Corram “das” Montanhas, corram pela suas vidas”: A retirada Americana do Afeganistão

E.M.Pinto


A retirada americana do Afeganistão em 2021 marcou o fim de uma presença militar de duas décadas. Este evento, caracterizado pela rápida tomada do poder pelo Talibã, evidenciou a fragilidade do governo afegão e gerou um êxodo em massa de cidadãos temerosos por suas vidas. A frase “Corram das montanhas, corram pelas suas vidas” reflete o desespero e a urgência que dominaram o cenário, enquanto afegãos buscavam escapar de uma realidade incerta e violenta. Este momento histórico sublinhou as complexidades e os desafios das intervenções estrangeiras em regiões de conflitos prolongados.


Assista também

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Contexto Histórico e Político

A invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos e seus aliados em 2001 foi um evento marcante na história contemporânea, profundamente influenciado pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Esses ataques foram realizados pela organização terrorista Al-Qaeda, liderada por Osama bin Laden. Em 11 de setembro de 2001, quatro aviões comerciais foram sequestrados; dois foram lançados contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York, um atingiu o Pentágono em Washington, D.C., e o quarto caiu em um campo na Pensilvânia, após os passageiros tentarem retomar o controle do avião. Os ataques resultaram na morte de quase 3.000 pessoas e geraram uma resposta imediata do governo dos EUA, então liderado pelo presidente George W. Bush.

Os ataques de 11 de setembro foram rapidamente atribuídos à Al-Qaeda, que havia encontrado refúgio no Afeganistão sob o regime do Talibã. O Talibã, que governava o Afeganistão desde 1996, havia permitido que a Al-Qaeda operasse livremente dentro do país, utilizando-o como base para treinamento e planejamento de ataques terroristas. Imediatamente após os ataques, o governo Bush exigiu que o Talibã entregasse Osama bin Laden e desmantelasse os campos de treinamento da Al-Qaeda. Em 20 de setembro de 2001, em um discurso ao Congresso dos EUA, Bush delineou as exigências dos EUA e declarou a “Guerra ao Terror”, uma campanha global para erradicar o terrorismo.

“Os guerreiros da liberdade” Reagan recebe representantes do Talibã recebidos na casa branca. Armados e treinados pelos Esatados unidos para lutar contra a URSS.

As exigências dos EUA foram rejeitadas pelo Talibã, que se recusou a entregar Bin Laden ou fechar os campos de treinamento terrorista. Esta recusa solidificou a decisão dos EUA de iniciar uma ação militar. Em resposta à negativa do Talibã, o governo dos EUA começou a planejar uma invasão com o objetivo de desmantelar a Al-Qaeda e remover o Talibã do poder.

Por sua vez o planejamento da invasão envolveu uma coalizão internacional. Em 2 de outubro de 2001, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) invocou o Artigo 5 pela primeira vez na história, declarando que um ataque a um membro era um ataque a todos, o que garantiu o apoio dos aliados dos EUA. Autoridades-chave envolvidas no planejamento incluíam o presidente George W. Bush, o vice-presidente Dick Cheney, o secretário de Defesa Donald Rumsfeld, e o diretor da CIA George Tenet. O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, foi um dos principais aliados internacionais que apoiaram a intervenção.

No sentido horário a partir do canto superior esquerdo: Um F-15 Strike Eagle bombardeia caverna no leste do Afeganistão; Tropas americanas em tiroteio com insurgentes talibãs na província de Kunar; um soldado afegão vasculhando com binóculos em cima de um Humvee; Soldados afegãos e americanos movem-se pela neve na província de Logar; combatentes do Talibã vitoriosos depois de conquistar Cabul; um soldado afegão examinando um vale na província de Parwan; Tropas britânicas se preparando para embarcar em um CH-47 Chinook durante a Operação Black Prince

Em 7 de outubro de 2001, a Operação Enduring Freedom foi oficialmente lançada, marcando o início da invasão do Afeganistão. A campanha começou com ataques aéreos contra alvos do Talibã e da Al-Qaeda, seguidos por operações terrestres conduzidas por forças especiais americanas e da coalizão, incluindo tropas britânicas e forças da Aliança do Norte, um grupo de oposição afegão anti-Talibã. O objetivo imediato era desmantelar a infraestrutura terrorista e enfraquecer o controle do Talibã sobre o país.

Resultados

Após 20 anos de presença militar no Afeganistão, os EUA e o Reino Unido estão retirando suas tropas, marcando o fim de uma era iniciada após os ataques de 11 de Setembro de 2001. A operação visava inicialmente remover o Talibã do poder e expulsar a Al-Qaeda do país. Custos humanos foram elevados, com mais de 2,3 mil militares americanos e 450 britânicos mortos, além de um impacto devastador sobre os afegãos, com dezenas de milhares de mortes civis e militares.

Financeiramente, a guerra custou quase 1 trilhão de dólares aos contribuintes americanos. Embora tenha havido sucessos na desarticulação da Al-Qaeda e na prevenção de ataques internacionais a partir do Afeganistão, a situação interna permanece instável. O país continua enfrentando violência generalizada, com grupos como Al-Qaeda e Estado Islâmico ressurgindo.

Custo total da guerra

A retirada das forças internacionais levanta preocupações sobre o futuro do Afeganistão, especialmente em relação à segurança e ao ressurgimento do extremismo. O Talebã, apesar de derrotado inicialmente, ainda exerce influência significativa, e a capacidade futura de governar de maneira estável e impedir a reemergência de grupos terroristas permanece incerta. O legado da guerra é complexo, deixando questionamentos sobre o impacto a longo prazo das intervenções militares ocidentais em contextos geopolíticos desafiadores como o afegão.

  •  Foi instalado um governo provisório, seguido por eleições e a formação de um governo apoiado pelo Ocidente, com o objetivo de estabelecer uma democracia representativa e promover direitos humanos, especialmente para mulheres e minorias.
  • Apesar da derrota inicial, o Talibã reagrupou-se e lançou uma insurgência prolongada contra o governo afegão apoiado pelo Ocidente e as forças da coalizão. Esta insurgência mostrou resiliência ao longo dos anos, desafiando continuamente as tentativas de estabilização e reconstrução.
  • A guerra resultou em um alto custo humano para os civis afegãos, com milhares de vidas perdidas e milhões deslocados devido ao conflito. A situação humanitária no país permaneceu precária, com muitas pessoas dependentes de assistência internacional para necessidades básicas.

Os gastos militares associados à guerra no Afeganistão foram extremamente substanciais:

  • Os EUA gastaram mais de 2 trilhões de dólares ao longo dos 20 anos de conflito. Esses custos incluem operações militares, reconstrução, ajuda humanitária, treinamento e equipamento das forças afegãs, além de despesas com veteranos e outras formas de apoio.
  • Outros países da OTAN e aliados também contribuíram com recursos financeiros e tropas para apoiar as operações militares no Afeganistão, embora em uma escala muito menor em comparação com os EUA.

Início das Negociações de Paz com o Talibã

Desde a invasão do Afeganistão em 2001, os Estados Unidos estavam envolvidos em um conflito prolongado com o Talibã, buscando desmantelar redes terroristas e estabilizar o país. Ao longo dos anos, o conflito se arrastou, tornando-se a guerra mais longa da história dos EUA, com altos custos humanos e financeiros. Com a eleição de Donald Trump em 2016, houve uma mudança significativa na abordagem dos EUA em relação ao Afeganistão, focando em encontrar uma solução negociada para o conflito.

Em 2018, o governo Trump começou a buscar ativamente negociações de paz com o Talibã, sinalizando uma mudança da estratégia de combate para uma solução diplomática. Zalmay Khalilzad, um diplomata veterano, foi nomeado representante especial dos EUA para a reconciliação no Afeganistão em setembro de 2018, com a tarefa de liderar as negociações. O objetivo era alcançar um acordo que permitisse a retirada das tropas americanas, garantindo ao mesmo tempo que o Afeganistão não voltasse a ser um refúgio seguro para terroristas.
Pode-se dizer que as negociações de paz entre os Estados Unidos e o Talibã durante o governo de Donald Trump foram um esforço significativo para encerrar a longa guerra no Afeganistão. O Acordo de Doha de fevereiro de 2020 representou um marco importante nessas negociações, estabelecendo um roteiro para a retirada das tropas americanas e o início de um processo de paz intra-afegão. Apesar dos desafios subsequentes na implementação do acordo e na estabilidade do Afeganistão, as negociações e o acordo foram passos cruciais na tentativa de pôr fim a um conflito que durou quase duas décadas.

Eventos e Datas Importantes nas Negociações

Julho de 2018: As negociações preliminares entre os EUA e o Talibã começaram em Doha, Qatar, com o objetivo de explorar a possibilidade de um acordo de paz. Estes encontros iniciais estabeleceram as bases para negociações mais formais.

Setembro de 2018: Nomeação de Zalmay Khalilzad como representante especial dos EUA para a reconciliação no Afeganistão, marcando o início formal das negociações lideradas por ele.

Janeiro de 2019: As negociações de paz em Doha ganharam ritmo, com os EUA e o Talibã discutindo pontos-chave como a retirada das tropas americanas, um cessar-fogo e o compromisso do Talibã de impedir que o Afeganistão seja usado como base para ataques terroristas.

Agosto de 2019: Após várias rodadas de negociações, Khalilzad anunciou que um acordo em princípio havia sido alcançado, estabelecendo as bases para a assinatura de um acordo formal.

Acordo de Doha (Fevereiro de 2020)

O Acordo de Doha foi assinado em 29 de fevereiro de 2020, em Doha, Qatar, entre os Estados Unidos e o Talibã. Este acordo histórico marcou um passo significativo em direção ao fim do conflito no Afeganistão. Estavam presentes na cerimônia de assinatura Mike Pompeo, então Secretário de Estado dos EUA, e líderes do Talibã.

Principais Pontos do Acordo

Os Estados Unidos concordaram em reduzir suas forças militares no Afeganistão para 8.600 soldados dentro de 135 dias após a assinatura do acordo.

Todas as forças militares estrangeiras, incluindo tropas americanas, seriam retiradas do Afeganistão em um prazo de 14 meses, desde que

  • Talibã cumprisse seus compromissos de segurança.

O Talibã prometeu não permitir que qualquer um de seus membros, outros indivíduos ou grupos, incluindo a Al-Qaeda, usassem o solo afegão para ameaçar a segurança dos Estados Unidos e seus aliados.

O Talibã concordou em iniciar negociações de paz intra-afegãs com o governo afegão e outros atores políticos afegãos.

Um cessar-fogo provisório seria implementado como parte do acordo, com a expectativa de negociações subsequentes para um cessar-fogo permanente durante as negociações intra-afegãs.

O acordo previa a libertação de até 5000 prisioneiros do Talibã e 1.000 prisioneiros do governo afegão como medida de confiança antes do início das negociações intra-afegãs.

O acordo incluía mecanismos para garantir a implementação e verificação dos compromissos por ambas as partes, com a participação da comunidade internacional.

Negociações de Paz com o Talibã e Processo Político nos EUA

As negociações de paz com o Talibã e a subsequente retirada das tropas americanas do Afeganistão foram processos longos e difíceis envolvendo decisões estratégicas significativas tanto pela administração Trump quanto pela administração Biden. As negociações iniciadas por Trump visavam um fim negociado para a guerra, enquanto Biden implementou o plano de retirada com o objetivo de encerrar o envolvimento militar dos EUA no Afeganistão. A queda rápida do governo afegão e a ascensão do Talibã ao poder demonstraram os desafios e as consequências dessa retirada, impactando profundamente a segurança e a estabilidade regional e global.

Afeganistão libera 900 prisioneiros do Talibã e EUA se preparam para retirada das tropas

Quando Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 2017, ele herdou uma guerra no Afeganistão que já durava mais de 15 anos. Uma de suas promessas de campanha era reduzir o envolvimento militar dos EUA em conflitos estrangeiros e buscar uma solução para a guerra no Afeganistão. Trump acreditava que era possível negociar um acordo de paz com o Talibã para garantir uma retirada segura das tropas americanas.

Em setembro de 2018, Trump nomeou Zalmay Khalilzad como representante especial dos EUA para a reconciliação no Afeganistão. Khalilzad, um diplomata veterano nascido no Afeganistão, tinha a missão de liderar as negociações com o Talibã. As negociações começaram em Doha, Qatar, onde o Talibã tinha um escritório político.

As negociações iniciais focaram em quatro principais pontos: a retirada das tropas americanas, garantias de que o Afeganistão não se tornaria um refúgio seguro para terroristas, um cessar-fogo e a abertura de negociações intra-afegãs entre o Talibã e o governo afegão. Após várias rodadas de negociações, em setembro de 2019, Khalilzad anunciou que um acordo preliminar havia sido alcançado, mas Trump suspendeu as negociações abruptamente após um ataque do Talibã que matou um soldado americano.

O então secretário de Estado Mike Pompeo e Abdul Ghani Baradar se reuniram em setembro de 2020 em Doha, (BBC NEws Brasil)

No entanto, as negociações foram retomadas e culminaram na assinatura do Acordo de Doha em 29 de fevereiro de 2020. Presentes na cerimônia estavam o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e líderes do Talibã. O acordo estabeleceu um cronograma para a retirada das tropas americanas e compromissos do Talibã para combater o terrorismo e iniciar negociações de paz com o governo afegão.

Joe Biden assumiu a presidência em janeiro de 2021 e herdou o acordo de Doha. Biden, que como vice-presidente de Barack Obama havia sido um defensor da retirada das tropas do Afeganistão, enfrentou a decisão de continuar com o plano estabelecido por seu antecessor ou alterar o curso.

Em abril de 2021, após uma revisão do acordo e da situação no terreno, Biden anunciou que os Estados Unidos cumpririam o compromisso de retirar todas as tropas do Afeganistão, mas ajustaria o cronograma de retirada. Ele declarou que a retirada completa das tropas americanas seria concluída até 31 de agosto de 2021, estendendo a data original de 1º de maio de 2021 conforme o acordo de Doha. Biden afirmou que “é hora de encerrar a guerra mais longa da América” e redirecionar os recursos para prioridades domésticas e outras ameaças globais.

A decisão de Biden enfrentou críticas e apoio. Argumentos a favor da retirada incluíam o desejo de encerrar um conflito prolongado e redirecionar os recursos militares e financeiros para outras necessidades. Argumentos contra a retirada destacavam o risco de instabilidade no Afeganistão e o potencial para o retorno do Talibã ao poder, o que poderia comprometer os direitos humanos e a segurança global.

Implementação do Plano de Retirada

A retirada das tropas americanas começou de forma faseada, com esforços para garantir a segurança das forças e a retirada ordenada de equipamentos militares. No entanto, à medida que a retirada progredia, o Talibã intensificou suas ofensivas, capturando rapidamente grandes áreas do Afeganistão.

Em 15 de agosto de 2021, o Talibã entrou em Cabul sem resistência significativa, resultando na queda do governo afegão e na fuga do presidente Ashraf Ghani. Este evento marcou um ponto crítico na retirada, levando a uma caótica operação de evacuação de cidadãos estrangeiros e afegãos vulneráveis.

Reações e Preparações para a Retirada

A retirada das tropas americanas do Afeganistão teve profundas implicações políticas e humanitárias. O governo afegão, apesar de suas tentativas de preparação, colapsou rapidamente diante das ofensivas do Talibã, que utilizaram uma estratégia eficaz para reconquistar o controle do país. O impacto na população civil foi devastador, resultando em uma crise humanitária e um êxodo significativo de refugiados. As respostas internacionais continuam a focar em fornecer assistência humanitária e buscar soluções diplomáticas para estabilizar a região.

Quando o Acordo de Doha foi assinado em 29 de fevereiro de 2020 entre os Estados Unidos e o Talibã, o governo afegão liderado pelo presidente Ashraf Ghani não participou diretamente das negociações, o que gerou incertezas e preocupações. O governo afegão temia que a retirada das tropas americanas pudesse enfraquecer sua posição e deixar o país vulnerável às ofensivas do Talibã.

O representante dos Estados Unidos, Zalmay Khalilzad (à esquerda), e o representante do Talibã, Abdul Ghani Baradar (à direita), assinando o acordo em Doha, Qatar, em 29 de fevereiro de 2020.

Após a assinatura do Acordo de Doha, o governo afegão expressou ceticismo sobre a capacidade do Talibã de honrar seus compromissos, especialmente em relação ao cessar-fogo e à participação nas negociações de paz intra-afegãs. Ashraf Ghani, juntamente com Abdullah Abdullah, chefe do Conselho Superior para a Reconciliação Nacional, enfatizou a necessidade de um processo de paz inclusivo e liderado pelos afegãos.

Em 2021, com o anúncio do presidente Joe Biden de que todas as tropas americanas seriam retiradas até 31 de agosto de 2021, o governo afegão intensificou seus preparativos. Isso incluiu tentativas de fortalecer as forças de segurança afegãs, consolidar apoio político interno e buscar garantias de apoio contínuo dos Estados Unidos e outros aliados internacionais. No entanto, a corrupção generalizada, a falta de moral entre as tropas e a dependência crítica do suporte aéreo e logístico dos EUA dificultaram essas preparações.

Enquanto o governo afegão se preparava para a retirada das tropas americanas, o Talibã começou a intensificar suas ofensivas. Aproveitando a diminuição gradual das forças estrangeiras, o Talibã adotou uma estratégia de capturar territórios estratégicos, especialmente em áreas rurais, e isolar centros urbanos importantes.

Eventos Importantes

  • Maio de 2021: Com o início da retirada oficial das tropas americanas, o Talibã lançou uma série de ofensivas coordenadas em várias províncias do Afeganistão. Eles rapidamente capturaram distritos e bases militares, muitas vezes encontrando pouca resistência das forças afegãs.
  • Julho de 2021: O Talibã controlava cerca de metade dos distritos do Afeganistão e cercava várias capitais provinciais. A captura de importantes passagens de fronteira com o Irã, o Paquistão e o Turcomenistão ampliou ainda mais seu controle territorial.
  • Agosto de 2021: O Talibã lançou ataques em várias capitais provinciais, incluindo Herat, Kandahar e Mazar-i-Sharif. Em 15 de agosto de 2021, o Talibã entrou em Cabul sem resistência significativa, levando ao colapso do governo afegão e à fuga do presidente Ashraf Ghani para o exterior.

Impacto na População Civil

O desfecho da retirada das tropas americanas do Afeganistão e a ascensão do Talibã ao poder representam um dos eventos mais significativos e complexos das últimas décadas. As decisões tomadas pelos governos dos EUA, tanto pela administração Trump quanto pela administração Biden, tiveram implicações profundas para o Afeganistão, a região e o mundo. A análise crítica dessas decisões e seus impactos a longo prazo continua a ser um tópico de grande importância para formuladores de políticas, acadêmicos e a comunidade internacional, enquanto se busca entender e mitigar as consequências desse capítulo turbulento da história afegã.

A intensificação do conflito e a rápida ofensiva do Talibã tiveram um impacto devastador na população civil afegã. Milhares de civis foram mortos ou feridos, e milhões foram deslocados internamente, buscando segurança em áreas urbanas ou nas fronteiras internacionais.

Situação Humanitária

A situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se rapidamente. A insegurança alimentar, a falta de acesso a serviços básicos de saúde e a destruição de infraestrutura aumentaram o sofrimento da população civil. Organizações humanitárias enfrentaram grandes desafios em fornecer assistência devido à insegurança e às restrições impostas pelo conflito.

Êxodo de Refugiados

A captura de Cabul pelo Talibã desencadeou um êxodo maciço de refugiados. Milhares de afegãos, temendo represálias do Talibã e a perda de direitos, especialmente mulheres e minorias, tentaram fugir do país. As cenas caóticas no Aeroporto Internacional Hamid Karzai em Cabul, com multidões tentando embarcar em voos de evacuação, simbolizaram o desespero e o medo da população.

Reações Internacionais

A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas e organizações de direitos humanos, expressou grave preocupação com a situação humanitária no Afeganistão. Países vizinhos, como o Paquistão e o Irã, enfrentaram um influxo de refugiados, aumentando a pressão sobre suas capacidades de acolhimento.

Cronologia dos Eventos Principais:

Fevereiro de 2020: Assinatura do Acordo de Doha

  • Acordo de paz assinado entre os Estados Unidos e o Talibã em Doha, Qatar.
  • Estabelecimento de um cronograma para a retirada das tropas americanas e compromissos do Talibã para combater o terrorismo.

Abril de 2021: Anúncio de Biden sobre a Retirada

  • O presidente Joe Biden anuncia que todas as tropas americanas serão retiradas do Afeganistão até 31 de agosto de 2021.
  • A decisão marca uma extensão da data original de 1º de maio estabelecida no Acordo de Doha.

Julho de 2021: Progresso da Retirada e Aumento da Ofensiva do Talibã

  • A retirada das tropas americanas progride, com muitas bases militares sendo entregues às forças afegãs.
  • O Talibã intensifica suas ofensivas, capturando rapidamente distritos e passagens de fronteira estratégicas.

15 de Agosto de 2021: Queda de Cabul

  • O Talibã entra em Cabul sem resistência significativa.
  • O presidente afegão Ashraf Ghani foge do país, marcando o colapso do governo afegão.

31 de Agosto de 2021: Conclusão da Retirada Americana

  • As últimas tropas americanas deixam o Afeganistão, concluindo a retirada militar.
  • Fim oficial da presença militar dos EUA no Afeganistão, após quase duas décadas de conflito.

Desfecho e Consequências

Com a assinatura do Acordo de Doha em fevereiro de 2020, o caminho foi pavimentado para a retirada das tropas americanas do Afeganistão. Em abril de 2021, o presidente Joe Biden anunciou que a retirada seria concluída até 31 de agosto de 2021, estendendo o prazo inicialmente acordado. Este anúncio trouxe grande incerteza ao governo afegão, que se preparava para enfrentar as consequências dessa decisão.

Enquanto a retirada americana avançava, o Talibã intensificou suas ofensivas, capturando rapidamente territórios chave. Em julho de 2021, já controlavam metade dos distritos do país. A ofensiva culminou em 15 de agosto de 2021, quando o Talibã entrou em Cabul sem encontrar resistência significativa, resultando na queda do governo afegão e na fuga do presidente Ashraf Ghani. Esse evento marcou a ascensão do Talibã ao poder e o colapso do governo afegão, levando a uma rápida e caótica retirada das tropas americanas e de aliados estrangeiros.

O Talibã se aproximou de solidificar o controle do Afeganistão no domingo (15/08/21), incluindo a entrada no palácio presidencial em Cabul, horas depois que o ex-presidente Ashraf Ghani fugiu do país.

A ascensão do Talibã ao poder teve profundas implicações regionais e globais, mudando drasticamente a dinâmica de segurança e política na região e além.

Países como o Paquistão, Irã e as repúblicas da Ásia Central enfrentaram desafios imediatos com o influxo de refugiados e a possibilidade de instabilidade transfronteiriça. O Paquistão, em particular, teve um papel ambíguo, tanto acolhendo refugiados quanto lidando com as consequências do fortalecimento do Talibã.A comunidade internacional expressou preocupação de que o Afeganistão poderia novamente se tornar um refúgio para grupos terroristas, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, ameaçando a segurança global.

Porém, a retirada americana e o colapso rápido do governo afegão afetaram a credibilidade dos EUA como aliado confiável, levantando questões sobre seu comprometimento com a segurança internacional.

A mudança de poder no Afeganistão criou oportunidades para outros atores globais, como a China e a Rússia, que buscaram expandir sua influência na região através de iniciativas diplomáticas e econômicas.

A retirada americana do Afeganistão e a ascensão do Talibã ao poder foram decisões complexas com consequências profundas e de longo alcance.

Impacto na População Civil

A intensificação do conflito e a rápida ofensiva do Talibã tiveram um impacto devastador na população civil afegã. Milhares de civis foram mortos ou feridos, e milhões foram deslocados internamente, buscando segurança em áreas urbanas ou nas fronteiras internacionais.

A situação humanitária no Afeganistão deteriorou-se rapidamente. A insegurança alimentar, a falta de acesso a serviços básicos de saúde e a destruição de infraestrutura aumentaram o sofrimento da população civil. Organizações humanitárias enfrentaram grandes desafios em fornecer assistência devido à insegurança e às restrições impostas pelo conflito.

A captura de Cabul pelo Talibã desencadeou um êxodo maciço de refugiados. Milhares de afegãos, temendo represálias do Talibã e a perda de direitos, especialmente mulheres e minorias, tentaram fugir do país. As cenas caóticas no Aeroporto Internacional Hamid Karzai em Cabul, com multidões tentando embarcar em voos de evacuação, simbolizaram o desespero e o medo da população.

A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas e organizações de direitos humanos, expressou grave preocupação com a situação humanitária no Afeganistão. Países vizinhos, como o Paquistão e o Irã, enfrentaram um influxo de refugiados, aumentando a pressão sobre suas capacidades de acolhimento.

Cronologia dos Eventos Principais

Fevereiro de 2020: Assinatura do Acordo de Doha

Acordo de paz assinado entre os Estados Unidos e o Talibã em Doha, Qatar.

Estabelecimento de um cronograma para a retirada das tropas americanas e compromissos do Talibã para combater o terrorismo.

Abril de 2021: Anúncio de Biden sobre a Retirada

O presidente Joe Biden anuncia que todas as tropas americanas serão retiradas do Afeganistão até 31 de agosto de 2021.

A decisão marca uma extensão da data original de 1º de maio estabelecida no Acordo de Doha.

Julho de 2021: Progresso da Retirada e Aumento da Ofensiva do Talibã

A retirada das tropas americanas progride, com muitas bases militares sendo entregues às forças afegãs.

O Talibã intensifica suas ofensivas, capturando rapidamente distritos e passagens de fronteira estratégicas.

15 de Agosto de 2021: Queda de Cabul

O Talibã entra em Cabul sem resistência significativa.

O presidente afegão Ashraf Ghani foge do país, marcando o colapso do governo afegão.

31 de Agosto de 2021: Conclusão da Retirada Americana

As últimas tropas americanas deixam o Afeganistão, concluindo a retirada militar.

Fim oficial da presença militar dos EUA no Afeganistão, após quase duas décadas de conflito.

Evolução Econômica do Afeganistão de 2018 a 2024

O desfecho da retirada das tropas americanas do Afeganistão e a ascensão do Talibã ao poder representam um dos eventos mais significativos e complexos das últimas décadas. As decisões tomadas pelos governos dos EUA, tanto pela administração Trump quanto pela administração Biden, tiveram implicações profundas para o Afeganistão, a região e o mundo. A análise crítica dessas decisões e seus impactos a longo prazo continua a ser um tópico de grande importância para formuladores de políticas, acadêmicos e a comunidade internacional, enquanto se busca entender e mitigar as consequências desse capítulo turbulento da história afegã.

Período de 2018 a 2020: Contexto e Início das Discussões

O período de 2018 a 2020 no Afeganistão foi marcado por uma série de desafios econômicos e mudanças políticas significativas. Em meio a uma guerra prolongada, o país enfrentava um crescimento econômico limitado, alta taxa de desemprego e dependência crítica de ajuda internacional. A economia afegã dependia fortemente do setor agrícola, que estava vulnerável a choques climáticos e insegurança contínua.

Em setembro de 2018, o governo dos EUA, sob a administração Trump, nomeou Zalmay Khalilzad como representante especial para a reconciliação afegã, iniciando negociações de paz com o Talibã. Essas discussões culminaram na assinatura do Acordo de Doha em 29 de fevereiro de 2020, que estabeleceu um cronograma para a retirada das tropas americanas e marcou um ponto de inflexão significativo para a economia afegã.

Período de 2020 a 2021: Impactos do Acordo de Doha

O Acordo de Doha trouxe um otimismo cauteloso, mas também aumentou as incertezas econômicas. A retirada gradual das tropas americanas, anunciada formalmente em abril de 2021 pelo presidente Joe Biden, prometia mudar a dinâmica da economia afegã. A retirada das tropas estrangeiras significava uma redução significativa de gastos militares e assistência internacional, que eram pilares importantes da economia afegã.

Durante este período, a insegurança política e a instabilidade aumentaram. As ofensivas do Talibã, que culminaram na queda de Cabul em 15 de agosto de 2021, exacerbaram os problemas econômicos. A fuga de capitais e o colapso de atividades comerciais se intensificaram à medida que o Talibã consolidava seu controle.

Espólio da guerra

Após a retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2021, estima-se que uma grande quantidade de material militar dos EUA tenha caído nas mãos do Talibã. O total estimado de valor desses equipamentos deixados para trás é de aproximadamente 7 bilhões de dólares, segundo o relatório do Pentágono​ (Voice of America)​​ (Task & Purpose)​. Essa perda representa não apenas um impacto estratégico significativo, mas também um aumento no potencial de combate do Talibã, embora muitos dos equipamentos mais sofisticados possam se tornar inoperantes sem manutenção adequada.

Arsenal herdado pelo Talibã

Essa situação ilustra a complexidade e os desafios da retirada rápida das forças militares de um conflito prolongado como o do Afeganistão, onde a transferência e a segurança dos equipamentos se tornaram um problema crítico nas últimas fases da operação​ (Task & Purpose)​.

Veículos e Equipamentos de Transporte:

Cerca de 22.000 Humvees.

Aproximadamente 8.000 caminhões e outros veículos de transporte.

Aeronaves:

Mais de 100 aeronaves, incluindo helicópteros UH-60 Black Hawk e aviões de ataque A-29 Super Tucano.

Armas de Pequeno Porte:

Estima-se que milhares de fuzis M4 e M16, além de pistolas e outras armas de pequeno porte, foram deixadas para trás.

Equipamentos de Vigilância e Comunicação:

Diversos sistemas de comunicação e vigilância avançada, incluindo drones.

Outros Equipamentos Militares:

Blindados, veículos táticos, lançadores de granadas, e uma quantidade significativa de munições.

 

Principais Impactos e Problemas Enfrentados

A rápida ascensão do Talibã ao poder levou a uma fuga em massa de pessoas capacitadas, incluindo profissionais de saúde, engenheiros, professores e funcionários públicos. Esta perda de capital humano enfraqueceu ainda mais a capacidade do país de administrar e melhorar sua infraestrutura e serviços essenciais.

Comerciantes e empresários, temendo perseguições e incertezas econômicas, também fugiram do país. Isso resultou na paralisação de muitas pequenas e médias empresas, que eram vitais para a economia local.

A instabilidade política e a falta de confiança no novo regime resultaram em uma fuga significativa de capitais. Investidores retiraram seus recursos do país, e muitos bancos internacionais suspenderam suas operações no Afeganistão. Esta fuga de capitais exacerbou a crise de liquidez e levou à desvalorização da moeda afegã.

A ascensão do Talibã ao poder também levou à suspensão de grande parte da assistência internacional, que era crucial para financiar projetos de desenvolvimento e manter serviços públicos. Organizações internacionais reduziram suas operações, afetando negativamente setores como saúde, educação e infraestrutura.

A agricultura, um setor vital para a economia afegã, sofreu com a insegurança contínua e as mudanças climáticas. A falta de recursos e assistência técnica dificultou a produção agrícola, agravando a insegurança alimentar. Muitos agricultores abandonaram suas terras devido à violência, resultando em uma queda significativa na produção agrícola.

Nos anos seguintes à tomada do poder pelo Talibã, o Afeganistão continuou a enfrentar desafios econômicos profundos. O regime tentou estabilizar a economia implementando medidas de controle, mas a falta de reconhecimento internacional e sanções econômicas limitaram sua eficácia.

O Talibã tentou restabelecer a ordem e reativar a economia, mas enfrentou grandes desafios devido à falta de experiência administrativa e isolamento internacional. As tentativas de implementar um sistema econômico islâmico e reativar setores-chave da economia foram dificultadas pela falta de recursos e expertise.

Sem reconhecimento formal da comunidade internacional, o regime Talibã enfrentou dificuldades para atrair investimentos estrangeiros e reestabelecer relações econômicas. As sanções econômicas continuaram a restringir o acesso a recursos financeiros globais.

A crise humanitária se agravou, com milhões de afegãos enfrentando insegurança alimentar e falta de serviços básicos. A economia permaneceu estagnada, com alta taxa de desemprego e pobreza crescente.

Evolução Econômica e social do Afeganistão de 2020 a 2024

A evolução econômica e social do Afeganistão entre 2020 e 2024 foi marcada por uma série de desafios devastadores. A economia sofreu um golpe severo com a retirada das tropas americanas, a ascensão do Talibã, e o colapso da ajuda internacional. O IDH diminuiu devido à deterioração da infraestrutura de saúde e educação. O país enfrenta um futuro incerto, com uma necessidade urgente de soluções abrangentes para estabilizar a economia e melhorar as condições de vida de sua população.

PIB (Produto Interno Bruto)

2020: O PIB do Afeganistão era de aproximadamente 19,29 bilhões de dólares. Nesse ano, a economia foi duramente afetada pela pandemia da COVID-19 e pela instabilidade política crescente, com um crescimento negativo de cerca de -2.4%​ (Task & Purpose)​.

2021: Com a retirada das tropas americanas e a tomada do poder pelo Talibã, o PIB caiu drasticamente. Estima-se que a economia tenha encolhido cerca de 20% devido ao colapso da ajuda internacional e à fuga de capitais e de pessoas capacitadas​ (Task & Purpose)​ .

2022: O PIB continuou a enfrentar dificuldades, estimado em torno de 14,79 bilhões de dólares. A economia ainda estava se adaptando à nova realidade sob o regime do Talibã, com muitos setores críticos paralisados .

2023: Houve uma ligeira recuperação impulsionada por atividades informais e algum nível de ajuda humanitária limitada, com o PIB subindo para aproximadamente 15,22 bilhões de dólares. Contudo, o crescimento econômico permaneceu estagnado devido à falta de investimentos estrangeiros .

2024: As estimativas para 2024 indicam um PIB de cerca de 15,5 bilhões de dólares, refletindo uma recuperação mínima e contínua das atividades econômicas internas, mas ainda limitada pelo isolamento internacional e pelas sanções econômicas.

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

2020: O IDH do Afeganistão era de 0.511, colocando o país na categoria de desenvolvimento humano baixo. A expectativa de vida era de 64 anos, a média de anos de escolaridade era de 4,0 anos, e a renda per capita era extremamente baixa .

2021-2024: Com a deterioração das condições políticas e econômicas, o IDH do Afeganistão provavelmente caiu. A fuga de profissionais capacitados, o colapso da infraestrutura educacional e de saúde e a insegurança contínua contribuíram para a redução da qualidade de vida.

Fatores Econômicos

Agricultura: Continuou sendo um setor vital, mais vulnerável a choques climáticos e insegurança.

Ajuda Internacional: O corte abrupto da ajuda internacional após a tomada do poder pelo Talibã foi um golpe devastador para a economia.

Setor Informal: A economia informal cresceu à medida que as atividades formais diminuíram, com o mercado negro e a economia de subsistência se tornando mais prevalentes.

Sanções Econômicas: As sanções internacionais impactaram severamente a capacidade do Afeganistão de participar do comércio global e atrair investimentos.

Escolaridade

Taxa de Alfabetização: Antes da crise de 2021, a taxa de alfabetização estava aumentando lentamente, mas a insegurança e a fuga de professores reduziram a qualidade e o acesso à educação.

Infraestrutura Educacional: Muitas escolas foram fechadas ou destruídas, e a educação das meninas foi severamente restringida sob o regime Talibã.

Acesso à Educação: O número de crianças fora da escola aumentou, especialmente entre as meninas, devido a políticas restritivas e insegurança.

Após a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão, houve uma preocupação significativa com os direitos das mulheres e meninas afegãs, especialmente em áreas controladas pelo Talibã. Houve relatos de restrições severas, como a imposição do uso obrigatório do véu, limitações ao trabalho e educação, além de relatos de violência e coerção. Muitas mulheres e meninas têm enfrentado dificuldades para continuar seus estudos ou trabalhar, com relatos de fuga e busca por refúgio em países vizinhos.

Essa situação trouxe à tona preocupações internacionais sobre a proteção dos direitos humanos, especialmente dos direitos das mulheres, conquistados ao longo das últimas décadas. Organizações internacionais, governos e ativistas têm pressionado por medidas para garantir a segurança e os direitos das mulheres afegãs em meio à instabilidade e mudanças políticas no país.

Êxodo afegão

Desde 1979, os afegãos têm enfrentado contínuos deslocamentos devido a conflitos e violações de direitos humanos, tornando-se uma das maiores populações de deslocados no mundo. Apesar de alguns terem retornado, aproximadamente 2,3 milhões permanecem registrados como refugiados principalmente no Paquistão e Irã, com mais 180.000 buscando refúgio desde 2021. Internamente, conflitos recentes deslocaram mais de 3,5 milhões dentro do Afeganistão, incluindo mais de 800.000 apenas em 2021, exacerbando uma crise humanitária já severa.

A situação é agravada pela insegurança alimentar, com metade da população enfrentando fome extrema devido a uma economia devastada, seca prolongada e aumento dos preços dos alimentos. Estima-se que 25 milhões de afegãos tenham caído na pobreza, dependendo significativamente da ajuda humanitária. A crise climática intensificou o sofrimento, causando desastres naturais que afetaram milhões, enquanto as mulheres e meninas viram seus direitos severamente limitados por decretos recentes.

A situação humanitária no Afeganistão atingiu níveis alarmantes, com metade de sua população enfrentando uma crise severa de fome. O colapso econômico abrupto do país no ano anterior exacerbou essa crise, com uma combinação devastadora de fatores, incluindo uma seca prolongada, aumento acentuado nos preços dos alimentos e uma significativa perda de empregos. Estima-se que cerca de 25 milhões de afegãos tenham sido empurrados para a pobreza como resultado direto dessas condições adversas, com mais da metade da população dependendo agora de assistência humanitária para simplesmente sobreviver.

Mapa da fome no Afeganistão pós retirada

A atual realidade econômica reflete um cenário onde três quartos da renda das pessoas são direcionados para a compra de alimentos básicos. Esta crise alimentar é ainda mais agravada pelo fato de que seis milhões de pessoas estão à beira da fome iminente, enquanto um milhão de crianças enfrentam desnutrição grave. Embora tenha sido possível evitar uma crise generalizada de fome no inverno passado, os preços dos alimentos continuam a aumentar, influenciados em parte pelo conflito na Ucrânia, enquanto a capacidade das famílias afegãs de gerar renda continua diminuindo.
A crise humanitária no Afeganistão está sendo exacerbada significativamente pela crise climática global. As mudanças climáticas têm intensificado a frequência e a gravidade de desastres naturais que impactam comunidades já devastadas por conflitos prolongados. Mesmo antes da recente mudança de poder político no país, uma severa seca já havia comprometido as colheitas e reduzido os níveis de água subterrânea, prejudicando severamente a segurança alimentar das populações locais.

Em 2022, a situação se agravou com uma onda de calor extremo que desencadeou vários incêndios florestais no leste do Afeganistão. Posteriormente, chuvas de verão excepcionalmente intensas provocaram inundações repentinas em várias regiões, submergindo vilarejos e causando danos significativos a casas, estradas e fazendas. Como resultado desses desastres naturais, mais de 1,5 milhão de afegãos foram deslocados adicionalmente, somando-se aos 3,5 milhões já deslocados devido ao conflito armado.

No Afeganistão, as mulheres e meninas enfrentam uma crise profunda de direitos, exacerbada por uma série de decretos recentes que restringiram severamente suas liberdades e oportunidades. No último ano, esses decretos têm corroído gradualmente as conquistas alcançadas ao longo das últimas décadas, sufocando as esperanças e os sonhos de uma parcela significativa da população feminina.

Uma das áreas mais impactadas é a educação. Muitas escolas secundárias para meninas foram fechadas, negando a elas o acesso fundamental à educação e limitando severamente suas perspectivas futuras. Além disso, muitas mulheres perderam seus empregos devido a restrições impostas pelo novo regime, exacerbando a vulnerabilidade econômica das famílias. A necessidade de um guardião masculino para sair de casa tem impedido muitas mulheres de participarem ativamente da vida pública e econômica, restringindo severamente sua autonomia e liberdade de movimento.

As maiores vítimas são as mulheres, escolas e direitos suprimidos.

A situação se agrava com o aumento da pobreza entre as famílias afetadas, pois muitas mulheres não conseguem mais sustentar a si mesmas e seus filhos. Isso tem levado a um aumento significativo no número de casamentos infantis, com meninas sendo forçadas a se casar jovens, muitas vezes como uma medida desesperada para aliviar a carga econômica das famílias.

Esses desenvolvimentos representam um retrocesso alarmante nos direitos das mulheres e meninas afegãs, que enfrentam um futuro incerto e cada vez mais limitado. A comunidade internacional e as organizações de direitos humanos têm instado por ações urgentes para proteger e promover os direitos das mulheres no Afeganistão, garantindo que elas tenham acesso igualitário à educação, emprego e participação plena na sociedade, independentemente do contexto político ou social em que vivem.

As organizações humanitárias enfrentam desafios significativos na sua tentativa de mitigar o sofrimento no Afeganistão, devido à escassez de recursos essenciais. Em um esforço coordenado pelas Nações Unidas, incluindo o ACNUR, foram providenciados alimentos, abrigos, assistência em dinheiro e suprimentos domésticos para quase 23 milhões de pessoas no ano passado, ajudando a evitar uma crise de fome severa durante o inverno.

No entanto, apesar desses esforços, mais da metade da população afegã, aproximadamente 24,4 milhões de pessoas, continua necessitando de apoio humanitário. Este grupo inclui pessoas deslocadas, muitas delas vivendo em condições precárias em assentamentos improvisados. Com a chegada iminente do inverno e suas temperaturas congelantes, espera-se que as necessidades aumentem ainda mais, aumentando a pressão sobre os recursos disponíveis.

A ONU estimou a necessidade de US$ 4,4 bilhões para financiar seu plano abrangente de resposta humanitária para o Afeganistão em 2022. No entanto, até o momento, apenas cerca de 41% dessa quantia foi recebida, resultando em uma lacuna crítica de mais de US$ 2,4 bilhões que precisa ser preenchida urgentemente para atender às necessidades humanitárias essenciais no país.

Além disso, o ACNUR também enfrenta um déficit significativo em seus recursos para a resposta à situação no Afeganistão, precisando de US$ 229,7 milhões adicionais para continuar seu trabalho vital não apenas no Afeganistão, mas também para apoiar os refugiados afegãos em países vizinhos. Esses financiamentos são essenciais para garantir que as organizações humanitárias possam continuar a proporcionar assistência crucial e salvar vidas em meio à crise humanitária contínua no Afeganistão.

Análise

A retirada dos EUA marcou o fim de uma presença militar de duas décadas, levando ao colapso rápido do governo afegão e à tomada do poder pelo Talibã. A segurança interna do Afeganistão se deteriorou significativamente, com o ressurgimento de ataques terroristas e confrontos internos. A ausência de forças estrangeiras também criou um vácuo de poder, aumentando o risco de que grupos extremistas, como o Estado Islâmico, se consolidem na região, representando uma ameaça não apenas ao Afeganistão, mas também ao resto do mundo.

Sob o regime do Talibã, os direitos das mulheres retrocederam drasticamente. Medidas rigorosas foram implementadas, restringindo a educação, o trabalho e a liberdade de movimento das mulheres. Escolas e universidades para meninas foram fechadas, e muitas mulheres foram obrigadas a deixar seus empregos. O futuro dos direitos das mulheres no Afeganistão permanece incerto, com o Talibã impondo uma interpretação estrita da lei islâmica, afetando negativamente as conquistas alcançadas nos últimos 20 anos.

A economia afegã, já fragilizada, entrou em colapso após a retirada dos EUA. A ajuda internacional, que representava uma grande parte do orçamento do país, foi drasticamente reduzida. As sanções internacionais e o congelamento de ativos também contribuíram para a crise econômica. A pobreza aumentou, a inflação disparou e a moeda local se desvalorizou. A crise econômica agravou a situação humanitária, com milhões de afegãos enfrentando fome e desnutrição.

A estabilidade política do Afeganistão foi severamente abalada. O governo central perdeu legitimidade e capacidade de governar, resultando em um controle quase total do Talibã sobre o país. As tentativas de formar um governo inclusivo e representativo falharam, e o Talibã enfrenta resistência de grupos de oposição, como a Frente de Resistência Nacional. A instabilidade política tornou-se uma característica permanente, com o Afeganistão retornando a uma era de incerteza e violência.

Os direitos humanos no Afeganistão sofreram um retrocesso significativo. Além das restrições impostas às mulheres, houve relatos de execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias e repressão a jornalistas e ativistas. As minorias étnicas e religiosas também enfrentam perseguições. A liberdade de expressão e a liberdade de imprensa foram severamente restringidas. As organizações de direitos humanos enfrentam dificuldades em operar, e a situação geral dos direitos humanos se deteriorou.

A retirada dos Estados Unidos do Afeganistão teve consequências devastadoras para a segurança, os direitos das mulheres, a economia, a estabilidade política e os direitos humanos. O país, que já enfrentava desafios significativos, viu-se mergulhado em uma crise multidimensional. A comunidade internacional enfrenta o dilema de como engajar-se com um regime do Talibã enquanto tenta mitigar o sofrimento do povo afegão. A situação no Afeganistão permanece volátil e complexa, exigindo atenção e ação contínuas da comunidade global.


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Um comentário em “Corram “das” Montanhas, corram pela suas vidas”: A retirada Americana do Afeganistão

  1. Olá
    A muito tempo não comento neste site, mas achei que seria interessante fazer a indicação de vídeo (link abaixo de vídeo disponibilizado a cerca de duas horas atrás pelo canal Millennium 7, no Youtube), por aqui pq acho que este ainda é o melhor ambiente em língua portuguesa para comentar este tipo de assunto. Lá é entrevistado Jussi Halmetoja, 24 anos como piloto da Força Aérea da Suécia (começou com o Viggen e transicionou para o Gripen), assessor de domínio aéreo e piloto de desenvolvimento e suporte do programa Gripen E da SAAB. Na entrevista ele dá algumas declarações interessantes: a relevância do espectro eletromagnético na guerra atual; as potencialidades do Gripen neste campo; a inutilidade da capacidade stealth frente ao desenvolvimento sem precedentes da guerra eletrônica (radares, enlace de dados, etc.). Não me pareceu uma entrevista de propaganda pois acompanho o canal Millennium 7 a alguns anos e, sob meu ponto de vista, é um dos melhores para análise técnica de temas ligados a equipamentos militares (a auto proclamada imprensa especializada em defesa brasileira teria uma ou duas coisas a aprender com ele e com o pessoal do Parabellum da Itália). Link https://www.youtube.com/watch?v=ffGQLnlXks4

    Abraços e boa sorte neste retorno do site e do canal.

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