Defesa & Geopolítica

A resposta da Rússia: Duro discurso de Vladmir Putin expõe a nova posição russa e suas novas armas

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Tradução e adaptação: ARC

Em uma mensagem à Assembleia Federal Russa, o presidente  Vladmir Putin surpreendeu a plateia e aos jornalistas do mundo com o seu discurso inusitado. Todos os presentes aguardavam um discurso sobre as propostas para o seu mandato na tradicional conferência que antecede as eleições russas.

Entretanto, Putin chocou o público  ao anunciar os mais novos avanços em armas do arsenal russo. Vladimir Putin, apresentou o novo sistemas de mísseis intercontinentais estratégicos “Sarmat”, um míssil de alcance global capaz de atingir a qualquer posição do planeta e que segundo Putin é invulnerável a qualquer sistema de defesa atual ou em desenvolvimento.

Além do Sarmat Putin falou de uma nova e temida arma, um drone submarino movido a energia nuclear o qual possui alcance igualmente irrestrito capaz de implantar armas nucleares e atacar frotas de navios invasores. O Público tomou conhecimento também de uma nova arma hipersônica denominada “Dagger” e um sistema de laser de combate dentre outros. falando para o Público num duo discurso, Putin alertou aqueles que que querem criar problemas para a Rússia de que estes terão uma resposta imediata…

 

 

 

“Por quê?”

Talvez, essa seja a pergunta fundamental para tantos leitores e espectadores que assistiram a  conferência,  por que a Rússia investe tanto em armamentos com o intuito  de subjugar os sistemas de defesa norte americanos? Para respondê-la é necessário analisar os acontecimentos dos últimos anos, nesta artigo que condensa alguams informações divulgadas pela rede russa RT, são apresentados alguns detalhes sobre a ótica do canal de televisão e mídia digital russa.

Guerra fria – Parte II

Durante anos, a comunidade global assistiu inerte aos avanços da estratégia norte americana de criar um sistema de contenção para os mísseis nucleares da Rússia. Justificativas maltrapilhas fizeram parte dos discursos, que buscavam dar legitimidade ao projeto de Washington. Foram realizados diversas reuniões com o propósito de alavancar o projeto, como também foram “costuradas” alianças com diversos países pelo mundo especialmente na região circundante da Rússia.

Diversas autoridades estadunidenses estiveram à frente deste projeto o qual usou de muitas desculpa para tirar o foco do motivo real da implantação de seus sistemas de defesa. O Irã foi usado também como justificativa, que segundo os EUA, possuíam um  “avançado” arsenal balístico crescente, que seria capaz de alvejar a Europa em poucos anos…o que é bastante contestado e mesmo refutado nos dias de hoje, o que dizer de 10 anos atrás quando o assunto estave em pauta.

Diante dessas e de outras justificativas, foram vistos nos últimos anos, diversos sistemas de defesa anti aérea dos EUA (DAM) avançando para perto das fronteiras da Rússia, tanto no flanco leste como no oeste, e tais medidas foram diversas vezes questionadas por Moscou, que via e vê o acordo de equilíbrio de forças sendo minado pelo ocidente, sob alegações infundadas.

Vale ressaltar que o Kremlim tentou diversas vezes buscar uma aproximação para solucionar o caso iraniano, oferecendo inclusive, um sistema de defesa conjunto, com a finalidade de trazer segurança para ambas as partes, e liquidar as desconfianças referentes ao propósito de tais sistemas, mas mais uma vez, os EUA não aceitaram um diálogo sobre o tema, sobre a afirmativa de que os sistemas nada tinham a ver com a Rússia.

Passado alguns anos, os EUA deram passos mais incisivos rumo ao objetivo de conter a Rússia e dessa vez a justificativa não era mais o Irã ou Coréia do Norte – que inclusive tornou-se o bode expiatório para a implantação dos sistemas THAAD na Coréia do Sul – mas a própria Rússia, que segundo o ocidente, havia “agredido” a soberania ucraniana, tomando parte de seu território, conhecido como Crimeia comprovou através de plebicito realizado na península, a intenção de seus populares (maioria russa) de pertencer a federação dos estados russos e não ao que sobrou da Ucrânia cujo produto interno bruto desmorona sem apoio russo, seu mairo parceiro comercial de outrora. A esmagadora parcela da população votou a favor da anexação, na da menos de  97%  dos eleitores.

O primeiro ministro romeno Dacian Ciolos e oficiais dos EUA participam de inauguração do sistema antimíssil americano de Deveselu na Romênia.

Diante desse novo discurso, os EUA avançou, e implantou na Romênia um sistema AEGIS Ashore Missile Defense System (AAMDS), sistema este, capaz de conter grande parte do arsenal balístico russo, jogando por terra toda a capacidade de reação da Rússia à um eventual ataque. Depois da Romênia, a Polônia que também teve início a implantação do  mesmo sistema e por último, o Japão, que também aderiu a implantação do equipamento norte americano.

Moscou Never Sleeps

Observando tais acontecimentos e juntando essas e outras peças do quebra cabeças, era esperada uma resposta da parte russa em relação aos último avanços de seu adversário ocidental.

A resposta foi progressiva, começou com um elaborado programa de modernização da tríade nuclear russa, que ficou defasada por conta do colapso da extinta URSS, gerando um gap tecnológico entre os equipamentos usados na Rússia em relação aos seus potenciais adversários.

O submarino nuclear multipropósito “Severodvinsk” apoiado sobre a sua plataforma durante o lançamento no estaleiro Sevmash em 15 junho de 2010 na cidade russa de Severodvinsk em Arkhanguelsk.

Nestes programas foram projetados e construídos novos submarinos, como também foram  modernizados bombardeiros, mísseis balísticos, desenvolvidos novos sistemas de contra medidas, etc. Foram muitos os avanços no decorrer desses últimos anos e ainda hoje, os programas de modernização da tríade nuclear continuam ativos, sendo uma clara resposta ao flanqueamento realizado pelos EUA…mas não acabou por aí…

A revelação de Putin

Diante de uma platéia que esperava ouvir suas metas como candidato a presidência, Vladimir Putin surpreendeu a todos, dentro e fora do país, com um discurso agressivo, no qual anunciou que a Rússia havia desenvolvido com sucesso diversos sistemas de armas, que ultrapassam as capacidades de defesa criadas pelos americanos.

O presidente russo acusou os EUA de arrogância, dizendo que pensavam que a Rússia não seria capaz de se recuperar logo após o colapso da União Soviética e que seus interesses simplesmente poderiam ser ignorados. Um movimento particular – a retirada de George W Bush do Tratado de Misil Antibalístico (ABM) em 2002 – resultou no início da contenção aprimorada da Rússia, que passou a estar cada vez mais cercada por sistemas americanos, o que prejudicava a dissuasão nuclear do país.

Vladimir Putin – Presidente da Rússia

Sem uma dissuasão nuclear, a Rússia seria exposta à pressão militar dos EUA e não poderia prosseguir com uma política soberana, disse Putin. O presidente advertiu já em 2004 que a Rússia não ficaria ociosa e que responderia a essa ameaça ao desenvolver novos sistemas de armas.

“No final, se não houvesse nada, nenhuma ameaça de fato, isso tornaria o potencial nuclear russo inútil…    Eles poderiam simplesmente interceptar tudo”.disse Putin

O mundo assistiu surpreso, ao posicionamento mais incisivo por parte da Rússia com relação aos seus interesses soberanos, deixando claro que Moscou não somente rejeitará sistemas que busquem conter a capacidade militar russa como também destruirá tais sistemas se assim for necessário.

A ponta da lança eslava

A Rússia já fez isso, de acordo com Putin, que passou a apresentar uma série de novos sistemas, alguns dos quais ainda não têm nomes mas que segundo o discurso são todos destinados a contrariar sistemas ABM atuais e futuros. Seu discurso foi acompanhado por uma série de videoclipes mostrando esses novos sistemas, parcialmente, como filmagens de testes de alguns elementos e com imagens mostrando suas capacidades.

Um desses sistemas é o novo Míssil Balístico Intercontinental (ICBM) chamado Sarmat (RS-28), O qual já é bem conhecido, porém, Putin ressaltou que o seu maior alcance permite que o míssil atinja o território dos EUA da Rússia através de uma rota do Pólo Sul. Os EUA têm dezenas de mísseis interceptores implantados no Alasca sob a presunção de que os ICBM da Rússia se aproximariam dessa direção, o que não seria o caso do Sarmat o qual pode operar por uma rota alternativa circundado regiões desprotegidas impunimente.

 

 

“Nós dissemos aos nossos parceiros várias vezes que teríamos tomado medidas em resposta à colocação de sistema antimísses norte-americanos. Apesar de todos os problemas que enfrentamos, a Rússia era e continua sendo uma potência nuclear, mas ninguém nos ouviu, então nos ouça agora”, ressaltou Putin.

Putin passou então a apresentação de sistemas de armas que não eram conhecidos pelo público. Um deles é um míssil de cruzeiro que ainda não possui nome, com um alcance muito superior aos atuais mísseis operados no mundo. Segundo ele, isto é conseguido graças ao reator nuclear miniaturizado que impulsiona o míssil. Tal míssil pode voar baixo o suficiente para evitar a detecção antecipada e pode mudar a rota para evitar sistemas antimíssil inimigos ao longo de seu caminho, além de manobrar para transpor os sistemas antiaéreos que protegem seu alvo.

A idéia de um sistema destes movidos à energia nuclear não é nova. Os EUA tentaram desenvolver um como parte do Projeto Plutão no início da década de 1960, mas abandonaram-no, uma vez que mísseis estratégicos com propelentes químicos provaram ser uma alternativa mais viável. A Rússia ao contrário, deu continuidade e avançou nesta tecnologia, tornando-se a primeira nação a alcançá-la.

Putin também disse que a miniaturização de um reator nuclear deu à Rússia outro sistema avançado de armas sob a forma de um drone submarino de longo alcance. O drone pode mergulhar a profundidades inalcançáveis até então e, viajar entre continentes a uma velocidade várias vezes superior a de um submarino ou mesmo um navio de superfície, disse ele.

De acordo com o presidente, tais drones podem atacar grupos navais e porta aviões inimigos, defesas ou infra-estrutura costeira e não podem ser combatidos por nenhum sistema de defesa do mundo que operam atualmente. Ambas as versões, convencionais e nuclear podem ser feitas, disse ele.

Em dezembro de 2017, a Rússia completou os ensaios de um reator nuclear que oferece aos drones tais recursos. O reator é “100 vezes menor” do que os usados ​​por submarinos de propulsão nuclear e são mais eficientes, além de poderem alcançar seu pico de potência 200 vezes mais rápido do que uma usina nuclear convencional.

O vídeo mostrado para este sistema de armas não incluiu nenhum teste real, mas presumivelmente a miniaturização reivindicada de um reator nuclear, que foi usado para o mísseis de cruzeiro, também pode funcionar para uma embarcação.

Putin apresentou duas variantes de um sistema de armas hipersônicas já desenvolvido pela Rússia. Um é um veículo lançado pelo ar que atualmente realiza os testes de comabate no sul da Rússia.

O projétil viaja a uma velocidade de Mach-10 e tem um alcance de cerca de 2.000 km (1.240 milhas). A arma, chamada Kinzhal, “adaga” ou “punhal” (“Dagger”). A arma está disponível em formas convencionais e nucleares, disse Putin. Num vídeo mostrado ao público incluiu o momento em que a arma foi lançada  por um avião de combate em seus testes.

Outra arma que está sendo desenvolvida, mas que não teve foto ou vídeo divulgado, está sendo testada, se trata de uma ogiva implantada em um planador hipersônico. A Rússia primeiro a testou em 2004 e fez progressos significativos desde então, disse o presidente. O planador pode voar na atmosfera a velocidades de mais de Mach-20 e pode suportar um calor de até 2.000C° (3.632F°). O sistema, segundo Putin, está em produção em série e é chamado Avangard (“Avanço” em russo).

O último sistema de armas apresentado por Putin durante seu discurso foi um sistema de defesa antimíssil à laser, que segtundo ele já começou a ser introduzido no arsenal das forças russa em 2017. Um pequeno videoclipe mostrou o que presumivelmente é um sistema de laser antiaéreo, mas nenhuma filmagem de teste foi mostrada.

 

O Desfecho 

Putin enfatizou que a Rússia não precisaria de todas essas novas armas se suas preocupações legítimas não fossem ignoradas pelos EUA e seus aliados.

 “Ninguém queria falar conosco sobre o coração dos problemas. Ninguém nos ouviu. Agora vocês escutarão”.

Ele sugeriu que os EUA abandonassem seus planos hostis e onerosos contra a Rússia e começassem a negociar um acordo de segurança que levaria em conta os interesses de Moscou.

 

Os presidentes Vladimir Putin e Trump

Na sua fala mais dura, Putin encerrou o discurso, evocando as razões que responde a pergunta fundamental, o porque de tudo isso? relembrando que a Rússia não esteve dormindo, que sabe se defender e atacará quando se sentir ameaçada.

“Para aqueles que nos últimos 15 anos tentaram começar uma corrida armamentista e que conseguiram uma vantagem unilateral contra a Rússia, especialmente pela imposição de sanções ilegais do ponto de vista do direito internacional e que visam apenas conter o desenvolvimento do nosso país, seja no teatro civil seja na área militar, eu tenho uma coisa a dizer: Tudo aquilo que vocês tentaram suprimir e evitar através das suas políticas, já aconteceram, seu esforço foi em vão. Vocês não conseguiram, a Rússia está de volta “, disse Putin.

O chefe de Estado da Rússia ainda garantiu que em caso de ataques ao seu país, a resposta será imediata.

“Qualquer uso de armas nucleares contra a Rússia, ou seus aliados, de pequeno, médio ou qualquer outro poder, será percebido como um ataque nuclear. A resposta será imediata e com todas as consequências óbvias”.

No entanto, ele enfatizou que seu país não quer o confronto.

“Não pretendemos atacar a ninguém, não devemos criar novas ameaças para o mundo, mas sim sentar na mesa de negociações, elaborar propostas para renovar o futuro sistema de segurança internacional”. …”A Rússia será sensível se conversarmos como parceiros, de igual para igual… 

Porém Putin desafiou a comunidade internacional a reconhecer que suas palavras não são vazias como os discursos que ele atacou.

“Agora vocês tem que reconhecer essa realidade, confirmar que tudo o que eu disse não é um blefe – o que não é – pensem por algum tempo, envie para a aposentadoria as pessoas presas no passado e incapazes de olhar para o futuro, [e] parem de balançar o barco em que todos nós estamos antes que ele afunde, este barco se  chama planeta Terra “ , disse ele. 

Putin declarou que a Rússia necessita resolver questões internas e crescer como nação, ele relembrou que a expectativa de vida da Rússia deve ultrapassar  8 anos a mais até o final da próxima década. A expectativa de vida cresceu ao longo dos sete anos e agora é de 73 anos, e que segundo ele não é suficiente e finalizando declarou:

Temos que resolver uma das principais questões para a próxima década: garantir um crescimento confiável a longo prazo nos rendimentos reais dos nossos cidadãos”, 

Fonte: Informações RT

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