Mudanças no orçamento de defesa dos Estados Unidos para 2025

E.M.Pinto


O segundo mandato do Presidente Donald Trump trará mudanças significativas no orçamento de defesa dos EUA, com sinais iniciais apontando para possíveis aumentos em setores críticos.
Embora existam algumas incertezas quanto a extensão e o foco desses incrementos devido às divisões internas dentro do próprio Partido Republicano e da base de apoio de Donald Trump.

Os rumos a serem seguidos quanto ao orçamento provavelmente dependerão das nomeações e posições chave nas lideranças e na cúpula do núcleo duro do novo governo dos Estados Unidos.
Porém, as “finanças” podem ter um peso imperativo nestas decisões uma vez que o equilíbrio entre as preocupações orçamentárias internas e os compromissos internacionais de defesa precisam caminhar lado a lado com as suas respectivas exequibilidades.

Durante seu primeiro mandato, Trump aumentou os gastos com defesa em aproximadamente US$ 225 bilhões além das previsões da administração anterior do Presidente Barak Hussain Obama. Para este novo mandato é esperado que Trump repita a dose e proponha aumentos semelhantes.

Trump possui apoio para isso na sua base política e de quebra, obteve liderança dos republicanos controlando o Senado, onde o senador Roger Wicker, um defensor ferrenho da defesa,  lidera convenientemente o Comitê de Serviços da defesa.

Wicker publicamente já defendeu mais verbas para defesa e provavelmente continuará a pressionar por aumentos substanciais no orçamento em setores críticos como dissuasão nuclear, defesa aeroespacial, operações de inteligência e novas tecnologias, cibersegurança, tecnologias avançadas (como inteligência artificial e armas hipersônicas) e na modernização de forças militares. Entretanto, diferentemente dos anos anteriores, o Partido Republicano não possui mais uma postura unificada em relação aos gastos com defesa e se divide em pelo menos três grandes grupos.

O primeiro deles responde pelo núcleo de apoiadores defensores Tradicionais da Defesa cuja liderança transita livremente pelos corredores do Pentágono e se trata de ninguém menos que o ex-secretário de Estado Mike Pompeo, que reforça a tese de um inevitável aumento na defesa se suas vontades foram atendidas.

Porém, um segundo grupo é radicalmente contra esta ideia e conta com apoiadores de sociedades civis como House Freedom Caucus que em suma, priorizam a redução dos gastos totais do governo e podem resistir a aumentos no orçamento de defesa.

Um terceiro grupo de republicanos mais próximo a Trump, jura lealdade ao lema “America first” e está representado por figuras como o ex-secretário de Defesa interino de Trump, Chris Miller. Ressalta-se que estes são cautelosos em relação à presença militar global dos EUA e podem preferir reduzir alguns compromissos internacionais como a presença militar dos Estados Unidos nos quatro cantos do Mundo e que podem alternativamente contrabalançar os seus poderes a partir de saídas diplomáticas negociadas.

Alguns analistas julgam que conflitos na europa e oriente médio podem vir a ser “negociados” com retiradas estratégicas da “presença” americana em detrimento de um reforço significativo às suas estruturas de defesa interna.

Especialmente sobre este último grupo, não é despercebido o impacto que podem causar na ajuda de segurança para a Ucrânia e outros aliados. Durante sua campanha, Trump demonstrou interesse em encerrar a guerra com a Rússia sem especificar os termos, o que pode levar a uma redução no auxílio à Ucrânia.

Por outro lado, o apoio a Taiwan e Israel provavelmente continuará e podem ser intensificados ao contrário dos pacotes adicionais de ajuda para a Ucrânia, que podem enfrentar cortes substanciais, o que pode afetar as empresas de defesa dos EUA que aumentaram a produção para atender às necessidades ucranianas.

O fato é que já se fala em nomeações de personas chaves para a escolha do Secretário de Defesa e do diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, e, apenas após as confirmações de seus nomes é que se terá uma direção mais clara para a estratégia de defesa de Trump. O diretor do Escritório de Gestão e Orçamento terá um papel fundamental na definição do orçamento e na definição de prioridades de gastos.

O gráfico a seguir ilustra a tendência de crescimento com picos e quedas influenciados por eventos internacionais e mudanças de políticas, como o aumento após o 11 de setembro e a redução com a Lei de Controle Orçamentário em 2011. O valor projetado para 2025, embora ainda não declarado é estimado em  cerca de $850 bilhões.

O orçamento, ajustado apresentou flutuações significativas ao longo dos anos devido a mudanças em políticas externas e a evolução de conflitos internacionais. O gráfico nos permite analisar os principais eventos históricos relacionados aos “altos” e “baixos” no orçamento de defesa dos EUA.

1980 a 1990

Reduções significativas ao final da Guerra Fria, acompanhadas por um aumento nos anos 80 com a administração Reagan.

2000 a 2010

Aumento nos gastos devido à “Guerra ao Terror”, com picos em 2010 durante operações no Oriente Médio.

2011 a 2021

Observou-se reduções influenciadas pela Lei de Controle Orçamentário de 2011, que limitou despesas militares até 2021.

2022 a 2024

Nesta era recente um novo aumento no orçamento de 2024 o elevou aos impressionantes de $841 bilhões, impulsionado por tensões com China e Rússia e aumento de apoio a aliados como Ucrânia.

2025

Para este ano é estimado um orçamento superior à $850 bilhões, refletindo a continuidade das prioridades estratégicas dos EUA. Esses dados foram computados dos relatórios do Departamento de Defesa dos EUA e análises de USAFacts e do Center for Strategic and International Studies (CSIS) e por eles ressalta-se que o aumento do orçamento de defesa dos Estados Unidos tem sido historicamente relacionado a percepções de ameaças e ou ações militares em novos conflitos, com picos que correspondem ao início ou intensificação de conflitos.
Ao traçar este paralelo pode-se concluir que a expectativa do preparo para um conflito maior não pode ser descartado como hipótese. Os eventos dos últimos 40 anos, demonstram isso, e podem ser significativos para os conflitos ou mudanças de posturas estratégicas dos EUA.

Período Conflitos/Iniciativas de Segurança Aumento do Orçamento de Defesa Contexto
Anos 1980 Guerra Fria (Início da administração Reagan) Grande aumento nas despesas militares O governo Reagan implementou a Doutrina Reagan e a Iniciativa de Defesa Estratégica (“Star Wars”) para confrontar a influência soviética em regiões como América Central, Oriente Médio e Afeganistão.
1990-1991 Guerra do Golfo (Operação Tempestade no Deserto) Picos de investimento no início da década O aumento foi uma resposta à invasão do Kuwait pelo Iraque. A coalizão liderada pelos EUA mobilizou recursos para proteger interesses no Golfo Pérsico e garantir o acesso ao petróleo.
Anos 2000 Guerra ao Terror (Afeganistão e Iraque) Enorme aumento após 2001 Após os ataques de 11 de setembro de 2001, houve um aumento drástico no orçamento de defesa para combater o terrorismo globalmente. As invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003) demandaram longas campanhas militares e gastos elevados.
Anos 2010 Conflitos na Síria, Líbia e África, Combate ao Estado Islâmico Orçamento crescente até meados da década, então declínio gradual O foco dos EUA estava em combater o extremismo no Oriente Médio, com operações limitadas na Síria e Iraque e apoio a aliados regionais. A administração Obama buscou um “pivô” para a Ásia, mas continuou com alta presença militar no Oriente Médio.
Fim dos Anos 2010 e Anos 2020 Competição com China e Rússia, Guerra na Ucrânia (apoio indireto) Aumento após 2018 A nova postura de defesa dos EUA enfatizou a competição estratégica com a China e a Rússia, vistas como ameaças crescentes. Desde 2022, os EUA têm aumentado o orçamento para apoiar a Ucrânia e fortalecer a OTAN em resposta à invasão russa.
Portanto, cientes de que a  política externa e a defesa dos EUA caminham lado buscam manter a hegemonia em um cenário global cada vez mais complexo, é possível estimar que os gastos militares dos Estados Unidos se direcionem para ações mais contudentes no exterior ao passo que devam reforçar a defesa interna.
estima-se que o reforço nas alianças na Ásia-Pacífico, e presença no Oriente Médio sejam os pontos centrais das políticas externas de Donald Trump no seu mandato 2.0, seguidos da Europa e Ásia e por último, o seu entorno na América. Isto certamente isso moverá a “máquina dos conflitos” pelo planeta, direcionando-os para outros focos no complexo e emergente mundo multipolar.

Office of the Under Secretary of Defense

USAFacts


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EDILSON PINTO
EDITOR CHEFE


Graduado em Física pela UNESP-Bauru, Mestrado em Física pelo IFGW UNICAMP e Doutorado em Engenharia de Materiais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Edilson Pinto é pesquisador e diretor de projetos na SinTech Innovation. É Pesquisador no campo dos Bio Materiais, materiais nanoestruturados, modificações de superfícies, polímeros condutores, sensores para eletroanálise e corrosão metálica. Possui experiência internacional, em projetos de pesquisa. É Editor chefe e criador do Plano Brazil e Colaborador e analista dos canais Arte da Guerra e História Militar em Debate (HMD) e Falando de Guerra.

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