Por Coronel Fernando Montenegro*
A megalópole do Rio de Janeiro abriga mais de 10 milhões de habitantes e possui mais de 1.000 favelas. O relevo da região é extremamente acidentado e coberto por florestas. Algumas das encostas dos maciços que compõem esse panorama foram utilizadas pelas populações mais carentes para construir os aglomerados desordenados de casas que ficaram conhecidos como favelas.
Entretanto, uma parcela considerável das matas tropicais permanece muito bem preservada. Juntos, os maciços da Floresta da Tijuca, do Parque Estadual da Pedra Branca e do Parque Municipal de Nova Iguaçu respondem por uma gigantesca área com aproximadamente 180 quilômetros quadrados. Quilômetros de trilhas conectam as centenas de favelas e bairros que se encontram nas extremidades dessas montanhas. É um cenário extremamente bonito e que era bastante frequentado por escoteiros ou entusiastas do ecoturismo até alguns anos atrás.
Não é novidade que os narcotraficantes se utilizam dessas rotas há algum tempo. Na década de 1990, o 1º Batalhão de Forças Especiais do Exército Brasileiro era sediado no Rio de Janeiro e realizava alguns adestramentos nessas zonas. Era normal encontrar cartuchos deflagrados de diversos calibres de fuzis e vestígios de acampamentos, mas não há registro de embates com o Exército porque nunca foi realizada uma operação com essa finalidade. Quando os grupos armados percebiam a aproximação, simplesmente fugiam.
Aumento da atividade criminosa
Atualmente, a circulação de grupos de criminosos armados de fuzil e com mais de 40 homens é muito mais intensa. As trilhas são usadas como rota de fuga de operações policiais e/ou como faixa de infiltração para realizar ataques às áreas controladas pelas facções criminosas rivais na disputa de regiões de venda de drogas. A mata também se tornou área de desova de corpos, e os narcotraficantes passaram a ter comportamentos similares ao de grupos guerrilheiros como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O assédio a militares e ex-integrantes de tropas como paraquedistas e fuzileiros navais para que integrem as fileiras do narcotráfico é forte e, de certa maneira, bastante tentador porque a remuneração é alta. Na década de 1990, um dos principais universos de assédio ao recrutamento eram os cabos e soldados Comandos. Essa foi uma das principais razões para a transferência da sede do 1º Batalhão de Forças Especiais para Goiânia, em 2003.
O equipamento, a formação e, principalmente, a logística dos órgãos de segurança pública que atuam no Rio de Janeiro são extremamente limitados e, na maioria dos casos, incompatíveis com áreas florestais, que ainda é considerado ambiente desconhecido pela grande maioria dos policiais.
Programa de treinamento na selva
Até 1995, o Exército oferecia aos policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) vagas para o Curso de Guerra na Selva, no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) . O último a concluir o curso foi o Ex-Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Coronel Pinheiro Neto. A partir de 1996, as vagas não foram mais disponibilizadas e o BOPE passou a buscar alternativas, como centros de treinamento militar na Colômbia e outros países.
Em 2015, no entanto, o convênio entre o Centro de Instrução de Guerra na Selva e o BOPE foi restabelecido e um sargento já concluiu o curso com sucesso. Esperamos que a parceria continue.
Concluindo, é fundamental que os órgãos de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro dediquem atenção ao uso das florestas do Rio de Janeiro pelo narcotráfico, que apresenta um risco crescente para a segurança pública e está transformando uma área de preservação ambiental em refúgio de criminosos armados. Da mesma forma, as Forças Armadas devem adotar procedimentos que dificultem o recrutamento dos militares, com atenção especial aos integrantes de tropas de elite.
* O Coronel Fernando Montenegro comandou a pacificação das favelas do Rio de Janeiro (2011-2012); serviu nas Forças Especiais do Exército Brasileiro; foi Instrutor-Chefe do Centro de Instrução de Guerra na Selva (2009-2010) e é mestre em Ciências Militares.
Fonte: Diálogo Américas
Bandido não é índio para viver nas matas. Bandido está nos bairros de luxo e transportando drogas em helicópteros.
Esse tipo de operação é só pra gerar notícias.
É impressionante a desinformação sobre defesa e segurança pública do povo brasileiro, depois de todo o trabalho para se escrever essa matéria o autor ainda tem que aguentar comentários inúteis.
Tem gente que perde a oportunidade de ficar calado.
Deve ser do mesmo time que se escandaliza com revista de crianças no Rio, mas nunca reclamou de crianças armadas com fuzis.
Coisa de Tupiniquim mesmo kkkkk
Quando implantaram as UPPs ficaram meses antes avisando que invadiriam as comunidades e o que ocorreu ? Ocorreu que realocaram o crime por todo o Estado e ficaram nos morros guarnecendo território para a vagabundo em contra facções rivais.
No Brasil tudo é feito nas coxas e as pressas e agora que tudo se exalou e se generalizou pensam em fazerem o que deveria ser feito quando debandaram.