
E.M.Pinto
Acesse ao original da BBC Brasil: Jeremy Howell
O artigo da BBC, escrito por Jeremy Howell, aborda a crescente influência econômica e política da China no continente africano ao longo das últimas duas décadas. Com uma estrtatégia de investimentos bilionários no setore de infraestruturas e uma estratégia comercial agressiva, a China consolidou-se como o maior parceiro econômico da África

Desde o início dos anos 2000, a China ampliou maciçamente suas trocas comerciais e investimentos na África. Em 2022, o comércio bilateral alcançou a impressionante marca de US$ 250 bilhões, com os africanos exportando matérias-primas, como petróleo e minérios, e recebendo produtos industrializados.
No mesmo ano, Pequim investiu US$ 5 bilhões em infraestrutura e energia no continente, enquanto empresas chinesas lucraram US$ 40 bilhões com esses projetos. Além disso, mais de 3 mil empresas chinesas estão atualmente em operação na África.
Dados Apresentados | |
Comércio China-África | Em 2022, o comércio bilateral totalizou US$ 250 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão). A China importou matérias-primas (petróleo e minérios) e exportou produtos industrializados. |
Investimentos em 2022 | Pequim investiu US$ 5 bilhões (cerca de R$ 30 bilhões), principalmente em transporte, energia e mineração. |
Lucros das empresas chinesas | Empresas chinesas lucraram US$ 40 bilhões (cerca de R$ 242 bilhões) com projetos no continente africano em 2022. |
Número de empresas chinesas | Existem cerca de 3 mil empresas chinesas operando na África. |
Dívida da África com a China | A China detém US$ 134 bilhões da dívida africana, representando cerca de 20% do total da dívida externa do continente. |
Mudança de estratégia | A China tem reduzido empréstimos e se concentrado em tecnologia, como redes 4G/5G, satélites, painéis solares e veículos elétricos. |
Dependência de matérias-primas | Alguns empréstimos foram vinculados à exportação de recursos naturais, como petróleo e minérios, resultando no controle de minas em países como o Congo. |
Impacto para a população local | Projetos trouxeram poucos empregos locais, com empresas chinesas importando mão de obra própria e oferecendo condições de trabalho precárias para africanos. |
Diplomacia e política | A China utiliza sua influência na África para isolar Taiwan na ONU e consolidar seu papel como defensora do “Sul Global”. |
Fórum de Cooperação China-África (Focac) | Realizado a cada três anos desde 2003, com participação de 53 Estados africanos, sendo a plataforma principal para a parceria sino-africana. |
Projeções futuras | Até o final do século, 40% da população mundial estará na África, tornando o continente peça-chave na economia global. |
Inicialmente, os esforços concentraram-se na construção de grandes projetos de infraestrutura, como rodovias, ferrovias e portos. Porém, nos últimos anos, a China tem redirecionado sua estratégia, passando a oferecer tecnologias avançadas, como redes 5G, painéis solares e veículos elétricos. Essa transição segue na linha de desenvolvimento da chamada “economia verde”, a principal aposta chinesa no cenário atual.

Os Empréstimos e o Fardo da Dívida
Embora os investimentos chineses tenham transformado a infraestrutura africana, a dependência de empréstimos gerou sérias preocupações. A China detém US$ 134 bilhões da dívida africana, o que representa cerca de 20% do total do continente. Projetos de baixa rentabilidade, como ferrovias, dificultaram a capacidade de pagamento de países como Angola, Zâmbia e Quênia, que acumulam dívidas bilionárias.
Críticos acusam Pequim de práticas de “diplomacia da armadilha de dívidas”, vinculando empréstimos ao controle de recursos naturais.
Em países como o Congo, concessões de minas foram negociadas em troca de créditos. No entanto, especialistas apontam que governos mais fortes conseguem evitar essas armadilhas, negociando em termos mais favoráveis.
País | Dívida com a China (US$ bilhões) | PIB (US$ bilhões) | % da Dívida com a China em relação ao PIB |
Angola | 25,00 | 79,72 | 31,30% |
Etiópia | 7,40 | 111,26 | 6,70% |
Quênia | 7,40 | 95,50 | 7,70% |
República do Congo | 7,30 | 13,30 | 54,90% |
Zâmbia | 6,08 | 25,60 | 23,80% |
Egito | 5,21 | 404,10 | 1,30% |
Fonte: Integrity Magazine
Impactos Locais e Relações Geopolíticas
estratégia que se reproduziu aqui no Brasil e que apesar do silêncio da mídia incorre em questões claramente desfavoráveis para o país.
no caso brasileiro, a BYD (Build Your Dreams), gigante chinesa do setor de veículos elétricos, iniciou operações no Brasil com a promessa de investimento em tecnologia e geração de empregos. No entanto, o modelo de negócios e a gestão do projeto geraram críticas, especialmente em relação à contratação de funcionários chineses para a fábrica localizada em Campinas, São Paulo. A empresa optou por trazer trabalhadores da China, em vez de investir no treinamento e contratação de profissionais brasileiros, o que gerou um debate sobre os impactos dessa prática na economia local.
As principais críticas ao modelo de contrato incluem a alegada falta de qualificação profissional oferecida aos trabalhadores brasileiros, e a substituição de postos de trabalho que poderiam ser ocupados por brasileiros, com um foco em mão de obra estrangeira.
A justificativa da BYD foi que os profissionais chineses possuíam experiência técnica específica para a implementação da tecnologia avançada, mas muitos analistas questionaram a falta de transparência no processo seletivo. Além disso, o impacto no mercado de trabalho local foi discutido, com críticos argumentando que a empresa estaria “exportando empregos” ao invés de contribuir para a qualificação da força de trabalho brasileira.

O caso dos trabalhadores da BYD no Brasil ganhou atenção também devido a alegações de condições de trabalho análogas à escravidão. Em 2023, houve denúncias sobre a exploração de trabalhadores chineses contratados para a construção e operação na unidade de Camaçari- Bahia. As acusações envolviam condições precárias, como jornadas excessivas, falta de descanso adequado, alojamentos superlotados e retenção de documentos pelos empregadores, o que dificultava a livre movimentação dos trabalhadores. Esses relatos indicam práticas de controle excessivo, de forma que os funcionários não podiam sair das instalações da empresa ou sequer contactar suas famílias sem supervisão.
A investigação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a atuação de entidades como o Ministério Público do Trabalho (MPT) evidenciaram a situação, levando a empresa a ser responsabilizada por práticas de trabalho análogas à escravidão. Embora a BYD tenha negado envolvimento direto com as denúncias e afirmado que estava tomando medidas para corrigir os problemas, as alegações geraram grande repercussão. Este caso é um reflexo das preocupações em relação a grandes empresas estrangeiras que operam no Brasil, especialmente no que diz respeito ao tratamento de trabalhadores, com foco nas práticas que violam os direitos humanos e as normas trabalhistas do país.
O Futuro das Relações Sino-Africanas
O Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) tem sido a principal plataforma para fortalecer os laços entre Pequim e os 53 Estados africanos. Segundo analistas, o futuro dessas relações dependerá da capacidade dos países africanos de equilibrar a parceria com a China, garantindo que os benefícios superem os custos econômicos e sociais.
Com 40% da população mundial projetada para residir na África até o final do século, o continente se tornará um ator central na economia global e a China está determinada a consolidar sua posição como parceira preferencial.
Análise
Os artigos que concordam com a análise destacam a relevância dos investimentos chineses na África como um motor de desenvolvimento econômico.
O artigo do El País (“China busca en África una salida para sus tecnologías limpias”) enfatiza que a China tem contribuído significativamente para a infraestrutura africana e a transição para tecnologias verdes, fornecendo produtos como redes 5G, painéis solares e veículos elétricos. Similarmente, o texto de Le Monde (“Au sommet de la coopération sino-africaine…”) reforça que a China se posiciona como uma aliada estratégica do Sul Global, utilizando a cooperação sino-africana para fortalecer relações econômicas e diplomáticas, especialmente no contexto de organizações internacionais, como a ONU. Ambos os artigos corroboram a visão de que os investimentos chineses, embora guiados por interesses estratégicos, oferecem oportunidades de modernização e crescimento às nações africanas.
Por outro lado, os autores que discordam argumentam que a presença chinesa na África tem aspectos problemáticos. O texto de Le Monde (“Entre la Chine et l’Afrique, la lune de miel est un peu finie”) aponta que os empréstimos e projetos chineses frequentemente criam endividamento insustentável, gerando frustrações em países que não conseguem pagar suas dívidas ou usufruir dos lucros esperados.
Já o artigo da UFSC (“A expansão chinesa na África: comércio, investimentos e fluxos financeiros”) ressalta que a estratégia chinesa, embora economicamente impactante, pode ser considerada predatória, pois prioriza os interesses chineses em detrimento das economias locais, especialmente ao empregar mão de obra chinesa e limitar os empregos para africanos.
Esses pontos discordantes indicam que, embora a China seja uma parceira econômica relevante, há preocupações legítimas sobre os impactos sociais e financeiros de sua abordagem.
Fontes
- China, os desafios da dívida e os novos riscos para a África, BBC News Brasil, [ link].
- China busca en África una salida para sus tecnologías limpias, El País. [ Link ]
- “Au sommet de la coopération sino-africaine, Xi Jinping se pose en défenseur du Sud global,” Le Monde.
[ Link ] - Entre la Chine et l’Afrique, la lune de miel est un peu finie, Le Monde. [ Link ]
- A expansão chinesa na África: comércio, investimentos e fluxos financeiros, Periódicos UFSC. [ Link ]
BYD no Brasil: Trabalhadores chineses e críticas ao modelo de negócio, BBC Brasil [ link ]. - Fábrica da BYD em Campinas: mão de obra chinesa e os impactos no mercado de trabalho brasileiro, Valor Econômico[ link].
- Terceirizada da BYD nega trabalho análogo à escravidão na Bahia, CartaCapital, [ link ]
- Investigação sobre condições de trabalho na BYD: Acusações e medidas corretivas, O Globo [ link].
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