E.M.Pinto
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Faz um bom tempo que analistas internacionais credíveis apontam para problemas nas Forças Armadas do Paquistão e alertam que o apoio ao Talibã e outros grupos islamistas é uma estratégia perigosa, que pode levar à destruição de tudo e todos em seu caminho. O retorno do Talibã ao poder no Afeganistão, em agosto de 2021, transformou o país em um estado pária e ameaça também a estabilidade do Paquistão.
Ao mesmo tempo, líderes nacionalistas progressistas e especialmente os movimentos Pashtun alertaram para um novo “grande jogo” na região compreendida entre o Afeganistão e o Paquistão. Segundo estas lideranças , as minorias no Paquistão, tais como os Pashtuns, estão sendo utilizadas como peças nos planos de potências globais e regionais. Esses grupos criticam as Forças Armadas paquistanesas por seu apoio ao Talibã afegão e seus aliados militantes.
Estes ataques não são novidade para o paquistão o mapa a seguir apresenta o quadro de incidência de ataques sofridos pelo Paquistão de 2002 a 2015 e dão uma certa dimensão quão tóxica é esta relação.
Em causa estão quatro grandes movimentos que podem incendiar as condições naquela região
- Apoio intensificado ao Talibã antes da retirada da OTAN em 2021;
- O Talibã afegão retomou práticas repressivas, transformando o Afeganistão em um estado isolado;
- O Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) utilizou o Afeganistão como base para ataques contra o Paquistão;
- O Talibã parece precisar de um novo pretexto para justificar seu poder num estado isolado.
Quanto ao último ingrediente dessa bomba armada, vale ressaltar que o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão em agosto de 2021 marcou um ponto de inflexão no cenário geopolítico da Ásia Central.
No entanto, sua incapacidade de resolver problemas estruturais básicos revelou os limites de sua competência administrativa e expôs a lógica de sobrevivência de regimes que emergem de movimentos insurgentes.
A Promessa de um novo Afeganistão
O Talibã assumiu o controle após a retirada das forças da OTAN, apresentando-se como uma força restauradora de ordem e identidade cultural. Contudo, sua origem como uma força beligerante focada em táticas de guerrilha e combate o deixou despreparado para administrar questões complexas, como economia, saúde pública e infraestrutura, algo que já era deficitário no Afeganistão sobre administração “Americana”, mas que piourou ainda mais com o expurgo e perseguição aos quadros que se instalaram no estado afegão nos últimos 20 anos.
A ausência de quadros técnicos e a dependência de uma ideologia rígida limitam sua capacidade de governar efetivamente.
Tudo isso é agravado frente a fome generalizada a qual Milhões de afegãos dependem de ajuda humanitária para sobreviver e que foi comprometida por medidas como a proibição de mulheres trabalharem etc. Além disso, a economia em colapso joga o país “nas cordas” agravando ainda mais o quadro de isolamento econômico devido a radicalização de suas leis.
Essas falhas ampliaram o descontentamento interno e enfraqueceram o regime internacionalmente e apesar de haver um coro de vozes que tentam santificar a postura do Talibã frente ao governo “Livre” do afeganistão, a bomba teve seu pavio encurtado recentemente com as rusgas fronteiriças entre Paquistão e Afeganistão.
A Culpa é sempre dos outros
Para alguns analistas como o este autor, quando regimes autoritários e beligerantes enfrentam dificuldades para resolver problemas estruturais internos, estes precisam se sustentar sobre novas motivações e quase sempre recorrem a estratégia deredirecionar o foco para ameaças externas, reais ou fabricadas. No caso do Talibã, a narrativa da “guerra eterna” contra inimigos “alienígenas” pode servir como um mecanismo de unidade nacional ao criar um inimigo externo que ajuda a consolidar apoio interno, desviando a atenção os problemas de séculos.
Na visão deste autor o Talibã busca legitimidade ideológica e a continuidade do conflito reforça o propósito original do movimento insurgente. Nesse contexto a sobrevivência econômica passa por sustentar uma guerra que já provou-se ser capaz de manter a economia informal e as redes de tráfico ativas, contrariando as teorias mais absurdas advindas das planilhas neoliberais que acreditavam que o talibã se dobraria ao colapso econômico dos conflitos de 2000 até 2021 e sucumbiram a ordem mundial financista bancária.
Estavam como sempre errados, a economia paralela reina nos estados destruídos e ausentes criados artificialmente pelas estratégias de guerras adotadas desde os anos 60. mas isso é assunto para outro artigo, voltemos ao tema.
Essa estratégia de guerra contra ameaças exteriores faz sentido no contexto atual, e é recorrente em regimes que emergem de movimentos armados, como observado em certos estados pós-revolucionários. Para o Talibã, isso se traduz na escalada de tensões com o Paquistão, exploração de fronteiras disputadas como a Linha Durand, e possivelmente no fortalecimento de alianças com grupos insurgentes regionais.
O mais importante, esta ideia ganha força nçao apenas no Afeganistão, mas também internamente no Paquistão e ai se tem a fórmula diabólica para tempestade do século. Mas antes que ela aconteça, é preciso dar nomes aos bois, ou melhor, aos bodes.
Um bode na sala
O Inter-Services Intelligence (ISI), serviço de inteligência do Paquistão cujo símbolo é o lendário “carneiro”, desempenhou um papel significativo no apoio ao Talibã, especialmente durante sua formação e ascensão nos anos 1990. Esse suporte incluiu desde assistência financeira, treinamento militar e fornecimento de armamentos.
O ISI também facilitou o recrutamento de combatentes, muitos provenientes de madrassas (escolas religiosas) no Paquistão, que compartilhavam a ideologia do Talibã. Além disso, o ISI ofereceu suporte logístico e estratégico, permitindo que o Talibã consolidasse seu controle sobre o Afeganistão. Esse relacionamento foi motivado por interesses estratégicos do Paquistão de então, que buscava um governo afegão aliado para garantir influência regional e segurança nas fronteiras.
O “bode” alimentou a “cobra”, só não percebeu que a sua fome aumentava a medida que ela crescia…
Já que o Batman é o problema, entreguemos Ghotan para o Pinguin…
Nos últimos três meses, o Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) realizou realizou indiscriminadamente 150 ataques no Paquistão, atingindo até mesmo a região de Punjab e a capital Islamabad. Segundo o seu porta voz, a violência é uma retaliação contra as mortes de líderes do TTP em operações conduzidas pelo Paquistão no Afeganistão após o fracasso de um processo de paz.
O Talibã acusa o Paquistão de complacência com o famoso Estado Islâmico (ISIS), que possui nada menos que 7000 combatentes treinados perto da Linha Durand. A situação no Paquistão não é muito diferente, e tanto o Afeganistão quanto o Paquistão enfrentam crises econômicas graves.
No Paquistão, a inflação descontrolada e a escassez de alimentos geram protestos diários e sobrecaem sobre as administrações tribais e são frequentes contra as Forças Armadas e extremistas. Isto se agrava ainda mais com a instabilidade política desde a destituição do ex-primeiro-ministro Imran Khan em abril de 2022. Nesse cenário a falsa visão de ordem e austeridade leva aos populares e até setores da elite paquistanesa a apostar numa solução mais acertiva, apoiando iniciativas como o Talibã.
Ocorre que a combinação de crises políticas, econômicas e de segurança coloca tanto o Paquistão quanto o Afeganistão em situações de extremo risco. Sem uma resolução para as tensões internas e regionais, ambas as nações podem se tornar epicentros de violência e instabilidade no Sul da Ásia.
A escalada de ataques do TTP e o isolamento do Talibã após sua volta ao poder destacam a falta de uma estratégia coordenada para estabilizar a região que desta vez não contará com intervenções alienígenas seja de que potencia for (China, EUA, Rússia etc).
O apoio histórico do Paquistão ao Talibã, inicialmente visto como uma alavanca estratégica, agora ameaça sua própria estabilidade, ao que tudo indica o feitiço está sendo jogado contra o feiticeiro.
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