E.M.Pinto
A Guerra entre Israel e o Hamas desencadeou um debate internacional sobre o papel da Autoridade Palestina (AP) em Gaza. A AP, liderada pelo Fatah, foi expulsa de Gaza em 2007 pelo Hamas, após a vitória deste último nas eleições legislativas. O governo dos Estados Unidos e outros países têm instado ao retorno da Autoridade Palestina para governar Gaza, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, opõe-se a isso, alegando que tanto o Fatah quanto o Hamas buscam a destruição de Israel.
Vozes do primeiro escalão israelense negam veementemente a possibilidade de um papel para a Autoridade Palestina após a guerra contra o Hamas e seus aliados, porém, contrariando os ditames mais ferozes de Benjamin Netanyahu no conturbado do conflito, uma voz destoante insiste numa solução mais amena para a situação. O conselheiro de segurança nacional israelense, Tzachi Hanegbi, sugeriu uma posição mais moderada, afirmando que Israel “não deseja controlar assuntos civis em Gaza”.
Esta visão é cada vez mais crescente isso porque a comparação de Netanyahu entre o Fatah e o Hamas é criticada por alguns especialistas, incluindo a pesquisadora Ksenia Svetlova, que argumenta que os dois movimentos são distintos. O Hamas, com uma ideologia islâmica radical, recusa-se a ceder qualquer parte da “terra islâmica”, incluindo a “Palestina histórica”, enquanto a Fatah, uma força secular, poderia permitir negociações e nos períodos recentes tem se mostrado disponível para tal empreitada.
As lideranças israelenses criticam entre outras coisas a falta de condenação oficial da Autoridade Palestina ao ataque do Hamas em outubro, cujas argumentação são rebatidas pelo lado Palestino que atesta que a responsabilidade pela segurança que foi violada é debitada à administração israelense que ignorou ou foi incompetente no ato de impedir as operações do Hamas e seus afiliados e que não necessariamente estes sejam os interesses da Autoridade Palestina como apregoam algumas lideranças israelenses.
Gershon Baskin um ativista pela paz ganhou notoriedade na mídia israelenses nestes meses ao iniciar uma campanha que busca destacar a diferença entre Fatah e Hamas, com a Fatah comprometida com a paz baseada em dois estados, enquanto o Hamas busca a destruição de Israel. No Gabinete do primeiro ministro esta visão é considerada distorcida e que o ativismo tem sido usado como máquina de engenharia social que busca “demonizar” as ações de Israel e “vitimizar” os atos terroristas dos inimigos de israel.
Segundo ele “os métodos nem sempre são diferentes, mas os objetivos são os mesmos”.
Netanyahu equipara Fatah e Hamas, e esta visão para alguns especialistas são apenas formas dialéticas e menos ideológicas para a solução do caso e que estão mais relacionadas à realpolitik.
Figuras importantes da mídia israelense e que possuem um certo status de coerência como o jornalista Mohammed Daraghmeh, correspondente da Association Press destacam que o presidente Mahmoud Abbas adotou uma abordagem anti-violência desde 2005, diferenciando-se de seu antecessor, Yasser Arafat. Num artigo recente, Daraghmeh ressalta uma pesquisa realizada por Ksenia Svetlova, que reforçam esta tese de que Abbas ao desmantelar as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa em 2007, indicava o seu posicionamento anti violência.
De forma contrária a esta visão, o especialista em segurança General de brigada Yossi Kuperwasser discorda dessas visões positivas sobre a Fatah moderna, afirmando que a Autoridade Palestina e o Hamas compartilham a narrativa de que os judeus não têm direito à soberania sobre a Terra de Israel. Ele argumenta que os tratados assinados pela Autoridade Palestina com Israel visam a destruição do Estado de Israel, citando o “Plano em Fases” da OLP de 1974 como evidência. Kuperwasser concorda com o gabinete do primeiro ministro ao relembrar que o próprio Hamas considera toda e qualquer iniciativa ou acordos assinados pela autoridade palestina como “Nulos” e que num “ambiente de fragilidade o grupo terrorista palestino assaltaria o poder dos territórios palestinos assim como o fez em Gaza com o consentimento de lideranças ligadas à Fatah”.
Esta visão é compartilhada por algumas outras autoridades que comparam a Autoridade Palestina ao Hamas, afirmando que não há diferença significativa entre eles. Embora os argumentos sejam diferentes há quase um consenso das autoridades locas israelense na Cisjordânia e nas cercanias de Gaza de que a queda eminente da Autoridade Palestina seria algo inevitável. Segundo elas, a capacidade da Autoridade Palestina de governar Gaza é extremamente questionável e isso se baseia em pesquisas que indicam uma preferência significativa pelo Hamas entre os árabes na Cisjordânia.
Numa reportagem recente do The Times of Israel menciona a controversa política de “pagamento para matar” de Ramallah, onde são feitos pagamentos mensais a famílias de terroristas palestinos mortos em confrontações contra as forças do IDF. Esta política é citada como problemática, inclusive por aqueles que apoiam a ideia de uma governação de Gaza liderada pela Autoridade Palestina, uma vez que esta mantém esta prática o que para Israel significa a manutenção da guerra constante e o incentivo a confrontação contra as forças d e segurança de Israel especialmente para os jovens.
Daraghmeh mencionou que a prática de pagamentos de pensões aos familiares dos mortos em confronto contra o IDF é resultado de um descuido histórico, citando a falta de imposição de condições por Israel durante as negociações de Oslo. outros autores enxergam esta questão como um erro de cálculo e prepotência israelense ao achar que esta prática seria desencorajada devido a “clara” superioridade tática das forças do IDF, ignorando os fatores sociais que empurram jovens pobres e desesperados para a única alternativa existente. Lutar por uma causa e morrer por ela consagrando-se herói de seus tempos. .
Daraghmeh destacou em inúmeras vezes que a Autoridade Palestina era inicialmente uma estrutura temporária, mas que devido aos erros constantes das lideranças israelenses, persistirá devido à ausência de um horizonte político claro. A revogação dos pagamentos nesta altura do campeonato, segundo ele, faria com que a Autoridade Palestina perdesse por completo o pouco apoio que conseguiu manter entre os palestinos. Isto porque, esta iniciativa iria parecer um claro recado de colaboração com Israel sem a obtenção de nenhum benefícios em troca. Esta iniciativa ainda que não fosse unilateral, arremessaria uma multidão de atuais apoiadores da AP para a causa do Hamas.
Kuperwasser discorda, afirmando que o esquema de pagamentos é uma política deliberada da Autoridade Palestina para encorajar o terrorismo, com a Fatah considerando o terror como uma ação legítima.
Neste meio, líderes palestinos buscam a integração política do Hamas, alguns especialistas israelenses, como Svetlova e Shaul Bartal, expressam ceticismo e destacam desafios significativos. Bartal por exemplo sugere que Gaza seja administrada por uma entidade internacional, constituída por estados neutros e que pelo menos por algum tempo esteja sobre o controle e segurança de Israel.
Sua análise vai de encontro as recentes declarações de Netanyahu que destaca a preocupação com a segurança, questionando “quem impedirá a repetição de atrocidades no futuro se o controle de segurança não for mantido por Israel”?.
O fato é que Israel está sendo pressionado pelos Europeus reunidos na Suíça e pelas autoridades americanas que frente a uma eleição problemática, precisam criar um ambiente mais favorável às suas reputações. Especialmente os europeus conduzem uma campanha de apoio ao fortalecimento da Autoridade Palestina enquanto Washington que apoia a iniciativa europeia, vislumbra uma maior participação dos estados Árabes aliados na condução do futuro de Gaza conjuntamente a Israel.
Tais iniciativas são tratadas pelo gabinete de Netanyahu como inaceitáveis e classificadas como: “uma nova bomba armada para explodir a posteriori”.
Há divergências entre os Estados Unidos e outros países que defendem o retorno da Autoridade Palestina para governar Gaza, enquanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, opõe-se a essa ideia, alegando que tanto o Fatah quanto o Hamas buscam a destruição de Israel e que isso é inegociável frente aos fatos.
O fato é que diante dos desdobramentos, as soluções para os impasses nos conflitos internos de Israel e palestina, agora alcançaram as fronteiras exteriores e envolvem muito mais nações e por incrível que possa parecer, é benéfica ao discurso de Benjamin Netanyahu que coloca o mundo diante de um problema que parece “seu”.