Edislon M.Pinto & Rodolfo Q. Laterza
Introdução

Kursk, uma cidade de história e resistência – onde o passado e o presente se encontram na arquitetura, na cultura e na memória.
A região de Kursk, localizada no oeste da Rússia, faz fronteira com a Ucrânia e desempenha um papel estratégico tanto no contexto econômico quanto no atual cenário de conflito na Europa Oriental. Com uma área de aproximadamente 29800 km², Kursk se caracteriza por um relevo predominantemente plano, composto por extensas planícies férteis conhecidas como tchernozion (terra negra), um dos solos mais produtivos do mundo. O clima é temperado continental, com invernos frios e verões relativamente quentes.
Veja Também
A população da região gira em torno de 1,1 milhão de habitantes, distribuídos entre áreas urbanas e rurais. A cidade de Kursk, que também é a capital regional, concentra cerca de 450 mil habitantes e é o principal centro econômico, industrial e administrativo da província. Outras cidades de destaque incluem Zheleznogorsk, conhecida por suas indústrias metalúrgicas e de mineração, e Kurchatov, onde está localizada a Usina Nuclear de Kursk, uma das principais fontes de energia da região.

Kursk, uma cidade na linha de frente – sua proximidade com a fronteira ucraniana a torna vulnerável a tensões e incidentes, refletindo os desafios de uma região marcada por conflitos e instabilidade.
Fonte BBC via Público
https://www.publico.pt/2024/08/12/mundo/noticia/russia-evacuou-partes-regiao-belgorod-fronteira-ucrania-2100553
A economia local é impulsionada por setores industriais diversificados, com destaque para a mineração de ferro, indústria de máquinas pesadas, metalurgia, além do setor agroindustrial, que explora as vastas áreas férteis para a produção de trigo, centeio e beterraba açucareira. Entre os principais complexos industriais da região, estão as usinas de processamento de minério de ferro operadas pelo Kursk Magnetic Anomaly (KMA), um dos maiores depósitos de ferro do mundo. O setor energético da região é sustentado pela Usina Nuclear de Kursk, que atende grande parte da demanda elétrica local e contribui para o fornecimento de energia à rede nacional da Rússia.
Categoria | Dados |
---|---|
Localização | Oeste da Rússia, faz fronteira com a Ucrânia |
Área Total | 29.800 km² |
População (aproximada) | 1,1 milhão de habitantes |
Capital | Kursk |
Principais Cidades | Kursk, Zheleznogorsk, Kurchatov |
Clima | Temperado continental, invernos frios e verões quentes |
Geografia | Planícies férteis (tchernozion), solo agrícola de alta produtividade |
Fontes de Energia | Usina Nuclear de Kursk, termelétricas e fontes de energia renovável |
Principais Indústrias | Mineração (ferro), metalurgia, indústria de máquinas pesadas, agroindústria |
Indústrias de Destaque | Kursk Magnetic Anomaly (KMA) – mineração de ferro |
Setor Agroindustrial | Produção de trigo, centeio, beterraba açucareira, produção de alimentos |
Setor Energético | Usina Nuclear de Kursk (uma das principais fontes de energia local) |
Setor Metalúrgico | Indústria metalúrgica, especialmente em Zheleznogorsk |
Setor de Máquinas Pesadas | Produção de maquinaria e equipamentos industriais |
Setor Químico | Processamento de produtos petroquímicos e outros químicos |
Setor de Transporte | Ferrovias, transporte rodoviário e aéreo (principalmente para transporte de minerais e produtos industriais) |
Turismo | Turismo rural, história militar (ligação com a Batalha de Kursk) |
Fronteira | Região fronteiriça com a Ucrânia, foco de tensões militares recentes |
Ofensiva Ucraniana de 2024 | Ataques a infraestruturas militares e logísticas russas na região de Kursk |
Impactos da Ofensiva | Interrupção no abastecimento energético, evacuação parcial da população e reforço militar russo |
Do ponto de vista geopolítico, a proximidade com a Ucrânia torna a região de Kursk um ponto vulnerável em tempos de conflito. Desde o início da guerra em 2022, a província tem sido alvo de ataques esporádicos de drones e artilharia. No início de 2024, as forças ucranianas lançaram uma ofensiva transfronteiriça, intensificando incursões militares na região. Essa campanha teve como objetivo desgastar as defesas russas e desestabilizar as linhas logísticas utilizadas pelo exército da Rússia. Os ataques se concentraram em infraestruturas críticas, incluindo ferrovias, depósitos de munição e bases militares situadas ao longo da fronteira.
O avanço das operações ucranianas em Kursk inaugurou mais uma nova fase do conflito, com o uso ampliado de drones, artilharia guiada e unidades de reconhecimento que desafiaram as defesas russas. Moscou, em resposta, reforçou sua presença militar na região, destacando unidades da Guarda Nacional, sistemas de defesa aérea e forças motorizadas. Além disso, fortificações adicionais foram erguidas ao longo da fronteira para conter possíveis avanços ucranianos e reduzir os impactos dos ataques.
A importância estratégica da região de Kursk se mantém tanto no contexto econômico quanto militar. Enquanto as operações de guerra continuam a determinar o cenário local, a província segue sendo um centro vital para a indústria russa e um ponto crítico nos jogos geopolíticos da região.
Ordem de batalha
Forças Russas
As Forças Armadas da Rússia atuantes no terreno eram compostas por diversas unidades e subunidades. No âmbito das Forças Terrestres, destacam-se os Distritos Militares. O Distrito Militar de Moscou inclui o 1º Exército de Tanques de Guardas, com a 4ª Divisão de Tanques de Guardas, a 47ª Divisão de Tanques, o 272º Regimento de Fuzileiros Motorizados e um Batalhão desconhecido. Além disso, o 20º Exército de Armas Combinadas de Guardas abriga a 3ª Divisão de Fuzileiros Motorizados, o 252º Regimento de Fuzileiros Motorizados, a 448ª Brigada de Foguetes, a 144ª Divisão de Fuzileiros Motorizados de Guardas, o 488º Regimento de Fuzileiros Motorizados, o 17º Batalhão e o 18º Batalhão.
No Distrito Militar de Leningrado, o 6º Exército de Armas Combinadas conta com a 25ª Brigada de Fuzileiros Motorizados, a 138ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados de Guardas, um Batalhão desconhecido, o 1009º Regimento de Fuzileiros Motorizados, o 1428º Regimento de Fuzileiros Motorizados e o 488º Regimento de Fuzileiros Motorizados. O 11º Corpo de Exército inclui a 18ª Divisão de Fuzileiros Motorizados de Guardas e o 79º Regimento de Fuzileiros Motorizados. Já o 14º Corpo de Exército possui a 200ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados, e o 44º Corpo de Exército abriga a 128ª Brigada de Fuzileiros Motorizados e 3 Batalhões desconhecidos. A 72ª Divisão de Fuzileiros Motorizados é composta pelo 22º Regimento de Fuzileiros Motorizados, o 30º Regimento de Fuzileiros Motorizados e um Batalhão desconhecido. Além disso, há as 92ª e 94ª Brigadas de Operações Especiais, que são unidades norte-coreanas.
No Distrito Militar do Sul, o 8º Exército de Armas Combinadas de Guardas inclui a 150ª Divisão de Fuzileiros Motorizados de Guardas, o 102º Regimento de Fuzileiros Motorizados, o 31º Batalhão e o 1428º Regimento de Fuzileiros Motorizados. No Distrito Militar do Leste, o 5º Exército de Armas Combinadas de Guardas possui a 127ª Divisão de Fuzileiros Motorizados e o 143º Regimento de Fuzileiros Motorizados. O 35º Exército de Armas Combinadas abriga a 38ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados de Guardas e a 64ª Brigada Separada de Fuzileiros Motorizados de Guardas. Em um Distrito desconhecido, há o Batalhão Arbat e a Brigada UAV “Grom-Kaskad”.
A Marinha Russa inclui a Frota do Pacífico, com a 155ª Brigada de Infantaria Naval de Guardas, a Companhia de Reconhecimento e Ataque “Varangian”, o Batalhão “Tigr” e a 40ª Brigada Separada de Infantaria Naval de Guardas. A Frota do Mar Negro possui a 810ª Brigada de Infantaria Naval de Guardas.
A Força Aeroespacial Russa é composta pela Força Aérea Russa e pelas Forças Aerotransportadas Russas. Estas últimas incluem a 98ª Divisão Aerotransportada de Guardas, com o 217º Regimento Aerotransportado de Guardas, 2 Batalhões de assalto aerotransportados desconhecidos e o 2187º Regimento VDV. A 104ª Divisão Aerotransportada de Guardas e a 106ª Divisão Aerotransportada de Guardas contam com o 119º Regimento VDV, o 137º Regimento Aerotransportado de Guardas e o 51º Regimento VDV. A 7ª Divisão Aerotransportada de Assalto de Guardas possui o 56º Regimento Aerotransportado de Guardas e a 11ª Brigada de Assalto Aerotransportada de Guardas.
As Forças Estratégicas de Foguetes incluem o 27º Exército de Foguetes de Guardas, com a 7ª Divisão de Foguetes de Guardas e o 290º Regimento de Mísseis. Outras forças incluem as Tropas de Proteção NBC, as Forças de Operações Especiais, o Diretório de Inteligência Principal (GRU), com a Brigada Spetsnaz GRU e a 16ª Brigada de Spetsnaz de Guardas, e as Forças Voluntárias, como o Batalhão voluntário “BARS-Kursk”, o BARS-25 “Anvar” e o Destacamento Voluntário “Tigr”.
A FSB possui o Serviço de Fronteiras, enquanto a Guarda Nacional da Rússia inclui os Batalhões Akhmat, os Destacamentos “Aida”, “Varvar”, “Kashtan”, 11º Destacamento, “Kamerton” e o Batalhão Alania. O Grupo Wagner e o Ministério da Defesa Russo também fazem parte das forças, com o Regimento “Akhmat-Chechênia” e o Grupo Redut.
Por fim, as Forças Armadas da Coreia do Norte incluem o Exército Popular da Coreia, com o XI Corpo e a 94ª Brigada Separada.
Forças Ucranianas
As Forças Armadas da Ucrânia estiveram presentes por diversas unidades e subunidades, organizadas em diferentes ramos. No âmbito das Forças Terrestres, destacam-se várias brigadas mecanizadas e de assalto, como a 17ª Brigada Mecanizada Pesada, a 21ª Brigada Mecanizada, a 22ª Brigada Mecanizada, a 47ª Brigada Mecanizada, a 61ª Brigada Mecanizada, o 99º Batalhão Mecanizado, a 88ª Brigada Mecanizada, a 92ª Brigada de Assalto, a 115ª Brigada Mecanizada, o 225º Batalhão de Assalto, a 116ª Brigada Mecanizada e o 3º Batalhão de Reconhecimento Separado. Além disso, há unidades de artilharia, como a 27ª Brigada de Artilharia de Foguetes e a 49ª Brigada de Artilharia.
A Força Aérea Ucraniana é outro componente importante das Forças Armadas, responsável por operações aéreas e defesa do espaço aéreo. Já as Forças Aerotransportadas Ucranianas incluem unidades especializadas, como o 78º Regimento Aerotransportado Separado, a 80ª Brigada de Assalto Aerotransportada, a 82ª Brigada de Assalto Aerotransportada e a 95ª Brigada de Assalto Aerotransportada.
As Forças de Operações Especiais desempenham um papel crucial em missões de alto risco, sendo representadas pelo 8º Regimento de Operações Especiais. Os Fuzileiros Navais Ucranianos também são uma parte essencial, com a 36ª Brigada Naval e o 501º Batalhão de Infantaria Naval atuando em operações marítimas e costeiras.
As Forças de Defesa Territorial são responsáveis pela proteção interna e incluem unidades como a 103ª Brigada e a 127ª Brigada. Além disso, a Legião Internacional contribui com o Grupo de Batalha Romeno Getica, que atua em apoio às forças ucranianas.
Por fim, o Serviço de Segurança da Ucrânia possui unidades especializadas, como o Grupo Alpha, que realiza operações de alto nível e contra-terrorismo. Essas forças combinadas formam a estrutura de defesa da Ucrânia, atuando em diferentes frentes para garantir a segurança do país.
A ofensiva ucraniana segundo as mídias
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Em 6 de agosto de 2024, a Ucrânia lançou a ofensiva na região de Kursk, na Rússia, marcando um dos episódios mais audaciosos do conflito entre os dois países desde o início da guerra em larga escala em 2022. A incursão ucraniana, que envolveu cerca de 300 soldados, 11 tanques e mais de 20 veículos blindados, foi direcionada a duas frentes principais: Oleshnya, em direção a Sudzha, e Nikolayevo-Darino, ambas localizadas a nordeste de Sumy. O ataque, iniciado às 08:00 (horário de Moscou), foi rapidamente respondido pelas forças russas, que mobilizaram tropas terrestres, artilharia e unidades aéreas para conter o avanço ucraniano.
A Rússia alegou ter repelido os invasores, infligindo baixas significativas por meio de ataques aéreos, artilharia e drones. No entanto, as alegações russas foram contraditas por evidências geolocalizadas e relatos de milbloggers (bloggers militares) que sugeriam que os combates ainda estavam em andamento. Vídeos divulgados por Moscou mostravam supostos tanques ucranianos sendo alvejados, enquanto imagens de redes sociais indicavam que aviões de guerra russos operavam em baixa altitude para repelir o ataque. O governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, confirmou a morte de três civis durante os confrontos, incluindo uma mulher morta durante a incursão e duas vítimas de ataques de drones.
A natureza e o sucesso da ofensiva ucraniana foram alvo de debate. Enquanto fontes russas descreviam a ação como uma “manobra midiática” mal-sucedida, evidências sugeriam que as forças ucranianas haviam avançado pelo menos 10 quilômetros para dentro do território russo, penetrando duas linhas defensivas e capturando posições estratégicas, como um posto de gasolina e um ponto de controle em Sudzha. Além disso, relatos indicavam que as tropas ucranianas haviam capturado dezenas de prisioneiros de guerra russos, incluindo 35 soldados no primeiro dia de combates. Um tenente ucraniano, identificado como “Alex”, afirmou que 300 soldados russos foram capturados durante os dois primeiros dias da operação, realizada por “formações armadas não identificadas”. Nos dias seguintes, a situação em Kursk continuou a se deteriorar para as forças russas.
Em 7 de agosto, milbloggers relataram que as tropas ucranianas haviam capturado 11 assentamentos e avançado 14 quilômetros para dentro do oblast. O presidente Vladimir Putin ordenou que agências governamentais fornecessem assistência aos residentes e enviou o vice-primeiro-ministro Denis Manturov para supervisionar os esforços. Kursk foi colocado em estado de emergência, e Putin se reuniu com membros-chave do establishment de segurança, incluindo o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, e o ministro da Defesa, Sergei Shoigu. Gerasimov informou a Putin que cerca de 1000 soldados ucranianos participaram do ataque e que seu avanço havia sido contido, embora evidências geolocalizadas contradissessem essa afirmação.
Em 8 de agosto, os combates continuaram, com relatos de que as forças ucranianas controlavam a parte ocidental de Sudzha e as estradas circundantes. O milblogger Yuri Podolyaka afirmou que “Sudzha está basicamente perdida para nós”, enquanto as tropas ucranianas avançavam em direção a Lgov. A zona de combate expandiu-se para 430 quilômetros quadrados, com relatos de que as forças ucranianas haviam entrado em assentamentos como Mirny e capturado várias aldeias, incluindo Kazachya Loknya e Bogdanovka.
No dia 9 de agosto, as estimativas sugeriam que as tropas ucranianas haviam capturado entre 100 e 250 quilômetros quadrados de território, com uma profundidade média de 10 quilômetros. Um ataque com mísseis HIMARS destruiu um comboio militar russo em Oktyabrskoye, resultando em muitas baixas russas, um dos maiores golpes únicos sofridos pela Rússia desde o início da guerra. Enquanto isso, o comandante das unidades chechenas Akhmat, Apti Alaudinov, admitiu que suas forças não enfrentaram as tropas ucranianas, optando por recuar até que reforços russos chegassem.
A situação em Kursk levou a Rússia a implementar um regime de contra-terrorismo nas regiões de Kursk, Bryansk e Belgorod, restringindo movimentos e monitorando comunicações. A proximidade dos combates com a usina nuclear de Kursk levantou preocupações adicionais, com autoridades desenergizando equipamentos e reduzindo o número de funcionários no local. Um ataque ucraniano a uma subestação de energia deixou várias áreas sem energia, incluindo partes de Kurchatov.
A partir de 10 de agosto, os relatos sobre o conflito divergem significativamente, refletindo as narrativas concorrentes de ambos os lados e a dificuldade de se estabelecer uma visão clara e objetiva dos acontecimentos. Enquanto analistas citados pelo The New York Times afirmam que o avanço ucraniano foi contido por reforços russos, outras fontes, como o Washington Post e a Frankfurter Rundschau, sugerem que a Rússia ainda não conseguiu estabilizar a situação, com avanços ucranianos contínuos. Essa divergência de informações só comprovava a existência das guerras de narrativas.
O fato é que as forças ucranianas mantiveram o controle de territórios capturados e continuaram a avançar em direções estratégicas, como em Olgovka, Ivashkovskoye e Malaya Loknya. A expansão da zona de combate para 650 km² e a captura de assentamentos como Makhnovka reforçam a ideia de que a Ucrânia obteve ganhos táticos significativos, mesmo diante da resistência russa.
A situação humanitária também se deteriorou rapidamente. Em 10 de agosto, o governador de Kursk, Alexei Smirnov, relatou que 15 pessoas ficaram feridas em Kursk após os destroços de um míssil ucraniano interceptado caírem em uma área residencial. Esse incidente ilustra os riscos colaterais do conflito para a população civil, que já enfrentava evacuações em massa e interrupções no fornecimento de energia. A evacuação de civis do distrito de Krasnoyaruzhsky, em Belgorod, em 12 de agosto, e a destruição de pontes estratégicas sobre o rio Seym em 16 de agosto, exacerbam ainda mais a crise humanitária, dificultando o deslocamento de civis e tropas.
Nessa altura os ucranianos consolidaram seu controle sobre várias áreas, incluindo Sudzha, onde soldados ucranianos foram vistos removendo a bandeira russa de edifícios públicos e distribuindo ajuda humanitária. A captura de mais de 100 soldados russos em 14 de agosto, incluindo membros do 488º Regimento de Guardas e dos batalhões “Akhmat”, foi um golpe simbólico e estratégico para a Rússia, destacando a eficácia das operações ucranianas. O presidente Volodymyr Zelenskyy afirmou que as forças ucranianas controlavam cerca de 1000 km² de território russo e 74 assentamentos, reforçando a narrativa de sucesso da ofensiva.
No entanto, a Rússia não ficou passiva. A nomeação de Alexey Dyumin para comandar a defesa contra a ofensiva ucraniana em 13 de agosto e o aumento de tropas russas em Kursk, incluindo unidades realocadas de Zaporizhzhia e Kherson, indicam uma resposta organizada, embora por vezes relatada como tardia, de Moscou. A Rússia também buscou apoio internacional, convocando uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU, enquanto continuava a realizar ataques aéreos e de artilharia contra posições ucranianas.
A destruição de pontes sobre o rio Seym, tanto por forças ucranianas quanto russas, tornou-se um ponto crítico no conflito. Essas ações visavam dificultar o movimento de tropas e suprimentos, mas também isolaram milhares de civis e soldados russos em bolsões territoriais. A batalha pela prisão feminina de Malaya Loknya, transformada em uma fortaleza por soldados russos, exemplifica a intensidade dos combates e a determinação de ambos os lados em manter o controle de posições estratégicas.
O contrataque russo
Em 5 de setembro de 2024, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy afirmou que 60000 soldados russos haviam sido realocados de Zaporizhzhia e Kherson para Kursk, reduzindo significativamente o número de projéteis disparados nas áreas anteriores. Essa realocação de tropas destacou a prioridade que a Rússia passou a dar à recuperação de Kursk, mas também levantou questões sobre a sustentabilidade de suas operações em múltiplas frentes. Dois dias depois, em 7 de setembro, as forças ucranianas reafirmaram sua presença na região ao destruir duas pontes flutuantes sobre o rio Seym e um sistema de defesa aérea Osa, utilizando bombas SDB e foguetes HIMARS. Essas ações demonstraram a capacidade da Ucrânia de interromper as linhas de suprimento e comunicação russas, complicando ainda mais a logística militar de Moscou.
A contraofensiva russa, iniciada em 10 de setembro, foi uma resposta direta à ocupação ucraniana. Sob ordens de Vladimir Putin, as forças russas lançaram operações para retomar o território perdido até 1º de outubro. Relatos iniciais indicaram avanços russos no distrito de Korenevsky, com a captura de assentamentos como Gordeyevka e Vnezapnoye. Apti Alaudinov, comandante das unidades chechenas, afirmou que cerca de 10 assentamentos haviam sido retomados, enquanto fontes russas sugeriam que 165 km² de território haviam sido recuperados. Esses avanços foram facilitados pela realocação de tropas ucranianas para outras frentes, como Pokrovsk, o que deu à Rússia uma vantagem temporária em Kursk.
No entanto, a contraofensiva russa não foi sem desafios. Em 12 de setembro, o Ministério da Defesa russo confirmou a retomada de 10 assentamentos, incluindo Snagost e Krasnooktyabrsky, mas análises geolocalizadas sugeriram que esses avanços ocorreram em áreas onde a Ucrânia não tinha controle total. Simultaneamente, as forças ucranianas expandiram suas operações para fora do saliente principal em Kursk, atacando ao sudoeste de Glushkovo e fazendo avanços significativos. Essa dualidade de movimentos destacou a natureza dinâmica e imprevisível do conflito.
A partir de outubro, a Rússia intensificou sua contraofensiva, com ataques semanais realizados pelas mesmas brigadas e regimentos, concentrando-se no uso pesado de blindados. Em 14 de outubro, Alaudinov afirmou que a Rússia havia recuperado cerca de metade do território ocupado pela Ucrânia, uma afirmação corroborada pelo Institute for the Study of War (ISW), que confirmou a retomada de 46% do território com base em imagens geolocalizadas.
Apesar dos esforços russos, a Ucrânia manteve sua presença em Kursk, lançando uma nova ofensiva em janeiro de 2025. Avanços ucranianos em assentamentos como Berdin, Novosotnitsky e Martynovka foram confirmados por imagens geolocalizadas, enquanto fontes russas alegaram a retomada de localidades como Leonidovo e Staraya Sorochina. Esses movimentos simultâneos de avanço e recuo ilustraram a natureza da operação russa cuja linha de contato era estirada e contraída buscando consolidar seus ganhos táticos.
Em fevereiro de 2025, a situação em Kursk permaneceu tensa. A Rússia lançou ataques aéreos contra alvos civis, como um internato em Sudzha. Enquanto isso, avanços ucranianos em Kolmakov e Fanaseyevka, bem como a retomada russa de localidades como Sverdlikovo e Novaya Sorochina, destacaram a continuidade dos combates e a falta de uma resolução clara.
Em março de 2025, a Rússia lançou uma ofensiva decisiva em Kursk, culminando na retomada de Sudzha, uma cidade estratégica que havia sido ocupada pelas forças ucranianas desde agosto de 2024. Essa operação marcou um ponto crucial no conflito, demonstrando a capacidade da Rússia de reorganizar suas forças e realizar manobras complexas para recuperar territórios perdidos. No entanto, a ofensiva também revelou as limitações e desafios enfrentados por ambos os lados, destacando a natureza dinâmica e imprevisível da guerra.
No início de março, relatos do grupo de monitoramento ucraniano DeepState indicaram que as forças russas estavam avançando perto da vila de Kurilovka, ao sul de Sudzha, ameaçando as defesas ucranianas. Em 7 de março, fontes militares ucranianas confirmaram que os russos haviam rompido as linhas defensivas ao sul de Sudzha, colocando em risco as rotas de suprimento das tropas ucranianas e ameaçando cercá-las. A Reuters e o The Telegraph relataram que os russos estavam cercando milhares de soldados ucranianos em Kursk, com linhas de abastecimento sob constante ataque de drones e artilharia. Além disso, as forças russas cruzaram a fronteira para a região de Sumy, buscando controlar a rodovia Yunakivka-Sudzha, um eixo logístico crítico.
A operação russa para retomar Sudzha foi marcada por uma manobra audaciosa e inesperada. Em 8 de março, um grupo de soldados russos alcançou as posições ucranianas em Sudzha após percorrer cerca de 16 quilômetros dentro do gasoduto Urengoy-Pomary-Uzhhorod, que havia sido desativado em janeiro de 2025. Essa operação, batizada de “Potok” (Fluxo), envolveu aproximadamente 600 soldados e foi caracterizada por fontes russas como um ataque surpresa. No entanto, fontes ucranianas afirmaram que estavam cientes do plano russo, mas não tinham recursos suficientes para destruir o gasoduto. Apesar disso, um oficial ucraniano, Myroslav Hai, alegou que as forças ucranianas emboscaram os russos, resultando na morte de cerca de 80% dos soldados que emergiram do gasoduto.
Enquanto isso, o Estado-Maior ucraniano negou que os russos tivessem alcançado um avanço significativo, descrevendo a presença russa em Sumy como pequenos grupos de sabotagem e reconhecimento. No entanto, evidências geolocalizadas confirmaram que as forças russas retomaram várias localidades ao norte de Sudzha, incluindo Cherkasskoye Porechnoye, Viktorovka, Nikolaevka e Staraya Sorochina. Em 9 de março, os russos anunciaram a captura de Lebedevka, ao oeste de Sudzha, e Novenke, na região de Sumy, consolidando seu controle sobre áreas estratégicas.
A batalha por Sudzha intensificou-se em 9 de março, com relatos de combates ferozes em múltiplas direções. Fontes russas alegaram que as forças ucranianas planejavam se retirar de Kursk, enquanto o Ministério da Defesa russo anunciou a retomada de Cherkasskoye Porechnoye e Kositsa. Em 11 de março, a Rússia afirmou ter recapturado 12 assentamentos, incluindo Agronom, Bogdanovka e Martynovka, consolidando ainda mais sua posição na região. O DeepState relatou que os russos estavam avançando em direção a Basivka, em Sumy, e enfrentando resistência ucraniana perto de Guyevo.
Em 12 de março, as tropas russas hastearam bandeiras no centro de Sudzha, marcando simbolicamente a retomada da cidade. O Ministério da Defesa russo anunciou a captura de cinco assentamentos adicionais, incluindo Kazachya Loknya e Mirny. O general ucraniano Oleksandr Syrskyi afirmou que as forças ucranianas estavam se reposicionando para “linhas defensivas favoráveis” e que não havia risco de cerco. No entanto, mapas atualizados do DeepState mostraram que as forças ucranianas haviam deixado Sudzha, e analistas militares previram uma retirada completa de Kursk nos dias seguintes.
Durante uma visita a um posto de comando em Kursk em 12 de março, Vladimir Putin ordenou que as forças russas recapturassem totalmente a região “no menor tempo possível”. No dia seguinte, o Ministério da Defesa russo anunciou a retomada de Sudzha e de outros assentamentos, consolidando sua vitória tática.
Eventos da ofensiva Ucraniana e contraofensiva Russa (2024-2025)
Data | Evento |
06.08.2024 | Início da ofensiva ucraniana na região de Kursk, com ataque às frentes de Oleshnya e Nikolayevo-Darino. |
07.08.2024 | Relatos indicam que tropas ucranianas capturaram 11 assentamentos e avançaram 14 km. Estado de emergência decretado em Kursk. |
08.08.2024 | Ucrânia controla parte ocidental de Sudzha; combate se estende para 430 km². |
09.08.2024 | Tropas ucranianas capturam até 250 km²; ataque com HIMARS destrói comboio russo. |
10.08.2024 | Relatos contraditórios sobre o avanço ucraniano; zona de combate se expande para 650 km². |
12.08.2024 | Evacuação de civis em Belgorod devido à escalada do conflito. |
14.08.2024 | Ucrânia captura mais de 100 soldados russos, incluindo membros do 488º Regimento de Guardas. |
16.08.2024 | Pontes estratégicas sobre o rio Seym destruídas, dificultando movimentação de tropas. |
05.09.2024 | Zelenskyy afirma que 60.000 soldados russos foram realocados para Kursk. |
07.09.2024 | Ucrânia destrói duas pontes flutuantes e sistema de defesa aérea russo. |
10.09.2024 | Rússia lança contraofensiva em Kursk, capturando primeiros assentamentos. |
12.09.2024 | Ministério da Defesa russo confirma retomada de 10 assentamentos. |
14.10.2024 | Rússia declara ter recuperado cerca de 46% do território perdido. |
01.11.2024 | Surgem rumores não confirmados da presença de 10.000 soldados norte-coreanos para reforçar posições russas. |
07.03.2025 | Forças russas avançam perto de Sudzha, ameaçando cercar tropas ucranianas. |
08.03.2025 | Soldados russos realizam ataque surpresa emergindo do gasoduto Urengoy-Pomary-Uzhhorod. |
09.03.2025 | Rússia captura localidades ao norte de Sudzha e em Sumy. |
11.03.2025 | Ministério da Defesa russo anuncia retomada de 12 assentamentos. |
12.03.2025 | Tropas russas hasteiam bandeira no centro de Sudzha, marcando a retomada da cidade. |
12.03.2025 | Rússia retoma Sudzha e hasteia bandeira no centro da cidade. |
Análise
No dia 7 de agosto de 2024, foi realizada uma live com o Comandante, na qual foi analisado o aspecto tático-operacional da incursão militar ucraniana em Kursk. O objetivo não foi discutir a finalidade estratégica da operação, mas compreender as manobras empregadas.
A incursão iniciou-se com a mobilização de comandos Storm Troopers ucranianos, que realizaram uma operação noturna utilizando os eixos florestais da região de Sumy em direção a Kursk. Esta área é caracterizada por alta densidade florestal e porosidade fronteiriça, contando com uma baixa presença de tropas russas, compostas majoritariamente pela guarda de fronteira do FSB. Importante ressaltar que essas forças, apesar de militarizadas, não pertencem diretamente às Forças Armadas russas, sendo uma unidade do Serviço Federal de Segurança.
As forças ucranianas executaram incursões ligeiras com veículos de reconhecimento leve, incluindo o Striker americano, o Senator canadense e o Marder alemão. Os assentamentos-alvo possuíam baixa densidade populacional, o que facilitou a infiltração. Os comandos se estabeleceram em pontos estratégicos e instalaram centros temporários de comando e controle, que incluíam estações de rádio base, guerra eletrônica e postos de lançamento de drones FPV.
A operação seguiu uma doutrina militar claramente inspirada nos manuais da OTAN. A estratégia envolveu a instalação de pontos de comando temporários, forte uso de guerra eletrônica e implantação de lançadores de drones para reconhecimento e ataque. Essa metodologia inovadora na guerra moderna incluiu repetidores de sinal para manter a conectividade dos drones e uma penetração profunda utilizando blindados em ataques rápidos.
Entretanto, a incursão apresentava fragilidades. Sem superioridade aérea e com corredores logísticos limitados, os ucranianos não possuíam sustentabilidade operacional. O objetivo da operação era duplo: alcançar a cidade de Kursk e a usina nuclear da região para criar um impacto demonstrativo e forçar realocações de tropas russas do Dombass, onde, naquele momento, havia um ápice ofensivo russo na direção de Pokrovsk. Além disso, a operação visava gerar um evento midiático que justificasse a ampliação dos pacotes bilionários de auxílio militar ocidental, dado o crescente cansaço da opinião pública em relação ao financiamento da guerra.
As unidades iniciais empregadas foram as melhores tropas ucranianas, incluindo a 8ª Brigada de Assalto Aéreo e unidades mecanizadas de elite. O avanço começou com mil comandos, crescendo para um contingente de 10 a 15 mil soldados na primeira semana. A resistência inicial coube à Rosguard e a voluntários do Wagner, que se deslocaram espontaneamente para a linha de frente. Esse fluxo desordenado de civis armados e forças de segurança gerou congestionamento nas vias, atrasando o envio de reforços militares russos.
Diante dessa incursão, os russos adotaram uma estratégia de defesa móvel e elástica, trocando território por tempo para estabilizar a linha de contato. O planejamento seguiu um método tradicional russo: primeiro estabilizar a frente, depois desgastar o inimigo por atrito, garantindo superioridade de fogo antes de lançar um contra-ataque decisivo. Esse processo demorou cerca de um mês e meio até atingir a estabilização completa da linha de contato.
A partir da estabilização, os russos intensificaram ataques com drones e aviação tática, empregando Su-25 e helicópteros Ka-52 para eliminar colunas blindadas ucranianas. O erro tático dos ucranianos foi evidente ao aproximarem sistemas de foguetes HIMARS e M270 da linha de contato, tornando-os alvos fáceis para ataques de mísseis Iskander e artilharia de contrabateria. Além disso, na tentativa de criar uma defesa aérea de área, deslocaram baterias NASAMS e Patriot para a região, que também foram destruídas.
Após a consolidação da posição russa, iniciou-se uma manobra de flanco que resultou na progressiva recuperação de território. Os ucranianos, sem logística sustentável e imobilizados na saliência, sofreram ataques contínuos que desgastaram suas forças. A falta de superioridade aérea e de reservas estratégicas resultou no esgotamento operacional ucraniano, permitindo aos russos avançar de forma sistemática.
A decisão política do comando ucraniano em manter posições até o limite, sem autorização para retirada tática organizada, resultou em uma evacuação caótica. Tropas foram forçadas a abandonar posições em veículos utilitários, sendo alvos fáceis para ataques russos. Esse padrão se repetiu em diversas ocasiões durante o conflito, refletindo uma estratégia de retenção territorial voltada para negociações políticas, mas ineficaz do ponto de vista militar.
Em suma, a operação ucraniana em Kursk seguiu padrões táticos avançados, mas foi comprometida por limitações logísticas e estratégicas. A resposta russa, embora inicial lenta, demonstrou uma adaptação eficaz, resultando na neutralização da incursão e na retomada territorial. O episódio reforça a importância da logística e da flexibilidade operacional em conflitos modernos, evidenciando a complexidade das operações militares em um cenário de guerra prolongada.
A incursão ucraniana na região de Kursk representa um caso emblemático de erro tático e desperdício de recursos militares de elite. A operação foi conduzida com a participação de unidades altamente treinadas e equipadas, incluindo brigadas de assalto aéreo, brigadas mecanizadas, forças especiais e suporte de drones. No entanto, o resultado final não apenas demonstrou a ineficiência da estratégia adotada, como também comprometeu severamente a capacidade operacional futura das Forças Armadas da Ucrânia.
A estratégia inicial se baseou na infiltração de unidades de assalto aéreo, como a 42ª, 95ª e 82ª brigadas, com o objetivo de estabelecer centros temporários de comando e controle avançados. O emprego dessas unidades em funções que demandam alto nível de especialização indica a intenção de criar uma base para ataques coordenados e operações de desgaste contra as tropas russas.
Entretanto, a subsequente mobilização massiva de unidades mecanizadas evidenciou uma falha crítica no planejamento da operação. Foram empregadas pelo menos oito brigadas mecanizadas, incluindo a 17ª e a 106ª, resultando na destruição de aproximadamente 350 tanques, entre eles modelos ocidentais como o Leopard 2A5 e o M1 Abrams. Essa elevada taxa de perdas sugere que as unidades mecanizadas foram utilizadas de maneira exposta e sem o suporte adequado de reconhecimento e cobertura.
Outro aspecto problemático foi a utilização de tropas de elite, como o 8º Regimento de Operações Especiais, treinado por comandos britânicos da SAS, em funções para as quais essas unidades não são tradicionalmente designadas. O emprego dessas forças para combate convencional de infantaria viola princípios básicos da doutrina militar moderna, que recomenda sua utilização para sabotagem, infiltração e ataques cirúrgicos.
Com a degradação progressiva das tropas especializadas, a Ucrânia se viu forçada a empregar unidades de defesa territorial, composição tradicionalmente reservada para a defesa interna. Ao menos cinco brigadas desse tipo foram acionadas, seguidas pela Guarda Nacional Ucraniana e até mesmo unidades policiais. Esse movimento indica uma tentativa desesperada de manter a operação, ainda que a um custo humano e logístico insustentável.
Por fim, a Ucrânia apostou fortemente no emprego de regimentos de drones, operados pela Diretoria Principal de Inteligência (GUR), para reforçar ataques e conduzir operações psicológicas. No entanto, essa abordagem não foi suficiente para contornar as deficiências táticas da ofensiva, resultando na perda de grande parte dos equipamentos e efetivos envolvidos.
O resultado final foi uma ofensiva de alto custo e impacto limitado, comprometendo significativamente a capacidade futura do exército ucraniano. O tempo necessário para reconstituir unidades especializadas pode variar de um a dois anos, tornando improvável que a Ucrânia consiga recuperar a qualidade de suas tropas no curto prazo.
Dessa forma, a ofensiva em Kursk revela a falha estratégica e o esgotamento das forças armadas ucranianas, indicando um cenário de dificuldades crescentes para a manutenção de operações ofensivas no futuro.
Descrição | Visão Russa | Visão Ucraniana |
---|---|---|
Contexto Estratégico e Objetivos | Manter o controle das fronteiras e evitar a escalada do conflito em território russo. | Desestabilizar as defesas russas e criar uma zona tampão para aliviar pressão em outras frentes. |
Terreno e Condições Ambientais | A região plana e aberta facilita a defesa, mas a destruição de pontes sobre o rio Seym complicou a logística. | O terreno plano favoreceu operações rápidas de blindados, mas a infraestrutura danificada dificultou avanços. |
Capacidade e Disposição das Forças | Realocou tropas de outras frentes, incluindo unidades chechenas e norte-coreanas, para conter o avanço ucraniano.cerca de 15 a 20 mil tropas | Mobilizou entre 50 e 60 mil soldados com equipamentos modernos para garantir superioridade tática. |
Inteligência e Reconhecimento | Dependeu de milbloggers e unidades de inteligência, com destaque para a operação “Potok” (infiltração por gasoduto). | Utilizou drones e sistemas de reconhecimento para mapear defesas russas e planejar operações. |
Dinâmica de Combate e Movimentação | Contraofensiva iniciada em setembro reverteu ganhos ucranianos, com combates intensos em áreas estratégicas. | Avanços rápidos nos primeiros dias, capturando assentamentos como Sudzha e Korenevo. |
Apoio e Sustentabilidade | Dependeu de reforços e equipamentos trazidos de outras regiões, mas enfrentou desafios logísticos devido à destruição de pontes. | Enfrentou dificuldades para manter linhas de suprimento, mas contou com apoio logístico ocidental. |
Impacto da Guerra Irregular | Grupos irregulares, como o RVC e a Legião da Liberdade da Rússia, tiveram impacto simbólico, mas limitado. | Grupos irregulares foram usados para operações psicológicas e propaganda, reforçando a moral ucraniana. |
Fatores Psicológicos e Propaganda | Usou a retomada de territórios para reforçar a narrativa de resistência e superioridade militar. | Destacou vitórias iniciais para elevar o moral e ganhar apoio internacional. |
Conclusão
Em conclusão, a incursão ucraniana em Kursk, realizada em agosto de 2024, ilustrou um exemplo de manobra tática avançada, porém comprometida por deficiências logísticas, estratégicas e operacionais. A operação, inicialmente planejada com unidades de elite e emprego de tecnologia moderna, como drones e guerra eletrônica, esbarrou em limitações cruciais, como a falta de superioridade aérea, a fragilidade de suas linhas logísticas e a escassez de reservas estratégicas. O emprego inadequado de unidades especializadas em funções convencionais, aliado à elevada taxa de perdas de equipamentos mecanizados, como tanques ocidentais, evidenciou falhas críticas no planejamento.
Além disso, a tentativa de manter posições sem a possibilidade de retirada organizada resultou em evacuação caótica, comprometendo ainda mais a capacidade operacional ucraniana. A resposta russa, embora inicial e lenta, se adaptou com eficiência, neutralizando a incursão e recuperando território.
Este episódio reforça a importância da flexibilidade tática, da logística sustentável e da adaptação rápida em cenários de guerra prolongada, além de evidenciar que estratégias ousadas podem ser ineficazes quando carecem de sustentação e coordenação adequada. O alto custo humano e material da ofensiva comprometeu severamente a capacidade futura das Forças Armadas ucranianas, deixando um legado de dificuldades para a manutenção de operações ofensivas nos próximos anos.
A Batalha de Kursk, ocorrida em agosto de 2024, foi um dos episódios mais significativos da guerra entre Ucrânia e Rússia, marcando uma tentativa audaciosa da Ucrânia de expandir suas operações para dentro do território russo. Este confronto destacou a complexidade do conflito, com ambos os lados demonstrando capacidades táticas e estratégicas, mas também enfrentando desafios logísticos, operacionais e humanos. Abaixo, uma análise detalhada dos principais aspectos da batalha.
Fonte
- Russia’s Kursk region puts damage from Ukraine attack at nearly $1 billion Reuters, [Link]
- Los soldados rusos sorprenden con un nuevo ataque subterráneo: “Me ardían los pulmones y me dolía la cabeza” HuffPost, [Link]
- Putin has ‘serious questions’ about Ukraine ceasefire – as it happened The Times, [Link]
- Ukraine loses a ceasefire bargaining chip as its troops cede ground in Russia AP News, [Link]
- Russia whittled down Ukraine’s bargaining chip to a final stronghold — and it’s breaching that one, too Business Insider, [Link]
- Russia says it has retaken Sudzha, biggest town in the Kursk region controlled by Ukraine New York Post, [Link]
- Chronology of Ukraine’s attack and Russia’s fightback in Kursk Reuters, [Link]
- Trump says he hopes Russia will do ‘right thing’ – as it happened The Guardian, [Link]
- Putin Rejects Immediate Cease-Fire in Ukraine Wall Street Journal, [Link]
- Ucrania planteará un alto el fuego parcial con Rusia en la reunión com representantes de Washington
El País, [Link] - Batalha de Kursk: russos conquistam o maior avanço da guerra Causa Operária, [Link]
- Análise estratégica, tática e operacional da ofensiva ucraniana em Kursk Forte Jor, [Link]
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