Navios da Classe Albion e Wave : Oportunidades e dilemas da Marinha do Brasil

E.M.Pinto


A Royal Navy anunciou a desativação de cinco navios de guerra com o objetivo de reduzir os custos de manutenção da frota. Entre esses navios, destacam-se quatro embarcações de grande interesse estratégico para a Marinha do Brasil, são eles. Os navios reabastecedores logísticos (tanque) da Classe Wave, o RFA Wave Knight (A389) e RFA Wave Ruler (A390), e os navios de  desembarque de doca (assalto anfíbio) da Classe Albion, HMS Albion (L14) e HMS Bulwark (L15).

Embora algumas críticas apontem que essas embarcações seriam verdadeiras sucatas,a realidade é que esses navios, com aproximadamente 20 anos de operação com pouco uso e são navios extremamente bons, ainda possuem vida útil significativa, podendo permanecer em serviço por pelo menos mais duas décadas com as devidas modernizações e manutenções.

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Os dois navios da classe Wave são na nossa visão os mais urgentes uma vez que a baixa dos navios reabastecedores da Marina e suas importâncias estratégicas são mais imperativas.
A Classe Wave é composta por dois navios-tanque de reabastecimento logístico construídos para apoiar operações da Royal Navy, fornecendo combustível e suprimentos para os navios de guerra da frota.

Ambos foram comissionados em 2003 e possuem características que os tornam extremamente úteis para qualquer marinha que opere frotas oceânicas. A Marina do Brasil precisa urgentemente substituir o seu navio-tanque nos próximos anos, e a aquisição dos navios da Classe Wave representaria uma solução de custo-benefício para suprir essa necessidade. Eles poderiam atuar no reabastecimento logístico da Esquadra Brasileira, permitindo operações mais longas no Atlântico Sul e ampliando a capacidade expedicionária da Marinha.

HMS Wave knight fonte Ministério da defesa UK

Já os navios da Classe Albion, embora sejam formidáveis e trouxessem um ganho significativo para as operações de apoio humanitário, projeção de poder e apoio as operações anfíbias, esbarram nas necessidades emergentes da esquadra que concentra-se na força de escoltas e submarinos e frente aos parcos orçamentos, poderia se constituir num comprometimento da força combativa.
A classe Albion é composta por dois navios de desembarque de doca projetados para operações anfíbias e transporte de tropas e veículos. São unidades construídas para desembarcar fuzileiros navais diretamente na costa, utilizando lanchas de desembarque e aeronaves de transporte. O HMS Albion foi comissionado em 2003, seguido pelo HMS Bulwark em 2004.

HMS Albion- Ministério da defesa UK

A Maarinha do Brasil já possui um navio anfíbio semelhante, o G40 Bahia, adquirido da França em 2015. No entanto, a Classe Albion oferece maior capacidade de desembarque e deslocamento aproximadamente 20 mil ton contra 11 mil ton. O que aumentaria significativamente a capacidade de suporte as operações de fuzileiros navais. Se adquiridos, poderiam complementar as operações de transporte militar e defesa de águas territoriais, sendo úteis para missões de ajuda humanitária e apoio logístico em cenários de desastre.

Navios da Classe Albion e Classe Wave – Marinha Real do Reino Unido

Característica HMS Albion (L14) HMS Bulwark (L15) RFA Wave Knight (A389) RFA Wave Ruler (A390)
Classe Albion (Transporte Anfíbio) Albion (Transporte Anfíbio) Wave (Navio-Tanque de Reabastecimento) Wave (Navio-Tanque de Reabastecimento)
Construtor BAE Systems Marine BAE Systems Marine BAE Systems Marine BAE Systems Marine
Encomendado 18 de julho de 1996 18 de julho de 1996 1997 1997
Batimento de Quilha 23 de maio de 1998 15 de abril de 1999 7 de dezembro de 1998 22 de novembro de 1999
Lançamento 9 de março de 2001 15 de novembro de 2001 17 de setembro de 2000 25 de fevereiro de 2001
Comissionamento 19 de junho de 2003 28 de abril de 2005 6 de junho de 2003 2 de agosto de 2003
Descomissionamento Previsto para março de 2025 Previsto para março de 2025 Em serviço Em serviço
Deslocamento 19.560 toneladas 19.560 toneladas 31.500 toneladas 31.500 toneladas
Comprimento 176 metros 176 metros 196,5 metros 196,5 metros
Boca 28,9 metros 28,9 metros 28,2 metros 28,2 metros
Calado 7,1 metros 7,1 metros 9,9 metros 9,9 metros
Propulsão 2× Wärtsilä Vasa 16V 32E + 2× 4R 32E 2× Wärtsilä Vasa 16V 32E + 2× 4R 32E 2× Wärtsilä 12V46C 2× Wärtsilä 12V46C
Velocidade 18 nós 18 nós 18 nós 18 nós
Autonomia 13.000 km (8.000 milhas) 13.000 km (8.000 milhas) 18.500 km (10.000 milhas) 18.500 km (10.000 milhas)
Capacidade de Carga 67 veículos 67 veículos 16.000 toneladas de combustível 16.000 toneladas de combustível
Tropas 405 Royal Marines (710 sobrecarga) 405 Royal Marines (710 sobrecarga) N/A N/A
Tripulação 325 325 80 + 24 do destacamento da RAF 80 + 24 do destacamento da RAF
Sensores Tipo 1007/8, Tipo 997 radar Tipo 1007/8, Tipo 997 radar Radar de navegação Kelvin Hughes Radar de navegação Kelvin Hughes
Armamento 2× Phalanx CIWS, 2× Oerlikon 20 mm 2× Phalanx CIWS, 2× Oerlikon 20 mm Metralhadoras leves Metralhadoras leves
Capacidade Aérea 2 helipontos (Chinook ou similares) 2 helipontos (Chinook ou similares) 1 heliponto para helicópteros médios 1 heliponto para helicópteros médios

Situação atual da Marinha do Brasil

A Marinha do Brasil (MB) enfrenta desafios enormes no Horizonte de tempo de  significativos entre 2020 e 2035, especialmente com a redução de escoltas, restrições orçamentárias e a necessidade de modernização da frota.

A baixa progressiva das fragatas da Classe Niterói e das corvetas da Classe Inhaúma reduziu a capacidade de escolta e proteção da Esquadra, tornando urgente a renovação desses meios. As quatro fragatas da Classe Tamandaré, previstas para começar a entrar em operação a partir de 2025, são um avanço, mas insuficientes para cobrir todas as necessidades estratégicas do país.

Diante desse cenário, a MB precisa priorizar investimentos em escoltas, navios de apoio logístico e submarinos. A aquisição de fragatas adicionais, seja por construção ou compra de navios de oportunidade, seria a melhor solução para garantir a proteção das águas brasileiras e das linhas de comunicação marítimas.

Ao mesmo tempo, a reposição dos navios-tanque torna-se essencial, uma vez que o Brasil perdeu capacidades logísticas fundamentais com a baixa de unidades como o NT Marajó e do NT Gastão Motta. A compra dos navios da Classe Wave (Wave Knight e Wave Ruler) representaria uma oportunidade estratégica, garantindo autonomia operacional para a Esquadra e permitindo maior tempo de patrulha em alto-mar.

A baixa dos navios logísticos reabastecedores na Marinha do Brasil configura-se num dos maiores fatores limitantes para operações de longo curso no atlântico, a Marinha do Brasil outrora já possuiu esta capacidade e hoje se vê limitada por conta da ausência de navios deste tipo.

Já a aquisição dos navios de assalto anfíbio da Classe Albion, embora interessante, não representa uma prioridade imediata. A MB já conta com o NDM Bahia, adquirido da França, que cumpre funções semelhantes aidna que com menor capacidade. Além disso, os Albion demandam uma tripulação numerosa e altos custos operacionais, tornando sua adoção mais complexa diante das restrições financeiras da Força.

Análise

Considerando portanto a necessidade de otimizar recursos, a Marinha deve concentrar esforços na obtenção de escoltas modernas e na garantia de apoio logístico.

Outro ponto crítico é a sustentabilidade operacional. Navios de grande porte exigem tripulações numerosas e investimentos constantes em manutenção. A Classe Tamandaré, por exemplo, foi projetada com tripulação reduzida, tornando sua operação mais eficiente. Dessa forma, a aquisição de novos meios deve levar em conta não apenas o custo de aquisição, mas também os gastos recorrentes com manutenção, modernização e pessoal.

O programa de aquisção das fragatas classe Tamandaré segue o seu curso com quatro navios encomendados, o ideal é que a Marinha pelo menos duplique a encomenda para mais quatro, porém isto tudo esbarra na disponibilidade de recursos,  o calcanhar de Aquiles das Forças Armadas Brasileiras.

A longo prazo, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub) continua sendo essencial para a estratégia naval brasileira. A entrega dos quatro submarinos convencionais da Classe Riachuelo fortalece a dissuasão no Atlântico Sul, enquanto o projeto do submarino nuclear Álvaro Alberto precisa ser mantido para garantir a soberania do país.

Diante desses desafios, o cenário ideal para a MB seria manter o Programa Tamandaré e buscar, no mínimo, mais quatro fragatas no futuro, além de adquirir os navios da Classe Wave para garantir a autonomia logística da Esquadra.

A compra dos Albion poderia ser considerada em um segundo momento, caso os custos operacionais permitam. Em um cenário mais restritivo, a melhor estratégia seria focar apenas nas fragatas e nos navios-tanque, adiando outras aquisições. Já em um cenário de cortes severos, haveria risco de comprometimento da capacidade operacional da Esquadra, principalmente se o ProSub sofrer atrasos.

Portanto, a melhor decisão para a MB é priorizar escoltas, garantir a logística da frota e manter o investimento em submarinos. Essa estratégia permitirá que a Força continue operando com eficiência mesmo diante das limitações financeiras, assegurando a defesa dos interesses marítimos brasileiros no Atlântico Sul.

Análise da Aquisição dos Navios da Classe Wave e Albion pela Marinha do Brasil

Critério Pontos Positivos Pontos Negativos
Custo de Aquisição Navios de “oportunidade” são mais baratos que construir novos. Custo inicial ainda pode ser alto, dependendo do estado de conservação.
Capacidade Logística A Classe Wave modernizaria a frota de reabastecimento da MB, garantindo maior autonomia para as operações navais. Os navios exigem infraestrutura específica para manutenção e operação.
Capacidade Anfíbia A Classe Albion aumentaria a capacidade de transporte de tropas e veículos, beneficiando operações humanitárias e militares. A MB já possui o G40 Bahia, que cumpre função similar, podendo tornar essa aquisição redundante.
Estado dos Navios Com aproximadamente 20 anos de uso, ainda possuem potencial para operar por mais 15-20 anos com modernizações. São navios usados, podendo demandar reparos e revitalização antes de entrarem em operação.
Autonomia e Alcance A Classe Wave pode percorrer 18.500 km, garantindo apoio a operações de longo alcance. Necessidade de investimentos na força de escoltas de superfícies e submarinos
Capacidade de Helicópteros Ambos operam aeronaves médias e grandes, ampliando a capacidade aerotransportada da MB. Necessário avaliar compatibilidade com os helicópteros da MB e custos de operação.
Tripulação e Operação A tripulação mínima é compatível com as capacidades da MB (Wave: 80 tripulantes, Albion: 325 tripulantes). Manter os Albion operacionais pode ser dispendioso, exigindo tripulação treinada e infraestrutura específica.
Armamentos Possuem armamentos modernos, incluindo canhões de 30 mm e sistemas Phalanx CIWS (embora possam ser removidos na venda). Alguns sistemas podem ser retirados antes da venda, exigindo reequipagem pela MB.
Urgência na Aquisição Os navios-tanque da Classe Wave são uma necessidade urgente, pois a MB precisa substituir seus navios de reabastecimento. A Classe Albion é uma aquisição menos prioritária, podendo não justificar o investimento imediato.
Impacto Estratégico Fortalece a capacidade de projeção de força e reabastecimento da Esquadra Brasileira, elevando a presença naval no Atlântico Sul. Se os recursos forem limitados, pode ser mais vantajoso investir em novos projetos nacionais ou outras prioridades da MB.

Porém é um fato de que a desativação desses navios pela Royal Navy representa uma oportunidade estratégica para a MB fortalecer sua capacidade logística e anfíbia. Se de fato estas trataivas evoluirem é improtante destacar qu a decisão final dependerá das negociações, avaliações de custo-benefício e do planejamento estratégico da MB para os próximos anos.


Fonte

Marinha do Brasil adquire navios de apoio oceânico da Classe Wave da Royal Navy, Defesa Aérea & Naval[Link]

Brasil compra navios da Classe Wave da Marinha Britânica,  Poder Naval, [Link] 

Marinha do Brasil recebe navio de desembarque HMS Albion, Naval Technology, [Link]

Desafios da Marinha do Brasil: orçamento, modernização e operacionalidade, DefesaNet, [Link]

Marinha do Brasil enfrenta crise de manutenção e falta de recursos, Poder Naval, [Link]

Problemas estruturais da Marinha do Brasil e o impacto na defesa nacional, Revista Brasileira de Defesa, [Link] 


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5 comentários em “Navios da Classe Albion e Wave : Oportunidades e dilemas da Marinha do Brasil

  1. Ótima e sucinta análise sobre a MB e aquisição de navios q embora tenham seus 20 anos, são ótimas opções p o Brasil.
    O correto mesmo seria de fabricação autóctone, mas não é nossa realidade!

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