Por Anderson Barros Especial Para o Plano Brasil.
A Força Aérea Indiana (IAF) está enfrentando uma escassez em seus números de esquadrões e aeronaves. Para suprir essa lacuna, a Força Aérea Indiana lançou uma licitação para adquirir 114 aeronaves de caça multifuncionais no valor de mais de US $ 15 bilhões para substituir seus antigos aviões de combate, bem como aumentar o número de seus esquadrões. Além da aquisição de caças multifuncionais de quarta geração, o Governo indiano almeja a obtenção de aviões Stealth. A ambição indiana por aeronaves de caça de quinta geração surge do seu ambiente de segurança em evolução, das aspirações tecnológicas e da necessidade de modernizar sua envelhecida frota.
A Índia enfrenta tensões e potenciais conflitos com a China e o Paquistão. A China está aumentando rapidamente sua frota de caças de quinta geração Chengdu J-20, com mais 200 unidades em serviço. Esses J-20s foram avistados em bases aéreas ao longo da Linha de Controle Real (Line of Actual Control) em Xinjiang e no Tibete. Já o Paquistão recentemente aprovou a aquisição de caças stealth Shenyang J-35A da China. Com essa aquisição os principais rivais indianos na região estão equipados com aviões de quinta geração.
A Índia vem trabalhando em seu próprio caça de quinta geração, o Advanced Medium Combat Aircraft [AMCA]. No entanto, este é um projeto de longo prazo, e soluções provisórias podem ser necessárias. A Índia precisa desenvolver um jato com capacidade equivalente para enfrentar as potências rivais, mas atualmente não pode desenvolver tal aeronave de forma independente.
Na década passada, a Índia e a Rússia iniciaram o projeto conjunto para construir um avião de quinta geração FGFA – (Fifth-Generation Fighter Aircraft), visando desenvolver uma versão personalizada do Su-57 (então conhecido como PAK FA). A Índia exigiu cerca de 50 melhorias no novo avião. A contribuição da Índia incluiu suporte financeiro e a integração de aviônicos e sistemas nacionais.
Entretanto, em 2018, a Índia retirou-se do programa FGFA devido a problemas relacionados à transferência de tecnologia e acesso a software, desempenho, atrasos e aumento de custos, além de desacordo sobre produção e termos financeiros.

A Sukhoi/HAL Fifth Generation Fighter Aircraft (FGFA) era uma aeronave biposta de quinta geração desenvolvida pela Rússia e pela Índia. Era um projeto derivado da aeronave Su-57.
Esses fatores combinados tornaram o programa FGFA insustentável para a Índia, levando-a a decidir se retirar e buscar outras alternativas, incluindo o desenvolvimento de soluções nacionais e a consideração de outras aeronaves estrangeiras. O governo indiano ficou interessado no Lockheed-Martin F-35A Lightning II, mas os EUA apresentaram o Lockheed Martin F-16 Block 70, resignado como F-21 Super Viver, como resposta à RFI da Força Aérea Indiana na concorrência Multi-Role Fighter Aircraft (MRFA). Outro projeto que foi avaliado por Nova Deli foi o projeto Sul Coreano KF-21 Boramae desenvolvido pela Korea Aerospace Industries (KAI). Porém, mesmo sendo um programa em estágio avançado o mesmo foi considerado como um caça de 4,5ª geração. Com isso o governo indiano decidiu progredir com o programa nacional da Aeronave Avançada de Combate Médio desenvolvida pela HAL (Advanced Medium Combat Aircraft – AMCA).
SU-57MKI um opção indiana
A Rússia recentemente renovou sua oferta para fornecer à Índia aviões Sukhoi Su-57 Felon de quinta geração. A nova oferta russa enfatiza melhorias em relação a furtividade, aviônica e capacidades de combate, incluindo a integração de armas hipersônicas. A versão oferecida pelos russos é a variante de exportação Su-57E, Porém, essa oferta pode evoluir para uma variante customizada algo como um Su-57MKI (Modernizirovannyi Kommercheskiy Indiski – “Modernized Commercial Indian”). Uma versão MKI do Su-57 atenderia a iniciativa Make in India com a introdução de componentes indianos, muitos deles já em uso na frota dos Su-30MKI e outros em desenvolvimento para o programa Super Sukhoi.
Um ponto interessante seria a integração de armas de fabricação indiana no Su-57 como mísseis ar-ar de curto alcance AIM-132 ASRAAM (Advanced Short Range Air-to-Air Missile) em substituição ao Vympel R-73 Archer e mísseis BVR Astra em substituição aos Vympel R-77 Adder. Para tornar o acordo mais atraente, a Rússia reduziu o custo da aeronave e pode aceitar um acordo usando um mecanismo de pagamento exclusivo em rúpias indianas.
Ao avaliar a oferta, a Índia permanece cautelosa devido a preocupações com atrasos na produção sobretudo no quesito motorização (embora a Rússia tenha finalizado o desenvolvimento dos motores Saturn AL-51), confiabilidade da tecnologia Stealth e implicações geopolíticas.

Su-57 Felon equipado com motor AL-51 testando novo bocal do motor, com vetoração de empuxo bidimensional.
O caça furtivo russo Su-57 de quinta geração daria à Índia um impulso tecnológico significativo sob o programa “Make in India”. Considerando esses fatores, a Índia deve introduzir a mais recente tecnologia de aeronaves de caça. A decisão dependerá do equilíbrio entre as necessidades operacionais imediatas e os objetivos estratégicos e tecnológicos de longo prazo.
Efeito no desenvolvimento da AMCA
A aquisição do caça Su-57 pela Índia pode afetar o desenvolvimento de seu programa de Aeronaves Avançadas de Combate Médio (AMCA) de maneira positiva e negativa. Se a Índia adquirir o Su-57, ela poderá obter conhecimentos valiosos sobre design e a tecnologia de uma aeronave de caça de quinta geração, incluindo capacidades stealth, aviônica avançada e desempenho do motor. Isso pode acelerar a curva de aprendizado para engenheiros indianos e ajudar a melhorar o design da AMCA. Em março de 2024, o projeto recebeu aprovação do Comitê de Segurança da Índia para o desenvolvimento do protótipo com seu primeiro voo programado para o final de 2028 e produção em massa com início previsto para 2035.

Advanced Medium Combat Aircraft – AMCA é um programa indiano para a produção de um caça de quinta geração. Ele está sendo desenvolvido pela Agência de Desenvolvimento Aeronáutico e Hindustan Aeronáutica Limited (HAL).
Por outro lado, a aquisição de Su-57s poderia desviar a atenção e os recursos do projeto AMCA, já que ambos os programas exigem investimento e foco significativos. Isso poderia atrasar o desenvolvimento do AMCA, já que o financiamento e a mão de obra podem ser realocados.
Embora o Su-57 possa fornecer uma solução de curto prazo, adquiri-lo reforçaria a dependência da Índia em tecnologia estrangeira, o que contradiz a meta do AMCA de alcançar uma maior auto-suficiência em tecnologia de defesa. Também pode atrasar a inovação tecnológica indiana necessária para produzir a AMCA de forma independente.
Cooperação de Defesa Índia-Rússia
A possível aquisição do Su-57 pode fortalecer os laços de defesa com a Rússia, as condições impostas ao acordo podem impactar a autonomia estratégica da Índia. Essas condições podem restringir a personalização da aeronave de acordo com suas necessidades específicas.
Além disso, a Índia continuaria dependente da Rússia para atualizações de software, manutenção e upgrades futuros, potencialmente limitando sua flexibilidade estratégica. Isso poderia dificultar o desejo da Índia por maior controle sobre seus ativos aéreos, uma razão fundamental para buscar o programa AMCA em primeiro lugar.
A decisão dependerá do equilíbrio entre o desejo de capacidades operacionais imediatas e objetivos estratégicos de longo prazo de autossuficiência e independência tecnológica.
Desafios e preocupações
O Su-57 é uma plataforma de alto custo com despesas significativas de aquisição e ciclo de vida. Custo e acessibilidade são fatores essenciais no processo de tomada de decisão. As características de desempenho reivindicadas teriam que ser avaliadas e comparadas a outras plataformas existentes, especialmente com os adversários.
A insistência da Índia na transferência total de tecnologia é crítica em aquisições de defesa. A disposição da Rússia em compartilhar tecnologias-chave influenciará significativamente o processo de tomada de decisão da Índia, especialmente dado o foco da Índia em aprimorar sua indústria de defesa doméstica por meio de iniciativas como “Make in India”.
A potencial aquisição do Su-57 a é uma questão complexa com implicações de longo alcance. Ela envolve avaliações técnicas, considerações estratégicas e implicações geopolíticas. Embora o Su-57 ofereça capacidades significativas que podem reforçar a força aérea da Índia, preocupações não resolvidas sobre furtividade, desempenho do motor e transferência de tecnologia continuam sendo barreiras para tal negócio.
Além disso, o cenário geopolítico, particularmente o risco de sanções dos EUA, adiciona uma camada de complexidade à decisão, embora recentemente a Índia tenha adquirido material militar russo. Em última análise, a escolha da Índia refletirá sua estratégia de defesa mais ampla, equilibrando as necessidades imediatas de segurança com sua visão de longo prazo para autonomia tecnológica e influência regional.
Para a Índia, a aquisição do Felon representa uma solução a curto prazo para dotar sua Força Aérea com uma plataforma de combate de quinta geração visando contrapor às ameaças da China e do Paquistão. Outro ganho que a índia teria adquirindo o Su-57 é a sinergia operacional e a estrutura da HAL que a atual frota de aviões Sukhoi Su-30MKI Flanker-H oferece em termos de manutenção e logística visto que ambos são desenvolvidos pela Sukhoi. Isso economizaria tempo e recursos facilitando a integração do Su-57 na frota indiana.

Linha de produção Hindustan Aeronautics Limited (HAL) para fabricação Sukhoi Su-30MKI Flanker-H em Nasik . Essa linha de produção poderia ser aproveitada para uma iniciativa do Su-57.