E.M.Pinto & Arthur Rangel
Em 26 de dezembro de 2024, a Chengdu Aerospace Corporation (CAC) alcançou um novo marco na tecnologia de aviação da China com o primeiro voo de sua aeronave de combate alegadamente de sexta geração, provisoriamente chamada de “J-36”. A primeira aparição da aeronave, capturada por observadores em terra e disseminada nas redes sociais chinesas, gerou debates fervorosos entre analistas de defesa e entusiastas militares. Como o mais recente desenvolvimento no arsenal da Força Aérea do Exército de Libertação Popular (PLA). Para alguns especialistas a emergência do voo do J-36 sinaliza uma possível mudança na dinâmica da guerra aérea.
Uma Apresentação Cuidadosamente Orquestrada
O voo de estreia, ocorrido sobre a movimentada cidade de Chengdu, foi acompanhado por um avião “paquera” o J-20S de dois lugares. Embora a mídia estatal chinesa e canais oficiais ainda não tenham confirmado a existência da aeronave, imagens vazadas sugerem um planejamento meticuloso na apresentação do avião. Observadores notaram semelhanças com a introdução do caça furtivo J-20 em 2011, que também surgiu após meses de especulação e vazamentos graduais.
O timing do voo, coincidindo com o aniversário de Mao Tsé-Tung, levantou questões sobre intenções simbólicas. Embora outros grandes marcos militares chineses tenham ocorrido nesta data, analistas sugerem que a coincidência pode ser mais prática do que comemorativa.
Características Técnicas e Avaliações Iniciais
A primeira coisa que observamos é o número 36011 que indica que o avião se trata de um protótipo e não de um demonstrador. Este tipo de numeração é semelhante ao observado nos programas do J-20 e do J-35 onde a serie XXX01 se trata de demonstrador inicial e a série XXX11 se trata do protótipo. Isto levanta especulação sobre o qual desenvolvido está o programa e sobre quando a aeronave entrará em operação; tudo leva a crer que ela deve entrar em operação já na década de 30, talvez na sua primeira metade.
Análises preliminares revelam que o J-36 é o de uma aeronave grande e furtiva, apresentando um design de asa voadora sem cauda e com duplo delta. Estima-se que tenha entre 20 e 22 m de comprimento, com envergadura entre 22 e 24 m, sendo propulsionada por uma configuração única de três motores.
Com base nas imagens e nas pesquisas desenvolvidas e publicadas pelo suposto chefe do programa da aeronave (Wang Haifeng) podemos entrar em algumas características que devemos esperar do sistema de nova geração aérea em desenvolvimento na China.
Figura 1 – Imagem 1
Principais características destacáveis
Furtividade e Aerodinâmica em uma fuselagem integrada e sistemas de exaustão de baixa observabilidade, muito semelhantes aos reminiscentes do protótipo furtivo YF-23, porém utilizando um sistema de curvatura suave, focado na redução não apenas da radiação infravermelha, mas tambem no retorno de sinal de radar de baixa e alta frequência.
Figura 2 – Imagem 2
Figura 3– Imagem 3
Uma baia central de grande porte (possivelmente com 7 metros de comprimento) em teoria capaz de acomodar mísseis ar-ar de longo alcance PL-17, complementada por duas baias de tamanho regulares (não menores como visto nos sistemas de 5G onde geralmente acomodam misseis de curto alcance, mas grande, com possivelmente 4 a 5 metros de comprimento).
Figura 4 – Imagem 4
Figura 5 – Imagem 5
Espera-se um desempenho de voo abrangente e equilibrado, focado na penetração em auto grau em zonas contestadas, com capacidade de manobra esperado para este tipo de cenário. Tambem se estima que os motores tenham foco em desempenho sem pôs-combustores, com boas velocidades de supercruzeiro, porém com capacidade de aceleração com pôs-combustores por tempo limitado para eventuais arrancadas. Apesar dessas informações, muitos detalhes permanecem especulativos. O motor exato da aeronave, seu conjunto de aviônicos e os sistemas de armas planejados não foram confirmados. Segundo pesquisar desenvolvidas por Wang Haifeng, espera que o caça tenha motores de ciclo variável.
Aparentemente o avião terá uma operação por dois ou mais tripulantes: observando que mesmo com elevada automação, o comando de drones e sistemas para missões diferenciadas podem necessitar de maior trabalho humano.
Figura 6– Imagem 6
Analistas também debatem se seu papel principal se concentrará na superioridade aérea ou integrará capacidades de ataque, ecoando conceitos explorados nas discussões sobre o caça-bombardeiro “JH-XX”. Podemos entender, com base nos estudos publicados e pela opinião de analistas Chineses que a aeronave será multimissão de domínio aéreo: comandar drones de combate, penetrar em profundidade a área do inimigo sem ser detectado e liminar os alvos prioritários. O objetivo é ser o primeiro a atirar e o último a ser detectado, eliminando forçar inimigas a longas distancias. Por isto se espera que o avião não tenha apenas uma furtividade exemplar no espectro geral, mas tambem uma ampla gama de soluções de furtividade, com foco especial na redução das emissões infravermelhas, redução do raio de detecção por ondas baixas.
Por fim, as imagens e vídeos mostram um detalhe curioso do avião: os dois sensores laterais, comumente chamado de sensores de bochecha são revestidos por vidro ou um material semelhante, levando a constatação que se trata de sensores óticos e não de sensores eletrônicos. Observando o papel especulado do avião, isto nos leva a acreditar que são sensores IR de última geração, montados em um local protegido e com ampla gama de visualização.
Figura 7– Imagem 7
Além das imagens: A visão chinesa de uma aeronave de nova geração
Com base nos artigos acadêmicos produzido nos últimos anos das academias de pesquisa e ciência militar e ciência militar aeronáutica na China, inclusive artigos publicados pelo apontado chefe do programa J-36 podemos observar alguns detalhes que devemos encontrar no futuro avião militar da China:
- Sistema digital de última geração para controle das superfícies de voo. Vetorização de empuxo, superfícies de tamanho variável e sistemas de manobra ativa para permitir uma maior manobrabilidade dentro das limitações do seu formato;
- Quanto ao motor e o uso peculiar de três motores, podemos observar que eles atendem uma demanda específica: Geração de energia elétrica.
Figura 8– Imagem 8
Seriam três motores de ciclo variável idênticos projetados especialmente para maximizar a produção de energia elétrica para os sistemas, radares e futuras armas de energia dirigida. Para atender a demanda destes sistemas, se espera que o avião produza algo entre 700 e 1.000 Watts (observando que uma arma geral de energia dirigida pode consumir não menos que 300 watts).
Figura 9– Imagem 9
Figura 10– Imagem 10
- Tambem se espera, com base nas imagens e nos estudos publicados que o avião seja equipado inicialmente com um radar AESA com um tamanho entre 0.8 e 1 metro quadrado.
- Tambem se espera uma capacidade de carga significativa, não apenas para o transporte de armas, mas tambem de outros sistemas e sensores que possam ser acrescentados de maneira modular ao avião, possibilitando que ele cumpra uma serie de tarefas que vão desde guerra eletrônica até o papel de aeronave AWACS para demais grupos de ataque e defesa.
Figura 11– Imagem 11
- Para cumprir todos os papeis, se espera uma fusão de sensores com sistema de última geração: novo nível de consciência operacional, em conjunto com a operação de vários drones alas furtivos para ataque e defesa.
Figura 12– Imagem 12
Algumas questões importantes emergem: Qual será o papel de domínio aéreo o qual se especula que seja a sua função? Para abordar essa questão, é relevante compará-lo com o “Black Plague” russo, um conceito especulativo de aeronave furtiva, e revisitar exemplos históricos de demonstradores tecnológicos da Guerra Fria.
O J-36 & “Black Plague” : Similaridades e Diferenças
O “Black Plague” ou “Peste Negra” é um conceito especulativo de aeronave russa (Clique aqui para saber mais) , descrito como uma plataforma multifuncional furtiva com capacidades de comando e controle no campo de batalha. Embora não haja provas concretas de sua existência, ele representa uma tendência observada nas potências militares de criar “plataformas de comando” para liderar redes de aeronaves tripuladas e não tripuladas bem como desempenhar várias tarefas eletrônicas ao mesmo tempo, servindo como sistema AWACS e de comando.
O J-36 parece se alinhar com esse conceito, tanto que muitos canais o retratam como JH-XX, o designe de um bombardeiro tático chinês, especialmente em seu design furtivo e na ênfase em autonomia e redes integradas, Capacidade de voo em grandes altitudes e supercruzeiro. No entanto, a diferença pode residir no foco, enquanto o “Black Plague” é considerado um conceito mais teórico, o J-36 já realizou voos e apresenta características concretas que indicam progresso em seu desenvolvimento.
Figura 13– Imagem 13
Demonstradores Tecnológicos da Guerra Fria: Lições Históricas
Durante a Guerra Fria, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética usaram aeronaves demonstradoras para explorar novas tecnologias e conceitos de combate. Esses projetos nem sempre resultaram em aeronaves operacionais, mas tiveram impacto duradouro no desenvolvimento da aviação militar dentre as centenas de projetos de aeronaves conceito pode-se enumerar algumas delas já conhecidas do público em geral.
Estados Unidos
North American XB-70 Valkyrie: Concebido como um bombardeiro supersônico, o XB-70 acabou se tornando um banco de testes para materiais de alta temperatura e aerodinâmica em velocidades extremas. Embora nunca tenha entrado em serviço, influenciou o desenvolvimento de aeronaves como o SR-71.
Lockheed YF-12: Um protótipo de interceptador baseado no A-12, precursor do SR-71. Ele testou capacidades de intercepção em alta velocidade e avançou a tecnologia de radar e mísseis de longo alcance.
X-Planes: A série de aeronaves X, como o X-15 e o X-24, foi fundamental para testar voo hipersônico e configurações de asa incomuns. Esses projetos pavimentaram o caminho para espaçonaves e aeronaves militares futuristas.
União Soviética
Mikoyan-Gurevich MiG-105 Spiral: Uma tentativa de criar um veículo espacial reutilizável. Apesar de seu cancelamento, ele influenciou o programa Buran, o ônibus espacial soviético.
T-4 (Sotka): Desenvolvido pela Sukhoi como um bombardeiro supersônico para rivalizar com o XB-70. O T-4 testou materiais e sistemas que seriam usados em projetos posteriores.
Ekranoplanos e Aviões Experimentais: A URSS também explorou conceitos como os ekranoplanos (veículos que combinam características de aviação e navegação) e configurações de asa de geometria variável, visando aplicações militares e civis.
O Papel Estratégico do J-36
Seja como aeronave operacional, o J-36 está ai e pode representar um salto tecnológico para a China. A cooperação com plataformas não tripuladas pode ser um foco principal. E além disso, pode se considerar o fato da aeronave que se viu voando validar a redução de assinatura radar: O design de asa voadora em formato de diamante é ideal para estudos de furtividade.
Se operacional, o J-36 pode redefinir o conceito de “caça” ao se tornar uma plataforma de comando aéreo, liderando redes de combate em um sistema de sistemas. Essa abordagem reflete uma tendência global de evolução no combate aéreo, priorizando a colaboração entre aeronaves tripuladas e não tripuladas em detrimento de combates aéreos clássicos entre caças tripulados.
Figura 14– Imagem 14
Contexto Estratégico
Não obstante a tudo isso, observadores da comunidade que acompanha o PLA concordam amplamente que o J-36 foi projetado para superioridade aérea, com ênfase em furtividade, alcance e capacidades de combate em rede. Espera-se que a aeronave opere dentro de um “sistema de sistemas”, colaborando com veículos aéreos de combate não tripulados (UCAVs) e plataformas tripuladas existentes. Essa visão está alinhada com paradigmas globais em evolução, onde a guerra aérea prioriza engajamentos fora do alcance visual e capacidades integradas de comando e controle.
No entanto, o tamanho e design não convencionais do J-36 obscurecem distinções tradicionais entre caças e bombardeiros. Essa ambiguidade não é única; tendências semelhantes são vistas no programa Next Generation Air Dominance (NGAD) da Força Aérea dos EUA e no desenvolvimento do bombardeiro B-21.
Implicações Mais Amplas
A estreia do J-36 destaca o avanço acelerado da China na aviação militar, levantando questões críticas relacionadas à Análise Comparativa, ou seja, como o J-36 se compara aos demonstradores NGAD dos EUA e aos projetos europeus de sexta geração?
Outro ponto relevante é ligado aos Limiares de Capacidade, como o J-36 redefinirá as expectativas para furtividade, geração de energia e guerra eletrônica na aviação tática? Além disso, a integração operacional de como o PLA equilibrará a produção do J-36 com os programas existentes J-20 e J-35?
Os debates também se estendem à questão de se o J-36 representa um salto de “sétima geração”. Sem padrões oficiais, o termo permanece controverso, acredita-se que os recursos avançados da aeronave a coloquem na vanguarda da tecnologia aérea contemporânea.
Conclusão
À medida que o J-36 avançar nos testes de desenvolvimento, seu impacto na estratégia de defesa global se tornará mais claro. Por enquanto, a aeronave reforça o compromisso da China em expandir suas capacidades de dominação aérea e remodelar o futuro da guerra. As implicações para potências rivais, particularmente os Estados Unidos, são profundas, sinalizando uma era de competição intensificada na aviação de combate da próxima geração.
Figura 15– Imagem 15
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