Andréa Damiani & E.M.Pinto
O recente anúncio do presidente Donald Trump de congelar temporariamente as tarifas impostas ao México e ao Canadá reflete uma estratégia controversa dentro da política comercial americana.
As tarifas, que haviam sido impostas poucos dias antes, fazem parte de uma clara ação protecionista que Trump defende como necessária para equilibrar a balança comercial dos Estados Unidos. Contudo, essa política não ocorre sem gerar repercussões econômicas e geopolíticas significativas.

Objetivos principais da estaratégia tarifárica e seus desdobramentos no primeiro mandato de Trump.
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As tarifas são impostos aplicados sobre produtos importados, o que aumenta seu custo e, em teoria, favorece a produção interna. Trump argumenta que essa medida protege empregos americanos, reduzindo a concorrência de bens estrangeiros e incentivando a manufatura nacional.
Além disso, ele vincula as tarifas à segurança nacional, afirmando que setores como o do aço são cruciais para a independência econômica e defesa do país. Outra justificativa apresentada é o controle da imigração ilegal, ao pressionar México e Canadá a reforçarem suas fronteiras.
Tabela 1. Relação de importação e exportação dos EUA e seus valores estmados em dolar. Dados 2024.
A experiência anterior de Trump com tarifas, especialmente contra a China em 2018, demonstrou que tais medidas podem ter efeitos inesperados. Embora a participação chinesa nas importações americanas tenha caído de 22% para 13,5%, países como México e Vietnã ocuparam esse espaço, alterando, mas não reduzindo a dependência dos EUA de importações estrangeiras.
Impactos
A imposição de tarifas tende a desencadear retaliações, e essa nova onda não é diferente. O Canadá já anunciou tarifas de 25% sobre produtos americanos, e o México pode seguir a mesma linha. Além disso, a China respondeu elevando as tarifas sobre produtos agrícolas dos EUA, afetando diretamente os produtores americanos.
Para os países atingidos, como México e Canadá, a dependência do mercado americano torna essa política especialmente prejudicial. Com 83% das exportações mexicanas e 76% das exportações canadenses destinadas aos EUA, o impacto pode ser severo. Projeções indicam que, se mantidas, as tarifas podem reduzir o PIB do Canadá em até 7,5% e o do México em até 12,5% nos próximos cinco anos.

Porcentagem das importações de bens nos EUA provenientes do México, China e Canadá em 2024.
O Brasil também figura entre os principais afetados, especialmente no setor siderúrgico. Os EUA são o maior mercado para o aço brasileiro, e a nova tarifa de 25% pode causar perdas bilionárias, afetando empregos e investimentos no setor.
Em 2024, o Brasil foi o segundo maior exportador de aço para os EUA, com uma média mensal de 312.239,34 toneladas métricas destinadas ao consumo doméstico norte-americano. Essas exportações são predominantemente de produtos semiacabados, como placas de aço e tarugos, que abastecem as laminações locais dos EUA. A proximidade geográfica e a qualidade do aço brasileiro tornam essa importação vantajosa para os EUA.

Importação versus expoortação, quanto cada país contribui na balança comercial com os Estados Unidos.
Os EUA possuem reservas limitadas de minério de ferro, o que aumenta sua dependência de importações de produtos siderúrgicos semiacabados para manter a eficiência de sua cadeia produtiva.
No caso do Brasil o que seria a válvula de escape, a China, não pode nos salvar, já que esta é o maior produtor mundial de aço e possui vastas reservas de minério de ferro.

Contribuição percentual de importação de aço por cada país o qual os Estados Unidos importa ao longo do ano.
Ao contrário dos EUA que importa produto manufaturado, no caso, o aço, a China busca atender à sua enorme demanda interna e manter a eficiência de suas siderúrgicas adquirindo minério de ferro de países como o Brasil. Produtos de baixo valor agregado e não manifaturados, em 2024, o Brasil exportou cerca de 22 milhões de toneladas de minério de ferro, representando aproximadamente 60% das exportações totais brasileiras desse minério. Essa estratégia permite à China suprir sua demanda interna sem sobrecarregar suas reservas nacionais.
Nesse sentido, a imposição de tarifas adicionais pelos EUA sobre as importações de aço brasileiro, como a tarifa de 25% anunciada em fevereiro de 2025, impacta diretamente a indústria siderúrgica brasileira. Essas medidas podem reduzir a competitividade do aço brasileiro no mercado norte-americano, afetando as exportações e a economia brasileira.
Alguns autores porém, alertam que a essas tarifas podem levar os EUA a buscar fornecedores alternativos ou a aumentar a produção interna, o que pode elevar ainda mais os custos para as indústrias locais devido à necessidade de investimentos em infraestrutura e possíveis aumentos nos preços do aço.
Do ponto de vista macro, as recentes políticas comerciais sob a administração do presidente Donald Trump, têm gerado impactos significativos e desdobramentos variados em países como Canadá, México e China. Em 1º de fevereiro de 2025, os EUA anunciaram a imposição de tarifas adicionais de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México, e de 10% sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir o déficit comercial americano.
Em resposta às medidas americanas, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau do Canadá, anunciou a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos dos EUA, afetando aproximadamente US$ 106,6 bi em mercadorias, incluindo cerveja, vinho, eletrodomésticos e artigos esportivos. Essas tarifas entraram em vigor em 4 de fevereiro de 2025.
O México por sua vez, também reagiu às tarifas impostas pelos EUA. Inicialmente, a presidente Claudia Sheinbaum Pardo instruiu o ministro da Economia a implementar um “Plano B”, que incluía medidas tarifárias e não tarifárias em defesa dos interesses mexicanos. Posteriormente, após negociações, os EUA anunciaram um adiamento na imposição das tarifas de 25% sobre produtos mexicanos, estendendo a prorrogação até 2 de abril de 2025. Essa decisão protegeu temporariamente um intercâmbio comercial binacional avaliado em US$839 bi anuais.
A China respondeu às tarifas americanas impondo taxas adicionais de 10% a 15% sobre exportações agrícolas dos EUA e restringindo a exportação para 25 empresas americanas por razões de “segurança nacional”. Produtos como frango, trigo, milho e algodão foram taxados em 15%, enquanto soja, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas, vegetais e laticínios receberam tarifas de 10%. Essas medidas entraram em vigor em 10 de março de 2025.

Relação percentual entre os quatro países, China, México, canadá e Brasil e suas parecelas na exportação e importação pelos Estados Unidos.

Quanto corresponde a parcela de importações pelos Estados Unidos dos quatro países, China, México, Canadá e Brasil.
Há de se ressaltar que pelo menos até o momento, o Brasil não foi alvo direto das novas tarifas comerciais dos EUA. No entanto, o país monitora atentamente o cenário internacional, considerando possíveis impactos indiretos em suas exportações e na dinâmica do comércio global.
A imposição de tarifas sobre o aço importado nos Estados Unidos gera um debate complexo, pois envolve tanto benefícios quanto desafios para a economia nacional.
Em primeiro lugar, a proteção da indústria nacional é um dos principais argumentos favoráveis às tarifas, pois encarece os produtos estrangeiros, incentivando a produção local de aço. No entanto, essa medida também pode elevar os custos de insumos para setores que dependem de importações, tornando a indústria americana menos competitiva globalmente.
Outro ponto relevante é o aumento da receita fiscal. As tarifas geram arrecadação adicional para o governo, possibilitando investimentos em infraestrutura e outros setores. Contudo, o impacto na economia pode ser ambíguo, já que preços mais altos e a redução das importações podem desacelerar o consumo e diminuir a arrecadação indireta.
Além disso, as tarifas podem contribuir para o reequilíbrio comercial, incentivando empresas a transferirem fábricas para os EUA, reduzindo déficits na balança comercial. Entretanto, há o risco de que as empresas busquem fornecedores alternativos fora dos EUA, prejudicando a competitividade americana.
O aumento de preços também é um fator crítico. Embora possa incentivar a inovação e maior eficiência das indústrias locais, o custo mais elevado do aço é repassado aos consumidores, contribuindo para a inflação.
No cenário internacional, existe ainda o risco de retaliações comerciais. Enquanto as tarifas po2dem fortalecer a posição dos EUA em negociações, países afetados, como o Brasil, podem responder com sanções sobre produtos americanos, prejudicando exportações dos EUA.
Tabela 2. Prós e contras da estratégia protecionista Americana
Por fim, o impacto no emprego varia conforme o setor. No curto prazo, pode haver geração de empregos na indústria siderúrgica. No entanto, empresas que utilizam aço importado, como montadoras de automóveis, podem enfrentar aumento de custos e, consequentemente, reduzir suas vagas de trabalho.
Dessa forma, a adoção de tarifas sobre o aço apresenta tanto vantagens quanto riscos, exigindo uma análise cuidadosa dos efeitos econômicos, industriais e comerciais para garantir que a medida seja benéfica a longo prazo.
Perspectivas e Possíveis Desfechos
Historicamente, políticas protecionistas levaram a tensões comerciais e impactos econômicos negativos. Um exemplo clássico é a Lei Smoot-Hawley, nos anos 1930, que aumentou tarifas sobre importações e foi um dos fatores que agravaram a Grande Depressão.
Já no século XXI, as tarifas aplicadas por Trump em seu primeiro mandato mostraram que, embora possam beneficiar setores específicos, tendem a gerar mais custos do que ganhos para a economia como um todo.
Se essa política se mantiver, é provável que os mercados financeiros reajam negativamente, como já ocorreu com a queda das bolsas após o anúncio das tarifas. A longo prazo, há o risco de que as empresas busquem realocar suas cadeias produtivas para evitar os impactos tarifários, o que pode não resultar no retorno da produção para os EUA, mas sim na transferência para outros países.
Os principais impactados serão os consumidores americanos, que enfrentarão preços mais altos, os exportadores de países afetados, como Brasil, México e Canadá, e as empresas multinacionais que operam com cadeias globais de suprimentos. A depender da evolução das tensões, pode-se esperar um acirramento da guerra comercial, com impactos na economia global.
Em suma, a estratégia tarifária de Trump, apesar de buscar ganhos internos no curto prazo, pode gerar instabilidade econômica global e prejudicar as relações comerciais dos EUA. O sucesso ou fracasso dessa política dependerá de sua capacidade de forçar concessões comerciais sem desencadear retaliações que prejudiquem a economia americana e global.
Fonte
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EUA sobretaxam aço brasileiro e setor busca alternativas para exportar, UOL Economia, [Link]
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México salva (de momento) 839.000 millones de dólares de intercambio binacional y preserva el TMEC, El País, [Link]
- Tras victoria arancelaria, México busca triunfo en envíos de aluminio y acero a EEUU, Reuters, [Link]
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Nuevo bandazo de Trump: anuncia un aplazamiento de los aranceles a México y Canadá, The Guardian, [Link]
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