Europa parte para o ataque: € 800,00 bi para defesa

E.M.Pinto


A Europa enfrenta atualmente desafios econômicos e energéticos significativos, resultantes de uma conjunção de fatores que incluem a instabilidade geopolítica, a transição para energias sustentáveis e as consequências da pandemia de COVID-19, bem como do seu posicionamento e o consequente desdobramneto da guerra Russo/Ucraniana.

Tudo isso exige uma redefinição de sua política de defesa e consequentemente, a necessidade de reforç-la com investimentos cuja estimativa de € 800 bi.

Figura1.Indicativos econômicos e demográficos europeus.Apesar de ser a segunda maior economia do mundo, com um PIB nominal de aproximadamente 22,8 trilhões de dólares e uma população de 740 milhões de habitantes, a UE enfrenta desafios significativos para aumentar seus gastos militares. Um dos principais obstáculos é a disparidade econômica entre seus membros. França, Reino Unido e Alemanha, as três maiores economias do bloco, respondem por mais de 50% dos gastos militares europeus. Enquanto isso, países menores e menos ricos contribuem com percentuais muito menores, criando um desequilíbrio que dificulta a uniformização da defesa europeia.

Além disso, a UE precisa superar divergências internas sobre como financiar esse aumento. A proposta de elevar os gastos militares para 2,5% ou até 3% do PIB de cada país exigiria um esforço fiscal significativo, especialmente em um momento em que muitos países ainda se recuperam dos impactos econômicos da pandemia de COVID-19 e da crise energética decorrente da guerra na Ucrânia.

A questão central é: de onde virão os recursos? Será necessário cortar gastos em outras áreas, como saúde e educação, ou aumentar impostos? Essas são decisões politicamente sensíveis que exigirão consenso entre os membros da UE.

Cabe lembrar que a economia europeia tem enfrentado dificuldades devido ao aumento da inflação, altas taxas de juros e uma desaceleração do crescimento. A crise energética agravada pela guerra na Ucrânia expôs a dependência do continente em relação ao gás natural russo, levando a uma necessidade urgente de diversificação de fornecedores e investimento em infraestrutura energética.

Buscando mitigar o problema da energia, o velhocontinente  tem impulsionado investimentos em energias renováveis, almejando uma maior independência e sustentabilidade. Entretanto, essa transição requer investimentos massivos e gera impactos econômicos a curt, médio e longo prazo, e tem como efeito, o aumento dos custos energéticos para indústrias e consumidores.

É fato que o contexto geopolítico mundial tem exigido uma reavaliação da estratégia de defesa da Europa. A crescente tensão com a Rússia e os questionamentos sobre o compromisso dos Estados Unidos com a OTAN pressionam os países europeus a aumentarem seus investimentos militares.

Entretanto, uma das principais críticas à necessidade desse investimento em defesa é o impacto que ele pode ter sobre a economia e o bem-estar social. Muitos especialistas apontam que, em um momento de dificuldades econômicas, a alocação de recursos públicos deveria priorizar setores como saúde, educação e infraestrutura social. Além disso, existe a preocupação de que essa militarização possa gerar uma escalada de tensões internacionais e aumentar o risco de conflitos armados.

Outro desafio é a fragmentação das indústrias de defesa europeias, que dificultam a coordenação entre os países. Diferentes padronizações e interesses nacionais dificultam a integração de sistemas militares, tornando a implementação da estratégia mais onerosa e menos eficiente.

Ironicamente, Ursula von der Leyen  que proferiu no passado  recente a máxima de que a Rússia roubava microchips de máquinas de lavar para equipar seus mísseis  eque o seu colapso era eminente, parece ter mudado de ideia e precisa hoje de 800 bi de euros para impedir a ameaça das “máquinas de lavar”.

Em sua declaração recente, a União Europeia (UE) está diante de um momento crucial em sua história geopolítica e de defesa.  Úrsula von der Leyen, anunciou um plano ambicioso para aumentar os gastos militares do bloco, com projeções que podem atingir até 800 bilhões de euros.
De fato o PIB europeu é o segundo do planeta, com uma população contabilizando metade da da China e o dobro da dos EUA. O Bloco possui uma área geográfica equivalente às duas grandes nações, porém seu investimento em defesa é cerca de 1/3 do promovido pelos Estados Unidos, soma-se a isso, o fato de que a Defesa da Europa  apsera das fake news  de Emmanuel Macron, dependerem em grande medida dos Estados Unidos.
Ao que parece Trump está disposto a mudar esta dependeência que “muito martiriza” os estados europeus, Algo que muitos líderes europeus, talvez acometidos de síndrome de Estolcomo, parecem não concordarem, e “prefirirem” permanecer reféns da “opressão” americana.

Tabela 1. indicadores econômicos e recursos millitares.

O momento atua é marcado pela crescente tensão entre potências como Estados Unidos, Rússia e China, e pela necessidade de a Europa assumir maior responsabilidade por sua própria segurança.

è fato que a Europa, historicamente, tem dependido dos Estados Unidos para sua segurança, especialmente por meio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). No entanto, as “placas tectônicas” da geopolítica global estão se movendo.

A guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, evidenciou a vulnerabilidade europeia diante de ameaças externas, especialmente da Rússia. Além disso, a ascensão da China como potência global e as incertezas quanto ao comprometimento contínuo dos Estados Unidos com a defesa europeia têm pressionado a UE a repensar sua estratégia de segurança.

Figura 2. Gastos em defesa por país em US$ bi.

Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), os gastos militares globais atingiram um recorde em 2022, com os Estados Unidos liderando (aproximadamente 900 bilhões de dólares), seguidos pela China (cerca de 500 bilhões).

A Europa, por sua vez, gasta cerca de 330 bilhões de dólares anualmente em defesa, o que representa apenas 1,6% do seu PIB coletivo, abaixo da meta de 2% estabelecida pela OTAN.

Esse cenário coloca a UE em desvantagem estratégica, especialmente diante de potências com capacidades militares em expansão.

Capacidades militares atuais e a necessidade de modernização

O Bloco de nações européias possui um aparato militar considerável, composto por cerca de 1500 aeronaves de de caça em condições de combate, 500 helicópteros de transporte, 300 helicópteros de ataque, 120 destróieres e fragatas, 20  navios de assalto anfíbio e ou porta helicópteros e 65 submarinos. Além disso, possui aproximadamente 5000 carros de combate e 25000 veículos blindados. A força militar ativa e de reservas soma cerca de 2 milhões de soldados, uma capacidade expressiva em termos numéricos.

Figura 3. Composição estimada das forças militares europeias.

No entanto, no que se refere a dissuasão nuclear europeia, pode-se dizer que é limitada, restringindo-se a França e Reino Unido, cujos arsenais têm sido reduzidos devido a acordos internacionais.

A UE também carece de sistemas de mísseis de médio e longo alcance, uma lacuna que precisa ser preenchida para garantir sua segurança em um cenário de conflitos regionais. O plano de von der Leyen inclui a expansão dessas capacidades, com investimentos em mísseis convencionais de alcance intermediário (IRBM) e na modernização das forças de superfície e submarinas.

Para fazer frente ao gigantesco arsenal nuclear russo a europa só pode contar com os EUA para contrabalançar este poder, sozinha ela não poder para ameaçar a rússia  e isso é um fator preponderante para se estabelecer uma estratégia de dissuasão contundente. Portanto, entre discursos e pézinhos batidos no chão, fechar as portas para os Estados Unidos parece não ser a melhor opção. Até porque, a dependência europeia da indústria de defesa americana é real.

Durante a guerra na Ucrânia, grande parte do orçamento militar europeu foi direcionado para a importação de sistemas de armas dos Estados Unidos. Essa dependência tem sido alvo de críticas, especialmente porque limita a capacidade da Europa de desenvolver e produzir seus próprios equipamentos.

A Europa tem uma longa tradição de cooperação em defesa, impulsionada por interesses estratégicos comuns, alianças militares como a OTAN e a necessidade de reduzir custos de desenvolvimento em projetos militares de alta complexidade. Porém, historicamente, projetos conjuntos europeus, como os caças Eurofighter e Rafale, enfrentaram dificuldades devido à falta de coordenação entre os países. A fragmentação da indústria de defesa europeia é um obstáculo que precisa ser superado para que o bloco alcance a autossuficiência.

A integração da indústria militar europeia tem sido historicamente marcada por desafios políticos, econômicos e tecnológicos que muitas vezes resultaram em divergências, sobreposições de projetos e até cancelamentos de programas conjuntos.

Um dos principais entraves para a unificação dos esforços na defesa europeia é a fragmentação política dos países do continente. Cada nação possui prioridades estratégicas próprias, indústrias de defesa estabelecidas e interesses econômicos específicos, o que frequentemente leva a disputas sobre liderança, distribuição de contratos e localização da produção.

O protecionismo nacional também é um fator recorrente, pois os governos tendem a favorecer empresas domésticas, temendo a perda de soberania tecnológica e empregos na indústria de defesa. Além disso, a dependência histórica da Europa em relação aos Estados Unidos, especialmente dentro da OTAN, gera conflitos sobre a autonomia estratégica. Muitos países europeus preferem adquirir armamentos norte-americanos devido à confiabilidade e integração com os sistemas militares ocidentais, enfraquecendo projetos europeus concorrentes.

Ao longo das décadas, diversos programas militares conjuntos sofreram com esses desafios, resultando em cancelamentos, divisão de esforços ou criação de projetos concorrentes.  A Tabela  a seguir ilustra apenas algumas das iniciativas e seus desfechos.

Tabela 2. Programas militares conjuntos europeus que não frutificaram.

 Programa Ano Natureza Descrição Desfecho
AFVG (Anglo-French Variable Geometry) 1965 Caça Multifunção Parceria entre França e Reino Unido para desenvolver um caça de geometria variável. Cancelado em 1967 após divergências sobre especificações e liderança. França seguiu com o Dassault Mirage G, enquanto o Reino Unido aderiu ao projeto Panavia Tornado.
MBT-70 (Main Battle Tank 70) 1963 Tanque de Batalha Desenvolvimento conjunto entre Alemanha Ocidental e EUA para criar um tanque inovador. Cancelado em 1971 devido a custos excessivos e divergências técnicas. A Alemanha desenvolveu o Leopard 2, e os EUA, o M1 Abrams.
NFR-90 (NATO Frigate Replacement) 1980 Fragata Multifuncional Programa multinacional para criar uma nova classe de fragatas para marinhas da OTAN. Abandonado nos anos 1990 devido a divergências de requisitos. França e Reino Unido desenvolveram projetos separados, resultando na Classe Horizon e Type 45.
Eurofighter vs. Rafale 1980s Caça de 4ª geração O projeto inicial incluía França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha, mas a França se retirou para desenvolver o Rafale de forma independente. Eurofighter Typhoon e Dassault Rafale foram desenvolvidos separadamente, gerando concorrência entre caças europeus.
MAWS (Maritime Airborne Warfare System) 2018 Aeronave de Patrulha Marítima França e Alemanha planejaram substituir aeronaves de patrulha antigas por um projeto conjunto. Suspenso devido a divergências financeiras e operacionais. Alemanha optou por adquirir P-8 Poseidon dos EUA, enquanto a França explora alternativas nacionais.
MGCS (Main Ground Combat System) 2015 Tanque de Nova Geração Parceria entre Alemanha e França para substituir Leopard 2 e Leclerc. O programa enfrenta atrasos e disputas entre indústrias dos dois países, com risco de divisão semelhante ao Eurofighter/Rafale.

A proposta atual de unificar a indústria de defesa europeia, promovendo projetos conjuntos que dividam custos e compartilhem tecnologias terá que superar os erros do passado se quiser seguir adiante.

O desejo de reduzir a dependência dos Estados Unidos,  e também de fortalecer a base industrial europeia, gerando empregos e impulsionando a inovação tecnológica parece muito complicado e distante, frente aos exemplos do passado marcados por rivalidades históricas e interesses nacionais divergentes.

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Conclusão

O aumento dos gastos militares europeus é uma resposta necessária aos desafios geopolíticos do século XXI. No entanto, sua implementação enfrentará obstáculos significativos, desde a necessidade de consenso político até a superação de divergências industriais e econômicas. A Europa está diante de uma encruzilhada, ou assume a responsabilidade por sua própria segurança, investindo em capacidades militares autônomas, ou permanece dependente dos Estados Unidos, arriscando-se a perder relevância no cenário global.

A proposta de von der Leyen representa um passo importante nessa direção, mas seu sucesso dependerá da capacidade da UE de superar suas divisões internas e agir de forma unificada. O futuro da segurança europeia está em jogo, e as decisões tomadas nos próximos anos definirão o papel da Europa no mundo por décadas. Como afirmam especialistas em defesa, como o analista Michael Clarke do Royal United Services Institute (RUSI), “a Europa precisa urgentemente de uma estratégia de defesa coesa e de longo prazo, caso contrário, corre o risco de se tornar irrelevante em um mundo cada vez mais multipolar”.


Fontes

  1. Momento decisivo: líderes da UE concordam com plano para grande aumento nos gastos com defesa – The Guardian [Link]
  2. União Europeia propõe empréstimo conjunto em plano de defesa de €800 bi – CNN Brasil [Link]
  3. UE procura reduzir a dependência da defesa em relação aos EUA a longo prazo, afirma funcionário da Comissão – Euronews [Link]
  4. Europa não pode mais depender dos EUA para sua defesa, alertam eurodeputados – Estado de Minas [Link]
  5. David McAllister, eurodeputado alemão: “Europa não é importante para Trump. Há que enfrentar esta realidade” – El País [Link]

outras fontes consultadas:

  • Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI). “Trends in World Military Expenditure, 2022.”
  • Royal United Services Institute (RUSI).

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