E.M.Pinto
A retirada americana do Afeganistão em 2021 marcou o fim de uma presença militar de duas décadas. Este evento, caracterizado pela rápida tomada do poder pelo Talibã, evidenciou a fragilidade do governo afegão e gerou um êxodo em massa de cidadãos temerosos por suas vidas. A frase “Corram das montanhas, corram pelas suas vidas” reflete o desespero e a urgência que dominaram o cenário, enquanto afegãos buscavam escapar de uma realidade incerta e violenta. Este momento histórico sublinhou as complexidades e os desafios das intervenções estrangeiras em regiões de conflitos prolongados.
Assista também
Motivações para a Invasão do Afeganistão em 2001

World Trade Center em chamas após ataque
Contexto Histórico e Político
A invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e seus aliados em 2001 foi um evento marcante na história contemporânea, profundamente influenciado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Esses ataques foram realizados pela organização terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama bin Laden. Em 11 de setembro de 2001, quatro aviões comerciais foram sequestrados; dois foram lançados contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York, um atingiu o Pentágono em Washington, D.C., e o quarto caiu em um campo na Pensilvânia, após os passageiros tentarem retomar o controle do avião. Os ataques resultaram na morte de quase 3.000 pessoas e geraram uma resposta imediata do governo dos EUA, então liderado pelo presidente George W. Bush.
Os ataques de 11 de setembro foram rapidamente atribuídos à Al-Qaeda, que havia encontrado refúgio no Afeganistão sob o regime do Talibã. O Talibã, que governava o Afeganistão desde 1996, havia permitido que a Al-Qaeda operasse livremente dentro do país, utilizando-o como base para treinamento e planejamento de ataques terroristas. Imediatamente após os ataques, o governo Bush exigiu que o Talibã entregasse Osama bin Laden e desmantelasse os campos de treinamento da Al-Qaeda. Em 20 de setembro de 2001, em um discurso ao Congresso dos EUA, Bush delineou as exigências dos EUA e declarou a “Guerra ao Terror”, uma campanha global para erradicar o terrorismo.

“Os guerreiros da liberdade” Reagan recebe representantes do Talibã recebidos na casa branca. Armados e treinados pelos Esatados unidos para lutar contra a URSS.
As exigências dos EUA foram rejeitadas pelo Talibã, que se recusou a entregar Bin Laden ou fechar os campos de treinamento terrorista. Esta recusa solidificou a decisão dos EUA de iniciar uma ação militar. Em resposta à negativa do Talibã, o governo dos EUA começou a planejar uma invasão com o objetivo de desmantelar a Al-Qaeda e remover o Talibã do poder.
Por sua vez o planejamento da invasão envolveu uma coalizão internacional. Em 2 de outubro de 2001, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) invocou o Artigo 5 pela primeira vez na história, declarando que um ataque a um membro era um ataque a todos, o que garantiu o apoio dos aliados dos EUA. Autoridades-chave envolvidas no planejamento incluíam o presidente George W. Bush, o vice-presidente Dick Cheney, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, e o diretor da CIA George Tenet. O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, foi um dos principais aliados internacionais que apoiaram a intervenção.

No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Um F-15 Strike Eagle bombardeia caverna no leste do Afeganistão; Tropas americanas em tiroteio com insurgentes talibãs na província de Kunar; um soldado afegão vasculhando com binóculos em cima de um Humvee; Soldados afegãos e americanos movem-se pela neve na província de Logar; combatentes do Talibã vitoriosos depois de conquistar Cabul; um soldado afegão examinando um vale na província de Parwan; Tropas britânicas se preparando para embarcar em um CH-47 Chinook durante a Operação Black Prince
Em 7 de outubro de 2001, a Operação Enduring Freedom foi oficialmente lançada, marcando o início da invasão do Afeganistão. A campanha começou com ataques aéreos contra alvos do Talibã e da Al-Qaeda, seguidos por operações terrestres conduzidas por forças especiais americanas e da coalizão, incluindo tropas britânicas e forças da Aliança do Norte, um grupo de oposição afegão anti-Talibã. O objetivo imediato era desmantelar a infraestrutura terrorista e enfraquecer o controle do Talibã sobre o país.
Resultados
Após 20 anos de presença militar no Afeganistão, os EUA e o Reino Unido estão retirando suas tropas, marcando o fim de uma era iniciada após os ataques de 11 de Setembro de 2001. A operação visava inicialmente remover o Talibã do poder e expulsar a Al-Qaeda do país. Custos humanos foram elevados, com mais de 2,3 mil militares americanos e 450 britânicos mortos, além de um impacto devastador sobre os afegãos, com dezenas de milhares de mortes civis e militares.
Financeiramente, a guerra custou quase 1 trilhão de dólares aos contribuintes americanos. Embora tenha havido sucessos na desarticulação da Al-Qaeda e na prevenção de ataques internacionais a partir do Afeganistão, a situação interna permanece instável. O país continua enfrentando violência generalizada, com grupos como Al-Qaeda e Estado Islâmico ressurgindo.

Custo total da guerra
A retirada das forças internacionais levanta preocupações sobre o futuro do Afeganistão, especialmente em relação à segurança e ao ressurgimento do extremismo. O Talebã, apesar de derrotado inicialmente, ainda exerce influência significativa, e a capacidade futura de governar de maneira estável e impedir a reemergência de grupos terroristas permanece incerta. O legado da guerra é complexo, deixando questionamentos sobre o impacto a longo prazo das intervenções militares ocidentais em contextos geopolíticos desafiadores como o afegão.
- Foi instalado um governo provisório, seguido por eleições e a formação de um governo apoiado pelo Ocidente, com o objetivo de estabelecer uma democracia representativa e promover direitos humanos, especialmente para mulheres e minorias.
- Apesar da derrota inicial, o Talibã reagrupou-se e lançou uma insurgência prolongada contra o governo afegão apoiado pelo Ocidente e as forças da coalizão. Esta insurgência mostrou resiliência ao longo dos anos, desafiando continuamente as tentativas de estabilização e reconstrução.
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A guerra resultou em um alto custo humano para os civis afegãos, com milhares de vidas perdidas e milhões deslocados devido ao conflito. A situação humanitária no país permaneceu precária, com muitas pessoas dependentes de assistência internacional para necessidades básicas.
Os gastos militares associados à guerra no Afeganistão foram extremamente substanciais:
- Os EUA gastaram mais de 2 trilhões de dólares ao longo dos 20 anos de conflito. Esses custos incluem operações militares, reconstrução, ajuda humanitária, treinamento e equipamento das forças afegãs, além de despesas com veteranos e outras formas de apoio.
- Outros países da OTAN e aliados também contribuíram com recursos financeiros e tropas para apoiar as operações militares no Afeganistão, embora em uma escala muito menor em comparação com os EUA.
Início das Negociações de Paz com o Talibã
Desde a invasão do Afeganistão em 2001, os Estados Unidos estavam envolvidos em um conflito prolongado com o Talibã, buscando desmantelar redes terroristas e estabilizar o país. Ao longo dos anos, o conflito se arrastou, tornando-se a guerra mais longa da história dos EUA, com altos custos humanos e financeiros. Com a eleição de Donald Trump em 2016, houve uma mudança significativa na abordagem dos EUA em relação ao Afeganistão, focando em encontrar uma solução negociada para o conflito.
Em 2018, o governo Trump começou a buscar ativamente negociações de paz com o Talibã, sinalizando uma mudança da estratégia de combate para uma solução diplomática. Zalmay Khalilzad, um diplomata veterano, foi nomeado representante especial dos EUA para a reconciliação no Afeganistão em setembro de 2018, com a tarefa de liderar as negociações. O objetivo era alcançar um acordo que permitisse a retirada das tropas americanas, garantindo ao mesmo tempo que o Afeganistão não voltasse a ser um refúgio seguro para terroristas.
Pode-se dizer que as negociações de paz entre os Estados Unidos e o Talibã durante o governo de Donald Trump foram um esforço significativo para encerrar a longa guerra no Afeganistão. O Acordo de Doha de fevereiro de 2020 representou um marco importante nessas negociações, estabelecendo um roteiro para a retirada das tropas americanas e o início de um processo de paz intra-afegão. Apesar dos desafios subsequentes na implementação do acordo e na estabilidade do Afeganistão, as negociações e o acordo foram passos cruciais na tentativa de pôr fim a um conflito que durou quase duas décadas.
Eventos e Datas Importantes nas Negociações
Julho de 2018: As negociações preliminares entre os EUA e o Talibã começaram em Doha, Qatar, com o objetivo de explorar a possibilidade de um acordo de paz. Estes encontros iniciais estabeleceram as bases para negociações mais formais.
Setembro de 2018: Nomeação de Zalmay Khalilzad como representante especial dos EUA para a reconciliação no Afeganistão, marcando o início formal das negociações lideradas por ele.
Janeiro de 2019: As negociações de paz em Doha ganharam ritmo, com os EUA e o Talibã discutindo pontos-chave como a retirada das tropas americanas, um cessar-fogo e o compromisso do Talibã de impedir que o Afeganistão seja usado como base para ataques terroristas.
Agosto de 2019: Após várias rodadas de negociações, Khalilzad anunciou que um acordo em princípio havia sido alcançado, estabelecendo as bases para a assinatura de um acordo formal.
Acordo de Doha (Fevereiro de 2020)
O Acordo de Doha foi assinado em 29 de fevereiro de 2020, em Doha, Qatar, entre os Estados Unidos e o Talibã. Este acordo histórico marcou um passo significativo em direção ao fim do conflito no Afeganistão. Estavam presentes na cerimônia de assinatura Mike Pompeo, então Secretário de Estado dos EUA, e líderes do Talibã.
Principais Pontos do Acordo
Os Estados Unidos concordaram em reduzir suas forças militares no Afeganistão para 8.600 soldados dentro de 135 dias após a assinatura do acordo.
Todas as forças militares estrangeiras, incluindo tropas americanas, seriam retiradas do Afeganistão em um prazo de 14 meses, desde que
- Talibã cumprisse seus compromissos de segurança.
O Talibã prometeu não permitir que qualquer um de seus membros, outros indivíduos ou grupos, incluindo a Al-Qaeda, usassem o solo afegão para ameaçar a segurança dos Estados Unidos e seus aliados.
O Talibã concordou em iniciar negociações de paz intra-afegãs com o governo afegão e outros atores políticos afegãos.
Um cessar-fogo provisório seria implementado como parte do acordo, com a expectativa de negociações subsequentes para um cessar-fogo permanente durante as negociações intra-afegãs.
O acordo previa a libertação de até 5000 prisioneiros do Talibã e 1.000 prisioneiros do governo afegão como medida de confiança antes do início das negociações intra-afegãs.
O acordo incluía mecanismos para garantir a implementação e verificação dos compromissos por ambas as partes, com a participação da comunidade internacional.
Evolução Econômica e social do Afeganistão de 2020 a 2024
A evolução econômica e social do Afeganistão entre 2020 e 2024 foi marcada por uma série de desafios devastadores. A economia sofreu um golpe severo com a retirada das tropas americanas, a ascensão do Talibã, e o colapso da ajuda internacional. O IDH diminuiu devido à deterioração da infraestrutura de saúde e educação. O país enfrenta um futuro incerto, com uma necessidade urgente de soluções abrangentes para estabilizar a economia e melhorar as condições de vida de sua população.
PIB (Produto Interno Bruto)
2020: O PIB do Afeganistão era de aproximadamente 19,29 bilhões de dólares. Nesse ano, a economia foi duramente afetada pela pandemia da COVID-19 e pela instabilidade política crescente, com um crescimento negativo de cerca de -2.4% (Task & Purpose).
2021: Com a retirada das tropas americanas e a tomada do poder pelo Talibã, o PIB caiu drasticamente. Estima-se que a economia tenha encolhido cerca de 20% devido ao colapso da ajuda internacional e à fuga de capitais e de pessoas capacitadas (Task & Purpose) .
2022: O PIB continuou a enfrentar dificuldades, estimado em torno de 14,79 bilhões de dólares. A economia ainda estava se adaptando à nova realidade sob o regime do Talibã, com muitos setores críticos paralisados .
2023: Houve uma ligeira recuperação impulsionada por atividades informais e algum nível de ajuda humanitária limitada, com o PIB subindo para aproximadamente 15,22 bilhões de dólares. Contudo, o crescimento econômico permaneceu estagnado devido à falta de investimentos estrangeiros .
2024: As estimativas para 2024 indicam um PIB de cerca de 15,5 bilhões de dólares, refletindo uma recuperação mínima e contínua das atividades econômicas internas, mas ainda limitada pelo isolamento internacional e pelas sanções econômicas.
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
2020: O IDH do Afeganistão era de 0.511, colocando o país na categoria de desenvolvimento humano baixo. A expectativa de vida era de 64 anos, a média de anos de escolaridade era de 4,0 anos, e a renda per capita era extremamente baixa .
2021-2024: Com a deterioração das condições políticas e econômicas, o IDH do Afeganistão provavelmente caiu. A fuga de profissionais capacitados, o colapso da infraestrutura educacional e de saúde e a insegurança contínua contribuíram para a redução da qualidade de vida.
Fatores Econômicos
Agricultura: Continuou sendo um setor vital, mais vulnerável a choques climáticos e insegurança.
Ajuda Internacional: O corte abrupto da ajuda internacional após a tomada do poder pelo Talibã foi um golpe devastador para a economia.
Setor Informal: A economia informal cresceu à medida que as atividades formais diminuíram, com o mercado negro e a economia de subsistência se tornando mais prevalentes.
Sanções Econômicas: As sanções internacionais impactaram severamente a capacidade do Afeganistão de participar do comércio global e atrair investimentos.
Escolaridade
Taxa de Alfabetização: Antes da crise de 2021, a taxa de alfabetização estava aumentando lentamente, mas a insegurança e a fuga de professores reduziram a qualidade e o acesso à educação.
Infraestrutura Educacional: Muitas escolas foram fechadas ou destruídas, e a educação das meninas foi severamente restringida sob o regime Talibã.
Acesso à Educação: O número de crianças fora da escola aumentou, especialmente entre as meninas, devido a políticas restritivas e insegurança.
Após a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, houve uma preocupação significativa com os direitos das mulheres e meninas afegãs, especialmente em áreas controladas pelo Talibã. Houve relatos de restrições severas, como a imposição do uso obrigatório do véu, limitações ao trabalho e educação, além de relatos de violência e coerção. Muitas mulheres e meninas têm enfrentado dificuldades para continuar seus estudos ou trabalhar, com relatos de fuga e busca por refúgio em países vizinhos.
Essa situação trouxe à tona preocupações internacionais sobre a proteção dos direitos humanos, especialmente dos direitos das mulheres, conquistados ao longo das últimas décadas. Organizações internacionais, governos e ativistas têm pressionado por medidas para garantir a segurança e os direitos das mulheres afegãs em meio à instabilidade e mudanças políticas no país.
Êxodo afegão
A situação humanitária no Afeganistão atingiu níveis alarmantes, com metade de sua população enfrentando uma crise severa de fome. O colapso econômico abrupto do país no ano anterior exacerbou essa crise, com uma combinação devastadora de fatores, incluindo uma seca prolongada, aumento acentuado nos preços dos alimentos e uma significativa perda de empregos. Estima-se que cerca de 25 milhões de afegãos tenham sido empurrados para a pobreza como resultado direto dessas condições adversas, com mais da metade da população dependendo agora de assistência humanitária para simplesmente sobreviver.

Mapa da fome no Afeganistão pós retirada
A atual realidade econômica reflete um cenário onde três quartos da renda das pessoas são direcionados para a compra de alimentos básicos. Esta crise alimentar é ainda mais agravada pelo fato de que seis milhões de pessoas estão à beira da fome iminente, enquanto um milhão de crianças enfrentam desnutrição grave. Embora tenha sido possível evitar uma crise generalizada de fome no inverno passado, os preços dos alimentos continuam a aumentar, influenciados em parte pelo conflito na Ucrânia, enquanto a capacidade das famílias afegãs de gerar renda continua diminuindo.
A crise humanitária no Afeganistão está sendo exacerbada significativamente pela crise climática global. As mudanças climáticas têm intensificado a frequência e a gravidade de desastres naturais que impactam comunidades já devastadas por conflitos prolongados. Mesmo antes da recente mudança de poder político no país, uma severa seca já havia comprometido as colheitas e reduzido os níveis de água subterrânea, prejudicando severamente a segurança alimentar das populações locais.
Em 2022, a situação se agravou com uma onda de calor extremo que desencadeou vários incêndios florestais no leste do Afeganistão. Posteriormente, chuvas de verão excepcionalmente intensas provocaram inundações repentinas em várias regiões, submergindo vilarejos e causando danos significativos a casas, estradas e fazendas. Como resultado desses desastres naturais, mais de 1,5 milhão de afegãos foram deslocados adicionalmente, somando-se aos 3,5 milhões já deslocados devido ao conflito armado.
No Afeganistão, as mulheres e meninas enfrentam uma crise profunda de direitos, exacerbada por uma série de decretos recentes que restringiram severamente suas liberdades e oportunidades. No último ano, esses decretos têm corroído gradualmente as conquistas alcançadas ao longo das últimas décadas, sufocando as esperanças e os sonhos de uma parcela significativa da população feminina.
Uma das áreas mais impactadas é a educação. Muitas escolas secundárias para meninas foram fechadas, negando a elas o acesso fundamental à educação e limitando severamente suas perspectivas futuras. Além disso, muitas mulheres perderam seus empregos devido a restrições impostas pelo novo regime, exacerbando a vulnerabilidade econômica das famílias. A necessidade de um guardião masculino para sair de casa tem impedido muitas mulheres de participarem ativamente da vida pública e econômica, restringindo severamente sua autonomia e liberdade de movimento.

As maiores vítimas são as mulheres, escolas e direitos suprimidos.
A situação se agrava com o aumento da pobreza entre as famílias afetadas, pois muitas mulheres não conseguem mais sustentar a si mesmas e seus filhos. Isso tem levado a um aumento significativo no número de casamentos infantis, com meninas sendo forçadas a se casar jovens, muitas vezes como uma medida desesperada para aliviar a carga econômica das famílias.
Esses desenvolvimentos representam um retrocesso alarmante nos direitos das mulheres e meninas afegãs, que enfrentam um futuro incerto e cada vez mais limitado. A comunidade internacional e as organizações de direitos humanos têm instado por ações urgentes para proteger e promover os direitos das mulheres no Afeganistão, garantindo que elas tenham acesso igualitário à educação, emprego e participação plena na sociedade, independentemente do contexto político ou social em que vivem.
As organizações humanitárias enfrentam desafios significativos na sua tentativa de mitigar o sofrimento no Afeganistão, devido à escassez de recursos essenciais. Em um esforço coordenado pelas Nações Unidas, incluindo o ACNUR, foram providenciados alimentos, abrigos, assistência em dinheiro e suprimentos domésticos para quase 23 milhões de pessoas no ano passado, ajudando a evitar uma crise de fome severa durante o inverno.
No entanto, apesar desses esforços, mais da metade da população afegã, aproximadamente 24,4 milhões de pessoas, continua necessitando de apoio humanitário. Este grupo inclui pessoas deslocadas, muitas delas vivendo em condições precárias em assentamentos improvisados. Com a chegada iminente do inverno e suas temperaturas congelantes, espera-se que as necessidades aumentem ainda mais, aumentando a pressão sobre os recursos disponíveis.
A ONU estimou a necessidade de US$ 4,4 bilhões para financiar seu plano abrangente de resposta humanitária para o Afeganistão em 2022. No entanto, até o momento, apenas cerca de 41% dessa quantia foi recebida, resultando em uma lacuna crítica de mais de US$ 2,4 bilhões que precisa ser preenchida urgentemente para atender às necessidades humanitárias essenciais no país.
Além disso, o ACNUR também enfrenta um déficit significativo em seus recursos para a resposta à situação no Afeganistão, precisando de US$ 229,7 milhões adicionais para continuar seu trabalho vital não apenas no Afeganistão, mas também para apoiar os refugiados afegãos em países vizinhos. Esses financiamentos são essenciais para garantir que as organizações humanitárias possam continuar a proporcionar assistência crucial e salvar vidas em meio à crise humanitária contínua no Afeganistão.
Análise
A retirada dos EUA marcou o fim de uma presença militar de duas décadas, levando ao colapso rápido do governo afegão e à tomada do poder pelo Talibã. A segurança interna do Afeganistão se deteriorou significativamente, com o ressurgimento de ataques terroristas e confrontos internos. A ausência de forças estrangeiras também criou um vácuo de poder, aumentando o risco de que grupos extremistas, como o Estado Islâmico, se consolidem na região, representando uma ameaça não apenas ao Afeganistão, mas também ao resto do mundo.
Sob o regime do Talibã, os direitos das mulheres retrocederam drasticamente. Medidas rigorosas foram implementadas, restringindo a educação, o trabalho e a liberdade de movimento das mulheres. Escolas e universidades para meninas foram fechadas, e muitas mulheres foram obrigadas a deixar seus empregos. O futuro dos direitos das mulheres no Afeganistão permanece incerto, com o Talibã impondo uma interpretação estrita da lei islâmica, afetando negativamente as conquistas alcançadas nos últimos 20 anos.
A economia afegã, já fragilizada, entrou em colapso após a retirada dos EUA. A ajuda internacional, que representava uma grande parte do orçamento do país, foi drasticamente reduzida. As sanções internacionais e o congelamento de ativos também contribuíram para a crise econômica. A pobreza aumentou, a inflação disparou e a moeda local se desvalorizou. A crise econômica agravou a situação humanitária, com milhões de afegãos enfrentando fome e desnutrição.
A estabilidade política do Afeganistão foi severamente abalada. O governo central perdeu legitimidade e capacidade de governar, resultando em um controle quase total do Talibã sobre o país. As tentativas de formar um governo inclusivo e representativo falharam, e o Talibã enfrenta resistência de grupos de oposição, como a Frente de Resistência Nacional. A instabilidade política tornou-se uma característica permanente, com o Afeganistão retornando a uma era de incerteza e violência.
Os direitos humanos no Afeganistão sofreram um retrocesso significativo. Além das restrições impostas às mulheres, houve relatos de execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e repressão a jornalistas e ativistas. As minorias étnicas e religiosas também enfrentam perseguições. A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa foram severamente restringidas. As organizações de direitos humanos enfrentam dificuldades em operar, e a situação geral dos direitos humanos se deteriorou.
A retirada dos Estados Unidos do Afeganistão teve consequências devastadoras para a segurança, os direitos das mulheres, a economia, a estabilidade política e os direitos humanos. O país, que já enfrentava desafios significativos, viu-se mergulhado em uma crise multidimensional. A comunidade internacional enfrenta o dilema de como engajar-se com um regime do Talibã enquanto tenta mitigar o sofrimento do povo afegão. A situação no Afeganistão permanece volátil e complexa, exigindo atenção e ação contínuas da comunidade global.
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Olá
A muito tempo não comento neste site, mas achei que seria interessante fazer a indicação de vídeo (link abaixo de vídeo disponibilizado a cerca de duas horas atrás pelo canal Millennium 7, no Youtube), por aqui pq acho que este ainda é o melhor ambiente em língua portuguesa para comentar este tipo de assunto. Lá é entrevistado Jussi Halmetoja, 24 anos como piloto da Força Aérea da Suécia (começou com o Viggen e transicionou para o Gripen), assessor de domínio aéreo e piloto de desenvolvimento e suporte do programa Gripen E da SAAB. Na entrevista ele dá algumas declarações interessantes: a relevância do espectro eletromagnético na guerra atual; as potencialidades do Gripen neste campo; a inutilidade da capacidade stealth frente ao desenvolvimento sem precedentes da guerra eletrônica (radares, enlace de dados, etc.). Não me pareceu uma entrevista de propaganda pois acompanho o canal Millennium 7 a alguns anos e, sob meu ponto de vista, é um dos melhores para análise técnica de temas ligados a equipamentos militares (a auto proclamada imprensa especializada em defesa brasileira teria uma ou duas coisas a aprender com ele e com o pessoal do Parabellum da Itália). Link https://www.youtube.com/watch?v=ffGQLnlXks4
Abraços e boa sorte neste retorno do site e do canal.