Rússia anuncia criação de Força de Sistemas Não-Tripulados

Informações: TASS
E.M.Pinto


O Ministro da Defesa da Rússia, Andrey Belousov, anunciou oficialmente a criação da Força de Sistemas Não-Tripulados, uma nova unidade militar que será integrada à estrutura de defesa do país. A nova força terá como base o Centro Rubicon de Tecnologias Não-Tripuladas Avançadas, formado a partir de unidades de combate de aeronaves não-tripuladas e em operação desde agosto de 2024.

Andrey Belousov, Ministro da Defesa

Durante uma visita ao Rubicon, Belousov inspecionou as instalações, avaliou o progresso das operações e conduziu uma reunião estratégica para discutir o avanço das tecnologias não-tripuladas nas Forças Armadas russas. O centro, situado na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento de sistemas robóticos, desempenha um papel fundamental no uso de drones e sistemas autônomos em cenários de combate, com atuação confirmada em áreas como Donetsk, Belgorod e Kursk.

Operações e estruturação

O Ministro da defesa revelou que os destacamentos do centro de estudos e desenvolvimento Rubicon produziu sistemas com tecnologias evolutivas e disruptivas de forma contínua, utilizando drones de reconhecimento equipados com elementos de inteligência artificial. Esses equipamentos identificam alvos no campo de batalha e transmitem as informações para os sistemas de controle, que coordenam ataques com  os demais drones.

Entre as atividades destacadas, o Rubicon investiga o impacto das condições de trabalho de operadores de drones sobre a saúde, desenvolvendo equipamentos que minimizem esses efeitos. O centro também lidera pesquisas em inteligência artificial aplicada a sistemas robóticos e mantém estreita colaboração com a indústria de defesa nacional, testando novas tecnologias em campo.

Como será esta nova força?

A nova força de sistemas não tripulados russos apresentada pelo Ministério da Defesa busca consolidar o uso de drones em operações militares, vigilância e suporte logístico. Essa unidade foi projetada para integrar tecnologias avançadas em diversos tipos de veículos aéreos, terrestres e navais não tripulados, promovendo maior autonomia operacional e flexibilidade em combate.
A Rubicon coordenará a implantação dos Centros de comando e controle dedicados à operação e monitoramento dos sistemas. Dos laboratórios para manutenção e atualização tecnológica dos veículos bem como do treinamento especializado para operadores de drones e equipes de suporte.
O objetivo principal dessa força é reforçar a capacidade de projeção de poder da Rússia em conflitos assimétricos, bem como em cenários de alta tecnologia. A presença de sistemas não tripulados permite operações de longo alcance, com maior resiliência e menor exposição de soldados. Além disso, a diversificação no uso de drones amplia as capacidades defensivas e ofensivas do país, fortalecendo sua posição geopolítica.
Com a parceria da Rubicon, o Ministério da Defesa busca estabelecer a Rússia como uma das principais potências no campo da robótica militar e sistemas não tripulados, promovendo avanços que combinem eficiência operacional e inovação tecnológica
Sua estrutura e organização é definida em  quatro vertentes próprias:

Categoria Descrição Exemplos de Modelos Russos
Reconhecimento e Vigilância Drones dedicados à coleta de dados de inteligência em tempo real, equipados com câmeras de alta resolução e sensores infravermelhos. – Forpost
– Zastava
Combate Drones armados destinados a ataques cirúrgicos e missões de destruição de alvos específicos. – Lancet
– Orlan-10
Logística e Transporte Drones equipados com sistemas para transportar suprimentos críticos em locais de difícil acesso, incluindo zonas de conflito. – Katran
– Eleron-3
Operações Navais Veículos submarinos e de superfície não tripulados para patrulhamento, defesa costeira e coleta de dados oceânicos. – Paltus
– Gorynych-1

A empresa Rubicon, que atua como polo apoiador, desempenha um papel crucial ao fornecer tecnologias proprietárias e suporte técnico. Sua expertise em inteligência artificial (IA), sistemas de navegação autônoma e integração de sensores de última geração é fundamental para o desenvolvimento e operacionalização dessa força.

A Rubicon trabalha para desenvolver sistemas equipados com inteligência artificial avançada para tomada de decisão autônoma em tempo real, minimizando a necessidade de controle humano direto. Além disso, desenvolve uma pléiade de subsistemas que tem como função a guerra centrada em rede, permitindo coordenação entre diferentes unidades e integração com as forças armadas tradicionais.
Os grandes desafios no teatro moderno exigem que os dispositivos possuam sistemas de comunicação criptografada e contramedidas para operar em ambientes com interferência eletrônica intensa Além de serem dotados de armas  com munições guiadas e dispositivos para ataques furtivos, priorizando a eficiência e a minimização de danos colaterais.

Expansão e fortalecimento

Como parte dos esforços para consolidar a nova Força de Sistemas Não-Tripulados, o Ministro da Defesa ordenou a formação de mais cinco destacamentos, que serão integrados aos grupos de tropas na zona de conflito na Ucrânia. A prioridade é garantir treinamento acelerado para especialistas e equipes de apoio, além de estruturar a transição para a nova unidade militar.

A criação dessa força sublinha a aposta russa no fortalecimento de sua capacidade tecnológica no campo de batalha, consolidando o Rubicon como um pilar estratégico na modernização das Forças Armadas da Federação Russa.

Desde o início das hostilidades no Leste da Ucrânia, em 2014, a Rússia utilizou ativamente veículos aéreos não tripulados (UAVs) para operações militares. Enquanto os militantes controlados por Moscou usavam majoritariamente drones improvisados, as forças russas dispunham de sistemas avançados desenvolvidos pela indústrias de defesa, operados por equipes treinadas. Essa superioridade tecnológica foi crucial para aumentar a eficácia da artilharia russa.

Drones usados pela Rússia no início da Guerra Russo-Ucraniana

Nome Nível de Aplicação Características de Voo Funções
Granat-1 Tático Alcance de voo: até 15 km; Altitude: até 3.500 m Reconhecimento, designação de alvos, e orientação de fogo
Granat-2 Tático Alcance de voo: até 15 km; Altitude: até 4.100 m Reconhecimento, designação de alvos, e orientação de fogo
Granat-3 Tático Alcance de voo: 25-40 km; Altitude: até 2.000 m Reconhecimento e monitoramento de redes celulares
Granat-4 Tático Alcance de voo: até 70 km; Altitude: até 2.000 m Reconhecimento e monitoramento de redes celulares
Eleron-3SV Tático Alcance de voo: até 25 km; Altitude: até 5.000 m Reconhecimento, designação de alvos e retransmissão de sinais
Zastava Tático Alcance de voo: até 10 km; Altitude: até 2.200 m Reconhecimento, vigilância e designação de alvos
Takhion Tático Alcance de voo: até 40 km; Altitude: até 3.600 m Reconhecimento, vigilância e designação de alvos
Orlan-10 Operacional-Tático Alcance de voo: até 120 km; Altitude: até 6.000 m Reconhecimento e retransmissão de sinais
Forpost Operacional Alcance de voo: até 350 km; Altitude: até 6.000 m Reconhecimento

Neste contexto, o Orlan-10 foi um dos drones mais usados, operando ao longo de toda a linha de frente para reconhecimento, controle de fogo e localização de emissões de rádio de alta frequência.
Os Forpost, com maior alcance na época, eram lançados de uma base aérea em Millerovo, na região de Rostov.  Contudo, seu tamanho os tornava alvos fáceis para a defesa aérea ucraniana, resultando na perda de significativas unidades.Além disso, drones da família Granat e o modelo Eleron-3SV foram amplamente empregados, com treinamentos específicos realizados no campo de treinamento Kuzminsky, em Rostov. Veículos menos comuns, como Zastava e Takhion, também foram observados na linha de frente.

Uma Nova Dimensão da Guerra Moderna

A partir dos  anos 2020  com a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia, o uso de drones militares e civis se consolidou. Se em 2015, os russos utilizaram pela primeira vez o drone Orlan-10 para ataques com explosivos agora os sistemas alcançavam uma nova dimensão.

Posteriormente os russos passaram a empregar drones civis adaptados, como o modelo chinês para lançar granadas VOG-17 e VOG-25. Nesse contexto o uso de drones kamikaze também ganhou espaço. Protótipos como o KUB-BLA e versões mais avançadas, como o Lancet, foram implementados em combate.
Desde a invasão em larga escala em 2022, os drones tornaram-se peças-chave na guerra, cumprindo funções como reconhecimento, ajuste de fogo e controle de unidades.Tudo isso inaugurou uma nova tendência moderna, o uso de  armas baratas, descartáveis e baseadas em tecnologia civil, como acessibilidade ao setor comercial que tornou os drones mais baratos e disponíveis.
Além disso, a adaptabilidade mesmo com mudanças nas condições de guerra, o cenário foi propício para o aumento da presença dos drones no teatro de operações, o qual trouxe transformações nas tarefas, onde operações mais  complexas, como destruição de infraestrutura inimiga passaram a fazer parte do escopo operacional destas armas.

Embora a doutrina militar russa de 2014 reconheçesse o uso de drones, foi apenas em 2023 que o governo aprovou uma estratégia formal para o desenvolvimento da aviação não tripulada que se estenderá até 2035.

O plano é ambicioso e visa implantar de 2026 a 2035 uma nova realidade no cenário técnico, pessoal e produtivo. com desafios que englobam a formação de até 1,5 milões de cientistas, engenheiros, técnicos, operadores e especialistas

Plano (2023-2026) Plano (2027-2030) Prognóstico (2031-2035)
Número de especialistas envolvidos 330 mil 1 milhão 1,5 milhão
Produção de sistemas aéreos não tripulados 52,1 mil 105,5 mil 177,7 mil

O plano é desafiado pois, apesar do avanço, a Rússia ainda enfrenta desafios na integração tecnológica e operacional desses sistemas.

E as capacidade industriais?

A Rússia ampliou significativamente sua capacidade de produção de veículos não tripulados desde 2022, utilizando recursos estatais e privados. entretanto, um fator ainda precisa ser equacionado para que a sua autonomia lhe permita atingir os níveis de produção e operação desejados para 2035.

Apesar dos esforços em substituir importações em sua cadeia de produção, o país ainda depende fortemente de componentes estrangeiros, especialmente em itens críticos como microchips, microprocessadores e motores elétricos os quais tem conseguido produzir em boa capacidade, porém é necessário um incremento ainda maior.
Um estudo divulgado em agosto de 2023 pelo grupo de sanções Yermak-McFaul, revelou que 69% dos componentes de drones russos eram fabricados por empresas controladas ou parceiras de grupos americanos. A análise dos drones Shahed 136/131, Lancet e Orlan-10 mostrou que cerca de 60% dos componentes foram produzidos na China, incluindo 3% provenientes de Hong Kong.Grande parte destes componentes foram produzidos em fábricas em solo chinês cuja parcela significativa dos componentes seja controlada por companhias de países que impuseram sanções à Rússia, eia-se união européia e Estados Unidos.

Além disso, o percentual de componentes exclusivamente oriundos da UE correspondem a 11%, outros demais 4% dos EUA enquanto os produtos oriundos de Taiwan, Malásia e Vietnã também participam com 7%, 4% e 3%, respectivamente. A China é destaque como a principal fornecedora para a Rússia, respondendo por 67% do total de componentes, sendo 17% desses enviados via Hong Kong. Emirados Árabes Unidos e Turquia também aparecem na lista, com 5% e 2%, respectivamente.Sabe-se que apesar de restrições formais impostas pela China à exportação de drones para uso militar, a Rússia consegue acessar esses equipamentos e seus componentes por meio de canais alternativos.
Empresas como a iFlight, com suporte de colaboradores na China, Oriente Médio e Europa conseguem burlar as sanções.Recentemente foram rastreadas  empresas russas estabelecem filiais em países como China e Turquia, e que compram os componentes necessários e os reexportam para a Rússia. Muitas vezes, essas empresas são registradas em regiões tradicionalmente usadas para burlar sanções, como países da Ásia Central.
Deste modo, as faturas alfandegárias frequentemente incluem uma empresa de logística como intermediária, enquanto o remetente real utiliza um nome de empresa ligeiramente modificado para mascarar a origem do envio.Sabe-se que Bancos chineses aceitam pagamentos diretos da Rússia, permitindo a compra de bens sem intermediários. Já para compras no Ocidente, empresas russas criam subsidiárias com beneficiários chineses.
Outra prática envolve empresas chinesas que encomendam mercadorias para si mesmas e, ao receber os produtos, transferem os lotes para navios com destino à Rússia. Esses produtos são redirecionados para portos como Vladivostok ou Sacalina antes de chegarem ao cliente final.
Em suma, a Rússia enfrenta grandes desafios para cumprir a meta de produzir autonomamente todos os componentes necessários para drones até 2035 e criar um braço armado com 1,5 milhão de operadores/tecnicos/ engenheiros especializados  tembém se mostrará uma tarefa bastante desafiadora.
A dependência de importações de alta tecnologia, como semicondutores e sensores avançados, é agravada pelas sanções internacionais, enquanto a infraestrutura industrial doméstica apesar de sua modernização terá que absorver uma escala de produção ainda maior para atender à demanda. Além disso, a falta de engenheiros qualificados e a fragmentação da cadeia de suprimentos complicam o avanço.
A criação de uma força dedicada a drones também esbarra em dificuldades financeiras, logísticas e organizacionais. O treinamento de operadores em larga escala requer tempo e recursos, além de uma infraestrutura tecnológica integrada que ainda não existe.
Com uma economia fragilizada e resistência interna dentro das Forças Armadas, especialistas avaliam que atingir essas metas no prazo estipulado será extremamente desafiador, a menos que o Kremlin invista pesadamente em modernização industrial e reorganização estratégica.


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