Fragatas Mogami: A renovação da Força Marítima de Autodefesa do Japão

E.M.Pinto


A classe de fragatas Mugami do Japão representa um avanço na busca por uma solução equilibrada que reduz custos e o tamanho da tripulação, ao mesmo tempo que atende às exigências do século XXI. Inicialmente conhecida como 30DX e posteriormente designada 30FFM, esta nova classe de navios foi oficialmente anunciada em agosto de 2017.

Os primeiros dois navios foram encomendados em 2018, com um custo estimado entre US$ 370 e 410 milhões de dólares por unidade, valor significativamente baixo para um navio desta magnitude e capacidades combativas.

As primeiras embarcações da classe, Mogami e Kumano, receberam as designações FFM-1 e FFM-2, respectivamente. Ambas tiveram sua construção iniciada em 2019, com o Mogami sendo construído pela Mitsubishi Heavy Industries, em Nagasaki, e o Kumano pela Mitsui Engineering and Shipbuilding, em Tamano.

Apesar de ser a segunda unidade, o Kumano foi a primeira a ser lançado, em 19 de novembro de 2020, sendo comissionado em 22 de março de 2022. O Mogami, por sua vez, enfrentou problemas de propulsão e teve seu lançamento atrasado para março de 2021, sendo finalmente incorporado à frota em 28 de abril de 2022.

A expansão da classe continuou com as fragatas Noshiro e Mikuma, que foram comissionadas em dezembro de 2022 e março de 2023, respectivamente.

As unidades seguintes, Yahagi e Aano, foram lançadas em junho e dezembro de 2022, com previsão de entrada em serviço no ano posterior. Inicialmente, o plano era construir o de construir 22 fragatas dessa classe, mas o número foi reduzido para 12, o surgimento de uma nova classe de Destroyer e o apelo pelo desenvolvimento de uma navio com capacidade de defesa aniaéria anti balística drenou os recursos da Marinha Japonesa. Entretanto o programa não foi de tudo abandonado, ao contrário, segue seu caminho paralelamente. A Força Marítima de Autodefesa do Japão (JMSDF) decidiu investir no desenvolvimento de uma nova classe de fragatas mais avançadas.

Canhão Mk 45 Mod 4 de 127 mm

Com um deslocamento de 3.00 ton em condições padrão e 5500 ton totalmente carregada, a classe Mogami possui 133 m de comprimento e boca de 16 m. Seu design incorpora diversas medidas de redução de assinatura para aprimorar a furtividade. A embarcação é equipada com uma ampla gama de sensores, incluindo um radar de varredura eletrônica ativa (AESA) integrado ao mastro, sistemas de detecção eletro-ópticos e infravermelhos, além de sonares rebocados e de profundidade variável para a guerra antissubmarino.

O casco também é equipado com um sonar especializado para a detecção de minas.

A fragata dispõe de um convés de voo e um hangar projetado para operar um helicóptero naval SH-60 Seahawk ou sistemas aéreos não tripulados. Além disso, veículos de superfície e submarinos não tripulados podem ser lançados por meio de uma rampa de popa sob o convés de voo, um recurso que amplia sua capacidade para operações de guerra de minas e outras missões.

lançador de defesa pontual RAM (Rolling Airframe Missile).

O armamento principal da classe inclui um lançador de defesa ponto RAM (Rolling Airframe Missile) de 11 células, posicionado sobre o hangar de helicópteros.

Também há espaço reservado para oito mísseis antinavio Type 17 de 250 km de alcance. Um canhão Mk 45 Mod 4 de 127 mm está montado à proa, enquanto metralhadoras calibre .50 operadas remotamente e lançadores de torpedos leves completam o arsenal.

Mísseis antinavio Type 17.

Embora atualmente não estejam equipadas com um sistema de lançamento vertical (VLS), as fragatas foram projetadas para receber no futuro um conjunto de 16 células do Mk 41 VLS.

Esse sistema deverá acomodar mísseis Evolved Sea Sparrow (ESSM) para defesa aérea de médio alcance e foguetes antisubmarino de lançamento vertical (ASROC).

Em destaque a automação avançada das embarcações que permite a operação com uma tripulação reduzida de apenas 90 pessoas é um diferenciador  do projeto. O sistema de propulsão combina um arranjo híbrido de uma turbina a gás e dois motores a diesel, acionando dois eixos com hélices de passo controlável, proporcionando uma velocidade máxima superior a 30 nós.

Com essa configuração moderna e equilibrada, a classe Mogami representa um passo significativo na renovação da frota japonesa, alia eficiência operacional, tecnologia de ponta e custos reduzidos para atender às demandas estratégicas do país.

Conceito Operacional

Em 16 de dezembro de 2022, o Ministério da Defesa do Japão divulgou seu programa de fortalecimento da defesa, no qual destacou a intenção da Força Marítima de Autodefesa do Japão (JMSDF) de substituir seus antigos e menos capazes contratorpedeiros, assim como os escoltas da classe Abukuma, pelas fragatas da classe Mogami.

O projeto 30DX foi concebido para oferecer uma embarcação moderna, de porte equivalente a uma fragata, mas com capacidades similares às do contratorpedeiro da classe Akizuki. Contudo, para otimizar a operação e reduzir custos, a tripulação foi significativamente diminuída e o número de células do sistema de lançamento vertical (VLS) foi reduzido pela metade.

Clique na tabela para vê-la em melhor definição- comparativo da fragata Mogami com as demais concorrentes na região do pacífico

Inicialmente, o modelo pretendido era o 30FF, que apresentava um design semelhante ao dos navios de combate litorâneo da classe Freedom da Marinha dos Estados Unidos, incluindo um mastro integrado.

Lançamento do torpedo pelos sistema ASROC, em breve as fragats serão equipadas com o sistema 100% nacional que substitui este sistema de lançamento de torpedo.

O armamento previsto para essa versão incluía um canhão Mk 45 de 127 mm, duas estações de armas remotas entre a ponte de comando e o canhão principal, um sistema SeaRAM acima do hangar do helicóptero e uma aeronave embarcada.

Com 120 m de comprimento e uma boca máxima de 18 m, essa versão teria um deslocamento de aproximadamente 3000 ton e uma velocidade máxima de 40 nós. Sua tripulação seria composta por cerca de 100 pessoas.

Projetada em conceito modular a Mogami pode derivar em diferentes navios que vão de embarcações de vigilância costeira à navios de defesa aérea e combate multipropósito.

No entanto, a escolha final recaiu sobre o modelo 30DX, que, embora conservador em relação ao 30FF, atendia melhor aos requisitos de custo, miniaturização, automação e capacidades multimissão. A versão adotada possui 130 m de comprimento, 16 m de boca e um deslocamento padrão de 3900 toneladas, atingindo 5500 ton totalmente carregada.

A propulsão é fornecida por uma turbina a gás Rolls-Royce MT30, permitindo uma velocidade máxima superior a 30 nós.

O sistema de propulsão combina uma turbina a gás Rolls-Royce MT30 com motores diesel MAN V28/33DD STC, formando um arranjo híbrido do tipo CODAG (Combined Diesel and Gas). Essa configuração permite que a embarcação opere de forma eficiente em diferentes condições, utilizando apenas os motores diesel para navegação em velocidade de cruzeiro, reduzindo o consumo de combustível, e acionando a turbina a gás quando é necessária uma potência maior para atingir velocidades mais elevadas.

A Rolls-Royce MT30, baseada no motor aeronáutico Trent 800, oferece até 40 MW (53.000 hp) de potência, garantindo aceleração rápida e alto desempenho. Já os motores diesel MAN V28/33DD STC são responsáveis por uma operação econômica e confiável em trajetos mais longos.

Com essa combinação, a embarcação pode superar os 30 nós (cerca de 56 km/h), proporcionando agilidade operacional, essencial para navios militares e de alto desempenho.

Clique na tabela para vê-la em melhor definição- Navios da marinha já incorporados ou em etapa de incorporação.

Armamentos e Tecnologias Integradas

As fragatas Mogami estão equipadas com uma variedade de sistemas de armas e sensores. Seu arsenal inclui um canhão Mk 45 de 127 mm, duas estações de armas remotas acima da ponte, um sistema SeaRAM, oito mísseis antinavio, tubos lança-torpedos e lançadores de contramedidas. O navio também dispõe de um hangar e convés de voo para um helicóptero SH-60L.

O navio também dispõe de um hangar e convés de voo para um helicóptero SH-60L.

Chama a atenção que no futuro, todo o arsenal operado pelas fragatas será autoctone, ou seja, integralmente de produção nacional do Japão.

Lançamento do Mísseis antiaéreos Type 23

Além dos armamentos tradicionais, a fragata pode operar veículos subaquáticos não tripulados (UUV), veículos de superfície não tripulados (USV) e lançar minas navais a partir de uma rampa localizada sob o convés de voo.

Embora houvesse planos iniciais para instalar mísseis antiaéreos Type 23, os primeiros modelos da classe receberão apenas os mísseis Type 07 VLA em seus sistemas VLS. No entanto, a versão modernizada da Mogami, cuja construção começará no ano fiscal de 2024, deverá incorporar os mísseis Type 23.

Veículos de superfície que pode operar com e sem tripulação (USV) operado pela fragata Mogami, (Fonte Defense News)

O design furtivo da fragata foi influenciado pelas tecnologias desenvolvidas para o demonstrador de caça furtivo Mitsubishi X-2 Shinshin, também conhecido como ATD-X. Assim, a Mogami integra características avançadas de baixa assinatura radar e um alto nível de automação, permitindo que opere com uma tripulação reduzida de apenas 90 tripulantes, um número consideravelmente inferior ao de embarcações de tamanho semelhante.

veículos de superfície não tripulados (USV)
A s fragatas empregam veículos subaquáticos não tripulados (UUV) OZZ5. (fonte- Defense News).

Durante a exposição Sea-Air-Space de 2019, a Mitsubishi Heavy Industries apresentou o conceito de “Centro de Comando Integrado Avançado” (Advanced Integrated CIC) para essas fragatas. Esse sistema unificará o passadiço, a sala de controle de energia, a central de informações de combate e a sala de gestão situacional em uma única estrutura com telas panorâmicas de 360 graus. Essa tecnologia permitirá visualizar o ambiente ao redor da embarcação sem pontos cegos, utilizando realidade aumentada para identificar objetos e auxiliar na navegação.

Mastro e sistemas

O mastro da fragata da classe Mogami é uma estrutura avançada projetada para integrar diversos sistemas eletrônicos e sensores, reduzindo a assinatura de radar e otimizando a consciência situacional da embarcação. Seu design furtivo permite uma menor seção transversal de radar (RCS), melhorando a capacidade de defesa e vigilância.

No topo da lista de equipamentos, destaca-se o radar multifuncional OPY-2, desenvolvido pela Mitsubishi Electric, que utiliza tecnologia de matriz ativa (AESA) para detecção e rastreamento de ameaças aéreas e navais em múltiplas bandas de frequência. Além disso, a fragata conta com um sistema de comunicação via satélite (SATCOM) integrado no mastro, garantindo comunicação segura e em tempo real com outras unidades navais e centros de comando.

Componente Especificação/Tecnologia
Radar Principal OPY-2 (AESA)
Fabricante do Radar Mitsubishi Electric
Sistemas de Comunicação SATCOM integrado
Guerra Eletrônica EW System (NEC/Mitsubishi)
Identificação IFF Type 02 (Japan Radio Co.)
Sensores Ópticos Eletro-óptico/infravermelho (NEC, Fujitsu)
Controle de Tiro Integrado ao radar e sensores ópticos
Tecnologia de Redução RCS Design furtivo e integração modular
Função Principal Detecção, rastreamento, guerra eletrônica e controle de armas

A embarcação também possui um avançado sistema de guerra eletrônica desenvolvido pela Mitsubishi Electric e NEC, projetado para detectar, analisar e neutralizar ameaças eletromagnéticas, incluindo radares inimigos e mísseis guiados. O sistema de identificação amigo-inimigo (IFF) Type 02, fabricado pela Japan Radio Co., facilita a identificação de aeronaves e embarcações aliadas, prevenindo incidentes de fogo amigo.

Além disso, sensores eletro-ópticos e infravermelhos da NEC e Fujitsu melhoram a vigilância passiva e a detecção de alvos em condições de baixa visibilidade, fornecendo suporte ao sistema de controle de tiro integrado.

As fragatas da classe Mogami são equipadas com avançados sistemas de guerra eletrônica, incorporando tecnologias de última geração para defesa e operações táticas. Os navios em serviço, bem como aqueles que serão comissionados em breve, contam com o sistema NOLQ-3E, que integra capacidades de guerra eletrônica passiva e ataque eletrônico, permitindo a detecção e interferência em sinais de radar inimigos. Além disso, possuem um lançador de contramedidas do tipo chaff, utilizado para dispersar refletores metálicos e desviar mísseis antinavio durante ataques.

No que diz respeito a sensores e radares, as fragatas são equipadas com o radar multifuncional OPY-2 da Mitsubishi Electric, que opera na banda X e utiliza tecnologia AESA (Active Electronically Scanned Array) para rastreamento preciso de alvos aéreos e navais. Complementando essa capacidade, contam com os sensores eletro-ópticos/infravermelhos OAX-3, também da Mitsubishi Electric, que oferecem maior precisão na identificação de ameaças em diferentes condições climáticas e de luminosidade.

Devido à sua vocação multimissão, as fragatas da classe Mogami possuem sistemas especializados para guerra antissubmarino (ASW), incluindo o sonar de profundidade variável (VDS) e sonar rebocado (TASS) OQQ-25, fabricado pela NEC, que permite a detecção de submarinos em diferentes profundidades. Além disso, possuem um sonar anti-minas OQQ-11, da Hitachi, projetado para aumentar a segurança da navegação em áreas de alto risco.

O gerenciamento do combate é realizado pelo sistema OYQ-1, que processa e integra dados de todos os sensores da fragata, enquanto o sistema de exibição e processamento de informações OYX-1-29 permite a visualização em tempo real das operações.

UNICORN NORA-50 (UNIted COnbined Radio aNtenna)

Todos os sistemas de antenas e links de dados táticos são armazenados no mastro de integração UNICORN NORA-50 (UNIted COnbined Radio aNtenna), uma estrutura que centraliza as comunicações e reduz a interferência eletromagnética, contribuindo para a furtividade e eficiência operacional do navio.

Todos esses sistemas trabalham em conjunto para fornecer dados precisos às armas da fragata, incluindo mísseis e canhões, permitindo respostas rápidas e eficazes contra ameaças. O mastro incorpora tecnologias modulares e de redução de RCS para garantir um perfil furtivo e maior eficiência operacional.

O projeto foi desenvolvido pela Mitsubishi Heavy Industries, responsável por integrar os componentes ao design da embarcação, resultando em um sistema de defesa naval altamente sofisticado e adequado para operações modernas.

Versão Aprimorada

A versão modernizada da classe Mogami, denominada Upgraded Mogami ou New FFM, representará uma evolução significativa do projeto original. Com 142 m de comprimento e 17 m de boca, essa versão terá um deslocamento padrão de 4880 ton podendo chegar a capacidades superiores a 6000 ton. Entre suas melhorias, destacam-se um radar mais avançado e um sistema de lançamento vertical Mk 41 expandido para 32 células, dobrando a capacidade de defesa aérea das fragatas anteriores.

Não se sabe ao certo quantos navios desta nova classe poderão ser incorporados, ams estima-se que outras 12 fragatas podem ser encomendadas.

Exportação da Classe Mogami

Além do Japão há clinetes internacionais de olho nesta que certamente é a mais moderna fragata em operação no pacífico, Indonésia, Austrália e dois outras nações não mencionadas, demonstarram interese na aquisição de versões costumizadas do navio.  No caso australiano e Indonésio, o programa está em compasso de espera pela decisão sobre a possibilidade de aquisição dos navios.

País

Status da Negociação Concorrentes

Observações

Austrália Finalista no processo de seleção para novas fragatas da RAN MEKO A-200 (Alemanha), FFX Batch II/III (Coreia do Sul), Alfa 3000 (Espanha) Decisão final prevista para o final de 2024. Japão autorizou parceria no desenvolvimento e produção conjunta.
Indonésia Sem contrato assinado até 2024 Arrowhead 140 (Reino Unido), FREMM (França/Itália)

Inicialmente planejado um contrato para oito fragatas (quatro construídas no Japão e quatro na Indonésia), mas a Marinha da Indonésia optou por outros modelos.


Fonte

BERGMANN, Kym. General purpose frigate headlong rush to disaster continues. Asia-Pacific Defence Reporter (2002), v. 50, n. 5, p. 12-14, 2024. [Link]

BERGMANN, Kym. Japanese government authorises Mogami frigate sale to Australia. Asia-Pacific Defence Reporter, v. 50, n. 9, 2024. [Link ]

ARTHUR, Gordon. Naval developments in East Asia. Asia-Pacific Defence Reporter (2002), v. 49, n. 8, p. 38-46, 2023. [ Link]

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