Míssil de precisão entra em fase final

Exército retoma voos de testes do MTC-300, capaz de atingir um alvo a 300 km de distância; primeiras entregas estão previstas para 2023

Roberto Godoy, O Estado de S.Paulo

26 Março 2018 | 05h00

O primeiro míssil brasileiro de cruzeiro, o MTC-300, com 300 km de alcance e precisão na escala de 50 metros, entra na fase final de desenvolvimento esse ano, com a retomada dos voos de teste. As primeiras entregas para o Exército estão previstas para 2020 – encomenda inicial de 100 unidades, definida em 2016, está sendo negociada e será entregue em lotes sequenciais até 2023. O investimento no programa é estimado em R$ 2,45 bilhões.

O míssil é o vetor mais sofisticado do desenvolvimento do Astros 2020, a sexta geração de um sistema lançador múltiplo de foguetes de artilharia criado há cerca de 35 anos pela empresa Avibras, de São José dos Campos. O Programa Estratégico Astros 2020 cobre a compra e a modernização de uma frota de 67 carretas lançadoras e de veículos de apoio, a pesquisa do MTC-300 e também a de um novo foguete guiado, o SS40G, de 45 km de raio de ação. No pacote entra a instalação do Forte Santa Bárbara, em Formosa (GO), sede do grupo, que já opera 53 viaturas da versão 2020.

“O míssil expande a capacidade de dissuasão do País e confere ao Exército apoio de fogo de longo alcance com elevados índices de precisão e letalidade porém com mínimos danos colaterais”, analisa um oficial da Força ligado ao empreendimento. É um recurso empregado para missões de destruição de infraestrutura, como uma central geradora de energia ou um complexo industrial. A cabeça de guerra de 200 kg de explosivos é significativa. “Com duas delas é possível comprometer o funcionamento de uma refinaria de petróleo de grande porte”, considera o engenheiro militar.

A configuração do MTC 300 é o resultado de 13 anos de aperfeiçoamento. O desenho é moderno, compacto, e utiliza asas retráteis que se abrem depois do disparo partir do casulo transportado por uma carreta. O motor de aceleração usa combustível sólido e só é ativado no lançamento. Até agora foram realizados 16 voos de ensaio. Há ao menos mais quatro em fase de agendamento antes do começo da produção de pré-série.

Míssil MTC-300
Primeiras entregas do míssil MTC-300 estão previstas para 2023 Foto: JF Diorio/Estadão

Durante o voo de cruzeiro, subsônico, o míssil tem o comportamento de uma pequena aeronave – a propulsão é feita por uma turbina desenvolvida também pela Avibrás. Ela foi construída para durar 40 horas, dez vezes mais que as quatro horas do tempo máximo de uma missão de ataque. A navegação é feita por uma combinação de caixa inercial e GPS. O míssil faz acompanhamento do terreno com um sensor ótico-eletrônico, corrigindo o curso em conformidade com as coordenadas armazenadas a bordo.

Regras. A arma está no limite do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, o MTCR, do qual o Brasil é signatário. O acordo restringe o raio de ação máximo a 300 quilômetros e as ogivas a 500 quilos. O MTC-300 está dentro da distância fixada e atua com folga no peso, sustenta o presidente da Avibras, João Brasil de Carvalho Leite.

O míssil ainda não tem o radar necessário para buscar alvos móveis. O recurso permitiria realizar por exemplo, um disparo múltiplo contra uma frota naval, liderada por um porta-aviões, navegando a até 300 quilômetros do litoral – no caso do Brasil, eventualmente ameaçando províncias petrolíferas em alto-mar. Uma bateria do sistema é composta por seis carretas lançadora com suporte de apoio de viaturas remuniciadoras, um blindado de comando, um carro-radar de tiro, um veículo-estação meteorológica, um de manutenção e, quando houver uso do míssil, um de preparo de combate.

O MTC-300 é disparado por rampas duplas – cada carreta levará quatro unidades. O Astros 2020 completo pode utilizar quatro diferentes tipos de foguetes. O modelo SS-30 atua em salvas de 32 unidades e o SS-40, de 16. Os maiores, SS-60 (70 km de alcance) e SS-80 (cerca de 90 km), de três em três. O grupo se desloca a 100 km/hora em estrada preparada e precisa de apenas 15 minutos de preparação antes do lançamento. Cumprida a missão, deixa o local deslocando-se para outro ponto da ação, antes que possa ser detectado.

O mercado internacional para o produto é amplo. Uma prospecção feita há dois anos pela Avibras entre países clientes, operadores das versões mais antigas do sistema de foguetes – Arábia Saudita, Malásia, Indonésia e Catar, além de três novos interessados, não identificados – indicou um potencial de negócios entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3,5 bilhões a serem definidos até 2025. A empresa, que atravessou uma séria crise até 2015, quando registrou receita bruta de R$ 1,1 bilhão, cresceu 20% em 2017, obtendo receita liquida de R$ 1,7 bilhões.

Fonte: Estadão

32 Comentários

  1. Boa noticia mas o missel matador com a penas 300km de alcance e muito curto espero que venha novas versões dele com alcance muito maior de no mínimo 1200Km ai as coisas ficaria interessante já dava pra impor respeito mais enfim estamos no caminho certo parabéns ao EB e a Avibras a única empresa de defesa genuinamente Brasileira

    • Infelizmente vivemos em um país onde os governantes não tem o mínimo de visão estratégica,o governo assinou um acordo internacional que impõe o limite máximo de 300km para mísseis,por isso essa arma não virá com um alcance maior que esse.

  2. é um começo mas como disse o Joaquim tem que aumenta o alcance do míssil pra mais de 1000km, vamos se sincero qual a chance de um veículo lançado chegar a 300km do alvo de alto valor? outra poderia desenvolve uma versão pra fab integrado ao amx e num futuro ao gripen e uma versão pra marinha lançado de submarino e navio

  3. No teste o missil atingiu alcance de ate 500 km, engenheiro da avibras afirmaram se necessario ele poderia chega ao alcance de 700 km…

  4. É interessante notar o valor que esse míssil vai agregar para a industria nacional, que vai desde o desenvolvimento de software para usos diversos há usinagem de motores e peças para o setor metalmecânico.

    Sds

  5. Não pode deixar morrer de inanição. Tem ter encomendas e desenvolvimento contínuo. Já é muita coisa. O caminho tem ir por ai. Tem ser pragmático. O exército ficou com as patentes da Engesa. Aproveitem! Coloquem o Osório e o Casvavel (esse pequeno tanque sobre rodas é incrível) na planta de novo, modernizem no melhor custo benefício possível.

    • Sei que missão desse míssil é atingir alvos estáticos e grandes, por enquanto, para começar tá ótimo, más tem que melhorar isso aqui “precisão na escala de 50 metros”, buscar interação e desenvolver o radar de busca. A SIATT é pequenininha pode não ter gente para muita coisa ao mesmo tempo, más parece ter muito potencial, formou-se com a espinha dorsal da Mectron, talvez possam dar uma mãozinha neste quesito.

  6. …..finalmente outra boa notícia, após a finalização do submarino Riachuelo…infelizmente não se pôde ver até agora um vídeo do vôo experimental dessa versão com asas….seria bom que no futuro fabricassem novas versões para distancias além de 300 kms…..esperar pra ver….

  7. …………o Exército poderia voltar a fabricar o Sucuri, um bom caça tanques 6×6 com seu canhão de 105mm fato que até agora não ocorreu com o Guarani,o qual está limitado,até agora, a um reparo de metralhadora ao invés de um canhão de ao menos 90 mm…..vão gastar uma boa grana tentando estica-lo para 8×8…..bem,. realmente a Engesa produziu ótimas desenhos de blindados….sua falencia será sempre lamentada………que fazer?………………………..

  8. Excelente notícia, porém passou da hora da Avibrás/ EB mostrarem teste do míssil.
    Como o fazem empresas mundo a fora, só aqui no Brasil é que mantem esse sigilo bobo em coisas corriqueiras, e o que deve ser sigiloso abrem para todos.
    Como é o caso da Base de submarinos, centros de controle do SGDC, centro de guerra espacial etc..
    Ou o empresariado nacional ainda não entendeu que “a propaganda é a alma do negocio”, ou os militares nacionais acreditam estar desenvolvendo tecnologias ultra modernas e que não podem ser apresentadas ao público.
    Só um conselho para a Avibrás, se quer ter sucesso na comercialização desse míssil, deve o mais rápido possível apresentar testes de voo, abertura de asas etc..
    Como fizeram Indianos, Turcos, Americanos etc..
    Também será extremamente interessante o aprontamento do Vant Falcão, para aquisição de alvos, análise pós ataque, reorientação de ataque, inteligência etc..
    A dupla Matador (MT-300), Falcão elevará a unidade de artilharia de misseis do EB a um patamar sem igual, além de oferecer um poder estratégico nunca antes adquirido ao Brasil.
    Quanto ao míssil de 500 km, acho que deveriam já desenvolver um com 1.000km de alcance, pois como já dominamos a tecnologia e possuímos comunicações que vão do território nacional até a costa ocidental da África, nada nos impede de tal façanha.

  9. Realmente o EB detêm os direitos de projetos, equipamentos etc da extinta Engesa.
    Deveriam abrir essas informações todas a empresas nacionais interessadas, gerando assim “novos” produtos derivados dos antigos.
    Hoje seria de suma importância versões AAe, auto propulsadas, lança pontes, desminagem, caça tanques, MBT, Robês etc..
    Dos veículos Tamoio-III, Osório, Ogum, Sucuri etc..
    Alguém do EB poderia me dizer com quem converso na instituição para ter acesso aos protótipos e documentação técnica?
    Assim posso evoluir esses produtos srsrs ?

  10. a Avibras desenvolveu Know-how importante …..AVMT-300, sistemas Astros 2020, FOG-MPM…infelizmente fará fila junto com a Embraer…cada povo tem o pais que merece…

  11. Do jeito que vai os “desmandos” dessa repúbliqueta, não duvido do que o caro Máquina Troll, diz não.
    Para um país que entrega seu programa espacial, 3º maior montadora de aviões do mundo, controle de sua energia, controle de seus bancos, ou seja sua riqueza, abandona projetos nacionais em detrimento de estrangeiros e por ai vai !
    Não duvido de mais nada nisso aqui.
    Lembram-se quando disse para não apostarem todas as fichas na Montaer (Embraer)?
    Parar de entregar contratos estratégicos para essa empresa, e fomentar outra ou novas empresa ??
    Pois é, agora vão dar de bandeja e por uma “pedrinha colorida” a joia da coroa rsrs.
    E para piorar o que já é ruim o bastante, vão juntos os poucos segredos estratégicos dessa repúbliqueta (SNC, SBR, SUBSTIC-BR etc..), além de produtos desenvolvidos com o dinheiro nacional ( KC-390, GRIPE (GRIPEN), SGDC etc).
    Absurdo!

    • não se esqueça de todo o petróleo do pré-sal, aquífero guarani, terras agricultáveis……quando todos esses programas em desenvolvimento pela Avibras ficarem prontos ai eles privatizam….pra lucrarem em cima do que os troxas trabalharam para desenvolver…

  12. Isso de “300 quilômetros” e conversa fiada para não se indispor diplomaticamente com nossos vizinhos, e nem iniciar uma corrida armamentista desnecessária no momento atual. Mas fora de esfera “oficial” um monte de gente ligados a area militar afirma que por conta de seu motor foguete e sua tecnologia de precisão embarcada, ele seja capaz de atingir alvos a mais de mil quilômetros.

    • Comentário de gente séria é outra coisa… PARABÉNS CP… como sempre, provando que só há vida inteligente do lado de cá… não se pode falar o mesmo do lado E do disco… 🙂

    • “Ela( turbina) foi construída para durar 40 horas, dez vezes mais que as quatro horas do tempo máximo de uma missão de ataque”

      Se em 4 horas ele alcança 300Km em 40 horas ele vai bem mais longe, claro que o peso de um míssil maior e mais combustível à bordo reduzem o alcance mas já é um excelente começo.
      A Avibras deve procurar vender para clientes externos ,não podemos confiar nos nossos governos irresponsáveis.
      Torço muito pela evolução do projeto.

  13. Gente, se os dados do míssil acima estiverem corretos.
    Velocidade máxima: 800km/h, peso: 1.400kg, e utilizando a equação de Torricelli V^2= V0^2.2a∆s^2
    Calculei um alcase máximo de mais 3.200km de alcance.

    • Não tá se esquecendo do fator “combustível x capacidade de armazenamento sem aumento de volume”, ou já considerou isso ???…

  14. Demorou muito para se materializar…
    Devido a tratado MCTR – Missile Technology Control Regime, ao qual o governo FHC aderiu, pode-se exportar um vetor desta natureza limitado ao alcance de 300km…
    Para equipar as FFAA do país não existirá limite. A tecnologia embarcada permite um alcance maior com facilidade absurda: basta aumentar o reservatório de querosene (combustível da micro-turbina)…

  15. Blue Eyes, estou considerando a informação de 1.400 kg como peso bruto total!
    Já levando em consideração que esse peso já inclui combustível, cabeça de guerra (explosivo) etc..

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