Comentário sobre a reunião árabe e a estratégia dos EUA para Gaza

E.M.Pinto


Sugestão- Andréa Damiani e Adhinan
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O artigo da Reuters, Arab leaders in Riyadh discuss ‘Palestinian cause’ and Gaza developments, publicado em 21 de fevereiro de 2025, destaca a reunião entre líderes árabes em Riad para discutir a situação em Gaza e os esforços conjuntos em apoio à causa palestina. Segundo a reportagem, participaram do encontro representantes da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait, Egito e Jordânia.

Um dos principais temas abordados foi a necessidade de uma alternativa ao plano dos Estados Unidos, que propõe a reconstrução de Gaza como um destino turístico internacional e o reassentamento de palestinos no Egito e na Jordânia. Ambos os países rejeitaram essa proposta, alegando preocupações com a segurança nacional. No entanto, como destaca a Reuters, não há indícios concretos de que os países árabes tenham formulado um contraponto estruturado a essa iniciativa americana.

O artigo menciona que um plano de reconstrução liderado pelo Egito estaria sendo considerado, com um financiamento estimado em US$ 20 bilhões ao longo de três anos, provenientes de países do Golfo. Contudo, não há confirmação oficial sobre o avanço dessa proposta. Além disso, os líderes presentes reforçaram que qualquer solução para o conflito deve envolver a criação de um Estado palestino que coexista com Israel, afastando a possibilidade de deslocamento forçado da população de Gaza.

A reportagem também destaca a preocupação regional com o impacto desse plano americano, que poderia reviver memórias da Nakba de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar suas terras após a criação do Estado de Israel. A instabilidade causada por um novo deslocamento populacional massivo poderia agravar ainda mais a crise humanitária na região.

Análise

O artigo da Reuters evidencia um dilema geopolítico crucial.

A recente reunião em Riad evidencia a necessidade de um posicionamento coeso por parte dos países árabes diante da proposta norte-americana para Gaza. A ideia de transformar a região em um centro turístico internacional, associada ao reassentamento de palestinos no Egito e na Jordânia, foi amplamente rejeitada. No entanto, essa rejeição levanta uma questão crucial: qual é a alternativa concreta e viável que os países árabes podem oferecer?

Comentário: A proposta dos EUA parece seguir um padrão já utilizado por Donald Trump em outros cenários geopolíticos, onde ele lança uma ideia provocativa e espera que os envolvidos se manifestem. Caso não apresentem uma resposta clara, ele pode argumentar que os EUA são os únicos dispostos a agir, forçando negociações nos seus próprios termos. O mesmo tipo de estratégia foi usado com a Europa no contexto dos acordos de paz, quando Trump questionou: “Por que, em três anos, não fizeram nada? Agora querem participar do processo?”. Esse artifício retórico empurra os países a se posicionarem e assume que, na ausência de uma proposta alternativa, a solução americana se torna a única opção viável.

Um dos maiores desafios para a construção de um plano alternativo é a divergência de interesses entre os países árabes. Alguns, como os Emirados Árabes Unidos, já normalizaram relações com Israel e buscam manter uma abordagem mais pragmática. Outros, como Egito e Jordânia, temem que um fluxo massivo de refugiados palestinos possa desestabilizar suas próprias sociedades. Essa falta de consenso interno dificulta a formulação de uma estratégia unificada e eficaz.

Além do impasse político, há também o peso simbólico e histórico da Nakba de 1948, quando centenas de milhares de palestinos foram deslocados de suas terras na criação do Estado de Israel. O medo de que um reassentamento definitivo fora da Palestina repita esse evento trágico é legítimo e reforça a resistência a qualquer plano que envolva a redistribuição populacional. O risco, nesse caso, é que a rejeição pura e simples da proposta americana seja percebida como uma negação da realidade geopolítica atual, sem oferecer uma solução concreta para o futuro do povo palestino.

Comentário do Editor: O maior problema para os países árabes não é apenas rejeitar a proposta americana, mas sim apresentar um plano que seja viável e que garanta não apenas a reconstrução de Gaza, mas também a segurança dos Estados envolvidos. E é aqui que entra uma contradição crucial: as lideranças árabes que participaram dessa cúpula frequentemente endossam discursos como o de “Do rio ao mar”, que nega a existência de Israel. Ao mesmo tempo, rejeitam qualquer proposta que envolva a dissolução de Gaza ou do projeto de um Estado palestino. Ou seja, a falta de uma proposta realista pode acabar deixando os palestinos ainda mais vulneráveis.

Portanto, se os países árabes desejam um papel relevante no processo de reconstrução de Gaza e na estabilização da região, terão que apresentar uma alternativa que não apenas rejeite a proposta americana, mas que também seja politicamente viável. Essa solução não pode depender de narrativas extremas que preveem o fim de Israel, tampouco da manutenção de um conflito indefinido sem propostas concretas.

Comentário do Editor: A suspeita aqui é que Trump nunca teve a intenção real de construir um resort em Gaza. O verdadeiro objetivo do discurso pode ter sido expor o fato de que há muitas críticas e poucos planos viáveis. Ou seja, ele lança a proposta e, diante da falta de resposta árabe, pode afirmar que os EUA são os únicos a apresentar uma solução – ainda que controversa. Se os países árabes quiserem reverter esse cenário, precisarão sair do campo das declarações e estruturar um projeto realista que contemple tanto os interesses palestinos quanto a segurança regional.

Fonte

Arab leaders in Riyadh discuss ‘Palestinian cause’ and Gaza developments, Reuters [Link]

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