Desde o início das hostilidades no Leste da Ucrânia, em 2014, a Rússia utilizou ativamente veículos aéreos não tripulados (UAVs) para operações militares. Enquanto os militantes controlados por Moscou usavam majoritariamente drones improvisados, as forças russas dispunham de sistemas avançados desenvolvidos pela indústrias de defesa, operados por equipes treinadas. Essa superioridade tecnológica foi crucial para aumentar a eficácia da artilharia russa.
Drones usados pela Rússia no início da Guerra Russo-Ucraniana
Nome |
Nível de Aplicação |
Características de Voo |
Funções |
Granat-1 |
Tático |
Alcance de voo: até 15 km; Altitude: até 3.500 m |
Reconhecimento, designação de alvos, e orientação de fogo |
Granat-2 |
Tático |
Alcance de voo: até 15 km; Altitude: até 4.100 m |
Reconhecimento, designação de alvos, e orientação de fogo |
Granat-3 |
Tático |
Alcance de voo: 25-40 km; Altitude: até 2.000 m |
Reconhecimento e monitoramento de redes celulares |
Granat-4 |
Tático |
Alcance de voo: até 70 km; Altitude: até 2.000 m |
Reconhecimento e monitoramento de redes celulares |
Eleron-3SV |
Tático |
Alcance de voo: até 25 km; Altitude: até 5.000 m |
Reconhecimento, designação de alvos e retransmissão de sinais |
Zastava |
Tático |
Alcance de voo: até 10 km; Altitude: até 2.200 m |
Reconhecimento, vigilância e designação de alvos |
Takhion |
Tático |
Alcance de voo: até 40 km; Altitude: até 3.600 m |
Reconhecimento, vigilância e designação de alvos |
Orlan-10 |
Operacional-Tático |
Alcance de voo: até 120 km; Altitude: até 6.000 m |
Reconhecimento e retransmissão de sinais |
Forpost |
Operacional |
Alcance de voo: até 350 km; Altitude: até 6.000 m |
Reconhecimento |
Neste contexto, o Orlan-10 foi um dos drones mais usados, operando ao longo de toda a linha de frente para reconhecimento, controle de fogo e localização de emissões de rádio de alta frequência.
Os Forpost, com maior alcance na época, eram lançados de uma base aérea em Millerovo, na região de Rostov. Contudo, seu tamanho os tornava alvos fáceis para a defesa aérea ucraniana, resultando na perda de significativas unidades.Além disso, drones da família Granat e o modelo Eleron-3SV foram amplamente empregados, com treinamentos específicos realizados no campo de treinamento Kuzminsky, em Rostov. Veículos menos comuns, como Zastava e Takhion, também foram observados na linha de frente.
Uma Nova Dimensão da Guerra Moderna
A partir dos anos 2020 com a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia, o uso de drones militares e civis se consolidou. Se em 2015, os russos utilizaram pela primeira vez o drone Orlan-10 para ataques com explosivos agora os sistemas alcançavam uma nova dimensão.
Posteriormente os russos passaram a empregar drones civis adaptados, como o modelo chinês para lançar granadas VOG-17 e VOG-25. Nesse contexto o uso de drones kamikaze também ganhou espaço. Protótipos como o KUB-BLA e versões mais avançadas, como o Lancet, foram implementados em combate.
Desde a invasão em larga escala em 2022, os drones tornaram-se peças-chave na guerra, cumprindo funções como reconhecimento, ajuste de fogo e controle de unidades.Tudo isso inaugurou uma nova tendência moderna, o uso de armas baratas, descartáveis e baseadas em tecnologia civil, como acessibilidade ao setor comercial que tornou os drones mais baratos e disponíveis.
Além disso, a adaptabilidade mesmo com mudanças nas condições de guerra, o cenário foi propício para o aumento da presença dos drones no teatro de operações, o qual trouxe transformações nas tarefas, onde operações mais complexas, como destruição de infraestrutura inimiga passaram a fazer parte do escopo operacional destas armas.
Embora a doutrina militar russa de 2014 reconheçesse o uso de drones, foi apenas em 2023 que o governo aprovou uma estratégia formal para o desenvolvimento da aviação não tripulada que se estenderá até 2035.
O plano é ambicioso e visa implantar de 2026 a 2035 uma nova realidade no cenário técnico, pessoal e produtivo. com desafios que englobam a formação de até 1,5 milões de cientistas, engenheiros, técnicos, operadores e especialistas
|
Plano (2023-2026) |
Plano (2027-2030) |
Prognóstico (2031-2035) |
Número de especialistas envolvidos |
330 mil |
1 milhão |
1,5 milhão |
Produção de sistemas aéreos não tripulados |
52,1 mil |
105,5 mil |
177,7 mil |
O plano é desafiado pois, apesar do avanço, a Rússia ainda enfrenta desafios na integração tecnológica e operacional desses sistemas.
E as capacidade industriais?
A Rússia ampliou significativamente sua capacidade de produção de veículos não tripulados desde 2022, utilizando recursos estatais e privados. entretanto, um fator ainda precisa ser equacionado para que a sua autonomia lhe permita atingir os níveis de produção e operação desejados para 2035.
Apesar dos esforços em substituir importações em sua cadeia de produção, o país ainda depende fortemente de componentes estrangeiros, especialmente em itens críticos como microchips, microprocessadores e motores elétricos os quais tem conseguido produzir em boa capacidade, porém é necessário um incremento ainda maior.
Um estudo divulgado em agosto de 2023 pelo grupo de sanções Yermak-McFaul, revelou que 69% dos componentes de drones russos eram fabricados por empresas controladas ou parceiras de grupos americanos.
A análise dos drones Shahed 136/131, Lancet e Orlan-10 mostrou que cerca de 60% dos componentes foram produzidos na China, incluindo 3% provenientes de Hong Kong.Grande parte destes componentes foram produzidos em fábricas em solo chinês cuja parcela significativa dos componentes seja controlada por companhias de países que impuseram sanções à Rússia, eia-se união européia e Estados Unidos.
Além disso, o percentual de componentes exclusivamente oriundos da UE correspondem a 11%, outros demais 4% dos EUA enquanto os produtos oriundos de Taiwan, Malásia e Vietnã também participam com 7%, 4% e 3%, respectivamente. A China é destaque como a principal fornecedora para a Rússia, respondendo por 67% do total de componentes, sendo 17% desses enviados via Hong Kong. Emirados Árabes Unidos e Turquia também aparecem na lista, com 5% e 2%, respectivamente.Sabe-se que apesar de restrições formais impostas pela China à exportação de drones para uso militar, a Rússia consegue acessar esses equipamentos e seus componentes por meio de canais alternativos.
Empresas como a iFlight, com suporte de colaboradores na China, Oriente Médio e Europa conseguem burlar as sanções.Recentemente foram rastreadas empresas russas estabelecem filiais em países como China e Turquia, e que compram os componentes necessários e os reexportam para a Rússia. Muitas vezes, essas empresas são registradas em regiões tradicionalmente usadas para burlar sanções, como países da Ásia Central.
Deste modo, as faturas alfandegárias frequentemente incluem uma empresa de logística como intermediária, enquanto o remetente real utiliza um nome de empresa ligeiramente modificado para mascarar a origem do envio.Sabe-se que Bancos chineses aceitam pagamentos diretos da Rússia, permitindo a compra de bens sem intermediários. Já para compras no Ocidente, empresas russas criam subsidiárias com beneficiários chineses.
Outra prática envolve empresas chinesas que encomendam mercadorias para si mesmas e, ao receber os produtos, transferem os lotes para navios com destino à Rússia. Esses produtos são redirecionados para portos como Vladivostok ou Sacalina antes de chegarem ao cliente final.
Em suma, a Rússia enfrenta grandes desafios para cumprir a meta de produzir autonomamente todos os componentes necessários para drones até 2035 e criar um braço armado com 1,5 milhão de operadores/tecnicos/ engenheiros especializados tembém se mostrará uma tarefa bastante desafiadora.
A dependência de importações de alta tecnologia, como semicondutores e sensores avançados, é agravada pelas sanções internacionais, enquanto a infraestrutura industrial doméstica apesar de sua modernização terá que absorver uma escala de produção ainda maior para atender à demanda. Além disso, a falta de engenheiros qualificados e a fragmentação da cadeia de suprimentos complicam o avanço.
A criação de uma força dedicada a drones também esbarra em dificuldades financeiras, logísticas e organizacionais. O treinamento de operadores em larga escala requer tempo e recursos, além de uma infraestrutura tecnológica integrada que ainda não existe.
Com uma economia fragilizada e resistência interna dentro das Forças Armadas, especialistas avaliam que atingir essas metas no prazo estipulado será extremamente desafiador, a menos que o Kremlin invista pesadamente em modernização industrial e reorganização estratégica.
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