Autor: 1º Tenente Diego Peixoto dos Santos
Edição Plano Brasil
A vida humana em sociedade, desde o início em pequenos grupos populacionais, passando pelos grandes impérios multiétnicos, até os Estados nacionais como conhecemos hoje, sempre foi repleta de conflitos, animosidades e atritos, tanto na esfera pessoal, quanto no choque entre as coletividades. Aceitar diferenças, conviver com a diversidade e, acima de tudo, submeter-se a ela é difícil, ainda mais quando se luta diariamente para expor e fazer valer seus interesses e pontos de vista. Por isso, criou-se, junto ao conceito de sociedade, a coletividade e a aceitação de um ideal maior que o individualismo, no intuito de se obter proteção mútua.
Thomas Hobbes (1588-1679), em seus pensamentos sobre o “estado de natureza” do homem, afirmou que, inicialmente, o ser humano é dotado de sentimentos ruins e voltado para o caos e para a guerra. Nesse meio, não há indústria, agricultura, artes, medicina ou qualquer forma de progresso. O indivíduo luta continuamente por seus interesses, não se importando com o outro. Porém, em um determinado momento, estaria disposto a depositar sua devoção em uma entidade maior, capaz de protegê-lo continuamente, no momento em que dorme, descansa: o Estado.
Ainda em Hobbes, quando se alcança a estabilidade dentro de um determinado Estado e, aceitando que outros Estados também o façam, entramos no famoso “dilema de segurança”, pois criamos um ambiente de instabilidade internacional, onde cada País deve atuar de maneira a garantir os interesses, a estabilidade, a segurança e o bem-estar de sua população, a despeito dos interesses de outras nações vizinhas.
Dentro desses ensaios narrados por um dos maiores pensadores realistas da história, contextualiza-se a sociedade atual, com seus conflitos étnicos no continente africano; as divergências religiosas no embate sangrento entre o islamismo extremista e o cristianismo; o duelo político entre as grandes potências na busca de dominação e projeção global; a disputa econômica separando países desenvolvidos de subdesenvolvidos, entre outros confrontos que, recentemente, levantam bandeiras que transcendem o conceito de Estado e figuram em pequenas minorias – grupos ativistas de liberdade sexual, de uso de drogas e de outras reivindicações.
Logo, pensar e refletir sobre Thomas Hobbes, Tucídides, Nicolau Maquiavel, Hans Morgenthau e outros filósofos da Escola Realista não seria uma prática que se encaixaria apenas na teoria, mas que auxiliaria no correto entendimento do perfil do homem que vive em uma sociedade sem fronteiras, globalizada, a qual, muitas vezes, assiste ao imperialismo das grandes potências de maneira passiva e sem perspectiva de mudança, afinal, impor uma vontade a outros grupos faz parte da política externa de um Estado nacional, pois, ao realizar tal imposição, reflete os interesses de seu povo aos demais, demonstrando força. Desse modo, na maioria das vezes, grandes potências inundam cultural e economicamente países subdesenvolvidos, fazendo deles seu “depósito de cultura de massa e mercado consumidor”.
Em síntese, pode-se afirmar, com propriedade, que várias questões delicadas que flagelam a sociedade atual encontram não só explicação prática, mas também embasamento teórico e doutrinário em antigos filósofos, os quais, mesmo não sendo contemporâneos aos avanços tecnológicos de hoje, também viveram em sociedades conflitantes, pois a humanidade, em todos os tempos, sempre foi propícia à guerra e ao enfrentamento.
Dentro dessa ótica realista, o tema “O estudo do pensamento realista na sociedade atual” traz à tona questões recentes de disputa de poder e de conflito de ideias, que permeiam o homem no século XXI, à luz de pensadores que foram e ainda são referência do pensar e agir em sociedade e que definiram em seus discursos filosóficos o comportamento dos Estados em sua política externa, tornando possível traçar vários perfis da política mundial que se apresenta nos dias de hoje, pois o homem está fadado a conviver em sociedade desde o nascimento até o fim de sua existência.
Para contextualizar, podemos traçar um paralelo com dois discursos de pensadores que se perpetuaram pela história: em seus estudos, o estrategista militar Carl Von Clausewitz (1780-1831) afirmou que, “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Já nos pensamentos do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), “O homem é por natureza um animal político”.
Partindo dessas duas afirmações, conclui-se que, se o ser humano é por natureza um ser dotado de política – pois a política nada mais é do que a relação em sociedade – e se a guerra configura-se como a continuação da política por outros meios, Clausewitz e Aristóteles, separados por mais de dois mil anos de história, convergem de maneira aterradora para Thomas Hobbes, quando este diz que “A condição do homem é a condição da guerra”.
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