Por Anderson Barros Especial para o Plano Brasil
As recentes notícias sobre a aquisição pelo Egito de caças Chengdu J-10C de fabricação chinesa, acompanhados dos mísseis BVR PL-15, marcam um ponto de inflexão significativo na dinâmica geopolítica e militar do Oriente Médio, com implicações profundas tanto para a segurança regional quanto para as relações internacionais. Essa movimentação indica um desvio do Cairo das tradicionais alianças militares com potências ocidentais, como os Estados Unidos e a Europa, em direção a uma parceria estratégica mais estreita com a China, reforçando o papel do Egito como um jogador-chave na segurança da região.
Aspectos Técnicos dos J-10C e PL-15
Os caças J-10C, também conhecidos como “Vigorous Dragon”, são aeronaves de quarta geração desenvolvidas pela Chengdu Aircraft Corporation da China. Equipados com radar AESA (Active Electronically Scanned Array), esses caças são projetados para combate ar-ar e ar-solo, com notável capacidade de manobrabilidade e alta performance. O radar AESA permite que os J-10C detectem e rastreiem múltiplos alvos simultaneamente, com uma excelente resistência a interferências eletrônicas, o que os torna eficazes mesmo em ambientes de combate eletronicamente disputados.
Além disso, os Chengdu J-10C têm a capacidade de carregar mísseis de longo alcance, como o PL-15, um dos mísseis ar-ar mais avançados do mundo, com alcance de 300 km, permitindo engajar alvos além do alcance visual (BVR). O PL-15 é um míssil com radar ativo, mais resistente a contramedidas eletrônicas e com maior alcance e precisão em comparação aos mísseis ar-ar ocidentais, como o AIM-120 AMRAAM. Isso confere ao Egito a capacidade de engajar aeronaves inimigas a longas distâncias, dando-lhe uma vantagem tática significativa.
Essa combinação entre o J-10C e o PL-15 também melhora a capacidade do Egito de competir com potências aéreas regionais, como Israel, que por décadas dominou o espaço aéreo do Oriente Médio. A introdução dessas aeronaves e armamentos avançados representa um avanço considerável nas capacidades defensivas do Egito.
Implicações Geopolíticas: Desafios para Israel e o Ocidente
Historicamente, o Egito tem sido um aliado estratégico dos Estados Unidos, recebendo significativa ajuda militar, incluindo caças F-16 e helicópteros Apache. No entanto, as restrições de Washington, que se recusou a fornecer mísseis de longo alcance como o AIM-120 AMRAAM ou o METEOR, devido a questões políticas e o equilíbrio de poder no Oriente Médio, impulsionaram o Cairo a buscar alternativas, e a China tem sido uma opção viável.

Rafale DM do Egito armado com misseis MICA nas variantes MICA RF guiado por radar ativo e o MICA guiado por infravermelho. A restrição do meteor faz o Egito optar por esse modelo de míssil BVR.
A aquisição dos J-10C e PL-15 pode ser vista como uma resposta direta às limitações de armamento que o Egito enfrentou devido à pressão de Israel e às restrições ocidentais. A proibição de mísseis avançados como o Meteor e o AIM-120 AMRAAM foi uma medida proativa por parte de Israel, que vê esses armamentos como uma ameaça à sua superioridade aérea regional. A decisão do Egito de buscar mísseis de longo alcance de outros fornecedores, como a China, pode ser vista como um passo estratégico para contornar essas limitações e garantir uma força aérea mais robusta e independente.

Segundo rumores o J-10CE exposto no Air Show China 2024 é a primeira aeronave fabricada para o Egito.
Além disso, a crescente cooperação militar com a China reflete uma mudança de foco geopolítico do Egito, que busca alternativas à influência ocidental, ao mesmo tempo que fortalece sua relação com potências não ocidentais, como a Rússia e a China, que oferecem tecnologias militares de ponta com menos restrições políticas. O impacto dessa diversificação de fontes de armamento não se limita ao Egito; ele também tem o potencial de redefinir as alianças e o equilíbrio de poder no Oriente Médio.
Mudança Estratégica: A Diversificação de Parcerias do Egito
A estratégia de diversificação do Egito, que inclui a aquisição de caças Rafale franceses, MiG-29 russos e agora os J-10C chineses, visa reduzir a dependência do país em relação a um único fornecedor de armamentos. Essa busca por uma gama diversificada de opções de defesa não só fortalece a capacidade militar do Egito, mas também aumenta sua autonomia estratégica. A China, ao fornecer armamentos a preços mais acessíveis e sem as limitações políticas que caracterizam as relações com os Estados Unidos e a Europa, se torna uma parceira valiosa para o Cairo, especialmente quando se considera a crescente pressão dos EUA para que o Egito se alinhe com suas políticas no Oriente Médio.

O Egito possui uma frota de Lockheed F-16 Fighting Falcon de várias versões. F-16A (32 unidades), F-16B (8 unidades), F-16C (136 unidades) e F-16D (42 unidades). Ao que parece a Força aérea deseja substituir a frota de F-16 por aviões chineses J-10C.
Além disso, a entrada do Egito na Iniciativa do Cinturão e Rota da China e sua crescente participação em fóruns como o BRICS indicam que o país está se alinhando mais com potências que oferecem uma abordagem menos intervencionista e mais pragmática em questões de política externa. Isso fortalece a posição do Egito como um ator independente no Oriente Médio, capaz de tomar decisões estratégicas de forma mais autônoma e menos influenciada por pressões externas, especialmente de potências ocidentais.

Mikoyan MiG-29M Fulcrum-E do Egito armado com míssil russo BVR Vympel R-77-1 RVV-SD com 110 km de alcance.
O Impacto nas Relações Regionais e com o Ocidente
A aproximação do Egito com a China pode gerar tensões com os Estados Unidos e seus aliados no Ocidente, mas também abre portas para uma nova fase na política externa egípcia, mais independente e diversificada. A crescente cooperação com a China pode afetar as alianças regionais, principalmente com a Arábia Saudita, que, embora mantenha uma relação estreita com os Estados Unidos, também busca diversificar suas fontes de armamento.
Em um cenário de crescente multipolaridade geopolítica, o Egito pode se tornar um exemplo para outros países do Oriente Médio que buscam equilibrar suas alianças militares e fortalecer suas capacidades de defesa sem depender exclusivamente do Ocidente. Essa mudança de alinhamento pode resultar em uma maior fragmentação das antigas dinâmicas de poder, levando a uma redefinição das relações entre as potências regionais e suas estratégias de segurança.
O Futuro da Supremacia Aérea no Oriente Médio
Com a modernização de sua força aérea por meio dos caças J-10C e PL-15, o Egito se posiciona como um concorrente mais forte no controle do espaço aéreo do Oriente Médio. Isso não só altera o equilíbrio militar na região, mas também desafia a tradicional superioridade aérea de Israel, que por muito tempo foi sustentada por uma combinação de caças F-15, F-16 e o F-35, além de sofisticados sistemas de defesa aérea, como o Iron Dome e o David’s Sling.
Embora o Egito ainda enfrente desafios em termos de caças stealth de quinta geração e sistemas de defesa aérea comparáveis aos de Israel, a inclusão dos J-10C com mísseis PL-15 representa um avanço significativo na capacidade de combate ar-ar, principalmente em cenários de combate BVR. Isso coloca o Egito em uma posição estratégica para contestar a supremacia aérea de Israel e criar um equilíbrio de poder mais equitativo na região.
Conclusão: A Caminho de uma Nova Era na Defesa do Oriente Médio
A aquisição dos caças J-10C e mísseis PL-15 pelo Egito não apenas altera a dinâmica do poder militar no Oriente Médio, mas também marca uma nova era na política de defesa do país. Ao diversificar suas fontes de armamento e buscar maior autonomia militar, o Egito fortalece sua posição na região e desafia as estruturas tradicionais de poder que têm sido dominadas por potências ocidentais e Israel. Essa movimentação também reflete uma mudança maior nas alianças geopolíticas do Oriente Médio, com o Egito se posicionando de maneira mais independente, tanto em relação aos Estados Unidos e seus aliados quanto às potências emergentes como a China.
À medida que o Oriente Médio se torna cada vez mais multipolar e dinâmico, a mudança de alinhamento do Egito pode ser vista como um reflexo dessa transformação mais ampla. A redefinição do equilíbrio militar e geopolítico no Oriente Médio está em curso, e o Egito, com sua nova capacidade aérea e parcerias diversificadas, está pronto para desempenhar um papel mais proativo e independente na segurança regional.
A recente multipolaridade proveniente do enfraquecimento da influência americana e européia, faz com q países tenham mais liberdade e pragmatismo em suas escolhas e decisões!
Se o Brasil tivesse uma política industrial e de defesa, surfaríamos nesta onda tbm, mas….
Esses próximos anos prometem ser emocionantes!