Guerra Assimétrica e Contra-Insurgência

E.M.Pinto


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Em um mundo onde os conflitos tradicionais entre grandes exércitos  são eventos cada vez mais raros, observa-se que o cenário de guerra se transformou radicalmente nas últimas décadas. Em parte devido ao fato da guerra assimétrica e a contra-insurgência se tornaram os principais marcos dos conflitos modernos.

Exemplos como a  geurara do Vietnã, a invasão soviética do Afeganistão, e as mais recentes intervenções no Iraque e no Afeganistão ilustram o valor de importância desse tema Superpotências militares se viram em apuros diante de forças militares reduzidas e consideradas desorganizadas, mas que selaram na história as suas vontades, cobrando um preço caro às nações que  as enfrentaram.

Esses dois tipos de guerra moldam o panorama global atual, onde a disparidade entre as forças envolvidas e a luta pelo apoio da população são elementos centrais.

O que é a Guerra Assimétrica?

A guerra assimétrica se refere a um conflito em que há um grande desequilíbrio de poder entre as forças beligerantes. De um lado, normalmente encontra-se um exército convencional com poderio militar superior, já do outro, encontram-se forças irregulares como guerrilhas, insurgentes ou grupos terroristas os quais, apesar de serem numericamente e tecnologicamente inferiores, utilizam táticas não convencionais capazes de fustigar os seus inimigos mais poderosos.

Um dos exemplos mais marcantes de guerra assimétrica foi a Guerra do Vietnã (1955-1975). De um lado, França e os Estados Unidos, com sua superioridade tecnológica, aviação e capacidade logística. Do outro, o Viet Cong, uma força militar menos tecnológica  que utilizava-se de táticas de emboscadas, sabotagem e conhecimento profundo do terreno. A tática do Viet Cong não era derrotar diretamente as forças americanas, mas desgastá-las psicologicamente, prolongando o conflito até que o apoio interno nos EUA se dissolvesse, o que acabou acontecendo.

No Afeganistão, a invasão soviética de 1979 também exemplificou essa dinâmica. As forças soviéticas, altamente mecanizadas e armadas, enfrentaram os Mujahidin, que empregavam táticas de guerrilha e utilizavam o terreno montanhoso do país para resistir ao invasor. A guerra durou quase uma década e terminou com a retirada soviética, um fracasso estratégico causado pela capacidade dos insurgentes de prolongar o conflito e drenar os recursos da União Soviética.

Contra-Insurgência: Ganhar Corações e Mentes

A contra-insurgência (COIN), por sua vez, é a resposta dos exércitos convencionais a essas forças insurgentes e irregulares. Trata-se de uma estratégia não apenas militar, mas também política, econômica e social, com o objetivo de minar o apoio dos insurgentes dentro da população civil. Em uma guerra de insurgência, é comum que as forças irregulares se escondam entre civis, tornando a diferenciação entre combatentes e não combatentes um desafio crucial.

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, as guerras no Iraque e no Afeganistão trouxeram à tona as dificuldades da contra-insurgência. As forças da coalizão liderada pelos EUA encontraram uma forte resistência de insurgentes que usavam explosivos improvisados (IEDs), emboscadas e ataques terroristas. Contudo, uma das principais lições aprendidas ao longo desses conflitos foi a importância de conquistar o apoio da população local, oferecendo segurança, reconstrução e serviços básicos.

No Afeganistão, especialmente, a operação de contra-insurgência incluiu medidas de construção de infraestruturas, assistência médica e programas educacionais, numa tentativa de ganhar os “corações e mentes” da população, separando os insurgentes talibãs de suas bases de apoio popular. No entanto, o sucesso da COIN depende não só das operações militares, mas também da estabilidade política e da confiança no governo local – fatores que muitas vezes faltaram nesses contextos.

O Conflito do Futuro

Hoje, a guerra assimétrica e a contra-insurgência moldam boa parte dos conflitos globais. Da luta contra o ISIS no Oriente Médio às insurgências na África, esses dois conceitos estão no centro das estratégias de combate. Embora a guerra assimétrica continue sendo uma maneira eficiente de forças irregulares enfrentarem potências militares, a contra-insurgência demonstra que o conflito moderno vai muito além das batalhas no campo: ele também é uma guerra de ideias, apoio popular e legitimidade política.

O equilíbrio delicado entre vencer militarmente e conquistar o apoio da população civil será cada vez mais decisivo para o resultado desses conflitos. Como demonstram os exemplos históricos, não basta ter superioridade militar; em uma guerra assimétrica, a verdadeira vitória muitas vezes depende da paciência, do suporte popular e da capacidade de construir paz em meio ao caos.

A guerra assimétrica e a contra-insurgência (COIN – Counter-Insurgency) são dois conceitos chave no estudo dos conflitos modernos, frequentemente inter-relacionados. Vou explicar os dois separadamente e destacar seus segmentos principais.

Guerra Assimétrica

A guerra assimétrica ocorre quando há uma disparidade significativa entre as capacidades e estratégias dos oponentes. Normalmente, ela se caracteriza pelo confronto entre um poder militar convencional (como um exército estatal) e forças irregulares ou não convencionais (como insurgentes, guerrilhas ou grupos terroristas). A parte mais fraca adota estratégias para superar a superioridade militar do oponente.

Segmentos principais da guerra assimétrica

Características Forças Regulares Forças Irregulares
Forças envolvidas Exércitos regulares com estruturas convencionais Grupos insurgentes, guerrilheiros, terroristas que usam táticas não convencionais
Tecnologia e armamento Superioridade tecnológica: tanques, aeronaves, satélites Armamentos simples, improvisados ou clandestinos, como dispositivos explosivos improvisados (IEDs)
Táticas Operações militares convencionais Emboscadas, sabotagem, terrorismo, guerrilha, propaganda e desinformação; misturam-se com civis para evitar confrontos diretos
Guerra psicológica e política Estratégias militares com foco na superioridade bélica Busca minar a vontade política do inimigo, utilizando propaganda, terrorismo e prolongamento do conflito para gerar desgaste
Terreno Operações em diversos terrenos, mas com limitações em áreas desconhecidas Vantagem no conhecimento do terreno local, como áreas urbanas densas, florestas ou montanhas

Contra-Insurgência (COIN)

A contra-insurgência é uma estratégia adotada por forças regulares para combater insurgências. Essas campanhas são conduzidas para derrotar uma revolta ou insurreição armada que visa desafiar a autoridade do governo estabelecido. A COIN busca não apenas derrotar militarmente os insurgentes, mas também ganhar o apoio da população.

Segmentos principais da contra-insurgência

As ditas “operações militares” envolvem ações diretas contra insurgentes através de operações táticas, incluindo combate direto, patrulhamento, e ataques a células ou bases insurgentes.

Um dos principais focos da COIN é proteger a população civil dos insurgentes, a fim de isolar os insurgentes de sua base de apoio. Isso pode incluir a criação de zonas seguras, patrulhamento em áreas urbanas e rurais, ou estabelecer postos avançados. Forças de contra-insurgência trabalham para restaurar a confiança da população no governo, assegurando a entrega de serviços essenciais (saúde, educação, infraestrutura). Governos locais são fortalecidos para preencher o vazio de poder e evitar que os insurgentes controlem as áreas.

  • Informações e inteligência, onde a coleta de inteligência, espionagem, e o uso de informantes locais são essenciais. Isso inclui o uso de tecnologia (drones, vigilância eletrônica) e fontes humanas para identificar e desmantelar células insurgentes.
  • Guerra psicológica e propaganda que é parte da COIN,  fundamental numa estratégia de comunicação para conquistar corações e mentes da população local, através de campanhas de mídia, propaganda, e disseminação de informações pró-governo.
  • Construção de confiança e legitimidade as operações COIN buscam ganhar a confiança da população, promovendo o Estado de direito, justiça, e políticas inclusivas. Isso envolve reduzir abusos, como corrupção e violência, por parte das forças governamentais.

Comparação Entre Guerra Assimétrica e COIN:

Características Guerra Assimétrica Contra-Insurgência (COIN)
Objetivo Derrubar um poder superior através de táticas irregulares. Restaurar o controle governamental e enfraquecer insurgências.
Táticas Guerrilha, emboscadas, terrorismo, sabotagem. Operações militares, proteção da população, ações de desenvolvimento.
Uso da População Muitas vezes se mistura com a população para ocultação. Busca ganhar apoio popular e separar os insurgentes da população.
Abordagem Estratégica Prolongar o conflito, desgaste psicológico do inimigo. Ganhar “corações e mentes”, restaurar serviços e legitimidade.
Tecnologia Simples, muitas vezes improvisada, IEDs. Avançada, com uso de vigilância, drones, e operações cibernéticas.

Ambas as estratégias desempenham papéis críticos nos conflitos contemporâneos, especialmente em áreas onde há uma combinação de guerra irregular, insurgências e intervenção de forças militares convencionais.

Com esse cenário, o futuro dos conflitos militares parece estar cada vez mais inserido em um contexto de guerras prolongadas, onde a habilidade de adaptação e a compreensão da dinâmica social serão tão importantes quanto o armamento empregado.


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EDILSON PINTO
EDITOR CHEFE


Graduado em Física pela UNESP-Bauru, Mestrado em Física pelo IFGW UNICAMP e Doutorado em Engenharia de Materiais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Edilson Pinto é pesquisador e diretor de projetos na SinTech Innovation. É Pesquisador no campo dos Bio Materiais, materiais nanoestruturados, modificações de superfícies, polímeros condutores, sensores para eletroanálise e corrosão metálica. Possui experiência internacional, em projetos de pesquisa. É Editor chefe e criador do Plano Brazil e Colaborador e analista dos canais Arte da Guerra e História Militar em Debate (HMD) e Falando de Guerra.

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