Entendendo a guerra por procuração no Sudão  

Ali Ramos


Exército Sudanês em Darfur. Fonte: Financial Times.

Com a retomada do controle do Centro de Khartoum, a guerra no Sudão se aproxima do fim, em virtude da investida que depletou quase que por inteiro as capacidades de combate dos rebeldes das Forças Rápidas de Apoio (RSF)[1], que insurgiram contra o regime sudanês.

Mesmo assim, no entanto, é necessário entender as forças e países envolvidos no conflito, as alianças que se firmaram e o novo pacto social e geopolítico do Sudão. Neste sentido, será este o escopo do artigo, focado única e exclusivamente no aspecto das facções envolvidas, de quem as apoia e quem, deste modo, saiu vitorioso do confronto.

É necessário frisar, também, que ao longo do conflito países, atores e apoiadores cambiaram suas alianças diversas vezes, portanto o estudo de caso se focará no cenário atual do teatro de operações.

O governo turco, apesar das sanções contra o Sudão, tem fornecido mísseis e drones Bayraktar TB-2 ao Exército Sudanês, propalando seu esforço de guerra [2]. A Rússia também escalou seu esforço em apoio à mesma facção, entregando armas, drones, combustível e peças de reposição para caças [3]. Para além destes, o Irã tem sido um forte apoiador do Exército Sudanês ao longo da guerra, concedendo drones, armamento e apoio diplomático, dentre eles o drone Ababil-3 [4].

A Arábia Saudita, num caso emblemático, apoia o Regime Sudanês por meio da via do Egito, por onde escoa seus recursos de apoio, ao mesmo tempo em que almeja mediar as negociações entre ambos os lados [5], sendo uma ambição antiga de Riade a de transformar-se numa referência diplomática no Golfo e na África.

Esta é a complexa teia de apoios da junta militar que atualmente governa o Sudão – contando os separatistas das Forças Rápidas de Apoio (RSF), por sua vez, com um suporte mais modesto, apesar de não menos incisivo e capaz, em termos financeiros.

Ainda no início do conflito, antes da Rússia se posicionar publicamente a favor do Exército Sudanês, o Grupo Wagner, presente no Sudão, concedia apoio logístico, de inteligência e transferia armas às forças rebeldes, em especial mísseis SAM (míssil superfície-ar) [6]. Pode soar estranho, contudo grupos paramilitares e de PMC muito naturalmente possuem agendas próprias e espaço geopolítico de manobra na busca de seus próprios interesses.

A França, por sua vez, também tem dado suporte aos rebeldes, pela via dos Emirados Árabes Unidos, equipando os blindados Nimr Ajban, do Edge Group emirati, com o Sistema Galix de autodefesa [7]. Tal repasse de armas viola diretamente o embargo militar ao Sudão – sendo a leniência francesa, também, indicativo de apoio à facção [8].

    Fonte: Military Africa.

A China também tem fornecido drones às Forças Rápidas de Apoio pela via emirati – seguindo uma estratégia semelhante à empregada em Myanmar, de apoio tácito a ambas as facções no teatro de operações. No estoque fornecido pela China aos rebeldes constam: os drones Wing Loong II e Feihong FH-95. Já ao Exército Sudanês, a China forneceu o modelo DJI MAVIC 3 [9].

Nota-se, portanto, que a Guerra Civil Sudanesa não apenas é uma guerra de procuração, todavia, pelos ricos e vastos recursos naturais do país, converteu-se numa verdadeira proxy war envolvendo atores diversos, zonas cinzentas e facções com teias complexas de networking e atuação.


Fonte

[1] – “The Sudanese Armed Forces take control of the People’s Hospital in central Khartoum”. Sudan War Updates, Twitter. 2025.

[2] – SOYLU, Ragip. “Turkey’s drones boost Sudanese army against RSF”. News, Sudan Crisis, Middle East Eye. 2025.

[3] – “Weapons, Fuel Deliveries From Russia, Iran Inflame Sudan’s Civil War”. Daily News, ADF: Africa Defense Forum. 2025.

[4] – “Report: Iranian Weapon Deliveries Back Sudanese Armed Forces”. Eurasia Review: News & Analysis. 2024.

[5] – “Gulf states’ proxy war exacerbates conflict in Sudan”. Commentary, The Nordic Africa Institute. 2025.

[6] – ELBAGIR, Nima. QIBLAWI, Tamara etc. “Exclusive: Evidence emerges of Russia’s Wagner arming militia leader battling Sudan’s army”. CNN World. 2023.

[7] – “Sudan: French-manufactured weapons system identified in conflict – new investigation”. News, Amnesty International. 2024.

[8] – ABDUL, Kazim. “French weapons systems violates UN arms embargo in Sudan”. Military Africa. 2025.

[9] – TYSON, Kathryn. “Drones Over Sudan: Foreign Powers in Sudan’s Civil War”. Critical Threats. 2025.


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