E.M.Pinto
As Tropas Aerotransportadas Russas, conhecidas como VDV (Vozdushno-Desantnye Voyska), têm uma história profundamente enraizada na era soviética, destacando-se como uma das forças mais icônicas e especializadas das Forças Armadas da Rússia. Com uma reputação de prontidão e mobilidade, a VDV é capaz de ser rapidamente destacada para operações em diversos teatros de combate.
As raízes das Tropas Aerotransportadas soviéticas remontam à década de 1930, quando a União Soviética começou a explorar o potencial das operações aerotransportadas. Em 2 de agosto de 1930, durante manobras militares em Voronezh, ocorreu o primeiro salto de paraquedistas na URSS, um evento considerado o nascimento das forças aerotransportadas soviéticas. Esse dia é até hoje celebrado como o Dia das Tropas Aerotransportadas na Rússia.
Veja também
Durante a Segunda Guerra Mundial, as forças aerotransportadas soviéticas (Vozdushno-desantnye voyska SSSR) participaram de operações decisivas na Frente Oriental, desempenhando um papel vital em várias ofensivas. Após a guerra, a experiência acumulada levou à reorganização e expansão dessas unidades.
Em 1946, as forças aerotransportadas sovieticas foram formalmente estabelecidas como uma força separada dentro do Exército Vermelho, reconhecendo seu papel estratégico. A criação da SSSR envolveu a fusão de unidades aerotransportadas da Força Aérea e do Exército. Divisões de infantaria de elite, especializadas em operações aéreas, foram incorporadas à nova estrutura, fortalecendo a capacidade operacional da SSSR.
Período Pós Soviético
Com o colapso da União Soviética em 1991, as forças armadas dos países que emergiram desse processo passaram por profundas transformações. Em 1992 foi oficialmente estabelecida a Vozdushno-desantnye voyska Rossii, VDV como parte das recém-formadas Forças Armadas da Federação Russa. A criação da VDV na Rússia pós-soviética marcou a continuidade da tradição militar soviética, ao mesmo tempo em que adaptava a força às novas realidades geopolíticas e estratégicas.
Em 5 de maio de 1992, em meio ao caos político e militar que marcou o fim da União Soviética, a Rússia estabeleceu oficialmente as Tropas Aerotransportadas Russas, conhecidas como VDV, cuja criação naquele momento refletiu não apenas a necessidade de reorganizar as forças armadas de uma nova nação, mas também o desejo de preservar uma das tradições militares mais respeitadas da era soviética.
A dissolução da União Soviética em dezembro de 1991 deixou a Rússia em uma situação de grande incerteza. O colapso do bloco soviético e o surgimento de 15 novos estados independentes resultaram em uma crise econômica, política e social.
O Exército Vermelho, que até então era a força militar dominante na região, foi desmantelado, e os ativos militares foram distribuídos entre as novas repúblicas. A Rússia, herdeira mais poderosa do antigo império soviético, herdou a maior parte do armamento nuclear e do contingente militar, mas também enfrentou o desafio de redefinir suas forças armadas em um novo cenário global.
Foi nesse contexto de transformação que a Rússia, sob a liderança de Boris Yeltsin, decidiu criar a VDV. A força paraquedista, anteriormente parte integral do Exército Vermelho, foi reestruturada como uma unidade independente dentro das Forças Armadas Russas.
A VDV herdou o legado de operações aerotransportadas que haviam sido altamente valorizadas durante a era soviética, incluindo sua participação em intervenções no Afeganistão, na Hungria e na Tchecoslováquia.
A criação da VDV também foi uma tentativa de manter a coesão e o moral das tropas em um período de grande instabilidade. A Rússia, enfrentando desafios econômicos sem precedentes e uma crise de identidade nacional, precisava de forças armadas que pudessem rapidamente responder a crises internas e externas.
A VDV, com sua mobilidade e capacidade de intervenção rápida, parecia ser a solução ideal para um país que buscava afirmar seu poder e influência na nova ordem mundial pós-soviética.
Desde sua criação, a VDV tornou-se um dos principais símbolos da força militar russa, conhecida por sua disciplina rigorosa, treinamento físico intenso e por operar nas condições mais adversas. A força foi concebida não apenas como uma unidade de combate de elite, mas também como uma ferramenta para operações de paz, intervenções rápidas em conflitos regionais e, quando necessário, para suprimir insurreições internas.
Ordem de batalha
Simbologia
Nos anos seguintes, a VDV desempenhou um papel crucial em várias operações militares, incluindo as guerras na Chechênia e, mais recentemente, intervenções na Geórgia, Síria e Ucrânia.
A criação da VDV em 1992 marcou o início de uma nova era para as forças armadas russas, que se reorganizaram para enfrentar os desafios de um mundo pós-Guerra Fria, mantendo ao mesmo tempo o legado militar da antiga União Soviética.
Desde o colapso da União Soviética em 1991, as Tropas Aerotransportadas Russas (VDV) passaram por uma série de reestruturações e expansões significativas que redefiniram seu papel dentro das Forças Armadas da Rússia.
Desde a sua criação, a VDV enfrentou o desafio de se adaptar a um novo cenário geopolítico e militar, ao mesmo tempo em que buscava preservar sua herança como uma força de elite aerotransportada.
Anos 1990: Reestruturação em Tempos de Crise
Após a dissolução da URSS, a Rússia herdou a maior parte das unidades da “antiga” VDV. No entanto, o início daquela década foi marcado por crises econômicas e políticas que afetaram gravemente as capacidades militares do país. A VDV, como outras partes das forças armadas, enfrentou cortes orçamentários severos, levando à redução de seu efetivo de cerca de 80mil para 35 mil homens e à obsolescência de parte de seu equipamento. Contudo, a importância estratégica da VDV manteve-a como uma prioridade para a liderança militar russa.
Durante as guerras da Chechênia, a VDV começou a reavaliar suas capacidades, percebendo a necessidade de modernização e expansão para enfrentar conflitos assimétricos. O desempenho dessas tropas em combates intensos nas montanhas do Cáucaso expôs tanto suas fortalezas quanto suas vulnerabilidades, catalisando mudanças internas.
Anos 2000: Modernização e Expansão
Com a chegada de Vladimir Putin ao poder, no final dos anos 1990, a Rússia começou a investir na modernização de suas forças armadas, e a VDV foi uma das principais beneficiárias desse processo. Durante a Segunda Guerra da Chechênia, as tropas aerotransportadas foram reorganizadas e melhor equipadas, recebendo novos veículos blindados, armamentos e sistemas de comunicação.
A década de 2000 também viu a VDV envolvida em operações fora das fronteiras russas, como a Guerra Russo-Georgiana de 2008, onde a necessidade de uma força de resposta rápida tornou-se evidente. A participação da VDV neste conflito demonstrou sua capacidade de adaptação e a necessidade contínua de modernização, levando a novos investimentos em tecnologia e treinamento.
Anos 2010: Reforço da Capacidade Expedicionária
A partir de 2010, a VDV passou por uma nova fase de expansão e reestruturação, impulsionada por um crescente foco do Kremlin em projetar poder além de suas fronteiras imediatas. A anexação da Crimeia em 2014 e o subsequente conflito no leste da Ucrânia marcaram um ponto de virada para a VDV. Essas operações revelaram a importância das tropas aerotransportadas em operações híbridas, onde a rapidez na ocupação de territórios estratégicos e a capacidade de mobilização rápida eram cruciais.
Além disso, a VDV foi envolvida na intervenção russa na Guerra Civil Síria, onde desempenhou funções críticas na proteção de bases e na condução de operações especiais. Essas missões expuseram a necessidade desta força em manter-se robusta e bem equipada, capaz de operar em diferentes teatros de guerra.
Anos 2020: Expansão e Desafios Contemporâneos
Na década de 2020, a VDV continuou a se expandir e modernizar, alinhando-se às novas diretrizes estratégicas da Rússia. A invasão da Ucrânia em 2022 foi um teste de fogo, e ela foi uma das primeiras unidades a ser mobilizada. O conflito expôs a necessidade de adaptar ainda mais a VDV às demandas de guerras prolongadas e de alta intensidade, levando à introdução de veículos mais pesados e sistemas de artilharia avançados.
Unidades da VDV
Unidade | Localização | Unidade |
Comando das Forças Aerotransportadas | Moscovo | – |
38ª Brigada de Comando e Controle da Guarda | Shchyolkovo, Oblast de Moscovo | 54164 |
150º Batalhão de Reparo e Revisão | Orekhovo-Zuyevo, Oblast de Moscovo | – |
Escola Superior de Comando Aerotransportado da Guarda de Ryazan | Ryazan, Oblast de Ryazan | – |
Escola Militar Suvorov de Ulyanovsk da Guarda | Ulyanovsk, Oblast de Ulyanovsk | – |
242º Centro de Treinamento | Omsk, Oblast de Omsk | – |
Corpo de Cadetes de Omsk | Omsk, Oblast de Omsk | – |
Centro de Treinamento Especializado em Paraquedismo |
Ryazan, Oblast de Ryazan | 309º |
7ª Divisão de Assalto Aéreo Montanhês da Guarda | Novorossiysk, Krai de Krasnodar | 61756 |
56º Regimento de Assalto Aéreo da Guarda | Novorossiysk, Krai de Krasnodar | 42091 |
108º Regimento de Assalto Aéreo Cossaco da Guarda |
Feodosia, Crimeia | 54801 |
247º Regimento de Assalto Aéreo da Guarda | Stavropol, Krai de Krasnodar | 40515 |
1141º Regimento de Artilharia da Guarda | Novorossiysk, Krai de Krasnodar | 94021 |
3º Regimento de Mísseis Antiaéreos da Guarda | Novorossiysk, Krai de Krasnodar | – |
44ª Divisão de Assalto Aéreo | Zaparozhye, Oblast de Zaparozhye | 7264 |
111º Regimento de Fuzileiros Motorizados | – | 32515 |
387º Regimento de Fuzileiros Motorizados | – | 74268 |
76ª Divisão de Assalto Aéreo da Guarda | Pskov, Oblast de Pskov | 7264 |
104º Regimento de Assalto Aéreo da Guarda | Pskov, Oblast de Pskov | 32515 |
234º Regimento de Assalto Aéreo da Guarda | Cheryokha, Oblast de Pskov | 12865 |
237º Regimento de Assalto Aéreo da Guarda | Pskov, Oblast de Pskov | 45377 |
1140º Regimento de Artilharia da Guarda | Pskov, Oblast de Pskov | – |
4º Regimento de Mísseis Antiaéreos da Guarda | Pskov, Oblast de Pskov | – |
98ª Divisão Aerotransportada da Guarda | Ivanovo, Oblast de Ivanovo | 65451 |
217º Regimento Aerotransportado da Guarda | Ivanovo, Oblast de Ivanovo | 62295 |
299º Regimento Aerotransportado da Guarda | Kostroma, Oblast de Kostroma | 71211 |
331º Regimento Aerotransportado da Guarda | Kostroma, Oblast de Kostroma | 62297 |
106ª Divisão Aerotransportada da Guarda | Tula, Oblast de Tula | 55599 |
51º Regimento Aerotransportado da Guarda | Tula, Oblast de Tula | 33842 |
119º Regimento Aerotransportado da Guarda | Ryazan, Oblast de Ryazan | 41450 |
137º Regimento Aerotransportado da Guarda | Naro-Fominsk, Oblast de Moscovo | 93723 |
1182º Regimento de Artilharia da Guarda | Naro-Fominsk, Oblast de Moscovo | 71298 |
1º Regimento de Mísseis Antiaéreos da Guarda | – | – |
11ª Brigada de Assalto Aéreo da Guarda | Ulan-Ude, Buriátia | 32364 |
45ª Brigada de Spetsnaz da Guarda | Kubinka, Oblast de Moscovo | 28337 |
49ª Brigada de Assalto Aéreo Separada | – | – |
52ª Brigada de Artilharia | – | – |
83ª Brigada Aerotransportada da Guarda | Ussuriysk, Krai de Primorsky | 71289 |
Principais atuações
As Tropas Aerotransportadas Russas (VDV) têm desempenhado papéis decisivos em diversos conflitos e intervenções militares ao longo das últimas décadas. Sua participação em operações chave demonstra a importância estratégica dessas unidades no contexto das forças armadas russas.
Primeira Guerra da Chechênia (1994-1996)
A VDV esteve intensamente envolvida na Primeira Guerra da Chechênia, que começou em dezembro de 1994. Suas tropas foram enviadas para capturar Grozny, a capital chechena, enfrentando uma resistência feroz. Em janeiro de 1995, a VDV participou da notória Batalha de Grozny, resultando em pesadas baixas. A ofensiva russa começou em dezembro de 1994, com a VDV desempenhando um papel central na captura de Grozny.
Segunda Guerra da Chechênia (1999-2000)
Durante a Segunda Guerra da Chechênia, a VDV voltou a desempenhar um papel central. A operação começou em agosto de 1999 com uma ofensiva terrestre para retomar o controle da Chechênia. Em fevereiro de 2000, as forças da VDV participaram da tomada de Grozny, enfrentando combates urbanos intensos.
Guerra Russo-Georgiana (2008)
Em agosto de 2008, a VDV desempenhou um papel crucial na Guerra Russo-Georgiana, especialmente na invasão da Ossétia do Sul e da Abecásia. Unidades da força foram utilizadas para garantir pontos estratégicos, como a cidade de Tskhinvali, e participaram de ataques contra posições georgianas. O conflito começou em 7 de agosto de 2008, e a VDV esteve envolvida desde o início até o cessar-fogo em 12 de agosto do mesmo ano.
Guerra Russo-Ucraniana e Crise da Crimeia (2014)
A VDV desempenhou um papel fundamental na anexação da Crimeia em fevereiro-março de 2014. Tropas aerotransportadas ocuparam aeroportos e instalações estratégicas na península, facilitando a rápida anexação pela Rússia. A partir de abril de 2014, a força esteve envolvida em operações clandestinas durante a Guerra em Donbas, apoiando separatistas pró-russos.
Guerra em Donbas (2014-presente)
Desde 2014, a força tem desempenhado um papel contínuo e crucial no conflito em Donbas, apoiando forças separatistas e participando de operações clandestinas para manter a influência russa na região. A participação da VDV tem sido particularmente notável nas áreas de Donetsk e Lugansk.
Guerra Civil Síria e Intervenção Militar Russa (2015-presente)
Na intervenção militar russa na Síria, que começou em setembro de 2015, a VDV desempenhou um papel estratégico. Embora as operações aerotransportadas tradicionais fossem limitadas, tropas da VDV foram enviadas para proteger bases russas e participar de operações especiais em apoio ao governo sírio. A participação da VDV continua, com missões focadas na segurança e em operações táticas desde 2015.
Invasão da Ucrânia pela Rússia (2022)
A VDV foi uma das primeiras unidades a ser mobilizada durante a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022. As tropas da VDV participaram de operações iniciais para capturar o aeroporto de Hostomel, perto de Kiev, com o objetivo de abrir uma rota para a capital. Em março de 2022, a VDV esteve envolvida em combates intensos em várias frentes, incluindo Kharkiv e Mariupol.
De todas as operações recentes no conflito Russo-Ucraniano, a operação de tomada e retirada de Hostomel é sem dúvida o mais emblemático e requer reflexões mais profundas, a chamada “batalha de Hostomel ” trouxe a tona inúmeros feitos positivos, mas também demonstrou fraquezas e deficiências sensíveis para a força.
A Batalha de Hostomel (2022)
A Batalha do Aeroporto Antonov, também conhecida como a “batalha do Aeroporto de Hostomel”, foi um confronto militar que ocorreu no Aeroporto Antonov em Hostomel, na região de Kyiv, durante a ofensiva russa na Ucrânia.
Em 24 de fevereiro de 2022, poucas horas após o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar o início da “operação militar especial” na Ucrânia, tropas da VDV realizaram um ataque aéreo ao Aeroporto Antonov com o objetivo de capturá-lo.
O aeroporto tinha valor estratégico, pois estava localizado a menos de 10km da capital, Kiev, o que permitiria às tropas russas transportar mais soldados e equipamentos pesados para então lançar um ataque diretamente à cidade. No entanto, as forças ucranianas responderam com um contra-ataque, cercando as tropas russas sem apoio e repelindo o ataque inicial.
Antes da invasão russa da Ucrânia, a CIA e o MI6 alertaram a liderança ucraniana sobre planos russos de capturar o Aeroporto Antonov em Hostomel para então estabelecer uma ponte aérea e rapidamente tomar a capital. O aviso permitiu que as forças ucranianas se preparassem para o ataque, embora o aeroporto estivesse inicialmente defendido por apenas 300 soldados da Guarda Nacional. A liderança da Empresa Estatal Antonov dificultou a entrada das tropas, que só conseguiram guarnecer o aeroporto em 23 de fevereiro de 2022, um dia antes do início da invasão.
O ataque foi retomado no dia seguinte com outro assalto aéreo da VDV, combinado com um ataque terrestre de reforços blindados vindos da fronteira bielorrussa, rompendo as defesas ucranianas. O aeroporto foi então capturado pelas forças russas. Apesar disso, a inesperada resistência ucraniana frustrou os planos de uma rápida capitulação de Kiev, e o aeroporto ficou muito danificado para ser utilizado como uma pista de pouso funcional.
Na manhã de 24 de fevereiro de 2022, uma formação de 20 a 34 helicópteros russos, incluindo Mi-8 e Ka-52, atacou o Aeroporto Antonov em Hostomel, com o objetivo de estabelecer uma ponte aérea transportando centenas de paraquedistas da 11ª e 31ª Brigadas de Assalto Aéreo da Guarda, os helicópteros russos foram atacados por forças ucranianas ao sobrevoarem o rio Dnieper, com algumas aeronaves sendo abatidas onde avaliam-se que cerca de três Mi-8 abatidos e um Ka-52 destruído.
Apesar das pesadas baixas, os russos conseguiram desembarcar em Hostomel, utilizando foguetes para atacar o aeroporto. Embora algumas defesas aéreas ucranianas tenham sido destruídas, a resistência ao redor do aeroporto permaneceu robusta, frustrando os esforços russos para enfraquecer completamente as defesas antes do desembarque das tropas.
Após desembarcarem no Aeroporto Antonov, as unidades aerotransportadas russas enfrentaram uma guarnição ucraniana que conseguiu abater um helicóptero russo com um 9K38 Igla, elevando a moral das tropas. Com o aumento da intensidade dos combates, as defesas aéreas ucranianas se tornaram mais eficazes, forçando o comandante russo, Capitão Ivan Boldyrev, a fazer um pouso de emergência. Mesmo assim, as forças russas dominaram o aeroporto, preparando-se para a chegada de reforços que segundo fontes ocidentais contavam com cerca de 18 aviões Il-76.
Após superar a resistência inicial ucraniana, os paraquedistas russos enfrentaram ataques de civis armados e bombardeios pesados da artilharia ucraniana. Reconhecendo o perigo, o general Valery Zaluzhny ordenou um contra-ataque pela 72ª Brigada Mecanizada, com apoio aéreo da 4ª Brigada de Reação Rápida. Sem veículos blindados, as forças russas dependiam do apoio aéreo, mas foram bombardeadas, impedindo a chegada de reforços. Sob forte ataque, as tropas russas recuaram, e os ucranianos reivindicaram a retomada do aeroporto por volta das 13h30, com combates ainda ocorrendo enquanto as forças russas se retiravam para a floresta.
O contra-ataque ucraniano foi eficaz em “neutralizar” a ponte aérea russa e impedir um rápido avanço sobre Kiev. Especialmente a falha do Il-7s em entregar os reforços russos forçou os militares russos a adotar um plano alternativo. As forças terrestres russas na Bielorrússia foram ordenadas a avançar em Kiev por meio de Chernihiv e Hostomel. Embora as forças ucranianas tenham resistido bem no primeiro dia da invasão, o Aeroporto Antonov permaneceu uma zona de combate em disputa.
Em 2 de abril, a Ucrânia restaurou o controle do aeroporto após a retirada russa da região de Kiev o aeroporto que abrigava o único Antonov An-225 Mriya (o maior transportador do mundo) o qual foi severamente danificado de forma irreversível devido ao embate das forças de artilharia ucranianas enquanto atacavam as tropas russas em solo.
Efetivo e Equipamentos
Estima-se que a VDV conte atualmente com um efetivo de aproximadamente 45000 a 50000 soldados, incluindo tropas de combate, apoio, logística e unidades de comando. O aparato militar também congrega uma gama enorme de veículos das mais diferentes funções e capacidades e um vasto arsenal de veículos e drones para operações táticas e estratégicas.
O inventário inclui mais de 1800 veículos de combate blindados, como os BMD-1 (reserva), 2, 3 e BMD-4, com capacidade anfíbia. Além disso, a frota conta com 150 tanques T-72B3, modernizados com sistemas de controle Andromeda e alguns com defesas contra ataques superiores. Em 2023, tanques T-90M também foram integrados às unidades da VDV.
Os veículos BTR-D, derivados do BMD-1, são utilizados como transportadores de tropas e base para versões especializadas, incluindo versões anti-tanque e de comando. A VDV começou a substituir o BTR-D pelo novo APC BTR-MD “Rakushka”. Além disso, a VDV tem recebido veículos como os GAZ-233036 Tigr e os Kamaz Typhoon, adaptados para as necessidades das tropas aerotransportadas.
Confira a lista de veículos e drones no vídeo especial clicando na imagem
No que diz respeito à artilharia, as forças operam o 2S9 Nona e a versão modernizada 2S9M, bem como o Sprut-SD de 125 mm, um canhão anti-tanque autopropulsado. O sistema TOS-1A, um lançador de foguetes termobáricos, foi adicionado ao arsenal em 2022. Futuramente, a VDV receberá os sistemas de artilharia 2S36 Zauralets-D e 2S37, baseados no BMD-4.
Para operações em ambientes árticos, a VDV utiliza snowmobiles Berkyt e, em termos de veículos de reconhecimento, a força aérea conta com UAVs como o Orlan-10, Granat, Takhion, e drones kamikazes como o ZALA Lancet e Boomerang. O Albatross M5 é empregado para missões de reconhecimento. Além disso, sistemas de guerra eletrônica como o Infauna e o Leer-2 complementam as capacidades da VDV no campo de batalha moderno.
Essa vasta gama de veículos e drones permite à VDV manter uma força móvel e versátil, adaptada para enfrentar diversos tipos de ameaças e operações em diferentes terrenos e condições climáticas. A VDV também é equipada com veículos especiais de guerra eletrônica MANPADS 9K38 Igla, 9K35 Strela-10, 9K331M Tor-M2DT, e ZSU-23-4 “Shilka”.
A VDV continua a ser uma força fundamental nas operações militares russas, demonstrando sua capacidade de projeção rápida de poder e eficácia em combates intensos. A recente utilização das Tropas Aerotransportadas Russas (VDV) em conflitos, como na Chechênia e no atual conflito ucraniano, tem gerado controvérsia sobre a mudança de seu papel estratégico. Tradicionalmente desenvolvida para ser uma força leve e altamente móvel, a VDV foi concebida para realizar operações rápidas, com ênfase na surpresa e na capacidade de manobra. No entanto, evidências recentes apontam para uma transformação significativa dessa força, que agora está sendo empregada de maneira mais convencional, semelhante a brigadas mecanizadas e unidades de ocupação de áreas.
A Transformação Controversial da VDV
Durante a Primeira e Segunda Guerras da Chechênia, a VDV desempenhou um papel crucial, mas o desgaste prolongado e a natureza dos combates levaram à necessidade de maior poder de fogo e resistência. Essa necessidade marcou o início de uma mudança no equipamento e na doutrina da VDV, com a introdução de veículos mais pesados e sistemas de artilharia que começaram a alterar a natureza da força.
Essa transformação foi ampliada no conflito ucraniano, onde a VDV tem sido frequentemente utilizada em operações que exigem não apenas mobilidade, mas também a capacidade de manter posições e enfrentar forças inimigas equipadas com armamento pesado. A adoção de carros de combate como o T-72BM3 e o T-90M, além de sistemas de artilharia mais pesados, como os canhões D-30, reflete essa nova realidade.
Os críticos apontam que essa evolução compromete um dos principais atributos da VDV, sua mobilidade. Com a introdução de veículos mais blindados e, portanto, mais pesados, a VDV perdeu parte de sua agilidade e capacidade de se deslocar rapidamente pelo campo de batalha. O uso desses veículos, adequados para operações mecanizadas, é visto como uma contradição à doutrina original da força, que valorizava a leveza e a rapidez de movimentação sobre o terreno.
Outro aspecto polêmico é o emprego da VDV como força de ocupação. Em vez de realizar ataques rápidos e retiradas estratégicas, como tradicionalmente treinado, a VDV tem sido utilizada para manter e controlar áreas, especialmente em territórios ocupados. Isso não só aumenta a exposição das tropas a operações prolongadas e intensas, mas também reforça a percepção de que a VDV está sendo moldada para tarefas que fogem de sua concepção inicial.
Essa mudança de função pode ter implicações estratégicas significativas. A VDV, ao ser equipada com armamento mais pesado, e alterando a natireza de sua operação torna-se mais vulnerável a contra-ataques, especialmente em operações prolongadas onde a logística e o suporte se tornam mais complexos. A controvérsia, portanto, não está apenas na mudança de equipamento, mas na adequação dessa nova configuração à missão tradicional da força.
A transformação da VDV, de uma força aerotransportada leve e ágil para uma unidade mecanizada e de ocupação, levanta questões sobre a eficácia e a viabilidade dessa estratégia em conflitos modernos. As adaptações podem ter dado à VDV maior poder de fogo e resistência, mas ao custo de sua mobilidade e flexibilidade, elementos que sempre foram centrais à sua doutrina operacional.
Dentre as críticas e falhas observadas em suas operações, a morte confirmada do major-general russo Andrei Sukhovetskiy, um paraquedista de elite, lança luz sobre as falhas na estratégia militar russa durante a guerra na Ucrânia.
Reconhecidos como uma força de elite e parte da Reserva do Alto Comando Supremo, os paraquedistas russos (VDV) são tradicionalmente vistos como tropas destinadas a liderar ofensivas, sendo lançados atrás das linhas inimigas para garantir o terreno até a chegada do restante do exército. No entanto, essa imagem heroica esconde uma realidade mais complexa.
Desde a Segunda Guerra Mundial, os paraquedistas russos foram lançados pelo ar em combate apenas três vezes: na Hungria em 1956, na então Tchecoslováquia durante a era soviética em 1968, e agora na Ucrânia em 2022. Em cada uma dessas ocasiões, a Rússia esperava pouca ou nenhuma resistência organizada. Na Ucrânia, porém, o cenário foi diferente, ao invés de enfrentar uma insurreição, como em intervenções anteriores, os paraquedistas russos encontraram um exército regular bem preparado, resultando em perdas pesadas.
O papel dos paraquedistas na doutrina militar russa revela-se, em grande parte, como uma ferramenta de repressão interna, projetada para suprimir motins e rebeliões, em vez de enfrentar forças militares regulares. Seu poder de fogo, inferior ao de unidades de infantaria regulares, os torna inadequados para combates intensos. O que realmente sustenta o status dos paraquedistas é uma operação psicológica (PsyOp) que projeta uma imagem de invencibilidade, apoiada por símbolos, músicas e uma mitologia construída em torno de sua força.
Na prática, essa força simbólica se mostrou insuficiente na Ucrânia. Quando Putin ordenou a invasão, acreditando estar reprimindo um motim, os paraquedistas foram enviados esperando uma rápida vitória. Contudo, a resistência ucraniana, tanto militar quanto civil, frustrou os planos russos, expondo as limitações de uma força construída mais para intimidar do que para lutar.
O fracasso russo na Ucrânia destaca o erro de subestimar o inimigo e confiar em uma força cuja eficácia é mais psicológica do que real. Ao ver seus planos iniciais fracassarem, o Kremlin intensificou os ataques, voltando-se para o bombardeio de alvos civis em um esforço desesperado para virar a maré da guerra. No entanto, o desgaste das forças russas e a inesperada resiliência ucraniana indicam que a operação especial russa, baseada em um mito militar, está longe de atingir seus objetivos.
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EDILSON MOURA PINTO
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Excelente Edilson!
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