Terminal High Altitude Area Defense), desenvolvidos pelos EUA. A cerimônia ocorreu na base militar de Fort Bliss, no Texas, reforçando a cooperação militar entre Riad e Washington e consolidando a integração do Reino ao sistema de defesa aérea multinível do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
Desenvolvido pela norte-americana Lockheed Martin, o THAAD é um dos sistemas mais avançados do mundo para interceptação de mísseis balísticos em sua fase terminal de voo.
Diferentemente de sistemas convencionais que operam em altitudes médias e baixas, o THAAD atinge ameaças a grandes altitudes, cobrindo amplas áreas territoriais. Sua tecnologia hit-to-kill (impacto direto) elimina a necessidade de ogivas explosivas e o alvo é destruído pela energia cinética da colisão.
Componentes de uma bateria THAAD
Componente | Função |
---|---|
AN/TPY-2 Radar | Detecção e rastreamento de alvos em longo alcance |
Lançadores móveis | Transporte e lançamento dos mísseis interceptadores |
Mísseis interceptadores | Engajamento de alvos balísticos |
Centro de comando | Coordenação tática e operacional do sistema |
Em 2017, os EUA aprovaram uma das maiores vendas militares da década para a Arábia Saudita: um pacote avaliado em US$ 15 bilhões, que incluiam 44 lançadores, 360 mísseis interceptadores, 7 radares e a Infraestrutura de comando e controle completa. Essa aquisição posiciona o Reino entre as potências militares emergentes do Oriente Médio, alinhando sua doutrina de defesa com as capacidades operacionais de países da OTAN.
A ameaça de mísseis e drones na região é constante, especialmente por parte de grupos como Houthis no Iêmen, apoiados pelo Irã. O ataque coordenado às instalações petrolíferas de Abqaiq e Khurais, em 2019, evidenciou a vulnerabilidade crítica da infraestrutura energética saudita
Com o THAAD, a Arábia Saudita amplia sua capacidade de defesa em camadas, complementando sistemas Patriot PAC-3 e com as soluções nacionais em desenvolvimento sob o plano Vision 2030. Essa integração fortalece a arquitetura de defesa aérea coletiva do Golfo e protege também bases militares dos EUA e aliados na região.
Porém, além de garantir a defesa territorial saudita, o treinamento de operadores locais traz vantagens diretas às forças americanas. O Comando Central dos EUA (CENTCOM), que atua em toda a Ásia Ocidental, se beneficia da interoperabilidade com aliados bem treinados, ao reduzir a dependência de ativos americanos em solo, aumentando também a capacidade de resposta regional a ataques e facilitando exercícios conjuntos e coordenação doutrinária.
O acordo entre EUA e Arábia Saudita também prevê a localização parcial da produção de componentes do THAAD, alinhando-se ao objetivo saudita de desenvolver sua própria base industrial de defesa. Essa iniciativa gera empregos qualificados, transferência de tecnologia e redução da dependência externa a longo prazo.
O Programa THAAD
O desenvolvimento do sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) teve início em 1992, quando o Exército dos Estados Unidos contratou a empresa Lockheed Martin para projetar uma nova defesa antimísseis capaz de interceptar ameaças balísticas em altitudes elevadas, fora da atmosfera. Nos primeiros anos, o programa enfrentou desafios significativos.
Entre 1995 e 1998, os testes iniciais registraram várias falhas, o que gerou incertezas sobre a viabilidade técnica do sistema. No entanto, um marco decisivo ocorreu em 1999, quando o THAAD realizou sua primeira interceptação bem-sucedida de um míssil em voo, consolidando-se como uma tecnologia promissora.
Com os avanços técnicos, o programa passou à fase de produção inicial em 2004, quando Lockheed Martin recebeu os primeiros contratos para fabricação limitada. Em 2006, o THAAD foi reestruturado e integrado ao radar de varredura eletrônica AN/TPY-2, ampliando sua capacidade de detecção e rastreamento. A partir desse momento, os testes de voo demonstraram sucesso consistente, e o sistema foi finalmente declarado operacional em 2008.
A primeira unidade ativa do THAAD foi estabelecida em 2009, em Fort Bliss, no Texas, servindo como centro de treinamento e doutrina. Em 2012, ocorreu a primeira implantação operacional no exterior, com uma bateria do sistema enviada para a ilha de Guam, como resposta às crescentes ameaças de mísseis balísticos da Coreia do Norte. Entre 2013 e 2016, o sistema foi gradualmente incorporado à arquitetura de defesa global dos EUA e seus aliados, sendo integrado às redes de defesa do Japão e da Coreia do Sul.
Em 2017, a Arábia Saudita firmou com os Estados Unidos um dos maiores acordos bilaterais de defesa da década: um contrato de US$ 15 bilhões para a aquisição de 44 lançadores THAAD, 360 interceptadores, sete radares AN/TPY-2 e a infraestrutura completa de comando e controle. Esse movimento sinalizou o interesse saudita em construir uma defesa aérea de múltiplas camadas, especialmente após os ataques com drones e mísseis contra instalações petrolíferas em 2019.
A partir de 2020, o sistema THAAD passou por melhorias importantes, incluindo a modernização de seus softwares e a integração com sensores espaciais e sistemas como o Patriot PAC-3, por meio do programa de comando unificado IBCS (Integrated Battle Command System). Enquanto isso, a presença do THAAD na Coreia do Sul gerava tensões com a China, que via o radar AN/TPY-2 como uma ameaça estratégica à sua segurança.

Modo de operação do sistema Thaad considerando a ameaça d em sistema ICBM disparado a párir da china em direção aos EUA e sua interceptação pelo sistema THAAD.
Em 2023, iniciou-se o treinamento de militares sauditas nos EUA para operar o sistema, como parte do aprofundamento da cooperação entre Riad e Washington. O primeiro grupo concluiu a formação em 2024, e em abril de 2025, uma segunda turma de operadores sauditas formou-se em Fort Bliss, consolidando a integração do THAAD à defesa aérea do Reino.
Agora com pessoal treinado e estrutura operacional ativada, a Arábia Saudita insere-se plenamente no eixo de defesa regional liderado pelos EUA, utilizando o THAAD como peça-chave para conter ameaças balísticas, especialmente oriundas do Irã e seus aliados na região.
Ao longo de mais de três décadas, o THAAD evoluiu de um projeto experimental a um pilar da defesa antimísseis moderna, sendo hoje utilizado em diversos teatros estratégicos e integrado às missões do Comando Central dos EUA (CENTCOM) e forças aliadas ao redor do globo.
Em um cenário global marcado por tensões geopolíticas e avanços acelerados em tecnologia bélica, o Terminal High Altitude Area Defense (THAAD) emerge como um pilar crítico na arquitetura de defesa antimíssil dos Estados Unidos e seus aliados. Este sistema, composto por radar de alta precisão, interceptadores cinéticos e integração operacional, não apenas demonstra superioridade técnica, mas também gera debates sobre seu impacto estratégico. Argumenta-se que o THAAD é indispensável para a segurança nacional e a estabilidade internacional, apesar das críticas relacionadas a seu alcance e implicações diplomáticas.
Segundo a Lokheed Martin, o THAAD destaca-se por sua taxa de sucesso de 100% em testes operacionais, um feito inigualável entre sistemas antimísseis ocidentais. Seu radar AN/TPY-2, operando na banda-X, combina mobilidade e poder de detecção, identificando ameaças a até 3.000 km no modo Forward Based Mode (FBM).
A tecnologia Hit-to-Kill, que dispensa ogivas explosivas ao confiar no impacto cinético, assegura a neutralização completa de ogivas balísticas, minimizando riscos de danos colaterais. Essa combinação de precisão e confiabilidade posiciona o THAAD como uma resposta eficaz a mísseis de curto a médio alcance, como os frequentemente testados pela Coreia do Norte.
Tabela Comparativa Técnica: THAAD vs. S-500 vs. HQ-19
Característica | THAAD (EUA) | S-500 Prometheus (Rússia) | HQ-19 (China) |
---|---|---|---|
País de origem | Estados Unidos | Rússia | China |
Fabricante | Lockheed Martin | Almaz-Antey | CASIC (China Aerospace Science and Industry Corp) |
Tipo de sistema | Defesa antimísseis balísticos de alta altitude | Defesa aérea e antimísseis balísticos de longo alcance | Defesa antimísseis balísticos |
Fase de interceptação | Terminal | Médio e terminal | Terminal |
Alvos | Mísseis balísticos | Mísseis balísticos, hipersônicos, aeronaves furtivas, satélites de órbita baixa | Mísseis balísticos |
Alcance de interceptação | 200 km (aprox.) | 500–600 km | 100–200 km |
Altitude máxima de interceptação | 150 km (exoatmosférico) | 180–200 km | 100–150 km |
Radar principal | AN/TPY-2 phased array | Radar multifuncional 91N6A (varredura eletrônica) | Radar phased array |
Tempo de reação | < 10 segundos | 3–4 segundos | ~10 segundos |
Mobilidade | Alta (montado em veículos 8×8) | Alta (sistema móvel em plataforma pesada) | Alta (veículos lançadores móveis) |
Munição | Míssil interceptor “hit-to-kill” (não explosivo) | 77N6-N e 77N6-N1 (com ogiva cinética ou convencional) | Interceptores com e sem ogiva explosiva |
Integração com outros sistemas | Compatível com Patriot PAC-3, Aegis, C2BMC | Integração com S-400, S-300, A-235 | Integração possível com HQ-9 e sistemas de comando regionais |
Estado de operação | Em operação (desde 2008) | Entrando em operação (uso limitado desde 2021) | Em testes avançados, uso limitado no PLA |
A localização de baterias THAAD em pontos críticos como Coreia do Sul, Japão e Golfo Pérsico demonstram a estratégia de dissuasão calculada. Na Península Coreana, o sistema protege Seul e áreas vizinhas contra ameaças norte-coreanas, enquanto radares no Japão monitoram lançamentos em tempo real. No Golfo, a vigilância sobre o Irã reforça a segurança de aliados regionais.
A oposição chinesa à instalação do THAAD na Coreia do Sul ilustra o delicado equilíbrio entre defesa e diplomacia. A China alega que o radar AN/TPY-2, no modo FBM, poderia monitorar seu território, comprometendo sua segurança. Contudo, os EUA afirmam operá-lo no modo Terminal (TM), com alcance reduzido a 600 km.
Críticos apontam que a conversão entre modos leva apenas oito horas, sugerindo riscos de espionagem. Para mitigar tais preocupações, transparência operacional e acordos de verificação poderiam assegurar que o sistema mantenha seu foco defensivo, sem escalar tensões.
Recentemente, investimentos em novos módulos de radar a base de nitreto de gálio (GaN) já demnostraram a ampliação na eficiência, enquanto a interoperabilidade com o sistema Patriot maximiza recursos.
A integração dos sistemas de radares TPY-2 já guia os mísseis PAC-3 MSE, estendendo seu alcance e reduzindo custos ao evitar engajamentos redundantes. Essa sinergia técnica não apenas otimiza a defesa em camadas, mas também demonstra adaptabilidade frente a ameaças evolutivas, como mísseis hipersônicos.
Fonte
- Lockheed Martin awards contracts to localize THAAD system manufacturing in Saudi Arabia
Arab News [Link] - US to equip Saudi Arabia with seven THAAD air defense systems and 360 missiles
Army Recognition [Link] - Lockheed Martin seeks true partnership with KSA, localizes THAAD parts production
Al Arabiya English [Link]
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