Ali Ramos
Insurgente da milícia TNLA em Myanmar carrega flores de papoula.
Fonte: Al Jazeera.
Após a tomada de poder no Afeganistão, em 2021, pelo regime do Talibã, o grupo tomou medidas drásticas tanto militarmente quanto nos campos da religião, da cultura e da lei para coibir a produção de ópio, que caiu drasticamente no país desde a expulsão dos americanos.
O resultado, de todo modo, é que outra região adjacente despontou na produção de narcóticos, explorando o mercado e o vácuo de poder no tráfico de drogas deixado pelo novo regime afegão. O Triângulo Dourado, como é conhecido, abarca regiões rurais e fronteiriças das selvas do Laos, de Myanmar e da Tailândia, e historicamente detém um papel central na produção de ópio, heroína e metanfetamina para os mercados da Ásia e da Europa.
O cultivo de ópio no Afeganistão, segundo relatórios da ONU e análises da BBC, caiu 95% depois da tomada de poder pelo Talibã, fruto também da ideologia islâmica que alicerça os princípios do regime. Em resposta, Myanmar, em 2024, se tornou o maior produtor mundial de ópio, exportando 154 toneladas do produto para seus vizinhos asiáticos e o mercado europeu, gerando divisas ilegais de 2.2 bilhões de dólares.
Agentes do Talibã destroem campos de papoula no Afeganistão.
Fonte: BBC.
Se engana, no entanto, quem imagina que o Triângulo Dourado se centra apenas no cultivo de ópio, já que autoridades do Sudeste Asiático recentemente apreenderam também metanfetamina produzida na região, com aparatos de inteligência indicando uma sofistação no desenvolvimento da produção de narcóticos, antes voltada apenas à exportação dos componentes utilizados como insumos.
Neste sentido, o conflito prolongado em Myanmar, em especial na região do Estado de Shan, base de operações de milícias insurgentes e também de senhores da guerra alinhados à junta do Tatmadaw, assim como as sanções em virtude do genocídio de 100 anos cometido contra os povos muçulamnos roingia, geram terreno fértil para a produção de narcóticos, tanto de modo a escapar do embargo quanto, por parte dos atores interessados, de fortalecer e financiar grupos insurgentes, assim como também de enriquecer senhores da guerra e máfias locais.
Neste sentido, Myanmar é o ponto mais crítico e passível de desestabilização à aliança chinesa no Sudeste Asiático, tendo em vista que durante muito tempo a nação tem sido teatro de disputa entre americanos, britânicos, franceses, israelenses, russos e chineses, cada um com seus próprios interesses e atores ligados às suas agências de inteligência.
Resta saber, deste modo, por quanto tempo mais o regime de Pequim e o MSS chinês aceitarão um agente desestabilizador e incontrolável dentro de sua aliança regional – tendo em vista que desde o ano passado a China tem, na mesma medida, apoiado a junta do Tatmadaw e pedido por novas eleições.
É provável que com o acirramento da disputa armamentícia entre OTAN e China, assim como a necessidade de materiais críticos à indústria de defesa, os dias do Tatmadaw governando à margem do direito internacional estejam contados – e com a leniência de Pequim e do competente MSS chinês, que atua no país desde a Revolução Maoísta.
Fontes
1 SUN, Yun. “From Balkanization to Pakistanization: China’s Risk in Myanmar”. Opinion, The Irrawaddy. 2024.
2 “Trouble In Afghanistan’s Opium Fields: The Taliban War On Drugs”. Asia, Foreign Affairs, International Crisis Group. 2024.
3 YONG, Nicholas. “Myanmar overtakes Afghanistan as top opium producer”. BBC. 2023.
4 DOYLE, Kevin. “Q&A: The opium surge in Southeast Asia’s ‘Golden Triangle’.” News, Drugs, Al Jazeera. 2023.
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Análise perfeita Ali. A única coisa que o Tigre não aceita é ameaçar seu entorno… Acompanhando…