Autor: Anderson Barros e Carlos E.S. Junior
Matéria produzida em parceria com o Site Warfare
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PREFÁCIO
A África do Sul tem mostrado grande capacidade de desenvolvimento de sistemas de armas próprios graças ao embargo internacional de armas que sofreu durante os anos 70 e 80. Com isso a industria sul africana cresceu de forma que hoje pode ser considerada um dos polos de desenvolvimento bélico do planeta. este embargo, imposto pela ONU devido ao governo sul africano da época ser racista, obrigou aos militares sul africanos buscarem soluções próprias para sua defesa, uma vez que havia uma guerra em andamento em sua fronteira com sudoeste africano, (atual Namíbia), onde o apoio soviético e cubano começou a trazer muitos carros de combate para as tropas inimigas de Pretória. A força aérea sul africana sentiu que precisava de um helicóptero de combate dedicado para escoltar seus helicópteros de transporte de tropas e mesmo dar uma resposta a altura para os tanques de origem soviéticas que estavam fortalecendo as forças inimigas.
ORIGEM
A história do desenvolvimento do AH-2 Rooivalk começa com os estudos da então Atlas, uma empresa aeroespacial sul africana para adaptar os helicópteros em uso pela força aérea sul africana para transportar e operar armamentos. Avaliou-se o Aérospatiale Alouette III, produzindo um derivado cujo nome foi XH-1 Alpha, porém o modelo se mostrou menos potente que o ideal para a missão.

O protótipo Atlas XH-1 Alpha demonstrador de conceito desenvolvido a partir um helicóptero utilitário Aérospatiale Alouette III.
Assim a um outro protótipo, desta vez baseada na célula do helicóptero de transporte Puma, consideravelmente mais potente e com mais espaço para integração de sistemas, foi construído sob o nome de XTP-1 Beta, que recebeu diversos sistemas de armas e sensores em uma plataforma do SA 330 Puma e que acabou encorajando a Atlas a seguir o desenvolvimento de seu helicóptero de combate dedicado, usando diversos componentes do SA-330 da versão produzida localmente sob o nome de Oryx, com modificações que melhoraram o desempenho do Puma para o ambiente quente sul africano.

O XTP-1 Beta demonstrador desenvolvido a partir de um Aérospatiale SA 330 Puma, utilizado como bancada de testes e para avaliação dos sistemas dinâmicos do futuro Rooivalk
O primeiro protótipo do “novo” helicóptero de combate ficou pronto em 1989 e fez seu primeiro voo no começo de 1990, sendo batizado de XH-2. Os protótipos foram designados como XH-2XDM (Experimental Development Model – Modelo de Desenvolvimento Experimental Rooivalk (posteriormente designado CSH-2, e mais adiante AH-2).
O primeiro protótipo de pré-produção XH-2 XDM realizou seu primeiro vôo em 11 de fevereiro de 1990. O XH-2 XDM utilizava o sistema de transmissão e os rotores do puma, que foram adaptados e aperfeiçoados para o vetor. O XH-2 XDM tinha como função testar os sistemas mecânicos do vetor. Com a paralização dos combates em que o país estava envolvido, a SAAF interrompeu o programa, que foi posteriormente reaberto com fundos próprios, onde um segundo protótipo foi construído, sendo designado XH-2ADM (Advanced Demonstration Model – Modelo de Demonstração Avançado), realizando seu primeiro vôo durante o segundo trimestre de 1992 tendo todos os aviônicos e sistemas de armas totalmente integrados e funcionais. OXH-2 ADM foi incumbido da função de bancada de testes para testar os armamentos, incluindo o míssil antitanque Mokopa e com o canhão Vektor GI-2 de 20 mm.
O terceiro protótipo de pré-produção XH-2 EDM (Engineering Development Model – Modelo de Desenvolvimento Aplicado) realizou seu primeiro vôo em 17 de novembro de 1996. Este protótipo foi equipado com supressores IR que reduziram substancialmente a assinatura infravermelha do vetor e teve uma maior utilização de materiais compostos na construção de sua estrutura e fuselagem. Em 1992 a Atlas foi absorvida pela Denel Aviation, que por sua vez, deu sequencia ao desenvolvimento de fabricação do, agora rebatizado AH-2 Rooivalk .

Os três protótipos da esquerda para a direita: XH-2XDM (Experimental Development Model), XH-2ADM (Advanced Demonstration Model) e o XH-2 EDM (Engineering Development Model)
PROPULSÃO
O AH-2 AH-2 Rooivalk faz uso de dois motores Turbomeca Makila 1K2 que entregam uma potência de 2301 HP cada. Vale ressaltar que os motores da família Makila equipam outras aeronaves de asas rotativas como o AS-332 Super Puma, AS-532 Cougar ( H215M ) e o EC-725 (H-225M) Caracal.
Os motores que são instalados nas laterais da fuselagem de forma isoladas que se conectam à caixa de transmissão do rotor, de forma a ajudar evitar danos simultâneos aos motores. O vetor também está equipado com supressores IR nos dutos de exaustão dos motores e com uma tela protetora no duto de admissão do motor para impedir a ingestão de detritos do solo – FOD (Foreign Object Damage – Dano Causado por Objeto Estranho), que possam causar avarias nos propulsores.
Os dois motores Turbomeca Makila 1K2 dão ao AH-2 uma boa velocidade máxima, que chega a 309 km/h e uma excelente razão de subida de 798 m/min, permitindo ao Rooivalk ter boa capacidade de manobra. O AH-2 possui um alcance de 740 km com combustível interno e 1335 km com combustível externo.
PROTEÇÃO
A Denel dedicou sua atenção na segurança da aeronave e de seus tripulantes no campo de batalha, por isso o AH-2 foi desenvolvido desde o início para suportar o ambiente quente, seco, áspero e sem infraestrutura da África, o que acabou gerando um helicóptero capaz de operar em regiões sem a mínima infraestrutura, necessitando apenas de um helicóptero médio equipado com fermentas básicas, poucas peças sobressalentes e uma pequena equipe de apoio em terra de apenas 4 homens para manter o vetor operacional em combate.
O AH-2 A teve como um dos objetivos prioritários ter uma elevada capacidade de sobrevivência, para tanto o mesmo foi projetado para ser um vetor com baixa assinatura de calor (IR), visuais e acústicas visando dificultar sua detecção., mesmo assim, sua blindagem é classificada, o que, num mercado onde este dado costuma ser publico até como argumento de venda, leva duvidas sobre sua capacidade. O AH-2 possui uma estrutura primária construída em uma liga de alumínio e as estrutura secundárias, fuselagens e as lâminas dos rotores construídas em materiais compostos.
A estrutura principal do Rooivalk utiliza a tecnologia anti-crash (anti-choque) com capacidade de absorção de impacto. Os assentos foram projetados para serem resistentes e atenuarem o choque em caso de queda da aeronave. O conjunto de trens de pouso principais também foram concebidos para absorverem a energia do choque. E todos os tanques de combustíveis possuem auto vedação para impedirem que se incendeiem conseguindo manter a tripulação a salvo em caso de uma queda com estas cargas.
As pás são feitas de compósitos que reduzem o peso e aumentam a proteção balística Seu sistema de controles elétricos, hidráulicos e circuitos foram duplicados para aumentar a capacidade de sobrevivência em combate, pois em uma situação real é bem comum alguns desses sistemas serem avariados.

Acima :Nesta imagem é possível ver os supressores IR nos bocais de exaustão do AH-2 Rooivalk. Os mesmos direcionam o fluxo das turbinas para longe da estrutura, reduzem substancialmente a assinatura IR do vetor, elevando a capacidade de sobrevivência do Rooivalk.
SISTEMAS EMBARCADOS
O Rooivalk utiliza unidades de exibição com o conceito de glass cockpit visando à redução da carga de trabalho sobre a tripulação, que pode concentrar nas questões táticas da missão.
O vetor está equipado com uma completa suíte de navegação e também conta com um sistema HMD (Helmet Mounted Display) Thales TopOwl, que é um HMD que pode ser equipado com um sistema de visão noturna NVG (Night Vision Googles) integrado, e um HUD (Head-Up Display) que prove informações de navegação que permitem o vôo Nap-of-the-earth (NOE) com baixo perfil de vôo seguindo a baixa altura, utilizando o mascaramento do terreno, se escondendo atrás das imperfeições do solo e das copas das árvores evitando a detecção pelos radares inimigos a uma altura de 15 metros.
O AH-2 A é equipado com o sensor giro estabilizado Sagem STRIX, que fica montado sob o nariz do vetor e está equipado com sensores FLIR, câmeras CCD-TV, telêmetro laser com um alcance de 8 km, um designador laser, e um sistema de periscópio com visão ótica direta.

Acima: O sistema multisensor giro estabilizado francês Sagem STRIX dá ao Rooivalk a capacidade de enxergar em qualquer condição de luminosidade ou climática, além de fornecer dados para pontaria das armas guiadas a laser.
O Rooivalk está equipado com uma suíte de contramedidas eletrônicas e descartáveis totalmente integrada HEWSPS (Helicopter Electronic Warfare Self Protection System), que incorpora um sistema de alerta de radar RWR (Radar Warning Receiver), um sistema de alerta de laser LWR (Laser Warning Receiver), sistema IFF (Identification Friendor Foe – Identificação Amigo ou Inimigo) e dispensadores de Chaff e Flare.
SISTEMAS DE ARMAS
O AH-2 A utiliza como armamento primário o canhão Vektor GI-2 no calibre 20mm que possui uma cadência de disparo de 700-750 tiros por minuto, tendo uma capacidade para 700 munições. Este canhão possui uma mobilidade de 120º azimute e +15º e -65º de elevação, tendo uma taxa de movimentação de 90º por segundo.

Acima: O Rooivalk utiliza como armamento primário o canhão Vektor GI-2 no calibre 20mm que possui uma cadencia de disparo de 700-750 tiros por minuto, tendo uma capacidade para 700 munições.
O AH-2 também pode ser equipado com até 4 PODs lançadores de foguetes Hydra 70 19x70mm, com capacidade para 19 foguetes totalizando 76 unidades, ou com Hydra 70 9x70mm com capacidade para 9 foguetes Hydra 70 totalizando 36 unidades.
No quesito misseis ar-solo o AH-2 pode ser armado com até 16 misseis guiados por laser semi-ativo Denel Dynamics ZT-6 Mokopa que possui um alcance máximo de 10 km e uma excelente precisão com um CEP de 30 centímetros.

Acima: Denel Dynamics ZT-6 Mokopa que possui um alcance máximo de 10 km e uma excelente precisão com um CEP de 30 centímetros.
O AH-2 A também pode ser equipado com o míssil AGM-114 Hellfire com um alcance máximo de 8 km ou com o MBDA HOT 3 com um alcance máximo de 4,3 km. Para auto defesa contra outro helicóptero ou aeronave leve, o Rooivalk pode ser equipado com até 4 mísseis ar-ar MBDA Mistral com um alcance máximo de 6 km.
CONCLUSÃO
A Aafrica do Sul fez a lição de casa e conseguiu desenvolver seu helicóptero de ataque dedicado em um momento critico de sua história, onde os fornecedores tradicionais fecharam as portas devido ao regime do apartheid vigente na época. A aeronave não teve clientes externos e assim, só a Africa do Sul utiliza esta aeronave, onde 12 aeronaves foram construídas e 11 servem a força aérea do país, atualmente. Com esse numero extremamente pequeno de unidades, certamente o custo de aquisição foi alto.
A linha de produção se encerrou em 2007 com a entrega da ultima aeronave. Quando comparado com helicópteros de ataque disponíveis no mercado internacional, o Rooivalk se posiciona na categoria do consagrado (e clássico) Bell AH-1W Super Cobra. Porém, a favor do modelo norte americano, tem a quantidade muito maior de unidades fabricadas que facilita e barateia a reposição de peças.
O Rooivalk continuará a fazer parte do arsenal sul africano por muitos anos e deverá passar por um programa de modernização para um padrão que foi designado Rooivalk MK2 e que, caso siga em frente, poderá reabrir a linha de montagem para exportação do novo modelo, o que pode facilitar a aquisição de um helicóptero de ataque dedicado, principalmente para países que não tem liberação para aquisição de helicópteros de ataque dos fornecedores tradicionais.
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